Entre entradas e saídas da EJA

Por Sabrina Fredrez | 05/09/2016 | Educação

 INTRODUÇÃO

Os recortes teóricos que apresentaremos neste texto tem como base uma pesquisa realizada em uma Escola Estadual de Educação de Jovens e Adultos, desenvolvida no período de 2014/04, na disciplina de Educação de Jovens e Adultos, da Universidade de Caxias do Sul, com orientação da professora Sônia Regina da Luz Matos. Esta pesquisa foi desenvolvida com alunos de diferentes idades e sexo, moradores de Caxias do Sul.
Buscamos investigar quais os motivos que levaram os alunos a voltarem para a escola e consequentemente nos dando indícios da sua saída.
Todos os alunos entrevistados nesta pesquisa deixaram claro através de suas falas, a influência principalmente da família em relação ao abandono escolar e o sonho de alfabetizar-se para tornar-se independente como fator principal para voltarem a estudar na EJA.
Utilizou-se dos autores SOUZA e MATOS (2013) como embasamento teórico para realização deste trabalho.

PROBLEMATIZAÇÃO

Quais os principais motivos que levaram os alunos da Educação de Jovens e Adultos a voltarem para a escola procurando esta modalidade de ensino e quais os motivos que os levaram a sair? OBJETIVO Investigar os motivos que levaram os alunos da Educação de Jovens e Adultos a voltarem para a escola, entendendo também os motivos que os levaram a sair. A partir disso relacionaremos as respostas com o conceito de alfabetização e escola.

