Era uma vez uma fábrica de sonhos

Por José Natalino Pavão de Oliveira | 16/11/2016 | Educação

José Natalino Pavão de Oliveira

jonpol48@gmail.com

Mary Helen Maximiano Sena

helenmary1005@gmail.com

A Literatura infantil é, antes de tudo, literatura, ou melhor, é arte: fenômeno de criatividade que representa o Mundo, o Homem, a Vida, através da palavra. Funde os sonhos e a vida prática, o imaginário e o real, os ideais e sua possível/impossível realização. (Cagneti,1996 p.7)

Atrelada à história da própria concepção de infância,a história da literatura infantil contou com os primeiros livros para crianças somente no final do séc. XVII e durante o séc. XVIII. O alvorecer de uma nova classe social trouxe consigo a valorização de um modelo de família burguesa, ondea infância passa a ser vista com interesse maior em sua educação. Para Peres (2012, p.1), a Literatura Infantil nasce nesse momento, com o intuito de transmitir os valores do novo modelo familiar burguês centrado na priorização da vida doméstica, fundamentada no casamento e na educação de herdeiros.Antes disso não se escrevia para crianças, pois não existia o que chamamos hoje de “infância”.

O desenvolvimento da imaginação infantil quando devidamente trabalhado faz do sujeito alguém envolvido com ideias, crítico e modificador das situações. Ao saborear a leitura o leitor assume um ato de compreensão e interpretação do mundo, instrumentalizando-se para modificar ou ressignificar o contexto no qual está inserido. No cotidiano os caminhos da leitura nos aparecem por ocasiões de necessidade, prazer, obrigação, divertimento ou passatempo.

Uma das metas do Referencial Curricular Nacional da Educação Infantil é que, através do trabalho com a leitura, a criança possa: participar das variadas situações de comunicação oral, interessar-se pela leitura de histórias, familiarizar-se com a escrita por meios de livros, revistas, histórias em quadrinhos, etc. (RCN, 1998, p.119).A escola parece ter como uma de suas funções primordiais a formação do indivíduo leitor, por ocupar o espaço privilegiado de acesso à leitura, sendoimprescindível que crie possibilidades para desenvolver o gosto pela leitura através de textos significativos para os alunos.

A grandiosidade da Literatura Infantil deve ser compreendida como uma viagem ao mundo da imaginação, tão presente na infância. O papel que esse tipo de literatura exerce na formação das crianças compreende desde a trajetória histórica da Literatura Infantil ao longo dos tempos, até a importância de se enfatizar a necessidade de sua utilização na escola, em casa e na vida. O uso das linguagens e do exercício de interpretação através da Literatura Infantil, seus textos e ilustrações são fundamentais no desenvolvimento da criança. É através das histórias que as crianças aprendem nomes, sons, músicas e se inserem na cultura.Não ler é um problema cultural e as crianças brasileiras leem pouco, porque não são incentivadas. A Literatura Infantil leva a criança à descoberta do mundo onde a realidade e a fantasia estão intimamente ligadas, proporcionado à criança viajar, descobrir e atuar num mundo mágico, podendo atétentar modificar a realidade.

A criança do século XVIII era vista em duas realidades: na burguesia, orientada por preceptores, lia geralmente os grandes clássicos. A criança do proletariado lia ou ouvia as histórias de cavalaria e de aventuras. As lendas folclóricas e contos populares, em prosa ou verso,eram parte de uma literatura de cordel ouvida nas feiras e mercados ao ar livre, que muito interessava às classes desfavorecidas. A escola tornou-se uma instituição legalmente aberta, onde podiam comparecer não só a burguesia, mas todas as camadas da sociedade. A Literatura Infantil aparece como coadjuvante do processo de escolarização onde a concepção de infância, como novo construto,exigia novos mecanismos para “equipar” e “preparar” a criança, capacitando-a para mais tarde conviver no meio social.Costuma-se apontar duas tendências na trajetória de uma literatura que fosse adequada à infância e juventude, próximas das preferências que já influenciavam as crianças: os clássicos adaptados e o folclore,de onde surgiram os contos de fada, ainda não voltados especificamente para a criança.

À épocaa criança era considerada um adulto em miniatura, lia os primeiros “textos infantis”, resultantes de adaptações ou compilações de textos escritos para os adultos, onde eram realçadas as peripécias e aventuras com caráter exemplar, ou seja, com a preocupação de mostrar sempre a moral da história, como nas antigas fábulas. O mestre das fábulas modernas, Jean de La Fontaine (Paris,1621-1695) escreveu sua grande obra Fábulas ao estilo do autor grego Esopo, que falava da vaidade, estupidez e agressividade humanas através de histórias curtas com animais. La Fontaine é considerado o criador da fábula moderna que certa vez definiu a natureza da fábula: “É uma pintura em que podemos encontrar nosso próprio retrato”. Algumas fábulas escritas e reescritas por ele são A Lebre e a TartarugaO Homem, A Cegonha e a Raposa, O Menino e a MulaO Leão e o RatoO Carvalho e o Caniço, a Raposa e as Uvas.

