Entamoeba histolytica e a Toxina Lítica

Por Eder Assis Vieira | 25/12/2010 | Saúde

A IMPORTÂNCIA DE MEDIDAS PROFILÁTICAS NO CONTROLE E PREVENÇÃO DA AMEBÍASE

Éder Assis Vieira
RESUMO
Sabe-se que populações em condições sanitárias precoces estão susceptíveis a doenças causadas por parasitas causadores de infecções em seus hospedeiros, e a caracterização do estudo justifica a importância de medidas profiláticas contra a Entamoeba histolytica, causadora de enormes problemas de saúde pública como casos graves de diarréia, que progride com esteatorréia, além da má absorção intestinal. A infecção na forma trofozoíta que pode se espalhar pelo sistema circulatório e, ainda destrói a célula pela toxina lítica e por vezes também fagocita eritrócitos e proteínas membranares capazes de formar poros nas membranas das células humanas, destruindo-as por choque osmótico, e adesinas que lhe permitem fixar-se às células da mucosa. Além disso produz enzimas proteases, que degradam o meio extracelular humano, permitindo-lhe invadir outros órgãos. A profilaxia se dá com medidas higiênicas mais rigorosas, saneamento básico e educação sanitária.

1. INTRODUÇÃO

A amebíase é uma infecção severa cujo a gente etiológico é o protozoário Entamoeba histolytica, importante causador de morbi-mortalidade para saúde pública no mundo (OMS/OPAS/UNESCO, 1997).
As enteroparasitoses são grande causa de mortalidade, onde E. histolytica infecta cerca de 40 milhões de pessoas que desenvolvem de forma assintomática da doença, resultando em cerca de 100.000 óbitos por ano devido a complicações secundárias (WHO, 1997; OMS/OPAS/UNESCO, 1997).
Os danos que os enteroparasitas podem causar a seus portadores incluem, entre outros agravos, a obstrução intestinal e a desnutrição, quadros de diarréia e de mal absorção, sendo que as manifestações clínicas são usualmente proporcionais à carga parasitária albergada pelo indivíduo (MONTEIRO, 2000).
As infecções parasitarias são mais comuns nas regiões tropicais e subtropicais e em populações mais carentes em função das precárias condições de saneamento e higiene, porém apesar do grande avanço tecnológico, do alto padrão educacional, da boa nutrição e de boas condições sanitárias, mesmo países desenvolvidos estão sujeitos a doenças parasitarias ( MASCARINI, 2003).
O objetivo da realização deste trabalho, foi descrever uma revisão bibliográfica do protozoário Entamoeba histolytica, sobre sua ação patogênica e as medidas profiláticas.

2. Entamoeba histolytica

A amebíase é uma infecção causada por um protozoário sarcomastigota, classe sarcodina, gênero Entamoeba. Entre as sete espécies encontradas no trato gastrointestinal, a Entamoeba histolytica é a única que causa doença invasiva, com prevalência elevada em regiões tropicais, principalmente em comunidades que vivem em condições sanitárias inadequadas. Apresenta duas formas morfológicas importantes: cistos (formas infectantes) e trofozoítos. Os trofozoítos, de acordo com seus diâmetros e comportamento imunoenzimático apresentam-se sob duas formas: invasiva e comensal. Os cistos são formas de resistência e responsáveis pela disseminação da doença, atingindo o homem principalmente através da água e alimentos contaminados. Resistem à acidez gástrica, alcançam o intestino delgado, onde ocorre o desencistamento, evoluem como metacistos, migram para o intestino grosso, seu hábitat natural, onde assumem a forma de trofozoítos. Os trofozoítos são anaeróbicos ou anaeróbicos facultativos, capazes de viver em atmosfera contendo até 5% de oxigênio (NEVES, 2005). Em ambiente microaerófilo associado a diversos fatores, os trofozoítos podem se comportar como patogênicos ou não patogênicos, estes últimos evoluem para pré-cistos e cistos, com posterior eliminação pelas fezes, mantendo o ciclo (LEÃO, 1997). Na busca por benefícios, em algum momento da história evolutiva da vida, os seres que interagiam entre si, passaram a viver às custas de outros mais intensamente, dessa forma surgia o parasitismo, uma relação ecológica desenvolvida entre diferentes espécies, intima e duradoura, de grau variável, com isso, a partir do momento que o parasito espolia intensamente o seu hospedeiro, este passa a desenvolver doença e, a relação que possivelmente viria a ser permanente, passa à transitória (REY, 2002).

