ESCOLA E FAMÍLIA: UMA PARCERIA QUE DÁ CERTO

Por Adailson Sena | 20/11/2014 | Educação

ESCOLA E FAMÍLIA: UMA PARCERIA QUE DÁ CERTO

 

ADAILSON DOS SANTOS SENA[1]- HISTORIADOR  PROFESSOR SUBSTITUTO DA UNIVERSIDADE FEDERAL DO OESTE DO PARÁ – UFOPA-2014

 

RESUMO

Diante do atual cenário da educação brasileira em que a participação da família torna-se imprescindível nas discussões em torno da melhor formação dos educandos. Observa-se a necessidade de se estudar esta temática, levando em conta que a não participação dos agentes tanto por parte da escola quanto da família gera problemas que acabam por cristalizar os papéis dos mesmos.  Como se as responsabilidades de ambos não tivessem os mesmos objetivos. Vale ressaltar que a função de educar não pode ser entendida como um trabalho limitado ao ambiente escolar, o âmbito familiar é de fundamental importância, já que neste espaço também se educa e forma valores que devem permear a vida do educando como cidadão participante da sociedade. Considerando o fato de o processo educacional precisar de um maior envolvimento dos atores familiares. É necessário compreender que dentro do ambiente familiar, os responsáveis cumprem papéis vitais quando colaboram com a efetivação positiva do ensino. Para tanto práticas simples, como o acompanhamento das dificuldades do aluno tornam-se ferramentas educacionais eficientes no trato com o desenvolvimento pedagógico por parte dos familiares não se restringindo a sala de aula. Tal prerrogativa ajuda a refletir sobre a incumbência familiar que vai muito além do simples ato de prover o sustento do individuo. Deve-se adotar a postura de provedor também no sentido de inculcar conhecimento, no que se refere a construção do caráter.  A família ao se desvincular deste processo ocasiona como consequências a falta de comprometimento com a formação do aluno, além de aumentar a pressão sobre a escola. Na medida em que obriga a escola e principalmente o professor a assumir múltiplas funções comprometendo a qualidade do ensino. Tais perspectivas são o cerne deste artigo, que buscará discutir o âmbito teórico e prático das relações educacionais e o envolvimento e a falta deste, por parte das famílias, além de abordar as consequências de tal procedimento. Não obstante, os papeis aqui estabelecidos serão abordados para nortear as discussões pertinentes. Ao fato que tais discussões aqui elaboradas não se prestarão a juízo de valores se limitando a abordagens explicativas. Este artigo também abre espaço para um dialogo com a produção acadêmica sobre a temática visando colaborar de forma embasada com o estudo sobre o campo das relações educacionais e como estas se dão. Portanto este trabalho visa colaborar com a discussão que envolve a importância do dialogo constante entre a escola e a família. Salienta-se que ao longo da prática pedagógica professor, aluno, escola e família torna-se um conjunto que apesar dos interesses distintos se volta para um horizonte comum que é a melhoria no trato com a educação. A direção contrária a esta assertiva tende a gerar retrocessos graves na luta por uma educação de qualidade. Assim sendo situaremos as funções da família e da escola, rejeitar esta aproximação e dialogo fatalmente corresponde ao desrespeito e falta de entendimento entre estes. Por fim aqui estudaremos não somente a perspectiva teórica, mas fundamentados na dimensão das ações e exploraremos de forma mais dinâmica o tema em questão.

Palavras-chave: educar; diálogo; comprometimento; escola e a família;

 

 

 

 

 

 

 

  1. 1.      Introdução

A relação escola e família tem um objeto comum, trabalhar uma educação de qualidade para as crianças, levando em conta que os primeiros atos educacionais partem da família, os princípios básicos de relação sociais, são atitudes que fazem a diferença quando a criança começa os primeiros anos escolares. A escola por sua vez cumpre o papel de ensinar os conteúdos e desenvolver competências que preparem os alunos para a vida.

Ao longo do tempo houve grandes mudanças nas estruturas sociais, que modificam a forma de educar. Desta forma o papel da escola também sofreu transformações. Todavia até que ponto tais transformações beneficiaram a relação escola e aluno ou escola e família? Partindo da premissa que o conceito de escola se ampliou torna-se necessário uma analise dinâmica do caso. Nesse sentido, este trabalho discute essas mudanças e suas implicações no cotidiano e na cultura escolar.

