Esclerose lateral amiotrófica
Por TANHA SCHMIDT | 09/10/2012 | ResumosEsclerose Lateral Amiotrófica
Introdução
Esclerose lateral amiotrófica (ELA) é a mais comum doença neurodegenerativa.
Compromete os neurônios motores, em vários níveis:
- Neurônios motores superiores – situados no giro pré-central;
- Neurônios motores inferiores – localizados no corno anterior da medula e tronco cerebral;
- Neurônio pré-frontal – coordena a função dos neurônios superiores e inferiores.
Resulta em lesões neurológicas múltiplas com comprometimento da função muscular, respiração e alterações emocionais.
Classificação
ELA clássica – quando o comprometimento é dos neurônios superiores e inferiores.
ELA clássica esporádica – quando o início é focal e, progressivamente, compromete todo o corpo.
Atrofia muscular progressiva – resulta do comprometimento dos neurônios inferiores.
Esclerose lateral primária – envolve somente os neurônios superiores.
Paralisia bulbar progressiva – é restrita aos músculos bulbares.
Etiologia
Doença genética de ocorrência esporádica em 90 a 95% dos casos. A transmissão é do tipo mendeliano em 5 a 10% dos pacientes; a maioria é de forma autossômica dominante. Em 20%, ocorrem mutações na zinco/cobre superóxido dismutase 1 (SOD1). Outras mutações resultam em alterações de proteínas reguladoras do metabolismo do RNA, como mutações em TDP-43 e FUS/TLS.
Fisiopatologia
Ocorrem inclusões citoplasmáticas de proteínas alteradas por mecanismo genético, resultando em toxicidade e morte celular.
Várias alterações genéticas foram identificadas, mas nem todo paciente portador de genes alterados desenvolve a doença, por isso, o mecanismo que, da alteração genética leva ao desenvolvimento da doença, ainda não foi esclarecido.
Presume-se que a alteração genética seja necessária para a ocorrência da doença, mas há outros fatores envolvidos que ocorreriam entre o nascimento e o surgimento da doença, sendo o tabagismo um dos fatores de risco.
A expressão clínica da doença resultante da perda neuronal é perda da inervação de unidades motoras. No início as fibras motoras sobreviventes estabelecem conexões e reinervam as unidades que perderam conexões com axônios que morreram; nesta fase não há sinais clínicos detectáveis. Posteriormente, com a progressão da perda neuronal, aparecem os sintomas de fadiga, fraqueza, atrofia que atingem a musculatura.
Epidemiologia
Incidência
Em torno de 6 casos para 100 000.
Raça
Prevalece em brancos.
Sexo
Homens são mais afetados.
Idade
A incidência aumenta com a idade.
Morbidade / Mortalidade
A duração média de vida é de 3 anos, mas há variabilidade.
Quadro clínico
Compreende lesões de disfunção motora, distúrbios cognitivos e emocionais.
- Disfunção de neurônios motores superiores e inferiores
- Fraqueza;
- Câimbras;
- Distúrbio da fala e deglutição;
- Dificuldade de equilíbrio.
- Disfunção de neurônio motor superior
- Espasticidade;
- Alterações dos reflexos tendinosos;
- Presença de reflexos anormais;
- Perda da destricidade.
- Disfunção de neurônio motor inferior
- Fasciculações;
- Atrofia da musculatura bulbar;
- Queda do pé;
- Dificuldades respiratórias.
- Sintomas emocionais
- Choro ou riso involuntários;
- Depressão.
Diagnóstico laboratorial
Eletromiografia e estudos de condução nervosa – diminuição da amplitude do potencial de ação muscular, velocidade de condução normal, ausência de comprometimento sensorial e padrões mistos de denervação e reinervação.
Imagem
Ressonância magnética cerebral e medular – para afastar lesões estruturais que poderiam causar os mesmos sintomas no início da doença, mas não é necessário se o quadro é característico.
Biópsia muscular
Confirma os sinais de denervação e reinervação. Deverá ser realizada somente em casos de apresentação atípica.
Evolução
A ELA progride a partir da área inicialmente afetada para regiões adjacentes. Com a progressão da doença, os pacientes vão perdendo sua independência e, quando o comprometimento atinge os músculos respiratórios, necessitam de suporte respiratório, invasivo ou não. O tempo de evolução é individual.
Tratamento
Compreende um atendimento multidisciplinar com orientação, medidas de suporte e medicação.
v Fisioterapia
O atendimento fisioterápico melhora a função muscular através de exercícios, mas também ajuda o paciente a se adaptar à sua perda funcional. Outro ponto importante neste tipo de atendimento é a assistência respiratória, com o uso de ventilação não invasiva, aspiração de secreções e conduta frente à tosse.
v Fonoaudiólogos
Ajudam os pacientes a se adaptar à dificuldade de deglutição e, quando perdem a capacidade de falar, orientam quanto à melhor maneira de se comunicarem.
v Nutricionistas
Orientam quanto à ingestão calórica e a necessidade de suplementação alimentar, quando o apetite diminui.
v Pneumologistas
Para orientação quanto às medidas de suporte ventilatório necessárias e o tratamento de complicações, como infecções.
v Gastroenterologista
Para a realização da gastrostomia percutânea e sua manutenção.
v Enfermeiras
Realizam visitas domiciliares para avaliação das condições do paciente e introdução de medidas necessárias para melhora do quadro.
v Terapia alternativa
Indicada em alguns casos, desde que segura, para dar mais conforto ao paciente.
v Psiquiatras/Psicólogos
Para suporte ao paciente e à família.
Atividade
Não há restrição no início da doença, mas devem ser evitadas atividades que levem à fadiga ou dor. A recomendação é que a atividade física permita o movimento das articulações, previna contraturas e mantenha o tônus e força dos músculos ainda não afetados ou com comprometimento mínimo.
Quando a doença progride, o paciente deve ser orientado quanto às medidas de suporte necessárias e o risco de se movimentar sozinho.
Medicação
A única medicação específica é Riluzole, antagonista dos a atividade excitatória de aminoácidos glutaminérgicos. Seu mecanismo de ação exato na ELA é desconhecido.
Medicações sintomáticas
Espasticidade – relaxantes musculares.
Sialorréia – anticolinérgicos (amitriptilina), simpaticomiméticos (pseudoefedrina), toxina botulínica tipo B e irradiação da glândula salivar.
Secreções respiratórias – mucolíticos, hidratação adequada, umidificação do ar e aspiração.
Depressão – antidepressivos, como citalopram.
Ansiedade – ansiolíticos, como lorazepam, com avaliação cuidadosa para evitar depressão respiratória.
Comprometimento pseudobulbar (choro e riso involuntários) – combinação de dextrometorfano e quinidina.
Internação
Pode ser necessária em caso de descompensação do quadro, como pneumonia e insuficiência respiratória ou quando o paciente não aceita o prolongamento da vida à custa de medidas invasivas, querendo, apenas, medidas de conforto paliativas.
Prevenção
O único provável fator de risco identificado é o tabagismo.
Complicações
- Pneumonia por aspiração.
- Infecções cutâneas e úlceras de decúbito, pela permanência prolongada em cadeira de rodas e no leito.
- Tromboses venosas profundas e embolia pulmonar.
Prognóstico
A sobrevida média é de 3 anos, com variações individuais.
Referência;
1) Armon C. Amyotrophic Lateral Sclerosis. In: eMedicine Specialties > Neurology > Neuromuscular Diseases. 2010. www.emedicine.com. Acesso em 28/08/2010.