Entre a Cruz e a Foice: A Igreja Ortodoxa e sua relação com o Estado Russo

Por Afonso Rangel Luz | 20/05/2018 | História

Afonso Rangel Luz 
Paulo Vitor Souza Luz

Resumo: Os idos de 1917 marca o preludio do Estado Soviético, e com ele o processo de mudança que afetaria tanta a Rússia como os demais países membros da União das Repúblicas Socialistas Soviéticas. Tais mudanças passariam, também pelas questões culturais, e principalmente os aspectos religiosos, já que a Rússia antes da Revolução era considerado um dos países mais religiosos da Europa. Nesse sentido, o presente artigo buscará fazer uma abordagem sucinta de como se deu a relação entre o Estado Soviético, declaradamente ateu, e a Igreja Ortodoxa Russa, que até a queda de Nicolau II era a religião oficial do Império Russo, apesar da existência de outras vertentes religiosas. Para isso buscou-se dialogar com fortes historiográficas que apontam direta ou indiretamente esta questão, além é claro de fontes iconográficas. Palavras-Chave: Igreja Ortodoxa; Rússia Czarista; Revolução Russa; Comunismo; Ateísmo. O ano de 1054 ficou consagrado pela historiografia como o ano do primeiro racha no cristianismo, também conhecido como o grande cisma do oriente. É justamente nesse evento que “nasce” a Igreja Ortodoxa tal como uma instituição, pois apesar desta existir enquanto parte das igrejas orientais, possuidora de ritos diferentes da Igreja Católica Romana, não se constituía como uma instituição distinta, mas como uma só Igreja Cristã. É claro que as orações e costumes entre os cristãos ocidentais e os cristãos orientais, tal como o uso do latim nas celebrações para os latinos e do grego para os demais patriarcados, eram distintos, no entanto, havia uma relativa unidade entre ambas correntes cristãs. Dessa forma, apesar de existir várias igrejas ao entorno do Mediterrâneo, na Eurásia, no Oriente Médio e na África, ambas mantinham um relativo diálogo com a Igreja Romana, que era responsável pelo cristianismo ocidental. No entanto, isso logo mudaria em meio a tantas divergências, nesse sentido, Mauricio Loiacono aponta algumas das causas da separação entre católicos e ortodoxos, sobre isso argumenta que [...] fatores ligados a questões culturais, dogmáticas, disciplinares, litúrgicas e políticas, entre as partes oriental e ocidental dessa comunidade até então considerada una, levam, entre 1054 e 1204, à ruptura definitiva entre as duas metades, as quais serão assim reconhecidas até o momento contemporâneo: do lado ocidental, a Igreja Católica Apostólica Romana, submissa ao bispo de Roma, e do lado oriental, a Igreja Católica Apostólica Ortodoxa Grega, tendo como primaz o patriarca de Constantinopla (atual cidade de Istambul – Turquia) [...]1 Nesse sentido, o cristianismo oriental, que agora não estava mais ligado à Roma, e com sua sede no patriarcado de Constantinopla, intitula-se como ortodoxo, que do grego antigo quer dizer “doutrina reta”, ou seja, a Igreja Ortodoxa passa a partir de então reivindicar a versão correta do cristianismo, que supostamente remontava ao tempo dos apóstolos e dos primeiros cristãos, nesse caso uma tradição autêntica e verdadeira, pois passou-se a considerar que a doutrina de Roma havia abandonado a essência cristã. No entanto, apesar do Cristianismo Ortodoxo ter como sede o patriarcado de Constantinopla, este possui uma característica que o diferencia do Cristianismo ocidental, nesse caso as igrejas autocéfalas, ou seja, que possuem independência de culto, liturgia e até mesmo teologia, apesar de estarem ligadas entre si. Logo, quando se diz aqui “teologia e Igreja Oriental” faz-se referência a pluralidade de tradições, práticas e conhecimentos teológicos, que de certa forma se diferencia da Igreja Latina, no entanto, explicam e legitimam as igrejas particulares (autocéfalas). Dessa forma, como não existe apenas uma Igreja Ortodoxa, é evidente que também não haverá apenas uma prática de fé.

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