Considerando que as transformações não se limitam apenas as estruturas escolares. No decorrer das mudanças sociais, a família também recebe os impactos e se modifica. Funções antes estabelecidas e reconhecidamente especificas se atualizam ganhando novos contornos e perfis distintos. É o caso dos pais, atualmente requisitados por diversas ocupações que limitam a atuação como provedores, conselheiros, disciplinadores. Cabendo aos educadores ocupar as múltiplas funções antes próprias dos tutores. Neste sentido vale ressaltar os trabalhos de Rossiny (2001) que trata de maneira esclarecida sobre esta difícil mais possível relação de parceria entre escola e família.

É possível afirmar que na busca pela qualidade do cuidado com o educando as funções se confundem. Os pais mesmo que involuntariamente delegam aos educadores responsabilidades com o trato com os filhos que de forma alguma podem ser supridos. O professor assume a função de conselheiro, mediador, muito antes de ser educador, que é sua atuação primordial.

Alternativas para melhorar esta relação família, escola, professor, pais e alunos existem, porém devem ser estudadas. Cada caso exige diagnósticos que levem em consideração o contexto e as diversas peculiaridades que as cercam. Desta forma priorizamos o estudo da relação escola e família, a partir do possível e necessário dialogo entre estes.

2. Envolvendo os pais na escola: O dialogo constante.

Os pais e os alunos, como usuários da escola, são capazes de apontar problemas e dar sugestões para a resolução dos mesmos. A participação dos pais nas escolas não deve ser encarada como sendo debilidade, ultimo recurso quando as coisas não andam bem (mau comportamento ou notas baixas), ou como necessárias apenas nos eventos festivos promovidos pelas escolas. A interação deve ser encarada como sendo uma possibilidade de enriquecimento mútuo e de ampliação do espaço democrático na escola. A partir disto, vale salientar o que aponta Rossine:

A complexidade da vida moderna acaba delegando aos professores papeis antes só de responsabilidade dos pais. A família de hoje conta muito com a escola, ou seja, com seus professores na formação das crianças e dos jovens. Ela precisa estar informada sobre a linha de conduta que a escola tem com seus filhos e, o que é fundamental, concordar com esta linha: é preciso falar a mesma língua. (ROSSINE, 2001, P.44).

A maior parte dos professores atribui aos pais a culpa pelos problemas de indisciplina apresentado pelos alunos e apontam como fatores gerados do problema o novo modelo de família, onde os adultos permanecem pouco tempo em casa, ou aquele que apresenta uma organização familiar diferente do padrão tradicional. Constata-se que diante das novas exigências do trabalho, onde a dedicação passa a ser quase que exclusivamente à carreira profissional, estes pais mesmo que de maneira involuntária se tornam estranhos nos lares. Assim o educador assume posição e consequentemente passa a ser visto pelo aluno como o pai substituto. Num sentido mais aprofundado sobre esta discussão Zagury destaca:

Há um grupo de pais que, depois de matricular os filhos parece considerar sua missão terminada e daí em diante entrega à escola toda e qualquer problemática relacionada à educação (quer se trate de conteúdo, quer se esteja falando de formação ética ou cidadania). De uma maneira geral, esses são pais ausentes, que não comparecem a reuniões quando convidados ou que, quando chamamos para entrevistas ou reflexões conjuntos, nunca podem ir. (ZAGURY, 2002, P.196)

Vale salientar que o fato de alguns pais não se dedicar a interação com o contexto escolar, no sentido de apoiar a formação de seus filhos, não está necessariamente ligada à falta de compromisso com o desenvolvimento escolar destes, mas parte de diversos fatores, não raras às vezes alheias a vontade dos pais. Uma analise da situação precisam levar em conta, questões como o caso do tempo, horários de trabalho que não permitem participação ativa, reuniões marcadas em momentos de descanso etc. são inúmeras as circunstâncias que pesam na hora de investigar a negligência dos pais em relação à educação de seus filhos, e a irresponsabilidade também é uma delas.

