"ACADEPOL-SC:1° CONCURSO - CARCEREIROS ( 1968) - REGISTROS HISTÓRICOS SOBRE SISTEMA PRISIONAL DE SANTA CATARINA"
Por Felipe Genovez | 17/12/2018 | História“ACADEPOL - EVOLUÇÃO DO SISTEMA PRISIONAL: PRIMEIRO CONCURSO PARA INGRESSO NA CARREIRA DE CARCEREIRO"
CONCURSO REALIZADO PELA ESCOLA DA POLÍCIA CIVIL ( ACADEPOL):
O concurso foi realizado no ano de 1968, cujos resultados foram publicados em 16.02.1968.
A homologação dos resultados se deveu por meio do Decreto de 14.11.1968:
1ª lugar: Maginot Martins Freitas – nota 9,117;
2º lugar: Pedro Roque – nota 8,581;
3º lugar: Haroldo Campos de Paula – nota 7.722;
4º lugar: José Medeiros – nota 7.590;
5º lugar: Edgar Júlio Rosa – nota 7.450;
6º lugar: Maurício da Costa Gonçalves - nota 7,296;
7º lugar: Nelson Simão – nota 7.088;
8º lugar: Jurandir do Nascimento – nota - 7,048;
9º lugar: Osnildo José Ferreira – nota 6.923;
10º lugar: Gilton José de Souza – nota 6.492.
Florianópolis, 19.11.1968 – Bel. Otacílio Schuler Sobrinho – Escrivão de Polícia – Diretor da Escola da Polícia Civil (DOE n. 8.649 de 20.11.1968).
A Escola de Polícia Civil do Estado de Santa Catarina (Acadepol):
- O Escrivão de Polícia Otacílio Shüller, primeiro Diretor da Escola de Polícia – EPC (atual Acadepol), relatou que o estabelecimento de ensino policial civil funcionou pela primeira vez junto a um antigo prédio do Governo Federal (localizado na Rua Engenheiro Max Scharann – Bairro Estreito – Florianópolis), pertencente inicialmente ao Ministério da Marinha. Quando passou a se cogitar da transferência do 5° Distrito Naval de Florianópolis para a cidade de Rio Grande/RS, o referido prédio foi desativado e repassado para o Ministério da Fazenda. Ciente desses fatos, o General Rosinha à frente da SSP (1966), mercê do seu empenho, dinamismo e iniciativa, conseguiu acomodar primeiramente a Diretoria de Veículos e Trânsito Público – DVTP (DETRAN) no andar térreo do referido imóvel. Entretanto, como restou ocioso praticamente todo espaço existente na parte superior e diante da necessidade de se implantar a Escola de Polícia, surgiu a oportunidade de se usar aquela edificação para sediar o ensino policial civil. O referido predio pode ainda ser visto hoje no mesmo endereço.
- No ano de 1987 (Governo Pedro Ivo Campos – gestão do SSP Cid Pedroso e do Superintendente da Polícia Civil – Antônio Abelardo Bado) - a Academia da Polícia Civil passou a funcionar em uma casa locada no Bairro Coqueiros (o Delegado de Polícia Luiz Bahia Bittencourt era o Diretor).
- Finalmente, no ano de 1991 (Governo Vilson Kleinubing – gestão do Deputado e Coronel Sidney Pacheco e do Delegado-Geral Jorge Cesar Xavier), a Academia da Polícia Civil passou definitivamente para prédio próprio (Canasveirias), quando o Delegado de Polícia Mário Moretto estava na direção do órgão de ensino policial.
