ESCOLA CIDADÃ: UMA PROPOSTA DE UMA FORMAÇÃO PROGRESSISTA E HUMANA
Por Valter Marciano dos Santos Chereta | 18/06/2014 | EducaçãoESCOLA CIDADÃ: UMA PROPOSTA DE UMA FORMAÇÃO PROGRESSISTA E HUMANA
Valter Marciano dos Santos Chereta[1]
RESUMO: O presente trabalho pretende demonstrar a necessidade de se pensar, no âmbito da educação escolar, uma ação pedagógica mais progressista e humana voltada para a formação e o resgate dos valores humanos, sociais e pessoais não apenas das crianças, mas de toda a comunidade escolar, despertar para uma relação saudável com o meio em que vivem de maneira sustentável, humana e autônoma. Trata-se de um ensaio reflexivo emergido no âmbito de minha prática profissional, a qual vem sendo desenvolvida em uma escola comunitária de educação infantil para famílias carentes da periferia do município de São Leopoldo e por todo meu histórico pessoal no qual optei por ter um posicionamento politico progressista e voltado a trabalhar as questões relacionadas ao conflito opressor oprimido. Acredito que somente assumindo uma postura politica e defendendo nossas ideias poderemos contribuir para a construção de uma sociedade mais justa e com menos desigualdade.
Palavras-chaves: Escola cidadã- Inclusão- Sustentabilidade- Autonomia.
É cada vez mais notória a necessidade de se repensar e escola e sua função na sociedade; suas relações com a comunidade na qual ela esta inserida e acima de tudo pensar em que papel queremos que esta escola desempenhe na sociedade; que tipo de sujeito estamos formando e para que. Nessa busca por uma sociedade mais justa e igualitária é que educadores como Paulo Freire, Moacir Gadotti e Ruben Alves entre outros buscam apontar alternativas e propostas para uma humanização das nossas escolas e para o despertar de uma consciência critica e de um sentimento de pertencimento sustentável e coletivo aos indivíduos pertencentes a esta comunidade escolar de uma forma geral. A escola necessita urgentemente de uma gestão humana e democrática aberta para o dialogo com a comunidade escolar e que desenvolva ações para possibilitar o desenvolvimento integral das crianças e de suas famílias com a finalidade de ser a escola de fato agente de transformação e afirmação social.
A escola atual deve buscar aprimorar e aperfeiçoar o atendimento as crianças oferecendo uma educação progressista e humana que possibilite a formação de um sujeito autônomo e capaz de agir e transformar a sociedade. Somente um sujeito autônomo poderá intervir na sociedade em que esta inserido de forma a utilizar os recursos naturais necessários para a sua sobrevivência e de seus pares, porém, dando destino certo para os resíduos produzidos (lixo). É de extrema importância que se desenvolva um convívio saudável que estimule o respeito aos espaços e opinião dos outros sujeitos Segundo Morin;(2000, pg. 39) “....a educação deve promover a ‘inteligência geral’ apta a referir-se ao complexo, ao contexto, de modo multidimensional e dentro da concepção global.” Dessa forma precisamos trabalhar com as crianças a inserção dos valores sociais, morais, familiares e espirituais, de forma a envolver nesse processo de formação a família, a sociedade e a escola, cada uma destas instituições desempenhando seu papel, mas sempre trabalhando em conjunto.
A escola nos dias atuais ocupa um papel muito importante na manutenção do sistema da mesma forma em que ele esta, elas oferecem uma educação bancaria na qual o filho do opressor é educado para vir a se tornar ‘opressor’ da mesma forma em que a escola do filho do oprimido oferece uma educação na qual certamente ele será o ‘oprimido’. A escola deve assumir uma postura libertadora e com isso desenvolver ações que possibilitem o dialogo entre os seus atores, promovendo oportunidade de debates e buscando alternativas para romper com esse ciclo viçoso. Também deve possibilitar aos professores assumirem um papel político para que tenham sim um posicionamento, não partidário, mas um posicionamento que defenda seus ideais sejam eles progressistas ou conservadores. Segundo Freire; (1996, p. 21)
Devo deixar claro que, embora seja meu interesse central considerar neste texto saberes que me parecem indispensáveis a pratica docente de educadoras críticas, progressistas alguns deles são igualmente necessários a educadores conservadores. São saberes demandados pela pratica educativa em si mesma, qualquer que seja a opção política do educador ou educadora.
A função política da escola é incluir as famílias, o corpo docente e até mesmo as crianças nas decisões e diretrizes a serem adotadas, tornando se assim uma escola cidadã. A ação da escola deve sempre estar alicerçada no princípio da igualdade e da humanidade, respeitando as individualidades e ações dos sujeitos de modo que sejam agentes de sua própria historia não importando se são adultos ou crianças. Nesse sentido, é importante trabalhar se desde criança as questões políticas como uma ação afirmativa e de construção de ideais que favorecem o desenvolvimento da consciência de pertencimento, de fazer parte de, de estar no centro de, ao contrário do modo como estão sendo tratadas e vistas as pessoas das comunidades mais carentes nas periferias das grandes cidades. É nesse contexto que, em geral, estão localizadas as nossas escolas publicas e comunitárias. Segundo Freire (1980 pg.75)
Na realidade, estes homens- analfabetos ou não- não são marginalizados. Repetimos: não estão “fora de” são seres “para o outro”. Logo, a solução de seu problema anão é converter-se em “seres no interior de”, mas em homens que se libertam, por que não são homens a margem da estrutura, mas homens oprimidos no interior desta mesma estrutura. Alienados, não podem separar sua dependência incorporado-se à estrutura que é responsável por essa mesma dependência. Não há outro caminho para a humanização- a sua própria e dos outros-, a não ser uma autentica transformação da estrutura desumanizante.