De acordo com a pedagoga Marcia Argenti Perez que estuda conflitos entre escola e família, a culpa é do tempo maluco em que vivemos. “Mudanças que antes ocorriam em cem anos agora acontecem em dez e está muito difícil acompanhar as novas exigências sociais e culturais”, ou seja, atualmente há uma confusão de papéis, cobranças de atitudes de uma instituição para outra e novas atribuições profissionais para o educador. Por um lado há uma incapacidade de compressão por parte dos pais a respeito daquilo que é transmitido pela escola. Por outro lado, há uma falta de habilidade dos educadores em promover essa comunicação. Este conflito quando não resolvido cria desacordos constantes que prejudicam o bom andamento do ensino. Pensar que a não participação da família em nada prejudica a formação de um aluno e no mínimo deixar de lado uma questão fundamental no aprimoramento necessário desta assertiva.

Não podemos deixar de lado a questão do entendimento mutuo. Educadores e pais de alunos podem e devem criar mecanismos de concordância evitando que um assuma o lugar do outro. Para tanto, tão somente o mero fato de saber qual educador dará determinada aula não dá credibilidade a atuação dos pais como juízes. Nem tampouco propicia ao professor segurança nas tomadas de decisões. É preciso ter em mente que antes de ser um aluno de uma escola, o educando é parte integrante de uma família e chega ao educandário com influências oriundas desta que muitas vezes são determinantes em seu comportamento.

O dialogo é fundamental. A imposição seja por parte da família ou pelo professor somente corroboram para a desigualdade e o desiquilíbrio no trato com o mais afetado por isso, o aluno. Se existe a pretensão de aprimorar o ensino, sem cercear direitos ou rejeitar deveres é de vital importância consolidar no contexto escolar a constante negociação. Afinal e a partir desta que o respeito e o acordo podem se manter ativos propiciando aos agentes escolares um espaço de discussão satisfatório. Sem o qual somente se reproduzirá os mesmos problemas sem que soluções sejam apontadas. Neste sentido, pontos de vista distintos como a perspectiva do educador que é uma, o ponto de visão dos pais que é outra podem convergir e entrar em conflito. Somente um acordo de livre cooperação entre escola e família realmente podem trazer mudanças compatíveis e necessárias à formação dos discentes.

 Levando em conta que também se deve compreender como se julgam as famílias no que se refere ao seu papel no processo escolar dos seus filhos, pois não há como haver um debate entre família escola sem compreender o que ambos pensam a respeito da sua importância na participação no desenvolvimento do aprendizado das crianças. Sendo que quando há uma participação efetiva dos pais no processo de aprendizagem a equipe escolar poderá desenvolver seu papel pedagógico com mais ênfase.

Outro aspecto importantíssimo que os pais devem estar ligados é com os materiais que os alunos levam para a escola e trazem para casa, e comum a ocorrência de sumiços nas escolas e com passar dos anos vem aumentando essa ocorrência, pois não há um controle dos pais em verificar o que os filhos carregam nas mochilas, assim se torna praticamente uma obrigação da escola a utilizar recursos de câmeras para fiscalizar os alunos, o que se torna até um constrangimento.

É muito importante também que a família se alerte em relação aos horários, trabalhos e compromissos dos seus, pois desde aí já começa o senso de responsabilidade, assiduidade, respeito e pontualidade.

 

3. Pais e Educadores: Dialogo possível.

No processo educacional, volta-se a necessidade de uma combinação de esforços entre pais, educadores e escola, na busca de um melhor desenvolvimento cognitivo do educando, deixando de lado diferenças de opiniões na procura de uma melhor participação, não mais transferindo o compromisso para somente uma parte, mais tomando para si uma parcela no qual se refere a uma melhor educação para com aluno em fase de desenvolvimento intelectual.

“A família é o espaço indispensável para a garantia da sobrevivência de desenvolvimento e da proteção integral dos filhos e demais membros, independentemente do arranjo familiar ou da forma como se vêm estruturando. É a família que propicia os aportes afetivos e, sobretudo, materiais necessários ao desenvolvimento e bem-estar dos seus componentes. Ela desempenha um papel decisivo na educação formal e informal, é em seu espaço que são absorvidos o valor ético e humanitário, e onde se aprofundam os laços de solidariedade.” (KALOUSTIAN, 1998, P.11-12)

            Assim também, não existe possibilidade de pensarmos em educação sem o envolvimento da família, pois escola e família são instituições muito próximas e presentes na vida escolar do educando.

