Entre Ogivas, Urânio e Plutônio

Por Fernando Zornitta | 22/04/2010 | Política

A CÚPULA E OS SEUS RESULTADOS

A preocupação básica da Cúpula de Segurança Nuclear foi boa: minimizar o arsenal e o potencial nuclear do mundo e impedir que eles caiam em mãos erradas.

Só que a ameaça de terrorismo nuclear foi plantada pelas ações protagonizadas principalmente pelos EUA, o criador e o anfitrião do evento, pelas suas incursões belicosas pelo mundo.

Destaque particular da Cúpula, que reuniu 47 nações do planeta em torno dessa paranóia  nuclear norte-americana (de uma represália terrorista), foi o "reconhecimento do protagonismo crescente do setor privado no tema de segurança nuclear", e o "comprometimento destas 47 nações de trabalharem conjuntamente com a indústria para afastar a ameaça terrorista" (Agência EFE).

Isso ficou nas entrelinhas do acordo, mas era só o que a indústria bélica mais queria, o reconhecimento da sua "importância" no sistema bélico global.

Na sua lógica de ação e na do capitalismo, ela não pode deixar de crescer; pois adapta-se e cresce ou declina e morre. Por isso o principal lobby que controla a política interna e externa norte-americana, não poderia ficar de fora.

O mundo e não somente quem lá esteve para "nos representar", precisa reflexionar e imaginar para onde vamos com todo esse desvio de neurônios humanos, com o que será necessário para o desenvolvimento tecnológico de novos aparatos de defesa, para o controle e para a organização global em cima dessa nova paranóia, que agora oficialmente envolve 47 nações.

Efetivamente não dá nem para imaginar o tamanho desse desperdício em cima do pavor que aflige aos norte-americanos e seus seguidores. Tudo será direcionado e dará atenção ao que essa nação semeou pelo mundo, com sua postura belicosa e intervencionista.

Essa mais nova paranóia, que podemos nominar de "síndrome do terrorismo nuclear", é uma das tantas que sobrevieram e que nortearam a sua política externa de dominação e de controle do mundo, a qual se consubstancia agora nesse novo chilique que termina em mais um "ismo".

A sua primeira e grande paranóia foi a do "comunismo"– que gerou a guerra fria, a corrida armamentista, as intervenções políticas e armamentistas pelo mundo todo, os regimes militares e de exceção. O segundo, o "terrorismo genérico e fundamentalista" – que fez os EUA invadirem e destruírem nações, caçarem "rebeldes" - cidadãos em seus próprios países - e implantarem bases militares no Oriente Médio e em regiões estratégicas à defesa e ao ataque.

A síndrome do "terrorismo nuclear" fará mais uma caça às bruxas; que vai envolver e fazer gastar recursos de todas as nações (que poderiam estar sendo direcionados para sanar os grandes problemas do mundo); os organismos internacionais como a ONU, a OTAN e a Agência Internacional de Energia Atômica, dentre outras – tudo vindo como resultado dessa mesma fonte neurastênica, mas que também está a espera de resultados econômicos, de mais poder e controle.

A origem do direcionado evento nasceu da preocupação desta única nação, os EUA, que vem instigando a ira e a represália por suas ações e intervenções belicosas e, pela força que impõe ao mundo. Agora, depois de agredir e instigar, quer se proteger dos possíveis ataques nucleares que ele próprio seria o alvo, chamando todos para protegê-lo e defendê-lo da represália pelas suas próprias ações que comprometem e sempre comprometeram a integridade do mundo.

Parece coisa de criança pequena que num briga agride o outro e depois vem pedir ajuda e a proteção dos amiguinhos para não apanhar.

Barak Obama em 2009 anunciou que realizaria a Conferência e um ano depois a realizou, contando com a representação de 47 nações e a expectativa dos industriais de equipamentos bélicos de plantão.

Como resultado, também ficou o compromisso da Cúpula, de ações para que em 4 anos seja diminuído o potencial do risco atômico, para que não caia em mãos erradas. Mas para isso, uns continuam ficando armados até os dentes, enquanto outros – obedecendo àqueles – a mercê das suas políticas de dominação pela força e pelo poderio bélico que têm.

