ENSAIO SOBRE A POLÍTICA (ARISTÓTELES)

Por Leonildo Dutras de Oliveira | 14/09/2012 | Filosofia

Nunca se falou tanto em política como estão falando neste momento, principalmente aqui no Brasil, onde os políticos não têm o mínimo de comprometimento com a construção de uma cidade melhor, justa e feliz. Em épocas de eleições e escolhas, restando saber quem vai administrar as cidades e seus respectivos problemas.

Por falta de compromisso moral (critérios e conceitos políticos) que até bem pouco tempo o Brasil era regido por uma ditadura militar. Após se livrar destas mazelas políticas, se entregou ao sono profundo da “burrocracia”, que de uma vez por todas, acabará provocando a falência da política.

Mas, como dissera Aristóteles, o homem é um animal que si inclina naturalmente para a política, devido a essa inclinação tem condição moral de exercer o bem e administrar os mais elevados valores em busca de uma sociedade justa.

Em forma de convergir virtude em moral, como forma de proclamar a existência de um mundo justo, Aristóteles vai afirmar que a política e somente ela pode assegurar o bem maior do homem, de forma generalizada, esse bem é a felicidade de todos os cidadãos.

Na construção desta felicidade, os homens se organizam em forma de sociedade, se associando para lhes garantir algum tipo de benefício coletivo ou bem maior, transformando uma virtude simples em algo insuperável que é maior que tudo.

O homem se associa em comunidades ou cidades para estabelecer relações sociais e políticas, visando sempre um bem maior, que todos os outros, Aristóteles, filósofo grego argumenta que às vezes as pessoas abrem mão de algo pessoal (individual) por determinação de um bem maior da coletividade. Nascendo assim a consciência política, como legado político dos gregos.

Na visão aristotélica, política vai além da arte de governar a cidade, é antes de tudo, um elo entro o que é justo e o que gera felicidade de forma generalizada, logo, o bem não basta ser feito, se não for remetido em forma de uma vida feliz para toda população.

Sem dúvida a democracia será uma partilha entre a participação popular e os políticos que fazem a vontade do povo ser cumprida, porque se existe um Estado, com certeza, ele será os cidadãos.

A partir de uma visão mais avançada, argumenta Aristóteles que para ser cidadão em uma cidade, tem que participar efetivamente da vida política, das decisões em assembleias democráticas, criando leis e deveres que toda a população terá que cumprir, assim é a democracia. Aqui no Brasil as assembleias são eleitas através do voto popular, criando parlamentares que irão representar a vontade de seus eleitores perante as tomadas de decisões na elaboração de leis e fiscalização do executivo.

Em uma sociedade perfeita, tem que existir um cidadão perfeito, aquele que não faz somente o bem ou pratica uma boa ação, o cidadão perfeito é aquele que participa ativamente da construção social de seu meio através da democracia, construindo a cada dia que passa uma cidade melhor de se viver.

Partindo do ponto de vista materialista de Aristóteles, podemos dizer que o cidadão deve exercer firmemente seu direito e vontade de ver uma sociedade prospera e harmoniosa, através da igualdade entre os homens, destruindo as castas aristocráticas ou sacerdotais que possam interferir no processo de construção de uma democracia.

Na democracia, o diálogo transparente é o ponto de desenvolvimento político e de interação entre os homens, até para que possam solucionar eventuais conflitos criados em um mundo multicultural, sem distinção de raça, crença ou posição social, mas que as pessoas teimam em se posicionarem de forma preconceituosa. Como remédio para os conflitos, temos o dever político de nos expressarmos conforme as nossas necessidades e ideias (a liberdade), sempre respeitando o outro e sua vontade e liberdade de escolha, por mais que não estejam em conformidade com os nossos interesses.

Na construção de uma cidade justa, a partir de uma vida política, o homem se relaciona se relaciona de forma ambígua com a verdade, hora se excedendo, hora lhe faltando, por isso, é necessário que haja leis especificas e códigos de condutas bem definidos, para que cada um saiba exatamente o que lhe é atribuído. Assim, a teoria política de Aristóteles será capaz de nortear o Ocidente, como um legado insuperável até os dias atuais.

 

Pra quê política?