             Educar é sem sombra de duvida um papel que recai sobre a família e a escola, quanto maior for o relacionamento, melhor será o resultado. Pais e educadores têm objetivos comuns e necessitam ter mais coerência e responsabilidade sobre esse processo. É importante que a família junto com a escola e educadores, esteja colaborando no processo ensino aprendizagem, isto tende a favorecer o desempenho escolar do aluno.

         Tendo também em mente que educação transcorre com mudanças significativas em nossa sociedade, o que se faz necessário que a escola repense sua prática pedagógica para melhor atender a peculiaridade de seus alunos, ao qual necessita de uma parceria com a família para atingir seus objetivos educativos, estreitando suas relações com a família em nome do bem estar do aluno, ao qual possibilitara maior facilidade em passar seus objetivos.

                As responsabilidades da escola hoje vão além de mera transmissora de conhecimento científico. Sua função é muito mais ampla e profunda. Tem como tarefa árdua educar a criança para que ela aprenda a conviver em sociedade, para que tenha uma vida plena e realizada, além de formar o profissional contribuindo assim, para a melhoria da sociedade.

                A escola necessita da participação da família e que essa participação seja de efetivas contribuições para o bom desempenho escolar dos alunos. A função de uma Instituição de Ensino é garantir a qualidade do ensino, buscando alternativas para conscientizar os pais sobre sua responsabilidade para com os filhos, tendo o compromisso junto à escola de zelar por um melhor ensino do educando, negar esse compromisso fere a O Estatuto da Criança e do Adolescente que traz em seu art. 22 que “aos pais incumbe o dever de sustento, guarda e educação dos filhos menores, cabendo-lhes ainda, no interesse destes, a obrigação de cumprir as determinações judiciais” e em seu art. 55 afirma que “os pais ou responsáveis têm obrigação de matricular seus filhos ou pupilos na rede regular de ensino” (Brasil, 1990). 

Assim como a escola tem o papel de levar os alunos a um crescimento intelectual, social e econômica, os responsáveis tem o dever de acompanhar esse processo, pois a família mantendo um maior envolvimento dentro desse parâmetro, consequentemente entrará em um processo de mudança entre esses atores.

É perceptível que a mera existência de uma legislação que contenha as obrigações de pais e educadores, não é a garantia de que estas de fato se tornarão eventos comprovados. O acompanhamento dos filhos não deve se limitar ao ato da matricula como muitos acreditam, a partir da matricula acabam as responsabilidades dos pais, muito pelo contrário, afinal inicia-se ali todo um conjunto de adaptações que vão nortear a presença e participação do aluno durante o ano escolar. Necessidades surgirão principalmente relacionadas ao contexto de sala de aula, grau de aprendizado, problemas de indisciplina, falta de comprometimento com o conteúdo ensinado, falta de frequência e por fim as tão temidas reprovações. Como evitar, sem um real envolvimento dos pais e um dialogo aberto da escola.

Os educadores possuem uma parcela considerável da responsabilidade do desenvolvimento da qualidade do ensino, para tanto a existências das L.D.Bs, do Plano Político Pedagógico, dos planos de aula, etc. Variados mecanismos de regulação das funções dos professores se juntam aqueles que determinam as obrigações e deveres de escola, enquanto estrutura física e administrativa e o aluno. Além das cobranças já apontadas, os docentes ainda precisam lidar com o conjunto de prerrogativas dos pais. No entanto isto não deve impedir ou bloquear o professor do dever de ensinar com qualidade. A questão não está no assumir funções que não lhe são necessariamente obrigações, mas o exercício destas funções em detrimento do ato de ensinar, que é primordialmente sua incumbência.

O dialogo entre educadores e pais de alunos tornam-se cada vez mais indispensável, no trato com a escolarização. Levando em conta que ambos sofreram transformações. Como bem apresenta Maria Alice Nogueira:

Desde meados do século XX, especialmente em suas últimas décadas, mudanças importantes vêm afetando, ao mesmo tempo, a instituição familiar e o sistema escolar, levando ao aparecimento de novos traços e desenhando novos contornos nas relações entre essas duas grandes instâncias de socialização. (NOGUEIRA, 2005, pg. 70)

            Neste sentido, as mudanças não significam apenas uma nova configuração, mas também a necessidade de novas atitudes e posicionamentos. Em se tratando de diálogo é necessário entender quem são e como se portam os atores desta sonhada qualidade de ensino. A possibilidade existe, porém depende inteiramente da decisão de trabalho conjunto e defesa de interesses que sejam comuns, neste caso em especifico uma escolarização de qualidade.