É verdade que o valor intrínseco das obras literárias era reduzido, mas atingiam o objetivo então estabelecido que era atrair o pequeno leitor/ouvinte para que pudesse participar das inúmeras experiências que a vida proporciona emnível real ou imaginário.Considerado pai da literatura infantil, Charles Perrault (Paris,1628–1703), estabeleceu as bases para o gênero “contos de fada”, que conhecemos hoje.  Em 1671, tornou-se membro da Academia Francesa de Letras. Já idoso, resolveu registrar as histórias que ouvia da mãe e nas ruas da França em um livro que recebeu o nome de Contos da Mãe Gansa, publicado em 1697 e que, mais tarde, ganharam adaptações para filmes. Encerrando cada um dos contos do livro havia as “morais das histórias”, em forma de poesia.  Perrault foi o autor de clássicos como O Gato de Botas, Chapeuzinho Vermelho, A Gata Borralheira, A Bela Adormecida, Barba Azul e O Pequeno Polegar.Há o mito de que os contos de Perrault vieram de um folclore existente para justificar a inclusão de pessoas comuns. Muitos desses contos foram recolhidos em salões da aristocracia francesa, trazidos à corte através dos serviçais, como querem alguns.

Na Alemanha Johann Musäus (1735-1789) publicou uma coleção de contos populares entre 1782 e 1787. Seus conterrâneos, os irmãos Grimm (1785-1863;1786-1859), colecionadores de histórias folclóricas, estão também ligados à gênese da literatura infantil. Os Grimm recolheram e publicaram contos populares que achavam representativos da identidade cultural alemã. Em Des Knaben Wunderhorn (A trompa mágica do menino) os irmãos Grimm iniciaram a coleção objetivando criar um compêndio acadêmico de histórias tradicionais e assim preservar as narrativas recolhidas como haviam sido transmitidas de geração para geração (folclore = sabedoria popular), uma prática ameaçada pela chegada da industrialização. O surgimento do nacionalismo romântico e a valorização da cultura popular no século XIX reavivaram o interesse em contos de fadas desde seu auge, ao final do século XVII.Da primeira coletados Grimm constavam contos de Des Knaben Wunderhorn (A trompa mágica do menino) os irmãos Grimm iniciaram a coleção objetivando criar um compêndio acadêmico de histórias tradicionais e assim preservar as narrativas recolhidas como haviam sido transmitidas de geração para geração (folclore = sabedoria popular), uma prática ameaçada pela chegada da industrialização. O surgimento do nacionalismo romântico e a valorização da cultura popular no século XIX reavivaram o interesse em contos de fadas desde seu auge, ao final do século XVII.Da primeira coletados Grimm constavam contos de Perrault, publicados em Paris, em 1697. Publicados e adaptados inúmeras vezes, os contos encontram-se hoje bastante modificados.

No Brasil, a Literatura Infantil aparece através de obras pedagógicas e adaptações de produções portuguesas, dependência típica das colônias (Cunha, 1999, p.23). Ao final do século XIX, no entanto, aparecem os primeiros livros para crianças escritos e publicados por brasileiros. A verdadeira Literatura Infantil brasileira tem início com a grandiosidade da obra de José Bento Monteiro Lobato (1882-1948).  Nascido em Taubaté, interior de São Paulo, atuou como promotor público vindo a tornar-se fazendeiro devido à herança deixada por seu avô. Em 1917 Monteiro Lobato comprou a Revista do Brasil e iniciou suas atividades editoriais, publicando o Urupês e várias outras obras. Lobato fazia com que seus exemplares fossem vendidos por todo o país, em qualquer tipo de comércio, não apenas em livrarias, alcançando a tiragem média de 3.000 exemplares por edição. Chegou a editar 50.500 exemplares de Narizinho Arrebitado. Além de empreendedor sempre em busca de novidades - só publicava jovens autores então desconhecidos como Paulo Setúbal, Menotti Del Picchia, Humberto de Campos, Oswald de Andrade, Oliveira Viana, hoje grandes nomes da literatura nacional - Lobato tratou com especial atenção a apresentação gráfica de seus livros. Monteiro Lobato passou a editar no Brasil livros didáticos e infantis, até então editados na Europa, barateando-lhes o formato clássico, revestindo-os com capas desenhadas e coloridas.

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