Obama afirmou e defendeu, que "o consenso é para que o poderio atômico não caia em mãos erradas".

  • Cabe aí uma pergunta, Mr. Obama, quais são as mãos certas ?

EUA e Rússia já assinaram um tratado para eliminação de 34 toneladas de Plutônio cada um, o que daria para fabricação de 17.000 bombas atômicas, entretanto, 23 mil ogivas nucleares estão e continuarão ativas e de prontidão para o ataque e em mãos destas duas nações e de mais algumas aliadas.

EUA e Rússia também assinaram um outro tratado para redução, dentro dos próximos 7 anos, do seu arsenal bélico nuclear para 1.550 ogivas e 800 vetores cada (30% do que elas têm atualmente).

Estas duas nações continuam e continuarão com o poder para destruir o mundo, pois só diminuirão pequena parte do seu arsenal bélico.

Se o consenso final da Cúpula de Segurança Nuclear fosse a de trocar todas as 23 mil ogivas ativas e todo o estoque de material disponível para a produção de armamentos nucleares existentes e que possibilitam a produção de 120 mil bombas atômicas por equivalentes 143 mil violinos, enterrando a possibilidade de agressões irreversíveis entre as nações, a maioria dos acéfalos presentes na Cúpula, certamente se consideraria insatisfeitos.

Mas a grande notícia para o mundo, que efetivamente quer se ver livre do pesadelo nuclear anunciado, seria essa:

"- Os 47 representantes das nações reunidas na Cúpula de Segurança Nuclear, realizada nos EUA a convite do seu Presidente Barak Obama, decidiram trocar todo o armamento e os seu potencial bélico nuclear, que equivaleria a 147 mil ogivas nucleares, por 147 mil violinos e providenciará a sua imediata distribuição entre todos os países do mundo, fomentando uma cultura de paz através da música e da arte !.

Uma segunda notícia seria a de que "todo o potencial industrial norte-americano e do planeta, os quais se dedicavam à construção de armamentos, agora serão remodelados para a fabricação de instrumentos musicais."

- Mas isso para eles, paradoxalmente soaria como uma proposta estapafúrdia ou de demência.

- Poderia o mundo então se perguntar: Quem é mesmo o louco; quem protagoniza a guerra e a destruição ou quem propõe ações para uma cultura de paz ?

Ao que parece, fazer de conta ou continuar a ter para si o poder absoluto é o que importa aos senhores do falso poder. Uma ou 1550 ogivas representam a mesma intensão no sentido de ter o poder de destruição. Da boca para fora divulga-se a "intensão de eliminação da ameça nuclear", mas aqueles que detém os armamentos e a tecnologia não abrem e nunca abrirão mão de tê-los.

Uma nação que sempre conseguiu o que quis e se desenvolveu pela manifestação do seu poder bélico e tecnológico (que começou a se manifestar com a aniquilação de Hiroshima e Nagazaki), nunca abrirá mão de tê-lo.

Nações que desenvolveram a sua indústria bélica durante as duas grandes guerras mundiais, agora estão tendo de alimentar os seus monstros, os quais dominam as políticas internas e continuam com fome de produção e fabricando armamentos com alto poder de destruição e para dominar as demais com esse poder belicoso e através das suas ações intervencionistas; enquanto nações sem qualquer pretensão litigiosa são barradas nas suas pretensões, mesmo que sendo para fins pacíficos.

Agora, depois da Cúpula, a desculpa pode ser a da produção de armamentos e equipamentos para a defesa, para a proteção ou para a "afastar a ameaça terrorista", uma vez que o "protagonismo crescente do setor privado no tema de segurança nuclear" foi reconhecido.

Não há nenhuma garantia a ser dada àquelas nações que hoje querem impedir as demais de desenvolverem a tecnologia nuclear, de que elas próprias não possam fazer o seu uso novamente. Também não há nenhuma garantia de que os eventos climáticos e sísmicos que aí estão não possam se manifestar de forma cada vez mais acentuadas e críticas, ou que não façam com que o arsenal nuclear se manifeste espontaneamente.

Isso sequer foi ventilado durante a Cúpula.

