Entrevista com a Alma

Por Bernard Gontier | 05/08/2009 | Crônicas

Entrevista com a Alma


Trecho do programa exibido em 26.05.09 pela TV Shambala.


Sete jornalistas credenciados tomam parte do evento.

(...)

- Veja, isso são generalidades – replica a Alma – nomes genéricos, como Hermes,  Manu e Buda. Significam três  coisas de uma só vez: o ser, o grau hierárquico e a divindade. Todas as coisas são ligadas na economia espiritual. Não sou nem espírito nem matéria – mas a relação entre ambos. Posso também ser encarada como a qualidade sutil de cada forma manifesta.

- Você acha que o tempo é um círculo fechado sobre si mesmo, ou é mais parecido como um curso d‘água? – indaga o jornalista número um – e quanto tempo leva o adepto para tomar contato com você?

- Para começo de conversa – responde a Alma – o homem ou a mulher, ou o ser, melhor dizendo, só se torna um adepto quando entra em contato comigo, e mantém esse contato conscientemente por longo período. Depois, a minha relação com o tempo difere da dos humanos. Essas metáforas que você usou não fazem sentido para mim.

Pergunta do jornalista número dois:

- Existe a possibilidade do ser não entrar em contato com você?

 - É o que mais existe. Ao longo de sua jornada, o ser humano pode ou não entrar em contato comigo. Isso é comum. Dependendo da criatura, ela atravessa existências sem que isso aconteça.

- E as denominadas almas velhas? – interrompe a jornalista número três.

- Balela. Todas as mônadas ou centelhas espirituais foram criadas no mesmo momento. Esse termo, alma velha, se refere a quantidade de vidas terrenas da personalidade encarnada. Quando a obstinação predomina, ela chega até três mil existências. Burrice não tem remédio.

A jornalista número três anota alguma coisa num bloco e mostra para os colegas. O jornalista anterior meneia a cabeça e passa a anotação para a jornalista número quatro, que por fim indaga:

- Como se dá o contato?

- Quando a personalidade encarnada quieta os sentidos. Veja, eu tenho um trabalho a fazer, pois também estou em evolução. Acontece que, do meu plano, quase nada pode ser feito sem a cooperação do ser. Minha relação de espaço e tempo opera em nível diferente, como já disse, por isso a necessidade do ser se aquietar para que o contato se estabeleça. No mais, só dou atenção à personalidade encarnada se essa começar a se interessar pelas questões espirituais:  meditação e serviço.

- Isso não lhe parece um pouco radical? – indaga a número quatro.

- Zero radical – replica a Alma, de soslaio – e menos radical do que um sujeito que se enfia numa lanchonete e fuzila os que estão  lá dentro. Tenho certeza de que você fica atônita com as coisas horríveis que as pessoas podem fazer. É que a atenção delas está fixada apenas na personalidade. Desse modo a consciência fica estreita. Muito estreita. E sujeita a todo tipo de influência daninha.

- Qual é o seu trabalho, uma vez que o ser tome consciência de você? – pergunta o jornalista número cinco.

- Árduo... Do meu plano, devo desenvolver a relação com o Mestre e procurar transmitir essa percepção à personalidade encarnada. Na verdade eu me aproprio do corpo, você sabe.

- Como você mesma disse – interrompe o jornalista número um – um ser pode passar existências sem tomar contato com você. O que você faz nesse ínterim? Digo, deve ser frustrante...

- Acontece que eu não me aproprio de um só corpo – explica a Alma sorrindo enigmaticamente - Minha missão se estende a doze corpos. Funciono como uma empresa, compreende? No meu plano, chamamos a personalidade de extensão de alma. Encare como filiais de uma multinacional. Se uma não vai bem, canaliza-se esforços para as que estão se desempenhando melhor. O ciclo evolutivo é extramente ágil. Se acontecer das doze estarem atraídas - e somente atraídas pela matéria, pelo ego negativo, tenho as minhas próprias atividades no meu plano. Agora, quando uma das personalidades, ou todas, começa(m) a perceber que sua única missão aqui é servir, aí a coisa muda de figura.