PROCEDIMENTOS ENTRE ENTRADAS E SAÍDAS DA EJA

Os alunos entrevistados em um primeiro momento ficaram acanhados com duas pessoas desconhecidas lhe fazendo perguntas, porém ao decorrer das entrevistas foram se soltando e mostrando que gostam muito de ter alguém que lhes escute para que contem a sua trajetória de vida.
Entre os entrevistados foi destacado inicialmente o sonho em comum de aprender a ler e escrever, porém relataram que por diversos fatores foram forçados a abandonar a escola. Os principais motivos que ocasionaram o abandono escolar foram à influência da família que "cobrava" ajuda para cuidar da casa e dos irmãos mais novos, casamento, gravidez, dificuldade de locomoção, mudança de endereço, vulnerabilidade social e doenças.
Enfim, as dificuldades enfrentadas em tempos passados impossibilitou que os sujeitos frequentassem a escola na idade certa, porém não desistiram deste "sonho" que foi apenas "deixado de lado".
Com a superação das dificuldades ao longo de suas vidas "chutaram o balde" como disse uma entrevistada e se encorajaram a voltar para a escola para aprender a ler e escrever, saindo da comodidade, ou seja, se desterritorializando para voltar a estudar e superar pré-conceitos deles mesmos e da família, buscando seu espaço.
Os principais motivos destacados pelos entrevistados para voltarem a estudar foram que queriam se tornar independentes para realizar atividades do dia-a-dia, ou seja, não depender de familiares para pegar ônibus, fazer contas e ler, tudo isso através da alfabetização, pois o que buscam na escola é aprender a ler e escrever.
Estes acreditam que através da alfabetização proporcionada pela escola, irão conseguir transformar sua condição de vida, principalmente falando de autonomia que para eles é muito importante e para que isso aconteça, eles se propõem a cumprir todas as regras impostas pela escola.
De acordo com Souza e Matos:
Um dos motivos pelo qual o ser humano procura se adaptar às regras impostas pela sociedade (moral, religião, normas jurídicas...) está ligado à concepção de que a educação escolar pode modificar sua condição de vida.
A confirmação de que a qualidade de vida está vinculada à escolarização tende a criar uma esperança de transformação. (2013, p.6) Um dos entrevistados é Senegalês. Busca no Brasil uma "vida melhor" e aprender a nossa língua para se adaptar melhor em território português, buscando um "emprego bom". Ressaltamos esse caso, pois percebemos muita dificuldade dele em entender a nossa língua e os nossos questionamentos. Através de gestos e pronúncia simples, objetiva e clara, conseguimos nos comunicar com ele. Então, nos perguntamos: Como ele se alfabetizará se não entende no mínimo a nossa língua? Uma boa pergunta para a maquinaria escolar.
Talvez se houvesse estímulos de um governo competente, a situação poderia ter sido mais planejada e os Senegaleses mais bem acolhidos, pois chegar em um país desconhecido e continuar no estranhamento, alienado do restante, não deve ser uma tarefa nada agradável. Esse fator nos deixa claro a "falta de oportunidade para melhorar a vida" por parte do governo, conforme a fala de um entrevistado.
Os relatos de nossos entrevistados nos trouxeram o processo de alfabetização como sendo um fator determinante para voltarem para a escola, por este motivo, relacionaremos nossa entrevista com os conceitos de alfabetização e escola por ser o local onde este processo acontece.
Alfabetização, portanto, segundo Souza e Matos:
A alfabetização pode ser caracterizada como um artefato que produz pessoas com potencia de serem civilizadas e deve ser encarada como um processo que serve para moralizar, normalizar e incluir. (2013, p.11).
Percebemos a alfabetização como um processo, que faz com que as pessoas se sintam competentes, com potência, de conviverem em sociedade, além de se sentirem autônomas e independentes, faz com que não se sintam menos que ninguém, porém a alfabetização na EJA tem o "poder moralizador, unificante e universalizador" (SOUZA e MATOS, 2013, p.3), que tem a finalidade de criar uma sociedade disciplinadora e de controle, através do medo e da disciplina.
Percebemos na fala de uma entrevistada que dizia: "Não saber ler e escrever é a mesma coisa que cego", para ela isso significa depender da ajuda de todos ao seu redor e muitas vezes ser ignorada e menosprezada, sendo classificada por ter pouco estudo, ficando alienada.
Porém nos deixa claro que está sendo uma vítima do poder da alfabetização na EJA, na qual, não percebe que está sendo controlada por um mecanismo social que controla o funcionamento de uma sociedade e dos indivíduos que a compõem.
Outra entrevistada coloca que estudar na EJA "Não é voltar a estudar porque não cheguei a aprender a ler e escrever, mas começar de novo", já que não teve o direito de estudar garantido na idade certa e também que "Sempre quis vim para escola aprender a ler e escrever, mas não podia, agora tenho os filhos criados, então pego um ônibus e venho".
Segundo Souza e Matos:
Essas palavras pressupõem um vínculo entre a qualidade de vida e a educação formal. Estar na escola garante supostamente ao indivíduo uma melhoria de vida, favorece uma convivência adequada no contexto social e colabora para que o indivíduo desempenhe a função dele exigida. (2013, p.6).
A instituição escolar é vista para estas pessoas como um lugar de aprendizado, um lugar que lhes proporcionará uma melhor condição de vida e a convivência em sociedade. Porém, segundo Souza e Matos, percebemos que:
A partir do momento que encaramos a escola como uma instituição social, temos que ter em mente que ela, como instituição, propaga o modo de funcionamento da sociedade de acordo com o padrão social vigente. E por consequência disso, ela é um reflexo da sociedade em que vivemos. (2013,p. 4).
Percebemos então que a escola é uma instituição que não está separada da sociedade, mas sim faz parte dela e por sua vez reflete o modo de funcionamento da mesma de acordo com o padrão social vigente.
Conforme SOUZA e MATOS (2013, p. 5): "O ensino da ordem e da regularidade reproduz uma escola que torna o sujeito apto a atuar na conjuntura social. Quem não participa desse processo de escolarização é considerado inapto".
Sendo assim, a escola como produtora de ordem e disciplina tem a função de tornar o sujeito capaz de conviver em sociedade, e quem não participa deste processo de alfabetização que molda os indivíduos é considerado inapto por não ter passado por esse processo.
Contudo tem-se a relação de poder-saber, na qual, "O indivíduo espera que a escolarização lhe forneça poderes, os quais são gerados a partir dos conhecimentos adquiridos ao longo do processo de alfabetização." (SOUZA e MATOS, 2013, p. 6).
Neste processo, com os saberes adquiridos, o sujeito espera que isso lhe forneça poderes para usar em seu cotidiano, como por exemplo, o poder de ler suas
"próprias contas para pagar", "pegar ônibus sozinhos", "ler uma receita de remédio" e diversas outras coisas.
A maioria de nossos entrevistados nos mostrou a partir de suas falas que a escola é o lugar do aprender, porém apenas uma pessoa nos relatou que "a vida também é uma escola" e que "com o sofrimento eu também aprendi, a gente aprende a dar valor pras coisas".Segundo Souza e Matos

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