ENDURO A PÉ DE REGULARIDADE
Por Adinã Fernandes Leme | 05/06/2011 | SociedadeENDURO A PÉ DE REGULARIDADE
Proposta Metodológica de ensino na Educação Física Escolar
RESUMO
Este trabalho apresenta uma simples visão da Educação Física escolar e seu conteúdo, contemplando as ações simples de um ensino fechado às práticas convencionais, dando ênfase à algumas modalidades esportivas. Porém, uma nova modalidade de conteúdo tem despertado interesses da implantação nas áreas escolares. Esta modalidade é conhecida como Enduro a pé de Regularidade, pertencente à categoria das atividades físicas de aventura na natureza (AFAN). Esta atividade, além de proporcionar diretamente a atividade física, como o próprio ato de se movimentar, agrega a ação transdisciplinar como, por exemplo, o uso da matemática, geografia, como também aborda assuntos ligados aos temas transversais nas questões ambientais, proporcionando ao aluno o convívio com o meio e com o próprio processo de aprendizagem e respeito de forma significativa. A revisão da literatura permitiu exemplificar encontrando possibilidades de se trabalhar outro conteúdo além dos esportes tradicionais, sugerindo e apontando o Enduro a pé de Regularidade, como forte aliado da educação física.
Palavras-chave: Educação Física Escolar, Prática convencional, Atividades físicas de aventura na natureza, Enduro a pé de Regularidade.
INTRODUÇÃO
A prática da educação física com o intuito da formação do caráter e do indivíduo com a responsabilidade educacional apresenta diariamente novas questões e diversidades de execução do trabalho, tendo como foco a busca constante de novos conhecimentos.
A proposta desse trabalho busca apresentar de forma simplificada, a prática do Enduro a pé de Regularidade, uma das práticas das atividades físicas de aventura na natureza (AFAN), de forma transdiciplinar na educação física escolar, alertando e conscientizando da responsabilidade e cuidados com a preservação do meio ambiente, propiciando assim, uma nova vivência da atividade física.
Existem no país diversas atividades físicas com conotação esportiva, de lazer e pedagógico, voltado à prática utilizando o meio ambiente. São atividades que têm como objetivo a conscientização do equilíbrio e do respeito ao meio em que vive juntamente com seus participantes.
Este trabalho se justifica por possibilitar, através das práticas das atividades físicas de aventura na natureza (AFAN), a formação de apreciadores, praticantes e futuros responsáveis conscientes da preservação do meio ambiente.
O trabalho foi realizado através de pesquisa de caráter bibliográfico, coleta de dados através de livros, revistas especializadas, periódicos e artigos científicos que abordam as ações da educação física escolar e a atividade física de aventura na natureza.
O objetivo é buscar subsídios teóricos que permitam compreender o conceito das atividades físicas de aventura na natureza (AFAN) e a possível introdução do Enduro a pé de Regularidade, nas aulas de Educação Física Escolar, preparando os alunos na formação da consciência ambiental, preparando para o desenvolvimento sustentável, preservação do meio ambiente e valorização do meio rural.
UMA VISÃO DA EDUCAÇÃO FÍSICA ESCOLAR
Para entender a condição e capacidade da inclusão do Enduro a pé de Regularidade, uma das práticas das atividades físicas de aventura na natureza (AFAN), objeto de estudo deste trabalho, dentro da educação física escolar, é preciso compreender a atual situação, investigando as principais tendências e influências pedagógicas que a cercam.
Betti e Zuliani (2002) destacam o surgimento da expressão Educação Física no século XVIII, em obras filosóficas preocupadas com a educação. Tendo como objetivo a formação da criança e do jovem com uma dimensão integral ? corpo, mente e espírito, no desenvolvimento pleno de sua personalidade.
Por sua vez, Soares et. al. (1992) comenta que, historicamente a Educação Física surge no século XIX, com a intenção de criar corpos mais fortes e saudáveis para serem comercializados como mercadorias, por se tratar do único produto a ser oferecido à sociedade.
Oliveira (1987) comenta que no estudo da Educação Física existem diversas perspectivas históricas no intuito de conhecê-la melhor e que diante deste tema ela cresce a cada dia, apresentando teorias que possam abordar o assunto por vários ângulos, desde os seus princípios até os jogos de hoje, do homem em convívio com a natureza, ao homem em convívio com a máquina.
Ainda segundo Oliveira (1987) a Educação Física tem servido de diversas maneiras, por todos os cantos e para todos os interesses, baseados em teorias psicobiológicas, comenta o autor que considerando que nem todos têm acesso à educação física e que seus valores não têm merecido uma análise rigorosa e nem mesmo por intermédio de seus representantes.