- Registre-se que o primeiro local que sediou a Escola de Polícia (1967) foi cedido à época à SSP/SC por meio da intervenção do Governador Ivo Silveira a quem tambem devemos a implantação do estabelecimento, considerando que havia sido criado por meio da Lei n. 3.427/64), porém, passados quatro anos sem ser ativada. O ex-Delegado Jucélio Costa relatou que quando apresentou a proposta de criação da “Escola de Polícia” sofreu muitas resistências de colegas porque não havia recursos para um projeto “futurista” como o que estava apresentando e que isso seria letra morta na lei. O argumento que usou para convencer os colegas foi que pelo menos se colocasse na lei até que no futuro viesse a ocorrer a sua implantação, como de fato veio a ocorrer em 1967. Jucélio Costa ainda relatou que durante o período que atuou como “Delegado Regional de Polícia de Florianópolis”, nos anos de 1964 até 1966, convidava os policiais da Capital para aos sábados participarem de palestras e aulas na sede daquele órgão, cujo local sempre estava lotado interessados em participar desses eventos e buscar atualização.
- Conforme relatou Ivo Silveira a este autor, cujo testemunho também foi ratificado por Otacílio Shuller Sobrinho, algumas vezes o Chefe do Poder Executivo se fazia presente na Escola de Polícia, sempre acompanhado do Titular da Pasta (General Viera da Rosa). Registrou aquele ex-governador que assim procedia porque queria prestigiar não só formaturas, mas, também, participar de eventos oficiais e, até mesmo, pelo simples prazer de visitar o estabelecimento na companhia do então Titular da Pasta.
Considerações sobre “Carcereiros” e “Sistema Prisional” catarinense:
- A nomeação de cidadãos para exercer funções de Carcereiros remonta a antes do período imperial, à época ainda da antiga “Capitania de Santana situada entre as cidades de Paranguá-PR e Laguna-SC (pertencia a Pero Lopes de Souza e seus descendentes) ”.
- Nas principais cidades do Estado as cadeias públicas estavam localizadas no andar térreo dos prédios das Câmaras de Vereadores, onde estavam também localizados os gabinetes dos Delegados de Polícia (v.g.: Nossa Senhora do Desterro, São Francisco do Sul e Laguna).
- Nas fases de Brasil colônia e império a Capitânia/Província de Santa Catarina, não se deu grande importância a figura dos “Carcereiros” em termos de valorização profissional e reconhecimento, muito embora fosse bastante emblemático o local onde os presos ficavam encarcerados (centro político, judicial, policial e prisional da municipalidade). Durante o período Brasil colônia, “Juízes de Fora” absorviam funções de “Chefes de Polícia” e, a seguir, de “Intendentes de Polícia”, centralizando várias funções, desde a judicatura ao comando do aparelho de segurança pública, seguindo as “legislações” do reino português e de acordo com as posturas locais. Para tanto, contavam, ainda, com a estrutura existente à época, desde os Alcaides/Delegados, Escrivães da Câmara, Tabeliães, Carcereiros e Meirinhos.
- Já no século XX o sistema prisional catarinense foi marcado por um fato relevante: a inauguração da Penitenciária do Estado (21 de setembro de 1930). Nessa ocasião surgiram os primeiros cargos de “Vigilantes Penitenciários”, uma fase preliminar para o surgimento mais tarde dos “Guardas Penitenciários” e dos Agentes Prisionais. A entrada para a “modernidade prisional” trouxe uma realidade dual para o sistema prisional do Estado: “Carcereiros” estavam ligados às “Cadeias Públicas” e a Polícia Civil, já os “Vigilantes” passaram a integrar o “novo”, um sistema moderno de política prisional para recuperação dos presos condenados, baseado no trabalho (oficinas, agricultura...), que passou a servir de modelo para o país. Registre-se que o Presidente Getúlio Vargas quando esteve em visita ao Estado, durante a gestão do Governador NereuRamos, em visita ao Estado de Santa Catarina, fez questão de conhecer o “primoroso e moderno estabelecimento prisional”, em cujo local encontrou um velho amigo (presidiário) de adolescência dos tempos de São Borja, o que foi testemunhado pelas pessoas presentes.
- Com as reformas da Lei 3.247 de 09 de maio de 1964, os cargos isolados de “Carcereiros” passaram a integrar a Polícia Civil de carreira. Na década de setenta, com as reformas da Lei n. 5.266/76 (reclassificou as carreiras policiais civis), passou a se denominar “Policial Carcereiro”.