A garantia do envolvimento das nações que firmaram o acordo é mais uma campanha de desarmamento promovida pelos EUA – como foi aquela de alguns anos atrás no Brasil; mas podemos constatar que as armas continuam a venda e acessíveis para qualquer um naquele país (não dá para esquecer que o pai do Bush, prometeu uma arma a cada cidadão que abrisse uma conta bancária e nem tirar da memória aquelas cenas de estudantes invadindo escolas e matando seus colegas e professores com armas de alto poder de destruição – cena normal nos noticiários e na cultura norte-americana).

Prova inconteste dessa postura exclusivista na detenção do poderio e esse frenesi bélico é o número de bases militares que os EUA têm sozinho espalhadas pelo mundo em pleno funcionamento e em território de outros países - em número aproximado de 1000 - ou seja, em torno de 95% de todas as bases militares externas de todos os países do planeta.

Não precisamos nem fazer as contas do equipamento e do armamento belicoso necessário para mantê-las em funcionamento.

Vemos Barak Obama declarar que quer enviar o homem à Marte, talvez seja como rota de fuga, porque em breve e a seguir nesse rumo, não haverá mais a possibilidade da coexistência humana e nem de vida cá na Terra.

Pequenos litígios humanos têm terminado em grandes litígios que são defendidos com armamentos cada vez mais poderosos, em invasões e na dominação de outras nações e seus territórios.

Segundo a convenção da ONU de 1948 dos Direitos do Homem - que presume-se que a totalidade dos 47 países presentes à Cúpula de "Segurança Nuclear" sejam signatários - todos humanos vieram e cá estão na Terra com os mesmos direitos.

Se perguntássemos a todos o que eles prefeririam, instrumentos musicais ou ogivas nucleares, a resposta provavelmente seria uníssona pelo primeiro, mais musical e menos perniciosa.

Mas as nações definidas como "democráticas" só porque elegem seus representantes pelo voto, não mais são de fato; pois em não representando a vontade dos seus concidadãos, não poderiam estar decidindo por eles. Na verdade os governantes e a estrutura de poder interno vêm de lobbys dos diversos setores produtivos e econômicos, que conseguem constituir os seus representantes e subalternos – inclusive presidentes - que passam a agir como marionetes em função dos seus objetivos e no vetor insustentável do capitalismo.

Outros surfam na onda do poder, mesmo que instituídos pelas forças sociais e, depois de eleitos são atraídos pelo sistema de forças internacionais, da globalização, da economia e do próprio poder.

Alguns governantes até defenderam a linha contrária, como Lula no seu pronunciamento durante a Cúpula, afirmou que "O modo mais eficaz de se reduzir os riscos de que agentes não-estatais utilizem explosivos nucleares é a eliminação total e irreversível de todos os arsenais nucleares".

Outros se omitiram - como Israel e a Venezuela - que sequer participaram da Cúpula.

Mas tanto Lula como todos sabem que não é tão simples assim e que a ameça surge como reação dessa "postura imperialista" - como antigamente ele próprio manifestava ser a de algumas nações para com o mundo.

E estas, não abrem mãos e nem cofres em benefício das outras; não têm uma postura colaborativa, mas sim de interesses.

Com o compromisso assinado pelas 47 nações presentes ao evento, Barak Obama considera o mundo mais seguro agora, embora saibamos que com as promessas terroristas feitas, poderemos viver um Tsunami Nuclear que se pressupõe terá a sua origem na forma com que ocorre a ação intervencionista de alguns países, tanto na cultura como no governo de outros povos e, principalmente, pela mais completa e absoluta omissão planetária em resolver os principais problemas do mundo; mas sim, botando o foco numa linha não construtivista - de degeneração e medo, que virá do pós acordo.

Na questão específica da segurança nuclear, embora todas as medidas de segurança que possam ser tomadas pelos humanos e contra eles mesmos, várias experiências nucleares continuam sendo feitas e acidentes acontecem com a manipulação e o uso de substâncias radioativas, além do uso das armas – lembremo-nos de Chernobil, do Césio 137 em Goiânia....

- Qual a garantia que temos que não se repetirão ?