3. PATOGENIA
Após ingestão, os cistos tetranucleados maduros atravessam o estômago e desencistam-se na região ileocecal onde sofrem lise de suas paredes. Auxiliados pela ação de sucos aí existentes, originam os trofozoítos metacísticos. Em seguida, por vários mecanismos, e na dependência de seu perfil imunoenzimático, os trofozoítos alimentam-se de hemácias e outras células, destroem os tecidos e podem invadir a parede do intestino grosso ou alcançar outros órgãos ou, ao contrário, alimentam-se de bactérias e vivem na luz intestinal em comensalismo, originando as formas císticas de resistência, que determinam apenas amebíase-infecção e são responsáveis pela disseminação da doença (LEÃO, 1997).
A Entamoeba histolytica instala-se principalmente no intestino grosso e em ordem de preferência acomete o ceco, cólon ascendente, sigmóide e reto. Pode localizar-se secundariamente em órgãos extra-intestinais tais como: fígado, pulmões, pericárdio, cérebro, baço e tegumento. Carboidratos, principalmente a glicose ou seus polímeros, como glicogênio, que são convertidos em glicose, fazem parte do metabolismo do parasito e são transformados em CO2 e ATP (NEVES, 2005).
Sabe-se que o trofozoíto adere ao epitélio intestinal interglandular através de lectinas existentes em sua superfície com presença de galactose ao nível da membrana que funcionaria como receptor responsável pela aderência amebiana a determinadas células. O muco reage com a lectina influenciando a colonização. Após fixado, o trofozoíto, sem liberar toxinas identificáveis, tem dois mecanismos para lesar a célula e nela penetrar: produção de fosfolipase A, que tem efeito lítico; e ação de proteína (proteína amebopófora) que altera os canais iônicos da membrana celular, produzindo alterações hidroeletrolíticas no citoplasma da célula epitelial que sofre lise e é fagocitada. Localizado na mucosa, o protozoário induz reação inflamatória com necrose lítica e, por ser móvel, gera úlceras de base mais larga do que o caminho da penetração.
Vários são os mecanismos envolvidos no processo de invasão da parede intestinal pela E. histolytica, voltados à relação parasito- hospedeiro: colonização, aderência, secreção de toxinas, citólise, fagocitose, estado imunológico e nutricional do hospedeiro, condições climáticas, tipo de alimentação, infecções concomitantes e outros (LEÃO, 1997).

4. EPIDEMIOLOGIA
Dados epidemiológicos da Organização Mundial da Saúde (OMS) estimam que a Entamoeba histolytica causa aproximadamente 100 mil mortes por ano, infectando 500 milhões de pessoas em todo mundo. Observa-se que há comportamento diferente nos diversos pontos do país, com uma prevalência que varia de 5,6 a 40% (Cunha et al., 1991), mostrando diferenças entre cepas da Entamoeba histolytica em sua patogenicidade e virulência. No Brasil, estudos epidemiológicos têm demonstrado que os índices de prevalência como a sintomatologia da amebíase tem grande diversidade, variando de região para região. De ampla distribuição universal, ocorre com maior freqüência em áreas tropicais. As manifestações clínicas variam desde dor abdominal tipo cólica com ou sem diarréia (formas intestinais), até casos graves de localização extra-intestinal, como por exemplo a necrose amebiana do fígado. Predominam porém, as formas intestinais leves e assintomáticas. A distribuição geográfica é ampla. A prevalência e a morbidade variam com as condições climáticas, sócio-econômicas e higiênico-sanitárias da região estudada.



