Escarafunchando Pecados e Erros

Por Emerson Ribeiro Barbosa | 17/04/2016 | Filosofia

       

            Não há pior “tribunal” para defender e acusar algum ato de que nossa própria mente. Isso é um evento comum que acontece a todos nós, em regra, quando cometemos alguma atitude que – tanto por nós quanto para sociedade – seja considerado “imoral”. Não só isso, às vezes, estamos diante de problemas e/ou situações que ficamos dialeticamente dentro da nossa pobre mente tentando buscar saídas para resolvê-los. Antes, um parêntese, no Brasil é muito comum quando alguém se lança para falar sobre algum assunto que seja de ordem filosófica, já pensam “lá vem o ser superior” (deixo essa demência endêmica para falar mais tarde). Dentro deste tribunal só há dois “sujeitos”: um que te acusa e outro que te defende, são os chamados “capetinhas mentais” que não irão nem resolver os problemas, muito menos “limpar sua barra”, e, em regra, a acusação vence.

            Para tratar deste problema, durante essa semana, além de ouvir algumas palestras, li o livro do filósofo Francês Louis Lavelle – “O Erro de Narciso”, considerado ele, Lavelle, por muitos estudiosos, o Platão do século XX. Lavelle era um sujeito simples, não popular, sua filosofia não foi muito bem aceita na Sorbonne, pois, à época o idealismo alemão de Kant, Heidegger, Wiitgenstein, Edmund Hurssel estavam na “crista da onda”. Atualmente, há várias editoras – tanto no Brasil quanto no exterior – traduzindo e publicando suas obras e além disso dando razão a quase tudo que o filósofo francês havia dito.

            O que Lavelle propõe neste e em outros livros sobre filosofia “moral” é a busca do “eu” em sua maior profundidade, por meio de introspecções e reflexões, que podem – não só reestabelecer o homem em sua plena capacidade de “ser humano”, como também reconhecê-lo como um ser que, assim como diz na Bíblia em Gênesis 1- 26:29 “O Senhor criou o homem para dominar sobre as coisas que Deus fez. Todas as coisas vivas estão sob os nossos pés “. Isso os próprios filósofos antigos até a escolástica sabiam no momento do nascimento, sem que precisassem serem ensinados. Assim, que a filosofia moderna por meio de Descartes com seu “penso, logo existo”, reduziu o verdadeiro “eu” de força criadora a mero ente substancial mecânico (influenciado pelas doutrinas de Newton), iniciou a debacle da alma humana real para conceitos estabilizados da Ciência, transformando o homem em uma imagem simiesca de si mesmo.

            Você, leitor, que está acostumado a ouvir que tu és aquilo que naturalmente és, por exemplo, “é hereditário”, “sofreu um trauma”, “tal pai tal filho”, tudo isso se refere nada mais do que a popularização de conceitos científicos da antropologia, da psicologia e da genética. Lavelle, espiritualmente elevado, destrona todos esses conceitos e procura, por meio da introspecção no “ser”, tentar buscar uma essência humana que afasta todos esses elementos ditos “naturais” e assim reconduzindo o ser humano a seu verdadeiro estado e lugar. Para ele, não somos frutos de nossa hereditariedade, não somos frutos de elementos culturais que em nós foram incutidos, não somos um “animal passivo” que é obrigado a carregar todo esse peso malévolo e aceitarmos e admitirmos que somos, de fato, assim.

            Você, caro (a) leitor (a), é uma “força criadora”, “livre”, capaz de fazer escolhas – baseadas em seus valores – e tentar alcançar objetivos pessoais daquilo que você quer ser! Esse sim é seu verdadeiro “eu”, Deus já nos deu essa liberdade, além de ter nos dado o motor primeiro para que isso aconteça, uma “alma imortal” e um espírito que tem impulso e robustez para chegar ao seu “eu real”. E é neles que tu tens que se apoiar para que sua imagem ideal se concretize. Essa tara que carregamos não pode jamais predominar sobre seu espírito, sua liberdade de escolha, em suma, sobre a busca de seu ser “ideal”. Pare de tentar “vasculhar” seus erros, seus pecados em demasia, pare de tentar procurar “o que há de errado”. Isso é o avesso do que é divino.

            Somente para finalizar o que havia prometido sobre a tal “superioridade” de uma pessoa sobre outra, creio que nas entrelinhas a resposta já foi dada. 

Fontes e Bibliografia:

Olavo de Carvalho - Aula COF - 194

Louis Lavelle - "O Erro de Narciso"