- Como assim?

Pergunta vinda da jornalista número seis.

- Começo a transmitir ao futuro adepto, oxalá assim seja, parte dos meus atributos. Antes que você pergunte, vou relacioná-los resumidamente: amor incondicional, inclusividade, alegria, felicidade, capacidade de ficar sozinha, desapego, serenidade e intuição.

- De que forma você encara a religião? – pergunta o jornalista número sete.

- Vou lhe responder com uma citação, embora eu não me recorde agora o nome do autor: “É possível isolar a história política dos povos, mas não desconjuntar a história religiosa. Por outro lado, em uma palavra, a história de uma religião será sempre estreita, supersticiosa e falsa. A única verdade é a história religiosa da humanidade”. Enfim o conjunto, desde o mais primitivo ao mais “avançado”, consiste na abertura da linha de comunicação entre a personalidade e os planos sutis. Pessoas, digamos assim, absolutamente inexperientes, não tem nenhuma comunicação comigo. No entanto, eu sou apenas o começo da jornada.

- Além da alma...? – a jornalista número três acaba quebrando a ponta da lapiseira.

- Para lá de além – responde a Alma – eu sou o primeiro guia e instrutor da personalidade. Por outro lado, a personalidade deverá consistir no meu veículo de expressão, neste plano. Dependo dela para evoluir.  Agora, se esta transborda emoções negativas e só demonstra interesse por dinheiro, poder, prazer e televisão,  então não estamos na mesma sintonia, compreende?


- Você é o contato para Deus? – pergunta da jornalista número seis.

- Contato para Deus... – pondera a Alma -  outra citação, para delinear melhor as idéias: “Nenhum de nossos pensamentos saberia conceber Deus, nem nenhuma língua defini-lo”. Ora, em se tratando da magnitude do assunto, e partindo do pressuposto de que todo ser vivo e encarnado já está fazendo a viagem de volta à Casa do Pai, contatos com Deus são feitos a todo momento, pois Ele se manifesta incessantemente. Distingui-los são outros quinhentos. E trilhar o caminho obedece de fato uma hierarquia. Começa comigo.

- O que você acha... – exclama o jornalista número um, mas a Alma o interrompe.

- Apenas para concluir – ressalva ela – esse começo só acontece no jogo interior e seus dois aspectos peculiares da realidade: do micro para o macro e do macro para o micro. É a percepção  sobre a dimensão sutil e a dimensão concreta do universo. O sutil tem visibilidade relativa e quatro atributos: incógnito, intangível, eterno e original. O concreto é rigorosamente visível e temporário. Na senda espiritual é essencial manter os aspectos sutis. Por exemplo, valores são sutis.

- Você se disse “a qualidade sutil de cada forma manifesta” – investe o jornalista número dois – então todas as formas tem uma alma, mesmo as que estão fixadas, ehhh...usando as suas palavras, excessivamente na matéria.

 - E? – a Alma dá de ombros.

Ele se cala e anota, então todos confabulam por instantes. O jornalista número um toma a palavra.

- Tudo tem uma alma?

- Mas não se trata só de ter, trata-se da consciência disso. Você poder ter um terreno no Tocantins ou no melhor bairro da sua cidade, que foi do seu tataravô. É seu, mas você desconhece. Então não poderá fazer uso do potencial nele incluso.  Tudo, você pergunta? Sim, tudo, bichos, pedras, plantas, embora nesses casos estamos falando de almas coletivas. Agora, atente bem, só ao ser humano é concedido o Reconhecimento, Diretriz Consciente e Uso Construtivo da Energia Divina. Nisso reside sua evolução.

Pausa.

- Antes de fechar esse bloco – alerta o jornalista número um, que  também coordena a entrevista – e só para dar uma palinha para o espectador desavisado, o que vem depois?

- A Mônada – responde a Alma.