Escola e o Desvio Social

Por Alexandrina Maria Pereira de Farias | 21/02/2015 | Educação

Escola e o desvio Social

A escola tem sido responsabilidade há algum tempo pelos desvios de comportamento que se observa na vida social. Mas será sempre ela que tem essa responsabilidade? Ou será que ela responsabilidade foi imposta sem maiores questionamentos e agora de quem deve ser cobrada a recuperação dos indivíduos que não tem o comportamento esperado pela sociedade?

De acordo com a teoria sociológica, alguns fatores facilitam o desvio, a começar por uma falha no próprio processo de socialização, a existência de sansões fracas, a não compreensão total de normas por partes dos atores sociais, a execução injusta ou corrupta da lei, entre outros. O que devemos entender é que nem sempre o fato de haver um conjunto de punições e sansões (físicas, econômicas, religiosas e sociais) é suficiente para garantir que não haja desvios de comportamento na sociedade. O mais interessante seria se os códigos de postura previamente estabelecidos bastassem para regular a vida em sociedade. Ao instituir recompensas/ou prêmios para os casos de conformidade, esses códigos deveriam servir de motivação para os indivíduos. Mas não é o que se observa em alguns momentos, porque muitas vezes o objetivo daquele que apresenta um comportamento desviante é exatamente romper com a ordem preestabelecida, deixando de ser um mecanismo que perpetua a socialização.

                              

Comportamentos desviantes

 

Mas o que seria um comportamento desviante? Pode-se dizer que a ideia do que seja um comportamento desviante deve ser relativizada, isto é, analisada a partir de valores da própria sociedade que estabeleceu o padrão a ser seguido, e não a partir de valores e conceitos de fora, de outra sociedade. O que é considerado desvio para um grupo social pode não o ser para outro. E mais: só é considerado desvio enquanto não for majoritariamente aceito pela sociedade. Quando isso ocorre, deixa de ser um comportamento desviante.

O papel da educação com relação aos comportamentos desviantes muitas vezes é exatamente exercer a reeducação, ou melhor, realizar uma ação coletiva. Cumpre bem quando seu papel consegue transmitir às gerações mais novas a noção do que é e não é socialmente aceitável. Daí se pode retomar a ideia da escola sendo uma instituição d controle social.

Quando se fala do papel do professor e das imagens que a sociedade faz dele e que o mesmo tem de si, não se pode confiar que mudanças constantes não sejam necessárias. Muitas vezes a própria sociedade espera que dele promova essas mudanças, começando por tentar adequar as condutas de seus alunos ao meio em que vivem. Mas para isso é preciso duvidar sempre, não permitir que valores, opiniões e práticas se cristalizem na rotina da sala de aula sem que sejam questionadas. É importante aprender a observar o familiar por meio do estranhamento familiar. Incorporando os usos ou costumes na sua prática pedagógica sem refletir sobre sua função, o individuo, inclusive o professor, está apenas reproduzindo uma ordem social que nem sempre é a melhor para toda a sociedade. Por estar apenas atendendo aos interesses de um determinado grupo.

Até a imagem do bom professor é construída com base no tipo heroico, dotado de uma personalidade especial, que luta contra a instituição escolar para desempenhar seu papel dentro do mais alto nível de comprometimento estético-ético-político de transformação social.

As diferentes imagens e representações sociais que o cinema, por exemplo, apresenta do bom (a) professor (visto como base de “uma boa escola”) tentam dar conta da imagem ideal que se faz do professor, que estaria apenas trabalhando para tornar mais fácil, para seus estudantes, a transição entre a escola e o mundo, não estando esse professor envolvido em transformações que possam recriar radicalmente as escolas e outras instituições sociais como agências devotadas ao desenvolvimento da justiça. Falta um engajamento no sentido de transformar o sistema e não apenas questioná-lo, começando por discutir os padrões de comportamento que esse sistema impõe ao grupo. E isso é importante porque se os indivíduos, no caso dos alunos, não consideram que o padrão de comportamento imposto não é justo, farão tudo para contestá-lo e até mesmo mudá-lo.

Conformidade versus conformismo

 

Definindo desvio como um tipo de comportamento disfuncional em relação ao grupo, isto é, que afeta a ordem do sistema social, é preciso lembrar que não se pode ser avaliado por juízos de valor. Não podemos esquecer que a sociedade não é homogênea e, portanto, não se estrutura a partir de um só padrão de comportamento. Os diferentes grupos que a compõe podem se encontrar em oposição e isso não significar que seus comportamentos sejam conflitantes. Eles podem ser complementares no sentido de que a ação de todos garante a permanência da sociedade.

Fala-se da conformidade quando a ação social é orientada para uma norma (ou por um conjunto de normas) que definem os limites do comportamento considerado permitido, delimitado, definido ou esperado. Como se viu, o que determina o limite do aceitável é a própria cultura do grupo e os valores que a orientam. Por outro lado, os componentes do grupo da sociedade, precisam conhecer esses valores. Caso contrário, poderão apresentar um comportamento que será considerado desviante sem entender muito bem porque isso aconteceu.

Na vida escolar recorre-se ao regimento escolar para deixar claro aos alunos, desde o primeiro dia na escola, qual é o padrão de comportamento esperado, sob pena de vir a sofrer com as consequências de um eventual comportamento inadequado. Nem sempre eles concordam com todas as condutas que estão ali prescritas, mas no momento que efetuam a matrícula naquela instituição escolar, fica subentendido que aceitaram as normas e regras da escola. Agir em conformidade é o resultado da aceitação e pode ser causado pela interação, o isolamento, a hierarquia, o controle social, a ideologia ou certos direitos adquiridos pelo individuo.

Mas isso não pode ser confundido com o conformismo, que é a atitude de quem se conforma com todas as situações sociais, incluídas aí as normas e regras impostas, sem necessariamente pensar sobre elas. O fato de aceitar sem maiores questionamentos os padrões de comportamento impostos pode ser um sinal de alienação e pode levar ao imobilismo, que diz respeito ao fato do individuo preferir as coisas antigas. Dito de outra forma é querer deixar tudo como está! Temos exemplos claros de imobilismos nos governos e na via pública de modo geral.

A contra partida do imobilismo é a resistência, ou seja, a postura de quem resolve não só questionar, mas também se posicionar claramente contra ou a favor de alguma coisa. As revoluções sociais são exemplos de resistência, de um momento em que os comportamentos mudam em razão d uma mudança de valores que norteavam a sociedade e que passam a não mais atender à socialização.

REFERÊNCIA

LENHHARD, R. Sociologia geral. 6. Ed. São Paulo: Pioneira, 1985.

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