 

Democraticamente, vimos surgir no Brasil contemporâneo o mito da politicagem, foi quando em 1992, o povo mais uma vez foi às ruas e se manifestou democraticamente contra a falta de ética na política. Incorporada pela figura pública de um jovem presidente que de forma emblemática conseguiu enganar até a mídia que lhe apoiava. Marcando de forma definitiva os debates sobre os conceitos éticos na política e da pessoa política. Uma época conturbada e marcada por escândalos políticos. Estes acontecimentos colocaram em xeque a consciência e as estruturas democráticas do Brasil, porque o povo tinha que agir de forma democrática repudiando os deslizes morais do até então meliante corrupto. Será que o povo está preparado para exercer uma vida política plenamente?

Um governo que desdenha da educação, da libertação cultural de seu povo, sempre irá ter o povo como aliado, exercendo uma carga de alienação muito pesada, através de uma falsa sensação de democracia, porque ter o direito-obrigação de votar não é sinal de democracia. Outro fator que favorece para um Estado totalitário (não democrático) é a carga ideológica criada em cima da propaganda de governo e seus programas sociais, gerando uma falsa sensação de prosperidade econômica, sendo assim, a sociedade por mais que lute ou reivindique o direito ao votar, sempre permanecerá alienada a formas abstratas e subjetivas da política de governo.

Em alguns casos, isoladamente as pessoas passaram do estado de revolta para a condição de exigir a decência e a ética dos políticos, por não suportarem mais tanta desonestidade dos mesmos. Pelo fato dos políticos terem perdido de forma definitiva a dimensão ética na sua relação com a administração das cidades, passando a gerar descrença perante a grande massa, desta forma, ocorrem às revoltas populares.

Não resta dúvida de que a política no Brasil é um ciclo vicioso que está a serviço dos políticos desonestos, porque são acolhidos pela mansidão da lei ou pela ignorância de quem vende o voto por algum tipo de favor, ficando quase impossível uma mudança política, por falta de iniciativa popular ou por vontade da própria classe política.

No Brasil, prevalece um sistema de casta política que deve ser derrubada bruscamente, como forma de enfraquecer o poder dos políticos, que criaram vários artifícios de poder para que continuem dominando e cometendo os mesmos atos falhos. Com seus atributos burocratas impedem o alcance do poder pela sociedade não elitizada ou que não governe para os interesses da classe dominante.

A burocracia serve para cercear o alcance a cidadania por parte da população em geral, como forma de reduzir ainda mais os seus direitos, o predicado de autonomia será dessa forma somente de uma minoria. Deixando que os interesses individuais se sobressaiam diante do bem comum de todos. Ao contrário do que ocorria na cidade grega, onde os homens tinham real condição de se inserirem em um contexto político, nos dias atuais não existe governo do povo, e sim o povo elegendo um governo de minorias, para exterminar com este governo da minoria, o povo deveria retomar a sua consciência política, nascendo assim, de fato e de direito uma verdadeira democracia com participação de todos.

Na visão aristotélica, a verdadeira e original sociedade politizada é aquela onde as pessoas participam democraticamente das decisões políticas de sua comunidade, antigamente, isto ocorria em praça pública, em um espaço onde as pessoas debatiam sobre os problemas de interesse comum.

Em uma sociedade democrática, onde todos participam, não seria justo existir distinções políticas entre classes, porque o que deveria se sobressair é o bem comum através do ideal de justiça, excluindo-se os direitos privados ou de grupos. O todo tratado de Aristóteles é antes de tudo político e não somente moralista, embora carregado de construções éticas, por isso, fica quase impossível separa a ética da política, mas que fique esclarecido que a política vem antes da ética.

Na visão política de Aristóteles a praça pública cumpre um papel significante no nascimento de uma nova forma de democracia, o nascimento do parlamento do povo e para o povo, onde no mesmo, o povo discute os interesses comuns. Assim, todos os homens são por essência políticos. Políticos porque tem o predicado moral do diálogo entre si para a construção de uma cidade justa, eles administram os problemas, defendendo a democracia e da justiça, como forma de tornar a vida mais feliz (os interesses comuns têm que ser levado em consideração na hora de tomar decisões).

Hoje no Brasil, sem dúvida vivemos uma política de forma pejorativa, existe o desencanto da sociedade com a política diante da corrupção que se instalou, de forma que os próprios políticos, em sua posição de egoísmo, criaram uma situação de desgaste, criando uma falsa política em substituição aos conceitos históricos, donde prevalecem os interesses particulares sobre os anseios coletivos.

O sentido pejorativo da política não tem espaço para as reflexões aristotélicas, os interesses particulares são abandonados em detrimento ao bem coletivo. Aristóteles foi o primeiro filósofo-político por excelência. Criando uma ciência política democrática, centrada na organização da cidade. Este estatuto político aristotélico atravessou a idade média e chegaria até os tempos atuais de forma que servirá para uma reconstrução social da vida nas cidades. Delegando responsabilidades e poderes ao povo, criando uma consciência pacifica e segura como forma de garantir a participação e o engajamento coletivo.

Portanto Aristóteles parte da comunhão de pessoas, saindo sentido particular para o coletivo para poderem atingir o grau máximo de perfeição, ou seja, alcançarem a felicidade plena.

A política aristotélica rompe com o isolamento moral e passa a integrar as ações humanas numa amplitude coletiva. Estabelecendo um padrão de felicidade coletiva. A ostentação de uma cidade virtuosa requer regras e modelos a serem seguidos. O funcionamento político depende de como se aplicam as determinações individuais dos cidadãos, as formas jurídicas que se aplicam aqueles que não se enquadram nas leis. Diante da preservação da felicidade Aristóteles recorre a uma conduta democrática. Com o predomínio da democracia o homem superou o seu individualismo em nome da coletividade.

A política de inicio se refere à estrutura e a organização da cidade. Como se organizam e se diferenciam os governos. Como Aristóteles chegará a esta conclusão? Eis que para se ter uma noção do que seja uma ciência política é preciso saber sobre o que se ocupa e qual sua prática dentro da organização de uma cidade.

A união do homem com a mulher é uma união de caráter natural e, quando unidos passam a constituir uma família. A família foi à primeira instituição política ao qual o homem passa a fazer parte e dele sempre se espera o melhor, que faça o bem. A pólis é virtuosa por natureza. Era dentro dela que o cidadão expressava sua conduta, se manifestando para a construção do bem comum. Esta manifestação é o que se conhece como participação ou ação política. Construindo a felicidade coletiva e não individualizando o homem.

Neste caso, a cidade é uma associação livre entre os homens, estabelecida por princípios éticos e acordos de conduta, e dentro desta associação, são formadas as assembleias políticas. A concepção ética que impera na pólis é a de que o homem é o centro de todas as coisas e mantêm uma relação íntima (relação afetiva e material) com a cidade. A cidade é uma associação de interesses mútuos, os homens que participam de sua construção harmoniosa são convencionados a garantirem o bem coletivo. Criando relações necessárias a convergências comuns a todos, criando uma consciência ética nestes atores. Criando mais que um bem querer.

O homem é um animal e, naturalmente é inclinado a viver em sociedade. Essa inclinação pela construção de uma vida harmoniosa e a convivência pacifica entre os seres, culminando posteriormente em construir família, conviver próximos uns dos outros. A partir desta convivência em sociedade. A conservação de espécie passa pela colocação e a capacidade de si organizarem em sociedade, estabelecendo os deveres e a capacidade de cada um se colocar perante a justiça e os deveres dos outros.

As pessoas se constituíram em família por uma convergência natural, os homens sentiram uma necessidade natural de se constituírem em família para garantirem seu sustento. O sustento era a forma mais fácil de estabelecer as formas sociais de se organizarem, o interesse era comum para todos os cidadãos, para que possam se alimentar e se vigorarem fisicamente. Estes foram os primeiros fatores que culminaram na constituição e consolidação de uma sociedade unida por laços democráticos do bem comum.

A sociedade continua sua evolução natural, e os homens tendem a se constituírem em famílias e as famílias são as bases para a construção de uma sociedade baseada em princípios éticos, leis de ordem moral. Esta união natural faz com que os homens sejam governados por uma autoridade ou ligados pela força do parentesco, isto, impede que a sociedade passe pelo estado de desordem, que acometeu as grandes metrópoles contemporâneas. As pessoas viviam dispersas em territórios muitos extensos e não visa o bem comum, apenas a sobrevivência em um mundo hostil e disperso. Foi somente a partir da construção da vida na cidade que desapareceu a obrigação de se submeterem à força obrigatória à compaixão com o próximo. E foi mais precisamente na cidade que surgiu conforme a necessidade de conversão da vida a partir da prática do bem, através da entrega voluntaria à moral do bem comum.

A cidade por natureza é o local onde as pessoas se confirmam como animais políticos. Está constituída e ligada por laços sociais e desenvolvidos em relações de dever ético. Por isso, Aristóteles (2009, p. 56) afirma que: “[...] o homem é um animal político”. Pois, tem a capacidade de se desenvolver em sociedade e se relacionar intimamente com outros seres, pois, o homem é um ser de relações e deveres.

O único animal que se constitui em sociedade racionalmente. Reconhecendo que é um ser limitado e que necessita de aperfeiçoamento. O homem é um animal político, e em uma hierarquia acima dos outros animais, porque faz uso do raciocínio, apesar de existir outros animais que vivem reunidos em sociedade, o homem é o único que se constitui como animal político, devido a sua racionalidade.

O homem é um animal, não somente por que está inserido em sociedade, ele é político porque pode perfeitamente se relacionar com outros seres de sua espécie de forma racional e converter esta relação em união social, baseada na busca do bem a partir de valores e condutas. Estes fatores racionais propiciam ao homem que se relacionem eticamente e constituem uma sociedade justa e feliz.

A política visa o bom funcionamento da cidade, determinando o seu aperfeiçoamento tornando as pessoas virtuosas e éticas, se transformando em uma peça fundamental para a efetivação da vida feliz e plena, se alguma peça (cidadão) dessa máquina (cidade) falhar pode comprometer a sociedade como um todo. A existência plena e feliz depende do funcionamento da vida na cidade, pois, tudo depende da forma como as pessoas se comportam em seu meio. A consolidação do homem como um animal político passa por diferentes fases: primeiro foi a criação da vida nas cidades, depois o homem se constitui em uma sociedade familiar e por fim, chegou num estágio racional e político mais avançada, capaz de criar regras de conduta para poder caminhar em direção ao bem. Aristóteles vai dizer que a vida na cidade é constituída e regida pela lei e pela justiça, o homem quando separado destes preceitos é um animal do mais baixo nível de desenvolvimento.

Aristóteles cria uma associação livre entre os homens com o objetivo de legitimar a plenitude social, dotando o homem de sensibilidade para legitimar uma vida em conjunto. Mas, cabe lembrar que essa associação aristotélica se da de forma espontânea e não de forma forçada, criando um socialismo democrático entre os antigos, porque para ele todos devem renunciar algo para se alcançar um objetivo bem maior (a felicidade pública). Exigindo reciprocidade de todos os homens, através da amizade e da obediência às leis legislativas.

Uma relação muito estreita entre a ética e política é determinada por Aristóteles. O filósofo teve a preocupação de enxergar que a organização social em torno da cidade estava corrompida, ou seja, havia uma espécie de postura errada no desenvolvimento dos valores, das leis e principalmente no relacionamento entre os cidadãos, levando o homem a cometer exclusão e etc.. Aristóteles, não nega a existência de costumes ou hábitos, apenas prescreve que algo está errado nas relações entre homens e cidade, em forma que seu pensamento venha expor todo o seu descontentamento em relação ao tratamento recebido dos atenienses.

A cidadania aristotélica visa uma ética, para construir um modelo de cidadão prático, inserido dentro de um contexto de unidade, co obrigações políticas. Para esclarecer a política aristotélica é obrigatório fazer uma relação intima da política com a ética, porque uma não existe sem a outra.

 

A ética e política

 

O que é ética? A palavra ética vem do grego “ETHOS”: morada, valor e conduta, ou seja, o caráter que o cidadão tem diante da sociedade. Sendo onde o homem encontra a sua realização e plenitude. A ética é o estudo das ações humanas, envolvendo a sua liberdade: o bem, o dever, a virtude, a obrigação, a racionalidade, gerando condições igualitárias à todos. Portanto pode-se perfeitamente ligar o homem a uma ação ética dentro da cidade, e isto, é o que se pode chamar de política. Política é a ação desempenhada pelo homem dentro da cidade, sempre ligado a uma vida virtuosa pela ética.

As pessoas dependendo do desenvolvimento pessoal podem ou não serem honestas. A honestidade é condicionada (determinada) por uma ética, Aristóteles vai criar uma ética relacionada à política para poder enquadrar um cidadão desonesto. Após, o condicionamento da vida do homem a uma conduta tanto pessoal quanto coletiva, fica evidente a preocupação de Aristóteles com a posição de cidadão perante a organização da cidade, o seu dever de cuidar e participar daquilo que é de todos. Diante deste dilema cabe agora perguntar para os políticos, que sociedade vocês pretendem deixar para as gerações futuras? Sim, por que o futuro se constrói no presente. Mas, esta preocupação passa pelo papel do político e sua postura diante da política, haja vista que a grande maioria dos políticos se quer sabem o que é política. Após tanto se falar em dever, governar, comprometimento social, cabe agora um esclarecimento do que seja política, não só no sentido literário, mas, também no sentido prático da palavra.

A determinação do que seja o bem, se constituindo e pertencendo a mais elevada e importante das ciências. Isto é, a política que determina o que é importante e qual a intensidade dessa relação harmoniosa em sociedade, na arte de governar ou participar da construção social da cidade.

Portanto, a política tem a ver com a ação, com a praticidade individual diante do coletivo nas cidades. Querendo o filósofo distinguir o bem do mal, à saber qual a maneira mais justa de criar condições de felicidade aos outros cidadãos, a partir de uma participativa constituição, perfeita e democrática (democrática do ponto de vista da participação). Cabendo a cada ser saber a sua posição perante as leis e a aplicação da justiça, para garantir não só a sua felicidade, mas, a das outras pessoas.

 

A democracia

 

A vida do homem se constitui com plenitude na cidade, esta ligação íntima é dada pela convergência do mal em bom, que o possibilite viver em virtudes baseado na conduta. Mas, o desenvolvimento humano passa pela construção da cidade democrática, dependendo da consolidação política e da participação governamental, todo esse desenvolvimento passa pela consolidação de uma consciência democrática de igualdade perante as leis. O desenvolvimento de uma cidade depende do tipo de governo que a sociedade adotar, tudo passa pela participação popular e a divisão de direitos e deveres.

Aristóteles busca estabelecer um ideal de cidadão, através de uma espécie de exclusão ele vai buscando o tipo perfeito de cidadão. Capaz de participar da construção harmoniosa da cidade. O cidadão ideal é definido como aquele que esteja apto a exercer as obrigações e deveres políticos (administrativos e parlamentares) que lhe é requisitado pela cidade. A capacidade de se situar e se consolidar de forma participativa é destacada por Aristóteles como uma democracia direta, exercida pelo cidadão competente e aperfeiçoado pela consciência crítica de si, que está empenhado na construção da justiça.

O cidadão composto por direitos e deveres está ligado diretamente a democracia. Então, o ser cidadão é aquele que está apto a exercer e praticar o bem comum. Cidadão é o ser que tem a obrigatoriedade de participar da administração da cidade, de forma política.

As pessoas que convivem nas cidades são governadas por um governo que toma medidas drásticas ou não, exercem o artifício de legislar os demais, mas, cabe ao cidadão negar a autoridade do governo, alertando para os erros que o mesmo vem cometendo.

Portanto, em uma sociedade baseada em princípios o cidadão que se cala diante do erro de seu governante está sendo conivente e comete o mesmo erro. Em uma democracia é dever de todo cidadão zelar pela ordem e o bem comum, e por isso, o legislador que não está governando em beneficio de todos, governa em causa própria e isto, é abominado por Aristóteles.

 

Do Cidadão

 

Os capítulos anteriores foram destinados para uma elaboração filosófica do conceito de cidade politizada, foi analisada a construção política da cidade baseada na ética e na justiça que faz o homem se relacionar intimamente com sua construção, na busca da plenitude. A maneira correta para conceituar o cidadão de Aristóteles é necessária recorrer aos critérios de cidade, porque a cidade em geral é formada por uma grande massa de pessoas (cidadãos) capazes de tomar as mais diversas decisões, assegurado a felicidade de todos. A construção da cidade passa pelo caráter ético do cidadão é ele que vai se relacionar com os outros em comunidade. Como que cada cidadão tenha uma função e importância diferente na cidade.

Aristóteles levanta um questionamento muito delicado, que é a relação e o caráter do cidadão dentro de um Estado político, criando a partir daí um conceito de cidadania ideal. Que papel esse cidadão desempenha no Estado? Uma coisa é certa. O cidadão ideal é aquele que tem ou possui o pleno poder de exercício da vida política, que está determinado a exercer o que lhe cabe dentro da pólis. Está inserido dentro do contexto da legislação, pode perfeitamente determinar o caráter das ordens quanto como a recebê-las, conforme a necessidade da cidade.

O bom cidadão não precisa possuir uma única virtude plena, basta andar conforme a constituição de sua cidade, porque a constituição é uma forma eficaz de garantir a ordem e felicidade de todos (da sociedade como um todo). Por isso, que Aristóteles faz um alerta sobre as formas de governo, é preciso haver apenas uma única forma de governo para enquadrar todos os cidadãos sob sua lei. E a preferida do filósofo é a democracia, onde todos têm direitos e deveres.