O despertar da consciência de que somos parte de um todo e que para que possamos fazer a diferença devemos promover a mudança de atitude, a qual tem que primeiramente partir de cada um. Um sentimento de pertencimento precisa sim contagiar a todos os envolvidos na estrutura da escola. O mais importante nesse processo é reconhecer que nosso principal valor é o ser humano e não os bens materiais o que precisamos é mudar nossa atitude e nossa forma de ver e de atuar no mundo.
Este trabalho de conscientização vem ao encontro da necessidade de se buscar uma sociedade mais justa e igualitária com a participação de todos. Conforme Gadotti, (1998, pg. 17)
Não se constrói um projeto sem uma direção política, um norte, um rumo. Por isso, todo projeto pedagógico da escola é também político. O projeto pedagógico da escola é, assim, sempre um processo incluso, uma etapa em direção a uma finalidade que permanece como horizonte da escola.
Assistindo as mudanças estruturais da sociedade e das escolas se torna cada vez mais importante para as escolas possuírem um projeto político- pedagógico. O projeto político pedagógico deve ser o documento de identidade da escola, nele deve estar contido o seu DNA e todas as características da sua ação e do seu trabalho de forma que apenas lendo esse documento já se possa ter uma noção de quais são as intenções de trabalho a serem desenvolvidas nessa escola. Conforme Gadotti, (1998 pg. 15); “Nunca nossas escolas discutiram tanto autonomia, cidadania e participação. É um dos temas mais originais e marcantes do debate educacional brasileiro de hoje. Essa preocupação tem-se traduzido, sobretudo pela reivindicação de um projeto político-pedagógico próprio, especifico de cada escola.” É através dessa busca pelo projeto político pedagógico e por uma identidade própria que a escola precisa sim buscar uma gestão democrática com a participação de todos.
Esse modelo de gestão democrática deve acima de tudo partir da direção e do corpo docente na busca pela conscientização e a mobilização das famílias e da comunidade em geral para juntas construírem uma escola cidadã. A escola cidadã deve ter suas portas sempre abertas para as famílias e comunidade em geral sem restringir o acesso de qualquer pessoa que possa vir para conhecer, ajudar ou até mesmo pedir ajuda.
Por isso devemos buscar construir uma nova escola, uma escola que se permita sonhar, que queira sonhar, que busque transformar todas as pessoas em sujeitos melhores em pessoas responsáveis pelos seus atos e que ajam de forma sustentável e responsável em relação ao outro e ao meio em que estão inseridas, pessoas que valorizem mais o ser do que o ter que tenham como principio o respeito e o amor ao próximo querendo sempre o bem comum. Essa escola pode até parecer utópica, mas é possível se cada um fizer sua parte, caso não consigamos chegar a excelência, façamos um enorme esforço para nos aproximar o máximo possível do ideal, respeitando sempre nossa condição humana e a consciência do nosso inacabamento. Conforme Freire (1996 pg.50) “Aqui chegamos ao ponto de que talvez devêssemos ter partido. O do inacabamento do ser ou sua inconclusão é próprio da experiência vital. Onde há vida, há inacabamento.”
Nosso sonho é buscar por uma escola na qual o direito a acesso e oportunidade seja igual para todos;
Precisamos contribuir para criar a escola que é aventura, que marcha, que não tem medo do risco, por isso que recusa o imobilismo. A escola em que se pensa, em que se cria, em que se fala, em que se ama, se adivinha, a escola que apaixonadamente diz sim à vida.
Paulo Freire
Referênciais
Mec- Salto para o futuro: Construindo a escola cidadã, Projeto político-pedagógico/ Secretaria da educação a distancia. Brasília: Ministério da Educação e do Desporto, SEED, 1998.
FREIRE, Paulo- Conscientização- teoria e pratica da libertação: Uma introdução do pensamento de Paulo Freire/ São Paulo, ED. Moraes 3º edição-1980.
_________, Paulo- Pedagogia da autonomia: saberes necessários a prática educativa- São Paulo: Paz e Terra, 1996.
_________,PAULO. Pedagogia do oprimido. 17 ed. Rio de Janeiro, Paz e Terra, 1987.
Morin, Edgar, 1921-Os sete saberes necessários à educação do futuro / Edgar Morin ; tradução de Catarina Eleonora F. da Silva e Jeanne Sawaya ; revisão técnica de Edgard de Assis Carvalho. – 2. ed. – São Paulo : Cortez ; Brasília, DF : UNESCO, 2000.
[1] Pedagogo, Graduado pela Universidade Feevale e especializado em Educação Popular e movimentos sociais.