Enfrentamento e Compreensão

Por Central Press | 11/06/2013 | Sociedade

*Wanda Camargo

 

Um colégio tradicional paulistano não permitiu que um aluno que usava saias assistisse às aulas, provocando grande reação dos demais estudantes. O diretor manifestou-se chocado: “ele não está numa galeria de arte, está numa escola”, disse, argumentando também que a proibição foi para proteger o próprio aluno quando saísse à rua.

A polêmica remete a outras, de outras gerações, quando entraram em moda as calças justas, as minissaias, os cabelos masculinos compridos, os cabelos femininos curtos, os piercings, as tatuagens, os cabelos coloridos... Os mais jovens sempre vão transgredir os códigos já estabelecidos de vestimenta e aparência - e os mais velhos sempre farão oposição, a princípio.   

O uso de saias por homens é praticamente tão velho quanto o uso de roupas - quando nossos antepassados se cobriam com peles de animais, os trajes deviam se assemelhar a vestidos e não a calças, idem as togas da antiguidade greco-romana.

Em tempos mais recentes, podemos citar os escoceses, gregos, albaneses, e muitos outros povos, sem esquecer as batinas dos religiosos mais ortodoxos. Essas saias, no entanto, se devem a questões culturais, históricas, de afirmação nacionalista. Seu uso por motivos contestatórios, ou simplesmente para chocar a burguesia, vem de menos tempo. No Brasil, o precursor foi o modernista Flávio de Carvalho, que realizou o que chamou de “Experiência nº 3”, desfilando de saia pelo centro de São Paulo, em 1956, com as reações escandalizadas de praxe.

Desde alguns anos, vários estilistas têm proposto saias masculinas, sem aparentemente nenhuma intenção de travestir seus clientes. São saias de corte específico, algumas assemelhadas a kilts, e muito elegantes, se o usuário tiver “atitude”. Os defensores desta moda elogiam, além do aspecto transgressor e vanguardista, o maior conforto e liberdade que ela proporciona, em comparação com as calças - e, coincidentemente, foi esse argumento (conforto e liberdade) o utilizado pelas mulheres que principiaram a usar “calças compridas” em tempos modernos.

Um famoso psicanalista, atuante no país hoje, aconselha sabiamente: em se tratando de rebeldia, ficar um pouco mais frio, impedir o enfrentamento, considerar mais pitoresco que dramático, pode, eventualmente, produzir melhores resultados, evitando o acirramento das posições.

A escola tem importância fundamental no processo de socialização de crianças e adolescentes. É o lugar onde as personalidades se sedimentam no contato entre iguais; onde nascem amizades, rivalidades, lideranças, namoros, aspirações. Não pode ser o lugar da repressão, mas também não pode ser o lugar da irresponsabilidade. Cabe aos educadores ter discernimento para saber onde deverá ser estabelecido o limite entre as duas coisas.

* Wanda Camargo é educadora e assessora da Presidência das Faculdades Integradas do Brasil – UniBrasil.