 

4. Escola e a oportunidade de contato com os pais.

A escola precisa aproveitar todas as oportunidades de contato com os pais para passar a eles informações sobre os seus objetivos, recursos, problemas e sobre as questões pedagógicas que se apresentarem. Somente deste modo eles irão sentir-se comprometidos com a melhoria da qualidade escolar.

Se a instituição não informa a família sobre o trabalho escolar, dificulta o dialogo, os pais cobram o que não deveria ser cobrado ou ficam desmotivados e não participam. Então, a escola precisa deixar claro os seus objetivos e dinâmicas. A consultora pedagógica Raquel Volpato, de Botucatu, São Paulo, afirma; “A educação é um serviço publico, e o pai, um cidadão que deve acompanhar e trabalhar pela melhoria da qualidade de ensino.”.

Segundo Marcia Argent Perez (USP-2003). É necessário discutir o avanço na procura das melhores oportunidades de promover encontros positivos entre pais e professores. Para que tal aconteça, alguns conceitos precisam ser revistos:

- Aceitar a organização da família atual e não idealizar o modelo do passado como correto;

- Ter claro que os responsáveis pelos alunos tem o direito de opinar, fazer sugestões e participar de decisões sobre questões administrativas e pedagógicas da escola;

- Dar apoio a associações de pais e mestres, para que ela não se restrinja apenas arrecadação de dinheiro. Não dar para contar com os pais apenas em organizações de festas;

- Planejar muito bem suas reuniões, pois elas não podem ser vistas apenas como prestação de contas e queixas dos alunos. É necessário ter objetivos bem definidos, conhecer as famílias e a comunidades onde a escola esta inserida;

- Não parti do principio que a família precisa ser ajudada pela escola e sim que a escola precisa dos mesmos.

Mas também pais precisam refletir sobre a necessidade de acompanhar os estudos dos seus filhos através de algumas atitudes. “A Cartilha Nenhuma Criança Brasileira Vai Crescer Sem Saber Ler! Ou Sem Gostar de Ler”, lançado pelo Ministério da Educação e Cultura em parceria com instituições como a Conferencia Nacional dos Bispos (CNBB) e ilustrada pelo cartunista Ziraldo, traz algumas sugestões para os pais:

- Visitar a escola do filho sempre que puder;

- Observar se as crianças estão felizes e cuidadas no recreio, na hora da entrada e da saída;

- Observar a limpeza e a conservação dos solos e demais dependências da escola;

- Conversar com os professores;

- perguntar como seu filho está nos estudos;

- Pedir orientação, caso o filho esteja com alguma dificuldade na escola;

- Procurar saber o que podem fazer para ajudar, conversando também com a direção e outras pessoas da escola;

- Ler bilhetes e avisos que a escola mandar e responder quando necessário;

- Comparecer às reuniões da escola e da sua opinião.

O processo de participação pode iniciar-se pelo Conselho Escolar, responsável pela gestão da Instituição de Ensino. É formada por pais, alunos educadores e funcionários. Embora muitos não tenham conhecimento, esse é um direito assegurado pelo Estatuto da Criança e do Adolescente e permite que os responsáveis pelos alunos elejam a diretora da escola. Tais conhecimentos que ao primeiro momento pode parecer sem importância já que os pais são agentes externos da escola, são de extrema importância, partindo da premissa que é exatamente esta estrutura administrativa que confere subsídios para o bom exercício do docente e consequentemente o bom atendimento as necessidades do educando. Partindo destes princípios temos que salientar também, que a educação no seio familiar tem ser algo prazeroso para o educando.

As famílias que levam a sério sua missão de educar precisam lembrar que a crianças e adolescentes é um ser humano, que necessita de um melhor acompanhamento sem humilhações e castigos, tendo uma orientação com critérios de verdade e justiça; que precisa de apoio, de afeto, de incentivos para construção de seu caráter. Frisando que a família e a escola possuem um valor insubstituível, pois fazem parte na construção de suas informações cognitivas.

 

5. A importância da Parceria Família e Escola.

A Educação familiar é base na formação e desenvolvimento da criança e do adolescente. Desde a infância começam a receber princípios básicos para viver em sociedade e exercer cidadania. Percebemos que tudo que reproduzimos é fruto de toda estrutura educacional que nos é transmitido em família, escola e sociedade.

