ENFIM, UM FIM DE SEMANA
Por Renato Ladeia | 29/08/2017 | CrônicasNa atual fase da vida, meus fins de semana em geral são mornos, sem grandes emoções. Mas neste último saímos da rotina. No sábado fomos para a Rua Augusta no lançamento do livro de contos Primeiramente e levamos a amiga jornalista e escritora Sonia Nabarrete. Foi um gostoso papo de São Bernardo até a metrópole. Lá encontramos vários amigos e companheiros da antologia de contos. Entre os amigos e novos amigos, encontramos a querida Elizabeth Pudles, também jornalista que estava lá prestigiando o evento. Apesar do tempo e das nossas rugas, um rosto amigo é sempre o mesmo, com a vitalidade da juventude ainda fresca no olhar que não vai desaparecer enquanto a nossa memória conseguir manter o registro.
Lá estava também a querida Nádia Novaes, uma guerreira dos velhos tempos, sempre sorridente, entusiasmada e feliz, acreditando na amizade, na poesia e no futuro. O Paulo Lai Werneck, arquiteto, escritor e artista da madeira, a Manu com suas duas filhas a tiracolo, feliz com um sorriso que ouvia-se de longe (o sorriso pode ser ouvido também...). O Jorge Nagao que conheci lá e que fotografou a família com inigualável delicadeza. E outros tantos que não há espaço para citar.
No domingo tínhamos um convite imperdível para um almoço na casa dos nossos antigos amigos Guacira e Milton Eto. No cardápio estavam, também, Edson Silva e Drágica Mitrowich, sempre ótimas companhias. Edson ou Zeca, escritor, sambista e compositor e a Drágica, que faz a ponte entre a cultura alemã e sérvia com a brasileira, guiada pela gentileza do Zeca.
O delicioso almoço preparado pela Guacira, tinha salada com flores cultivadas pela Cintia, e peixe assado com molho da erva dil. Guacira, nome indígena e poético, que dá nome a uma velha canção (Adeus Guacira) foi incorporado com orgulho pela Fuzae quando se casou.
Lá tivemos contato com o livro delicadíssimo da Cintia Eto, filha do casal. Um “abuso” de sensibilidade. O livro, particularmente inovador vai participar da mostra Nascente de arte da Universidade de São Paulo, onde ela, uma arquiteta e artista plástica, faz o curso de Letras. Enquanto folheava o livro, cometi a indiscrição de ler um poema da Cintia, que aqui não transcrevo por não estar autorizado, mas é de uma delicadeza indescritível. Aliás, registro que estranhei quando a Cintia resolveu fazer o curso de letras depois de cursar arquitetura, seguindo o caminho trilhado pelo pai, professor de língua e literatura portuguesa. Mas isso tinha uma razão de ser. Ela precisava incorporar a poesia à sua linguagem de artista plástica e nada como estudar os clássicos da língua para incorporá-los à sua arte.
A boa conversa foi longa e bom seria se não fosse para tão grandes amizades, tão curta a vida. Terminamos a visita no final da noite com uma pizza e um expresso para não dormir no caminho. Mas antes conversamos sobre política (inevitável), mais literatura e, por sugestão da Cintia, sobre O Narrador de Walter Benjamim, sobre o qual ela nos contou alguns detalhes pouco conhecidos do livro e do autor. E termino essa crônica citando o autor: “... a narrativa não é apenas informação, mas imerge essa substância na vida do narrador para, em seguida, retirá-la dele próprio. Assim a narrativa revelará sempre a marca do narrador, assim como a mão do artista é percebida”.