Era uma vez a água
Por Marineide Soares Benício | 27/03/2015 | ContosEra uma vez, em uma terra não muito distante, seres que adoravam explorar a sensível e valente água.
Todos os dias milhares de pessoas, já ao amanhecer, ligavam suas torneiras para os dentes escovarem e gastavam a pobre água bem à vontade. No banho, que tristeza, a água corria ralo abaixo enquanto se ensaboavam. E havia seres chamados de perfeccionistas com mania de limpeza que colocava a água todos os dias a serviço de suas calçadas. Tudo era motivo para usarem e abusarem do líquido sem cor. Em terra tropical como a deles, os banhos vespertinos se repetiam assim que o suor escorria pela face. Bastava as crianças se entediarem de seus jogos virtuais que logo aparecia mais serviço para a H2O fazendo entrar em cena as terríveis piscinas de quintal, isso quando os pais não cismavam de irem aos clubes e passavam horas expondo a natural potável em horrorosas duchas.
Naquele tempo, com a nossa heroína em abundância, as nuvens não custavam a cair em forma de chuva, mas ninguém prestava atenção, ainda havia aquelas criaturas que só reclamavam: Por que tanta chuva? Assim minha roupa não vai secar... E o meu carro que acabei de lavar, esta chuva só veio para sujá-lo. O líquido caído do céu logo era descartado.
Com o passar do tempo, a doce água cansada de não ser valorizada, começou a cair em uma profunda depressão, no início acharam que era apenas uma fase de manutenção nas redes, mas sua ausência começou a fazer parte da rotina daqueles seres que lavavam suas janelas cristalinas sem dó nem piedade.
E chegou o dia que a bela e saborosa água desapareceu. E quando a sede bateu às portas dos mais insensatos seres o filtro... vazio estava. A mangueira também não sabia do seu paradeiro. Aquele refrescante e demorado banho, não tinha vestígios da água. A pobre máquina de lavar queria muito trabalhar, mas não conseguia entrar em contato com a nossa amiga cristalina. Perguntaram também à conhecida piscina se a água passara por lá, mas a resposta era sempre a mesma; nada de água por aqui.
Quando soube da preocupação das criaturas com o seu sumiço, a água resolveu voltar, porém o seu desperdício havia sido tão absurdo que nem a própria água conseguia encontrar seu caminho de volta, e a única coisa que restou à humanidade foi a feliz lembrança da ilustre presença aquelínea por todos os cantos, porque é aqui que o conto de fadas perde sua principal característica, pois a falta de água tirou o nosso feliz e hidratados para sempre.