Não será, jamais, fechando-nos em torno de nós mesmos que iremos alcançar nossos objetivos. Devemos sim, continuar estudando preparação física. Devemos sim continuar estudando a psicologia da criança. Mas a superação pretendida não se dará sem identificar os valores que orientam a nossa prática. Devemos observar o homem, a sociedade e a educação como uma totalidade e que a Educação Física, enquanto educação faz parte deste todo solidário. Os valores econômicos, políticos, éticos e estéticos que caracterizam a nossa sociedade são, sem dúvida, os mesmos que informam a Educação Física. (OLIVEIRA, 1987, p.11)
Na visão de Vieira (1989) a Educação Física não poderá apresentar sempre o papel da observação do físico e terá que assumir criando uma percepção nova dela e também em relação ao povo que lhe serve, abrindo canais do conhecer culturalmente e politicamente, desenvolvendo hábitos responsáveis nos cidadãos para a construção de uma sociedade de homens livres e libertadores.
As literaturas de Seabra (2006), Darido e Rangel (2005), Guedes (1999) e PCN (2001) têm um censo comum de que a análise crítica na Educação Física e a busca de superação das origens médicas e militares apontam à necessidade de que se considerem também as dimensões culturais, sociais, políticas e afetivas, presentes no corpo das pessoas que interagem e se movimentam como sujeitos sociais e como cidadãos.
Nesta perspectiva, a Educação Física Escolar é vista como uma área de conhecimento que:
(...) introduz e integra o aluno na cultura corporal de movimento, formando o cidadão que vai produzi-la e transformá-la, instrumentalizando-o para usufruir dos jogos, das danças, das lutas e das ginásticas em benefício do exercício crítico da cidadania e da melhoria da qualidade de vida (BRASIL, 1998, p.29).
Na discussão da realidade da Educação Física, Freire e Scaglia (2003) concluíram que na liberdade de atuação corporal dos alunos houve pouco avanço no sistema educacional. Ressaltam os autores que, neste aspecto o ambiente escolar continua muito restrito e que a educação física poderia trazer diversas propostas diferentes, uma delas é liberar os alunos do confinamento em sala de aula.
Também Freire e Scaglia (2003) orientam que, tanto a Educação Física juntamente com outras disciplinas precisa apresentar soluções para a vida social, pois não se consegue a formação de novos cidadãos com nova consciência, com tratamento dos alunos em meios isolados ou somente em ambientes escolares, mantendo os alunos em bancos. Já a Educação Física, poderá ter o desenvolvimento do indivíduo num meio ambiente humano, devendo ser o objetivo principal, valorizando a tarefa coletiva independente de qualquer divisão.
Relatam os autores que:
O objetivo da educação física deve ser levar a criança a aprender a ser cidadã de um novo mundo, em que a ganância não supere a solidariedade; em que a compaixão não seja esmagada pela crueldade; em que a inteligência não seja reduzida a saber calcular e falar línguas estrangeiras (...) (FREIRE; SCAGLIA, 2003, P. 32)
Comentam também Freire e Scaglia (2003) que as escolas deverão se adequar ao ensino na formação do cidadão consciente nas questões coletivas pertinentes, como a poluição das águas e do ar, a destruição das florestas, a escassez de água potável, as epidemias, as desigualdades sociais e o êxodo rural, entre outras, pois uma educação que o isole, que não apresente tais assuntos, que não promovam trabalhos coletivos, que não incentive a ousadia, a criatividade, a autonomia, estará certamente fora do contexto da formação do cidadão que fatalmente enfrentará estas situações daqui em diante.
Uma das hipóteses ressaltadas por Freire e Scaglia (2003) é de que o objetivo principal das atividades da educação física escolar é apresentar aos alunos os elementos externos ao ambiente escolar, fazendo buscar conhecimento da sociedade humana e a natureza, mediado pelas atividades corporais de exercício e jogo.
No assunto abordado sobre organização curricular Freire e Scaglia (2003) citam sobre temas e subtemas correspondentes ao conteúdo em forma de atividades a serem desenvolvidos na educação física e na habilidade de deslocamento. Comparando o homem atual com a classe animal e que, tais animais são locomotores e a sua evolução durante bilhões de anos, foi a garantia do abrigo, alimentação e reprodução e que percebendo a necessidade de se locomover, mudando de um lugar para outro e que a falta desta movimentação poderia acarretar diversos problemas, inclusive de saúde.
No universo do aprendizado, nas habilidades alternativas comentam Freire e Scaglia (2003) que a Educação Física ainda fortemente se concentra em atividades tradicionais, perdendo toda a atenção do que acontece ao seu redor, onde os jovens acabam procurando e aprendendo práticas alternativas fora de seu ambiente escolar. Trilha, escaladas, skate, patinação, acampamentos, festas, entre outras, são modalidades que podem ser desenvolvidas dentro do ambiente escolar, dependendo da formação de seus professores, da história de vida dos alunos e das características ambientais.