- As carreiras de Agente Operacional e Policial Carcereiro ficaram extintas a partir da vigência da Lei LC 55/92 e os cargos e respectivos titulares dessas categorias foram enquadrados na carreira de Investigador Policial, conforme inciso IV (12), deste artigo. O que se tinha em mente era acabar com presos em Delegacias de Polícia e para isso era imprescindível se acabar com a carreira de “Policial Carcereiro”, o que justificava essa atribuição à Polícia Civil.
- Já aos ex-Policiais Carcereiros (contemplados na Lei n. 5.266/1976), na condição de “auxiliares da autoridade policial” foram "reenquadrados" na carreira de Agente Prisional, tendo sido facultado o prazo de 30 (trinta) dias a contar da publicação da sobredita legislação complementar, para que pudessem optar pelo "reenquadramento" à carreira de Investigador Policial. Essa alteração foi originada por conta do ex-Diretor de Administração Penal (Ewaldo Villela) que conseguiu sensibilizar o então Secretário de Segurança Pública, a fim de que principalmente as Cadeias Públicas não fossem esvaziadas. O desejo inicial era que todos os Policiais Carcereiros fossem "reenquadrados" na carreira de Agente Prisional. Entretanto, surtiu efeito a conjugação de esforços do Delegado-Geral da Polícia Civil - Jorge César Xavier e deste autor que conseguiram introduzir uma alteração à proposta de Pacheco e Villela, no sentido de se assegurar o exercício do direito de opção por parte daqueles ex-policiais carcereiros de optarem por ingressar na carreira de Agente Prisional, caso não tivessem interesse de serem transplantados à carreira de Investigador Policial, conforme disposições contidas na referida Lei. Pelas informações obtidas, parece que nenhum Policial Carcereiro se mostrou interessado em ingressar no Sistema Penitenciário.
Fontes:
- Ex-Governador Ivo Silveira (entrevista);
- Otacílio Schuler Sobrinho – ex-Escrivão de Polícia e primeiro Diretor da Escola de Polícia 1967 – 1971 (entrevista);
- Sidney Carlos Pacheco – ex-SSP (Deputado Estadual e Coronel – PM-RR) 1991- 1994 (entrevista);:
- Antonio Abelardo Bado – ex- SSP (1989) e ex- Superintendente da Polícia Civil – 1987-1989 (entrevista);
- Jucélio Costa – ex-Delegado, idealizador da “Escola de Polícia” (também, da criação da “Diretoria da Polícia Civil” e da DPE de Segurança Pessoal, Polícia civil de carreira...), juntamente com o ex-SSP Jade Magalhães, personagem fundamental na elaboração da Lei n. 3.427/64, primeiro Superintendente da Polícia Civil (1971-1974)
- Ewaldo Villela – ex-Diretor da Polícia Civil, ex-Superintendente da Polícia Civil, ex-Diretor da Penitenciária do Estado e ex-Diretor Estadual de Administração Penal – DEAP - (entrevista);
- Ulisses Marcílio Longo – ex-Diretor da Polícia Civil (depois Diretor da Divisão de Polícia Judiciária) – 1968 – 1971 (entrevista);
- Jorge Cesar Xavier – ex-Delegado-Geral da Polícia Civil - 1991-1993 - (entrevista);
- João Camilo da Silva – “ex-Vigilante” – Penitenciária do Estado (Florianópolis – “Penitenciária da Pedra Grande” – 1932 até sua aposentadoria - início da década de sessenta) - (entrevista);
- Haroldo Villela – “servidor e ex-Diretor” da Penitenciária do Estado (pai do Delegado Ewaldo Villela) – década de trinta até a sua aposentadoria – início da década sessenta - (entrevista);
- Jurandir Dias - “ex-Vigilante” – Penitenciária do Estado (Florianópolis – “Penitenciária da Pedra Grande”) década de quarenta até sua aposentadoria – década de sessenta - (entrevista);
- Acervo do autor.