A eliminação completa e total desse aparato poderia ser a solução. Mas não é possível e, nem de perto, é o que pretende quem se posiciona como mediador.

- O QUE QUER A HUMANIDADE?

Nós e todos os cidadãos de paz da Terra, não queremos ogivas, nem energias potencialmente destruidoras; queremos apenas viver e se possível com fissão da arte e com tecnologias limpas, sustentáveis e a serviço da vida – do homem e de todas as outras formas que convivem conosco; queremos trocar todo o potencial belicoso – não só o atômico, mas de toda a parafernalha mecatrônica construída para a guerra – por instrumentos de paz.

Queremos que os neurônios humanos dos nossos governantes conversem entre si, nem que sejam dois deles juntos, para o desarmamento sim, mas principalmente para que tenhamos uma perspectiva de futuro e de mudança desse rumo certo que nos colocaram e para onde estamos seguindo: para o caos absoluto.

Queremos acabar com a fome e com a miséria de mais de 80% da humanidade; queremos acabar com as doenças e pragas; queremos preservar o que resta do planeta.

Queremos paz, harmonia, vida e, também ouvir violinos e todos os instrumentos musicais. Mas para isso, precisamos trabalhar para fazer mudar o foco e as formas anti-democráticas e alienadas de governar; pensando num planeta mais colaborativo, justo e igualitário.

Todos os sábios e poetas que dedicaram suas vidas e seus espíritos no sentido do verdadeiro crescimento e da evolução humana na Terra - enquanto hóspedes deste orbe planetário – sempre buscaram um só caminho, o de viver em harmonia (física e metafísica); tendo o conhecimento e a tecnologia como aliadas nessa interação e em benefício de todas as formas de vida.

Bons exemplos nos trouxeram Jesus Cristo (o caminho, a verdade e a vida para todos), Mahatma Gandhi, São Francisco de Assis, João Paulo II; dentre tantos outros seres armados de luz que por aqui passaram e que verdadeiramente exemplificaram através das suas vidas essa dedicação.

Contrariamente a isso, a civilização do século XXI assiste reuniões estapafúrdias entre os nossos "líderes", cheias de regalias e com gastos astronômicos, para preservar os interesses enraizados nos instintos que até os animais duvidam – tais como na ineficiente recente reunião em Copenhagem, a COP 15, que também frustrou a todos e nos deixou sem os esperados e necessários resultados para salvaguardar o planeta do xeque-morte em que nos encontramos todos, que esperando por soluções, morreremos abraçados para morrer melhor.

Se esta proposta utópica e simbólica de trocar armas e ogivas por violinos tomar forma, a motivação por uma cultura de paz talvez faça com que nos livremos, além das armas e dos instrumentos de morte, também, dos nossos acéfalos representantes, que em verdade deixam transparecer que puxam para o vetor contrário ou nem se importam.

A meta poderia ser alcançada através dessa linguagem universal da música – dos violinos e de todos os outros instrumentos musicais e através de todas as formas de expressão artística - e seguir em passos firmes até atingir todos os seres ainda lúcidos que clamam para o retorno da lógica e do bom senso, do respeito e da responsabilidade; na mesma sintonia da vontade de 99,9 dos pais, mães e filhos que vivem nas linhas de conflito, em países agredidos e excluídos do planeta, os quais esperam ter uma vida normal.

Assim, também poderíamos colocar todos os palhaços insanos e belicosos que governam o mundo num mesmo palco; convidando-os a rever as suas indecisões, como as que foram acordadas na Cúpula - que pode ser definida como propensa à "insegurança nuclear". Além de não mudarem em nada, farão o mundo inteiro focar num problema que não era seu e gastar ainda mais, daquilo que já não tem; no vetor errado e contrário à vida , a solução dos seus grandes problemas; enquanto aqueles que criaram o problema, continuarão com seus potenciais bélicos de alto poder de destruição e fazendo crer a todos que tudo anda no caminho certo; afirmando que os palhaços ou loucos somos nós.

Paulo & Fernando Zornitta

Movimento Greenwave

Paralelo 30º - Porto Alegre – Rio Grande do Sul – Brasil

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