Epistemologia no diálogo Teeteto de Platão

Por Andressa S. Silva | 16/11/2010 | Filosofia

"A admiração é a verdadeira natureza do filósofo"
(Sócrates, Teeteto)


Sócrates pede a Teodoro que o indique uma pessoa sábia para dialogar. Indicado por Teodoro, Sócrates inicia seu diálogo com Teeteto, e este inicia-se com um argumento de Sócrates a respeito da semelhança entre ele e Teeteto, mencionada por Teodoro.São 6 premissas bem elaboradas e uma conclusão embasada, numa construção dialética, e em cada premissa havia um comentário de Teeteto, e esta característica se estendeu por todo o texto.
Ainda utilizando-se do mesmo método, Sócrates leva Teeteto a perceber que não sabe diferenciar conhecimento de sabedoria. Apesar de Teeteto tentar responder, Sócrates mostra que enumerar características não é decifrar a essência. Então Teeteto comenta que conhecimentos exatos seriam mais fáceis, prováveis, ao passo que conhecimentos metafísicos são abstratos, difíceis de serem alcançados, por isso intenta desistir da conversa, tentativa essa interrompida por Sócrates.
Reiniciando o diálogo, Sócrates afirma para Teeteto que a dificuldade em encontrar o conhecimento almejado é difícil como as dores do parto (alusão à maiêutica). A fim de comparar a sua arte, o seu método, com o trabalho das parteiras, Sócrates elabora então premissas bem formadas pra que a conclusão seja a semelhança intentada.
Percebe-se que no item VIII, Platão (o autor do diálogo) faz um comentário sobre Sócrates e os deuses, antes em menor intensidade, mas neste de maneira marcante. Talvez tenha relação com as acusações a Sócrates de não acreditar nos deuses de Atenas.
Continuando o diálogo, Teeteto, novamente interrogado sobre o que é conhecimento, responde, então, que é sensação, e Sócrates elabora argumentos que afirmam que tal resposta já teria sido dada por Protágoras, mas que as sensações são individuais, particulares. E comenta também sobre o devir de Parmênides, como não sendo passível de fornecer a resposta exata a respeito da essência do conhecimento.
Na sequência do diálogo, Teeteto mostra-se surpreso com Sócrates, pois considerava que sua premissa (proposição) era muito bem formada, até que Sócrates a refutou e mostrou como o conhecimento não é sensação. Em seguida do diálogo, Sócrates passa a demonstrar como o argumento de Teeteto poderia levar a uma resposta mais satisfatória, que não pudesse ser refutada. E Sócrates ainda aponta para a necessidade de conhecer bem os vocábulos ao aceitar ou negar uma tese, pois por falta de atenção a estes poderíamos criar um conceito errôneo.
Sócrates prossegue o diálogo indagando a Teeteto se seria possível uma pessoa não saber sobre o que sabe. E discorre por um longo tempo sobre a dialética e sua diferença de um comentário por si só. Em seguida, discorre sobre a diferença entre sabedoria e opinião, sendo esta última passível de enganos, o que refuta a teoria de Protágoras.
Numa nova mudança de assunto, inicia-se a discussão a respeito da liberdade que desfruta o filósofo, o escravo e o homem do coro. E comenta como a filosofia pode trazer liberdade a seus admiradores, mas o preço por essa liberdade são as caçoadas, pois os filósofos passam por lunáticos e imbecis. E ao ser questionado sobre a eliminação dos males da ignorância, Sócrates afirma ser impossível eliminar a ignorância, pois as forças se dividem em duas sempre (bem e mal, pio e ímpio, etc.), e por isso a ignorância não seria eliminada, a fim de manter estável a sabedoria. E acrescenta ainda, na continuidade, suas críticas aos sofistas, por estes defenderem que possuem a sabedoria absoluta, mas sendo esta sabedoria individual (o homem é a medida de todas as coisas, segundo Protágoras).
Sócrates passa a discorrer sobre a teoria do movimento, afirmando haver duas formas de movimento (Alteração e translação). Assim, se nem tudo se movimenta nas duas formas apresentadas ao mesmo tempo, mas a teoria diz que nada é estável, então a teoria do devir é questionável. Ainda avaliando a doutrina que diz que tudo é estável, não há movimento, Sócrates absteu-se de pronunciar, por ter pouca certeza.
Voltando ao assunto do conhecimento igual a sensação, Sócrates passa a questionar a Teeteto o que é a alma, e do que ela se encarrega (sentidos ou conhecimento), e pela sequência de argumentos e respostas, mais uma vez refutou a hipótese de que conhecimento é sensação. Uma vez percebido que conhecimento não é sensação, então passam a buscá-lo na opinião.
Inicia suas citações a respeito de opiniões falsas e verdadeiras, e afirma que "Designamos como opinião falsa o equívoco de quem, confundindo no pensamento duas coisas igualmente existentes, afirma que uma é outra", por isso aparentemente não é possível que esteja na opinião, pois podem haver opiniões falsas. Então, uma pessoa pode saber (por ter a opinião de que sabe), e ao mesmo tempo não saber (como representam os problemas de Gettier), então Sócrates apresenta uma possível diferença entre saber e perceber.
Prosseguindo o diálogo, passam então a tentar diferenciar saber de conhecer. E nas suas meditações, Sócrates afirma que não é prudente buscar opiniões falsas antes de conhecimentos, pois a definição de um pode atrapalhar na busca da definição do outro. Então Teeteto diz que conhecimento é, portanto, opinião verdadeira, tese essa refutada por Sócrates. Teeteto acrescenta ser o conhecimento uma opinião verdadeira acompanhada de uma explicação racional. E Sócrates o convence de que uma opinião verdadeira e racional não é suficiente para ser definida como conhecimento, mas que o seu método não poderia ir além disso, por falta de tempo.

CONCLUSÃO: O diálogo Teeteto informa as crenças que provavelmente Sócrates teria a respeito do conhecimento, como se dá o conhecimento e como definí-lo. É um diálogo de fácil compreensão, apesar de extenso, e muito pertinente ao estudo de epistemologia na graduação em filosofia.

REFERENCIA:
PLATÃO. Teeteto. Disponível em: . Acesso em 24/02/2011.