Epicuro e o ultilitarismo

Por Bárbara Ribeiro Pires | 26/12/2011 | Filosofia

Epicuro e o Utilitarismo

 

O estudo a ser apresentado aponta os atrativos que a perspectiva utilitarista exerce sobre o pensamento moral, explicados segundo a visão epicurista.

Epicuro de Samos (341/270 a.C) foi um importante pensador grego que deu origem à uma doutrina filosófica denominada epicurismo, que sugere que o homem vive sempre em busca da felicidade, que as ações do homem o levam sempre em busca do prazer, tentando privar-se da dor.

“Utilitarismo: concepção que sustenta que só existe um princípio moral: o de buscar a maior felicidade para o maior número de pessoas; além disso, sustenta que a “felicidade” significa prazer e privação da dor; e também que esse único princípio moral deve ser aplicado individualmente a cada situação” (Utilitarismo dos atos).

Apesar de o utilitarismo estar voltado para a felicidade humana, nem tudo qu possui este objetivo final, é de fato utilitarismo.

São quatro os atrativos que a perspectiva utilitarista exerce sobre o pensamento moral.

O primeiro destes atrativos sugere que apesar do utilitarismo estar completamente dissociado do Cristianismo, deriva-se dele. Ele não faz apelo à nada exterior à vida humana, nem a nenhuma consideração de caráter religioso. Epicuro explica que ao entrar em confronto com o Cristianismo, tais doutrinas se tornaram antagônicas, uma vez que estas filosofias coincidiam à fruição dos gozos terrenos, o que era confundido pelo Cristianismo, que por sua vez considerava tais doutrinas como apologia à vícios e torpezas humanas. E explica ainda:

“Quando dizemos que o prazer é a meta, não nos referimos aos prazeres dos depravados e dos bêbados, como imaginam os que desconhecem nosso pensamento ou nos combatem ou nos compreendem mal, e sim à ausência de dor psíquica e à ataraxia da alma. Não são com as bebedeiras e as festas ininterruptas, nem o prazer que proporcionam os adolescentes e as mulheres, nem comer peixes e tudo mais que uma mesa rica pode oferecer que constituem a fonte de uma vida feliz, mas aquela sóbria reflexão que examina a fundo as causas de toda escolha e de toda recusa e que rejeita as falsas opiniões, responsáveis pelas grandes perturbações que se apoderam da alma. Princípio de tudo e bem supremo é a prudência. Por isso, ela é ainda mais digna de estima do que a filosofia.” ( Epicuro, Carta a Menequeu. In:Morais, Epicuro: as luzes da ética, 1998, p. 93)

Segundo Epicuro, Nem sempre o prazer atrai o que há de melhor. Nem sempre a dor atrai o que há de pior. “ Nenhum prazer é em si um mal, mas as coisas que proporcionam certos prazeres acarretam sofrimentos às vezes maiores que os próprios prazeres.” (Epicuro, Máximas fundamentais. In:Morais, Epicuro: as luzes da ética, 1998, p. 93-97)

Tais citações de Epicuro, é justamente a que se refere o segundo atrativo, de que a busca da felicidade própria é supostamente inquestionável, da felicidade alheia, por outro lado, é um objetivo questionável, uma vez que as pessoas possuem interesses variados e que para conseguirem se satisfazer, algumas vezes tiram a felicidade de outros.

O terceiro e quarto atrativos sugerem, respectivamente, que assuntos morais, à princípio, podem ser determinados por cálculos empíricos; e que jamais existirão opções certas ou erradas,existe porém, aquilo que é, ou deixa de ser a melhor coisa a se fazer no conjunto, pois todas as opções são válidas e podem ser avaliadas levando em consideração o Princípio da Máxima Felicidade.

Tais atrativos são complementados por Epicuro que propõem que a felicidade só se atinge com sabedoria, sabendo diferenciar e escolher os prazeres, baseando-se na análise das conseqüências. Para Epicuro estes prazeres são divididos em três patamares:

1. Necessários e naturais: comer, beber, dormir...;

2. Não necessários e naturais: desejo sexual, desejo de extravagâncias alimentares...;

3. Não necessários e não naturais: os desejos ilimitados de poder, ganância...

Epicuro não só explica como compartilha o ideal utilitarista. E segundo o próprio filosofo:

“XXXI- O direito natural é uma convenção utilitária feita com o objetivo de não se prejudicar mutuamente.” ( Epicuro, Máximas fundamentais. In: Morais, Epicuro: as luzes da ética, 1998, p. 93-97).

A felicidade como objetivo “inquestionável” não pode servir aos propósitos do utilitarismo, uma vez que, cada caso é analisado separadamente, considerando as implicações psicológicas, tornando algumas das opções desejáveis aos utilitaristas, inviáveis. O utilitarismo de fato, só seria alcançado em um mundo com pessoas extremamente inocentes, e nenhum homem do nosso tempo poderia ser tão inocente. Talvez, seguindo a filosofia de Epicuro, buscando sempre o prazer como resultado final e tentando sempre privar-se da dor, seja a única maneira de se aproximar da doutrina utilitarista.

Referência Bibliográfica:

MILL, John Stuart. O Utilitarismo. (Capítulo II: O que é o Utilitarismo; Capítulo V: Da Relação entre Justiça e Utilidade). Tradução Alexandre Braga Massella. São Paulo: Iluminuras, 2000

WILLIAMS, Bernard. Moral: uma Introdução à Ética (Capítulo intitulado Utilitarismo, pp. 137- 165). Tradução de Remo Mannarino Filho. São Paulo: Martins Fontes, 2005

Bittar, Eduardo Carlos Bianca. Curso de Filosofia do Direito/ Eduardo C. B. Bittar, Guilherme Assis de Almeida – 6ª. ed. – São Paulo: Atlas, 2008.