Não devemos nos eximir do nosso dever como responsáveis e transferir nossa obrigação para escola. Para ser uma parceria realmente de sucesso é imprescindível que cada saiba exatamente quais suas atribuições, respeitando por suas particularidades.

A importância da participação da família é uma construção inesgotável e que não pode ser delegada somente a escola. Por outro lado, a escola não se restringe apenas às disciplinas obrigatórias, vários temas transversais, como: delinquência juvenil, violência no transito, inclusão social, são alguns exemplos que fazem parte de discussões participativa da Comunidade Escolar, toda a sociedade em amplo debate. É aí que se percebe o valor dessa parceria Escola-Família.

O ideal é que a família e a escola tracem as mesmas metas favorecendo ao educando uma segurança na aprendizagem de forma que venha criar cidadãos críticos capazes de enfrentar complicadas situações que surgem na sociedade.

Existem diversas contribuições que tanto a família quanto a escola podem oferecer, propiciando o desenvolvimento pleno respectivamente dos seus filhos e dos seus alunos.

Conflitos sejam quais forem, ajudam a diagnosticar uma determinada problemática. Quando se trata de escola, esta assertiva se torna mais visível, problemas não surgem por acaso, resultam de uma gama de razões que precisam ser pensadas previamente. Prevenir sempre será uma resposta satisfatória. Assim sendo, o trabalho em resolver os imbróglios deve contar com o comprometimento de todos envolvidos.

É preciso se ter em mente o que significa família hoje, assim como as estruturas familiares ficaram mais dinâmicas, em que o pai pode exercer o que antes a tradição apontava como obrigação da mãe, e a mãe cumprem papéis anteriormente delegados ao pai. Da mesma forma a escola e seus diferentes atores presenciam o aumento de suas responsabilidades e a necessidade de cumprir funções mais complexas. Sobre isto vale destacar o que diz Maria Alice Nogueira, ao abordar as mudanças e os impactos destas na relação escola e família:

Assim, sob o argumento da necessidade de se conhecer o aluno para a ele ajustar a ação pedagógica, o coletivo de educadores da escola (professores, orientadores e outros) busca hoje ativamente e detêm efetivamente informações sobre os acontecimentos mais íntimos da vida familiar, como crises e separações conjugais, doenças, desemprego, etc.

É necessário abordar a questão do conflito em relação a conteúdos ou a falta deles. Com o acesso irrestrito a uma gama de informações, pais de alunos preocupados em participar mais ativamente da educação de seus filhos acabam por se tornar entraves. Na medida em que munidos de argumentos nem sempre plausíveis e por vezes motivadas por orientações equivocadas se voltam contra o professor discordando do conteúdo, não aceitando correções dadas aos filhos, criticando metodologias etc. O que torna a parceria algo distante. Isso não significa que o docente não possa aproveitar direcionamentos dados pelos pais. No entanto, a imposição mesmo que involuntária de tais objetivos em nada contribui. Tania Zagury ajuda-nos a entender este processo:

Era natural, com a informação globalizada e democratizada da atualidade, que família e sociedade tomassem ciência de alguns dos modernos conceitos de educação. No entanto, o que em princípio seria positivo, acabou se tornando um complicador a mais, porque muitas dessas pessoas confundiram o seu pequeno arsenal de informações com domínio do saber. Sentem-se habilitadas, portanto, a julgar atitudes pedagógicas das escolas. Lendo artigos, superficialmente resumidos, ou ouvindo pequena e inexpressiva parte de uma teoria, passaram a fazer generalizações equivocadas. Mal informadas, porém ansiosas por propiciar educação de qualidade aos filhos, passaram a criticar vigorosamente o trabalho das escolas. (ZAGURY, 2003, pg 29)

Quando tratamos de parceria, não estamos afirmando uma participação perfeita. Em que o pai esteja todos os dias na escola, ou até assista as aulas. Mas de uma participação comprometida e ativa. A presença do pai na escola não apenas inibe possíveis atos de indisciplinas dos filhos, mas também ajuda no trato com os deveres do aluno. A partir do momento que o educando percebe que a família acredita na escola e dela participa e contribui, este não se verá mais como um simples objeto da escolarização, mas como agente de transformação também. Torna-se responsável pelo cuidado das coisas da escola, um defensor, com uma identidade consolidada, se sentido parte da escola não mais um estranho. Os pais juntamente com os professores e consequentemente a escola possuem papéis fundamentais neste trato. Da mesma forma o aluno, sem este, todo o esforço no processo de melhoria será inválido.

Uma parceria escola e família são possíveis. E por que não, de extrema urgência. Quanto mais estes se afastam maior o risco da permanência de problemas históricos como a indisciplina e a reprovação. Somente com um trabalho conjunto e participativo em que ambos realizem a investigação detectem as problemáticas e busquem resolvê-las. O papel dos pais e da escola mudou, quanto a isso não há duvidas. A questão primordial é como estes absorverão estas mudanças, e de       que forma atuará sobre a realidade. Não se espera uma escola sem problemas, mais se defende um dialogo que se oriente para este norte. Pais e filhos, professores e pais, professores e alunos relações como estas assumem posição vital na transformação da educação no Brasil e no mundo. Afinal estes acabam formando engrenagens de um sistema, que é a escola. E como toda engrenagem precisa de manutenção, para que as partes funcionem de forma positiva. Somente com o comprometimento destas partes o sucesso da parceria será realmente consolidado.

 

6. Projeto Politico Pedagógico (PPP) na Escola.

      

De acordo com a lei 9.394/96 no inciso I do Artigo 12 estabelece que, respeitadas as normas comuns e as do seu sistema de ensino, os estabelecimentos de ensino terão a incumbência de elaborar e executar sua proposta pedagógica: o Projeto Político Pedagógico (PPP).

Partindo dessa premissa entende-se que o Projeto Politico Pedagógico é compreendido como um documento produzido através do resultado elaborado entre o dialogo das diversas classes da comunidade escolar a fim de organizar e planejar o trabalho administrativo-pedagógico, no intuito de soluções para problemas identificados no âmbito escolar.

O Projeto Político Pedagógico deve definir qual é a visão, os objetivos, as metas, para então determinar qual o caminho a ser programado pela instituição escolar, levando em conta que essa é uma obrigação legal.

A estrutura escolar de qualquer forma baseia-se em projeto pedagógico seja de forma escrita ou vivenciada diariamente até mesmo nas reuniões para busca de respostas para questões rotineiras estamos colocando o projeto da escola em prática.  A construção dos projetos escolares é planejada com a intenção de realizar de fato nas escolas. Ele é construído e vivenciado em todos os momentos, por todos os envolvidos com o processo educativo da escola e a partir desses dados resultantes traçam-se objetivos, propõem-se metas, planejam-se ações para que, ao longo de um período letivo, alcance sucesso na aprendizagem do aluno.

A escola deve ser considerada como uma comunidade educativa que reúne o conjunto dos participantes do âmbito social e dos grupos profissionais em torno de um projeto comum. No entanto, é preciso demarcar os espaços próprios de ação, pois só na classificação desses limites se podem fundamentar uma aplicação efetiva.

Todo projeto supõe rupturas com o presente e promessas para o futuro. Projetar significa tentar quebrar um estado confortável para arriscar-se, atravessar um período de instabilidade e buscar uma nova estabilidade em função da promessa que cada projeto contém de estado melhor do que o presente. Um projeto educativo pode ser tomado como promessa frente a determinadas rupturas. As promessas tornam visíveis os campos de ação possível, comprometendo seus atores e autores. (GADOTTI, 1994, p. 579)

O Projeto Politico Pedagógico é um processo fundamental para o êxito da escola, buscando através de um diagnóstico avaliativo, tomadas de decisões pertinentes no processo educacional, fazendo que todos participem nesse processo de forma conjunta, voltando-se principalmente ao melhor desenvolvimento do educando.

Entretanto o PPP mal elaborado, pode prejudicar a sua eficácia e o funcionamento das regras estabelecidas. Segundo Paulo Padilha, do Instituto Paulo Freire destaca-se alguns erros a serem evitados:

- Comprar modelos prontos ou encomendar o PPP a consultores externos. "Se a própria comunidade escolar não participa da preparação do documento, não cria a ideia de pertencimento", diz Paulo Padilha, do Instituto Paulo Freire.

- Com o passar dos anos, revisitar o arquivo somente para enviá-lo à Secretaria de Educação sem analisar com profundidade as mudanças pelas quais a escola passou e as novas necessidades dos alunos.

