EPIRITUALIZAÇÃO E AUTOMATISMO RELIGIOSOS

Por Cilas Emilio de Oliveira | 09/07/2013 | Religião

ESPIRITUALIZAÇÃO E AUTOMATISMO RELIGIOSOS

 

Estes dois fatores respondem pelos acréscimos e excessos de elementos contidos no seio das religiões, principalmente na religião denominada cristã, a qual contém ,de sobra, certas facetas que alteraram o sentido exato dos ensinos de Cristo. Os elementos em questão dizem respeito às interpretações que na maioria dos casos fogem do contexto bíblico, bem como dos sentidos exatos dos mesmos. Com isso criou-se uma gama enorme de atribuições e conceitos, que ferem a essência, o cerne do evangelho. É por isso que há figuras paralelas nos grupos relacionas a essa religião, que recebem atos devocionais, verdadeiros paralelos a Quem de direito. Nesse contexto altamente nocivo para a palavra de Deus, o que era para ser uma restrição, um conjunto de elementos dispostos em sintonia com o Criador, passou a ser um amontoado de normas, práticas e direcionamentos que ganharam relevo no meio religioso. Não bastando o primeiro elemento roubar o principal fator, ainda por cima vem o segundo que retira dos textos – também - sua restrição, generalizando, como se tudo que foi dito aos contemporâneos de Jesus fosse automaticamente dirigido aos gentios. Vejamos como isso se processou.

ESPIRITUALIZAÇÃO:

Tomemos por base o episódio de Caná da Galileia, onde a figura de Maria ganhou relevo como mediadora, engendrada pelos líderes do catolicismo, em datas posteriores à criação e surgimento da Igreja cristã. Notamos que uma palavra dirigida aos serventes da casa; uma atitude até certo ponto louvável por parte de Maria e, que na verdade foi direcionada a quem nada tinha a ver com o sentindo espiritual da mensagem divina, ganhou formas e sentidos adversos. Como se sabe, uma pessoa de bom senso ante a situação do momento e, sabendo quem era quem mandava proceder o enchimento dos vasilhames, evidente que iria se manifestar da forma que Maria se manifestou. Contudo, observando o contexto, ver-se-á que os elementos em questão, ou seja, os serviçais da casa, não eram pessoas da relação espiritual, porém simples serventes no afã de servir as mesas. Não vemos nesse episódio subsídios para decretar que ali existiu uma mediação no sentido espiritual, o que se quer dar à Maria no seio do catolicismo romano. Com efeito, Maria é vista hoje como um elemento na cadeia das mediações, “esticando” a corrente com o acréscimo de mais um elo nesse fator, mesmo Paulo tendo dito que “Há somente um Mediador entre Deus e os homens, Cristo Jesus homem”. Com clareza, percebe-se nessa efeméride a presença da espiritualização que, como o termo sugere, á a arte em atribuir dividendos espirituais a quaisquer fatos ou situações de cunho meramente humanos. Isso tem sido a mola mestra nas adições que comandam a vida das organizações religiosas, mormente a do catolicismo romano. O mesmo pode-se dizer do célebre conceito, “Mulher eis aí teu filho; filho eis ai tua mãe”. Tão visível o caráter humano-fraternal neste texto que chega a ser um ultraje transportá-lo ao aspecto espiritual. Graças a essa inversão de valores que Maria hoje tem milhares de filhos adaptados às conveniências da organização que assim o determina.

AUTOMATISMO:

Este fator muito em voga nos meios eclesiais, tem como ponto alto atribuir tarefas e missões, a quem não é referido nem escolhido para certas incumbências, mesmo não tendo dom ou capacidade para tal. Esse é a principal característica do automatismo. Serve de base para esse aspecto uma das determinações de Jesus aos seus discípulos, quando ordenou: “Ide por todo mundo e pregai o evangelho a toda criatura...”. Novamente vem uma das muitas atribuições ao contexto do Novo Testamento, mais um fato que em nada justifica o caráter genérico, como se a ordem fora dado a todos os cristãos. Isso criou um estado de constante inquietação nos cristãos, tendo em vista que, mesmo não tendo aptidões para a missão vêem-se faltosos pelo não cumprimento da suposta ordem “dada” a eles. Mesmo porque, esse “todo mundo” na expressão do Mestre não representa o mundo inteiro na forma que conhecemos, e sim uma das muitas expressões correntes na época. É como a expressão “Deus amou o mundo”. Claro está que o amor de Deus está direcionado aos homens, ou seja, ao mundo humano. Ainda convém salientar que o mundo daquele tempo estava restrito a Israel – “Não vim senão às ovelhas perdidas da casa de Israel” – quando muito às cercanias da palestina. Basta sabermos que o livro de Mateus trata restritamente do evangelho do Reino, voltado para Israel. Nos demais casos, os dos gentios, o Senhor escolheu determinados elementos para essa tarefa, como é o caso de Paulo. O próprio Jesus, pela rejeição dos judeus, partiu para outras plagas, assim também o apóstolo dos gentios. Temos que entender, tanto num aspecto como noutro, que sempre existiram figuras as quais foram atribuídos afazeres concernentes ao reino divino. Assim, atribuir valores restritos a uns, em detrimento de outros, carecem muito de fundamentos.

O cenário religioso cristão conta com um enorme volume de atos, conceitos e direcionamentos duvidosos, pela razão da não observância de alguns pontos básicos da mensagem divina, bem como da falta de restringir fatos a quem realmente recebeu determinação para isso. No caso da espiritualização de elementos, de fatos e de outorgas humanas, estes do automatismo sobrecarregam o mundo cristão com cargas que “nem eles com os dedos conseguem movê-las”. Líderes lançaram às constas do povo suas interpretações, atribuições, dignificando seres fora do contexto, ao mesmo tempo em que transmudaram sentidos. Do evangelho simples, sem complicações, negligenciaram os pontos básicos, tanto da missão encarregada da difusão do evangelho, como anexaram formas alheias ao contexto cristão. Quando figuras do apenas relacionamento humano ganha status espirituais; quando uma atribuição restrita a um/uns elemento(s) é descarregada em caráter genérico, realmente temos um cristianismo repleto de conceitos humanos como se fosse de ordem espiritual. Tudo que Jesus ensinou acerca de sua pessoa, de sua restrição passa a englobar conteúdos que ferem sua essência como único nesse campo. Da mesma forma, quando retiram afazeres de alguns atribuindo a outros a generalização toma conta do cenário religioso.

                Quais as principais conseqüências dessas inversões de valores? Muitas sob vários aspectos. No que tange à espiritualização, hoje figuras praticamente acidentais no contexto formador do cristianismo recebem o que Jesus jamais recebe no seio das organizações. Homenagens, honras, devoções, solicitações, graças e todas as manifestações dignas de um portentoso senhor, são direcionados a seres colocados como dignos de culto. Mesmo Jesus tendo restringido o culto somente a Deus: “Ao Senhor teu Deus adorarás e só a Ele darás culto”.  Assim a criatura recebe o que deveria ser canalizado ao Criador na pessoa do Filho. Quanto ao outro fator – o automatismo – seria como o ditado vigente no meio brasileiro: “Forçar a barra”, onde quem não recebeu a incumbência de pregar o evangelho sente-se na obrigação em fazê-lo. Isso sobrecarrega a mente do indivíduo que o faz sentir-se culpado pelo que não faz. Melhor dizendo, tem que assumir posturas que não dizem respeito a ele.

           

Artigo completo: