Ensaio sobre a educação a distância no Brasil (Belloni, Maria Luiza)
Por Fernando Vilas Boas Cardona | 13/04/2010 | TecnologiaEnsaio sobre a educação a distância no Brasil
(Belloni, Maria Luiza)
Prof. Fernando Cardona - professorcardona@gmail.com
Belloni, Maria Luiza. Ensaio sobre a educação a distância no Brasil. Educ. Soc., Abr 2002, vol.23, no.78, p.117-142. ISSN 0101-7330
A autora busca, em seu texto, estabelecer primeiramente um referencial claro sobre o surgimento, e conseqüentemente, da adoção das tecnologias de comunicação pela sociedade como um todo.O impacto gerado por estas tecnologias na vida e na construção social principalmente de países caracterizados pelo subdesenvolvimento, em especial o Brasil. Diante desta linha de análise a autora busca identificar as políticas públicas focadas na adoção destes meios de comunicação, e relatando estas experiências, tenda construir um cenário sobre as dificuldades encontradas –políticas e econômicas - pelo que ela mesma grifa citando Santos de "Chão Social".
O texto inicia sua analise apresentando a evolução e influência das inovações tecnológicas e como estes são participantes e influenciadoras da construção social, e conseqüentemente, refletem nos processos educacionais na preparação de seus jovens e adultos para o "ser social".Para a autora, estabelecido a importância influenciadora destes novos canais e meios, vê-se claramente uma desigualdade entre as ações realizadas em escolas públicas e privadas na busca de domesticar, ou adestrar, os seus seres sociais neste novo canal. Para Maria Belloni as possibilidades apresentadas por estas tecnologias não estão nelas mesmo, como apresentam os discursos tecnológicos, mas sim na possibilidade de grupos sociais se organizarem em busca da implantação de programas e ações claras na utilização destes recursos para a formação adequada do "ser social", mais ainda, como uma forma de equalizar as diferenças sociais e de acesso a educação.
Na segunda parte do artigo Maria Belloni discute sobre a integração das Tecnologias de Informação e Comunicação – TIC – na educação.O eixo da discussão não mais se posiciona sobre a tecnologia em si, mas se coloca sobre a midiatização técnica – a elaboração, concepção e uso pedagógico de materiais em formato multimídia e seu uso pelos envolvidos.A importância da adoção destas tecnologias nos processos educacionais se da, não somente pelas facilidades e vantagens que estas disponibilizam aos seus usuários, mas pela sua presença e influência gerada em todas as esferas sociais.
Na terceira parte de seu artigo Maria Belloni apresenta um panorama histórico da educação a distância no Brasil.A autora qualifica as ações públicas no setor como ações tecnocráticas, autoritárias e centralizadoras que necessariamente gerarão resultados medíocres. São soluções que levam em consideração somente a tecnologia, em um discurso tecnocrático, e não a análisedas micro políticas nas quais as ações serão realizadas, "chão social". Citando os programas de formação continuada de professores, as ações de educação popular, o uso da televisão como canal para compensar as carências no ensino básico – televisão escolar substitutiva -, e outras ações, a autora traça um panorama histórico-tecnolgico-educacional sobre o uso das TIC nos processos educacionais.
Em sua última parte, o artigo traz a conclusão da autora. Para ela, a história da educação a distância, e não somente a EAD mas os programas tecnológicos no setor educacional trazem consigomas mesmas disparidades encontradas na história do ensino presencial. De um lado os conceitos idealizados, ou não planejados, dos controladores e gestores de educação no país que representam o braço público-político; do outro, a realidade inerente das micro regiões que, ao invés de obterem nestas ferramentas a equalização das desigualdades, criam um abismo ainda maior. Adicionalmente, em sua conclusão, Maria Belloni identifica ainda um problema localizado na demanda – nas pessoas que utilizam estes canais -, onde estes não possuem qualificação ou capacidade, ou ainda, motivação para estabelecer um comprometimento com o auto-estudo. Considerando que a prática de EAD requer a necessidade de se auto-empenhar na busca e consolidação da aprendizagem, a ausência destas características tendem a minar todo e qualquer oferta nesta área influenciando diretamente para a geração de resultados medíocres.
Para a autora, toda e qualquer política pública focada meramente nas promessas tecnológicas dos meios gerará apenas programas com interesses políticos e não atenderá as demandas e necessidades requeridas pela sociedade. O problema então se resume no fato de que, tanto sistemas presenciais ou a distância devem focar na resolução de problemas muito semelhantes aos dois: inovação nos conteúdos, metodologias de ensino, criatividade na resolução de problemas antigos e dos novos oriundos das TIC, indiscutivelmente necessárias.