Uma ideia é criada a partir da prática cidadã, porque o Estagirita quer que as pessoas acreditem que deve existir um acordo coletivo de forma espontânea entre as pessoas da polis para legitimar uma política única em forma legislação, assembleias e leis.

Uma coisa é certa, para a construção feliz e plena de uma cidade não é necessário que todos os homens sejam bons, mas é de extrema importância que todos os cidadãos sejam bons, para coibir os homens que não são bons existe a justiça, a constituição e as leis.

A cidade é composta por diferentes atores, e nem todos são iguais, existe diferença. Nem todos têm a mesma virtude, esta espécie de bem pode variar de pessoa para pessoa.

Aristóteles separa a pessoa pública da particular, o dever de cidadão é um, e o dever de homem é outro, possuindo outra dimensão, apesar de duas éticas todos buscam a felicidade. O cidadão que possui a verdadeira virtude é aquele comprometido com a ordem e o funcionamento da cidade, estando sempre disposto a dar ordem quanto à recebê-la. Mas, há uma variante nesta exposição, por que Aristóteles não quer dizer de forma alguma o que as pessoas têm a mesma classe social, existindo uma diferença entre as tarefas das classes distintas. O comprometimento de cada pessoa se deve pela posição social que a mesma ocupe.

A maior virtude de um cidadão é está sempre disposto a fazer o bem pela sua cidade, mesmo que tenha que abrir mão de algo particular. A noção de cidadão vai além de uma ideia de permanecer na cidade, ser cidadão é fazer parte da construção política da cidade.

Portanto, cada cidadão na visão de Aristóteles está limitado a exercer o que lhe confere, de acordo com a sua posição social. O filósofo faz duras críticas ao processo de exclusão que sofria por ser estrangeiro.

Conclusão

 

Portanto, política é um manual de boa convivência social dentro da democracia ateniense, onde as pessoas estavam empenhadas em dar de si sempre o melhor e ao mesmo tempo a forma como Aristóteles encontrou para criar uma consciência social, jurídica e ética do homem grego.

A evolução política de Atenas se deu a partir da evolução social, econômica e antropológica da família, da aldeia e por último da Cidade, quando atinge seu grau máximo de desenvolvimento, com isso, Aristóteles aponta uma transformação da sociedade em seu caminhar para um futuro, a partir de uma racionalidade real (concreta) ele passa a negar o mundo fundado a partir de ideias e fenômenos anteriores a realidade formal do aqui e agora.

Abordando os aspectos negativos da atual política brasileira foi uma forma de penetrar no pensamento político de Aristóteles, cobrindo aspectos obscuros dos políticos e sua falta de comprometimento com a ética e com a democracia. Fica evidente a preocupação de responder a questão da identidade política atual através da filosofia aristotélica, confrontando a realidade com os princípios do filósofo:

1) A política atual está corrompida pela falta de comprometimento moral dos homens com a administração das cidades;

2) Na política brasileira em especial, não existe um padrão ético estabelecido, os políticos em sua grande maioria não têm comprometimento moral com a justiça, leis e os problemas socioeconômicos.

Por outro lado fica evidente que Aristóteles tem a preocupação em criar um Estado ideal, capaz de garantir a felicidade das pessoas, determinando a melhor forma de se resolver problemas e levar o homem a sua plenitude.

Confrontando a forma de se fazer política no Brasil com o pensamento de Aristóteles, fica evidente a falência da moralidade humana, porque os políticos atuais estão necessitados de ética (vêm adotando posturas errôneas), tanto os políticos quanto os cidadãos não sabem o tamanho da amplitude e da responsabilidade de se administrar problemas e conduzir o homem a felicidade.

 

 

 

 

Bibliografias consultadas

 

ARISTÓTELES. Política. Tradução: Pedro Constantin Tolens. 9ª Ed. Martin Claret. São Paulo-SP. 2009.

 

ARISTÓTELES. Ética a Nicômaco. Tradução: Pietro Nassetti. São Paulo. Martin Claret, 2006.

 

ARANHA, Maria Lúcia de Arruda & MARTINS, Maria Helena Pires. Filosofando: Introdução à filosofia. 2ª Ed. editora Moderna. São Paulo. 1998.