- Deixar o PPP guardado em gavetas e em arquivos de computador. Ele deve ser acessível a todos.

- Ignorar os conflitos de ideias que surgem durante os debates. Eles devem ser considerados, e as decisões, votadas democraticamente.

- Confundir o PPP com relatórios de projetos institucionais - portfólios devem constar no documento, mas é apenas uma parte dele.

Ressaltamos que o planejamento pedagógico é um valioso instrumento na atividade docente, pois a educação feita do improviso gera um desgaste tanto para o educando quanto para o educador, uma vez que a falta desse planejamento gera problemas na disciplina.

Também devemos considerar que a participação da comunidade nesse trabalho pedagógico é de suma importância, pois é nesse momento que compartilha-se responsabilidades que definirão os rumos da escola, passando a ser um grande desafio mais com grandes recompensas, pois um PPP bem estruturado gera uma escola com uma identidade clara, e a equipe com mais segurança nas tomadas de decisões.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Considerações finais

Vivemos em uma sociedade, onde há a necessidade de relacionamentos entre indivíduos. Sendo assim, não seria diferente com a escola e família. Tal aproximação torna-se amplamente necessária, na medida em que se tem em vista a qualidade do ensino e formação do estudante crítico. Professores e Pais são responsáveis por manter esta relação de forma positiva. Em se tratando de educação ambos os atores devem se envolver e unir os interesses em torno de formar não mão de obra alienada, mas um cidadão ativo e consciente de sua posição no mundo.

A falta de um contato próximo da escola com os pais, e dos pais com a escola ocasiona diversos problemas que comprometem a qualidade da formação. É necessária a participação dos pais, mas também é fundamental a abertura do dialogo por parte da escola. A parceria tão importante neste caso fica limitada a algumas reuniões esporádicas. Cabe salientar que quando se fala em parceria, está se tratando numa cumplicidade com objetivos comuns. Assim sendo, somente reuniões não propiciarão o alcance desta.

Somente uma parceria comprometida, em que pais se assumam com suas devidas responsabilidades, deixando de impor a escola suas funções e a escola comece a dialogar de modo consistente com as famílias, realmente assistiremos uma transformação no ensino.  A educação escolar é apenas parte do processo, não o todo, sem a participação dos pais disciplinando, orientando, acompanhando o percurso de seus filhos todo este processo torna-se ineficaz.

 BIBLIOGRAFIA:

ROSSINI, Maria Augusta Sanches. Pedagogia Afetiva. 4. ed. Rio de Janeiro: Vozes, 2001.

ZAGURY, Tânia. Escola sem Conflito: Parceria com os Pais. Rio de Janeiro: Record, 2002.

GADOTTI, Moacir. "Pressupostos do projeto pedagógico". In: MEC, Anais da Conferência Nacional de Educação para Todos. Brasília, 28/8 a 2/9/94.

KALOUSTIAN, Sílvio Manoug (Org.). Família brasileira: a base de tudo.

BRASIL. Estatuto da Criança e do Adolescente: Lei nº 8.069, de 13-7-1990. 11ª ed. São Paulo: Atlas, 2002.

BRASIL. Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional. Lei número 9394, 20 de Dezembro de 1996.

PADILHA, Paulo Roberto. Planejamento Dialógico: como construir o projeto politico-pedagógico da escola. 2 ed. São Paulo: Cortez; Instituto Paulo Freire, 2002-(Guia da Escola Cidadã, v7)

PEREZ, M.C.A. Família e escola na educação da criança: análise das representações presentes em relatos de alunos, pais e professores de uma escola pública de ensino fundamental. 2000. Dissertação

(Mestrado em Educação) – Faculdade de Educação, Universidade de São Paulo, São Paulo, 2000.

NOGUEIRA, Maria Alice. Família e Escola na Contemporaneidade: os meandros de uma relação. Versão ligeiramente modificada do Trabalho apresentado na 28ª Reunião Anual da ANPEd, em Caxambu, MG, em outubro de 2005.



[1] Especialista em Docência para  o magistério do Ensino Superior-Faculdade de Itaituba-FAI

Especialista em metodologia do ensino de História e Geografia-FACINTER.

Professor Substituto da Universidade  Federal do Oeste do Pará-UFOPA-2014.

Professor associado a ANPHUN- associação  dos profissionais de história do Brasil.

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