5. MEDIDAS PROFILÁTICAS
Pela dificuldade de controle, diagnóstico e tratamento, representa um grave problema de saúde pública de expressiva relevância médico-social, reflexo do estado da pobreza da população. Portanto, medidas em todos os níveis devem ser adotadas na profilaxia da amebíase, pois se trata de um protozoário comum, e de alta morbi-mortalidade, principalmente em crianças. Assim sendo, tais medidas as principais medidas são:
Medidas de saneamento básico: destino adequado aos dejetos e uso de água potável para consumo. Tratamento dos doentes e portadores assintomáticos, eliminadores de cistos e
maiores responsáveis pela disseminação da parasitose. Educação sanitária para esclarecer sobre lavagem de hortaliças, lavagem das mãos (antes das refeições e após uso do sanitário), cobrir os alimentos (para evitar o contato com moscas), não usar fezes humanas como adubo orgânico em plantações e possibilidade de contágio sexual (LEÃO, 1997).

6. CONCLUSÃO

Conclui-se que a amebíase é considerada um importante problema de morbi-mortalidade em saúde pública, visto que numerosos casos podem ser de formas invasivas. Assim, estudos epidemiológicos utilizando metodologias mais sensíveis para o diagnóstico da infecção por E. histolytica tornam-se necessários a fim de investigar e evitar casos graves da doença e suas complicações secundárias. Mais é imprescindível que as medidas profiláticas sejam adotadas, pois esta constitui um fator essencial de controle e prevenção das enteroparasitoses.

7. REFERÊNCIAS

CERQUEIRA, MO; AMARAL, TM; MORALES, AET. Medicina, educação e arte: inovando no combate as enteroparasitoses e desnutrição infantil. Universidade Estadual de Santa Cruz. Departamento de ciências da saúde. 2004.

CUNHA, A. S. Patogenia da amebíase. Tese (Professor Titular). Faculdade de Medicina da Universidade Federal de Minas Gerais. Belo Horizonte.

DOURADO A, MACIEL A, ACA I. Ocorrência de Entamoeba histolytica/Entamoeba dispar em pacientes ambulatoriais de Recife, PE. Revista Sociedade Brasileira de Medicina Tropical, vol.39, no.4, Uberaba Julho/Agosto 2006.
FERREIRA,DAYANA S. VIEIRA, GIOVANE OLIVEIRA. Frequência de enteroparasitoses na população atendida pelo laboratório de análises clínicas. Saúde & Ambiente em Revista, Duque de Caxias, v.1, n.2, p.70-75, julho/ dezembro 2006.

LEÃO, RAIMUNDO NONATO QUEIROZ. Doenças Infecciosas e Parasitárias. Cejup: UEPA: Instituto Evandro Chagas, 1997.

MASCARINI, LM. Uma abordagem histórica da trajetória da parasitologia. Rio de Janeiro: Caderno de saúde Pública, v. 8, n. 3, p. 814. 2003.

MASCARINI, LUCIENE LAURA. Helmintíase em crianças institucionalizadas em creches no município de Botucatu. Departamento de Parasitologia, Instituto de Biociências, Universidade Estadual Paulista. Vol. 36 (2): 149-158. Maio/Agosto 2007.

MONTEIRO. A. CARLOS. et al. Tendência secular das parasitoses intestinais.Revista Saúde Pública 2000.

NEVES, DP et al. Parasitologia Humana. 11ª ed. São Paulo: Atheneu. 2005.

OMS/OPAS/UNESCO ? Organización Mundial de La Salud/Organizacion Panamerica de La Salud/ Organización de lãs Naciones Unidas para La Educacion, La Ciencia y La Cultura. Consulta com expertos em amibiasis, Ciudad de Mexico, v.18, p.13-14, 1997.

REY, L. Bases da parasitologia médica. 2ª ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan. 2002.

WORLD HEALTH ORGANIZATION ? WHO. Genebra: Report WHO, apud BRASIL, Ministério da Saúde. 2005. Plano nacional de vigilância e controle das enteroparasitoses. Brasília: Secretaria de Vigilância em Saúde. 1997.