Seguindo esta linha de contextualização, perceberemos novas visões e significados que regem esta área de conhecimento, demarcando novas prioridades, vislumbrando outros caminhos que permitem ao aluno ampliar seu nível de conhecimento e de mudanças de hábitos, firmando um sério compromisso com a preservação da natureza e com isso demonstrando mais responsabilidade para a vida humana, tornando-se mais sensíveis e afetuosos (MARINHO, 2006).
PCN (2001) explicita que o aluno deve conhecer e cuidar do próprio corpo, valorizando e adotando hábitos saudáveis como um dos aspectos básicos da qualidade de vida e agindo com responsabilidade em relação à sua saúde e à saúde coletiva.
Leite e Hartmann (2007) explicam que, para que haja uma harmonia entre os alunos integrantes e o trabalho relacionado ao meio ambiente junto à Educação Física escolar é necessário que tenha uma integração, e que os alunos se sintam agentes transformadores do ambiente, identificando seus elementos e as interações entre eles, contribuindo ativamente para a melhoria deste.
Explana Marinho (2006) que, para uma reflexão sobre os novos desafios impostos pelos dias atuais acabam nos impulsionando a refletir sobre novas diretrizes para o ensino da Educação Física no cenário educacional, e uma conexão dos alunos com aspectos ligados à experiências na natureza nos remete às atividades físicas de aventura na natureza (AFAN).
Acreditamos que é o "conhecimento" que pode ou não nos remeter a um comportamento ético, pois conhecimento é poder e o uso deste poder requer também um engajamento ético, sem o que caímos em mais uma das muitas formas de dominação, seja da natureza, seja de outros seres. Assim, além dos conhecimentos acadêmicos (equipamentos, técnicas, conhecimentos básicos de fisiologia, biomecânica, didática, etc.), há que produzir nos cursos de formação um outro saber, partilhado, solidário, transformador. (MARINHO; INÁCIO, 2006, p.6-7)
Franco (2008) explicita o seguinte questionamento em relação à inclusão das atividades físicas de aventura na natureza (AFAN), no ensino na Educação Física escolar:
Se o que queremos é formar um cidadão íntegro, por que privar jovens adolescentes das AFAN? Essas atividades multivalentes por natureza, claramente simbólicas, que se alinham com o gosto dos adolescentes, principalmente aos das séries finais da Educação Básica, já deveriam fazer parte do currículo comum das escolas de formação superior há muito tempo e presentes no ensino regular (FRANCO, 2008, p.33).
Para Franco (2008), a maior presença de estímulos e sensações de prazer está nos praticantes das atividades físicas de aventura na natureza (AFAN), do que nas atividades esportivas convencionais.
As atividades físicas de aventura na natureza (AFAN), terminologia utilizada pela primeira vez por Betrán (2003) apud. Betrán (1995) cita que, tais atividades ficaram conhecidas mundialmente em 1970 e se consolidaram em 1990 abrigadas pelos novos hábitos e gostos da sociedade pós-industrial. Atualmente estas práticas se difundiram como alternativa emergente no tempo do ócio ativo e sendo utilizado por boa parte da população, oferecendo diversas ofertas de atividades lúdicas, higiênicas e competitivas.
Munhos e Junior (2004) comentam que as atividades físicas de aventura na natureza (AFAN) foram classificadas por Betrán (2003) em cinco divisões levando em consideração as características intrínsecas e extrínsecas:
Ambiente físico, relacionado ao meio em que acontece a atividade: Ar, Terra e Água;
Ambiente pessoal: relacionado às emoções, sensações e vivências pessoais durante a prática da atividade;
Atividades: foram selecionadas trinta e duas atividades;
Valorização ético-ambiental: uma troca entre o meio ambiente e as pessoas e mesmo que não seja o objetivo;
Ambiente social: apelo pela prática em grupo por ter um forte caráter individualista;
Entre diversas atividades existentes na prática das atividades físicas de aventura na natureza (AFAN), Munhos e Junior (2004) citam algumas das atividades mais praticadas por uns ou outros grupos como:
Montanhismo ou Alpinismo: Representa a prática de atividades em regiões montanhosas, tais como caminhadas, acampamentos em finais de semana, até caminhadas de ascensão, escaladas em rocha, gelo e outras;
Espeleologia, Caving ou Caverna: Espeleologia é o estudo das cavernas, enquanto que caving/caverna é a sua exploração para as atividades físicas de aventura na natureza (AFAN). Nesta última exige-se solidariedade e trabalho em equipe;
Cicloturismo: Turismo realizado em cima de uma bicicleta. Normalmente são viagens que duram horas ou dias com o intuito de explorar as paisagens;
Mountain Bike: É a prática de andar de bicicleta em todo e qualquer tipo de terreno, com o fim da própria prática física em si ou em busca de uma ou outra paisagem;
Orientação: Navegação em lugares desconhecidos com o auxílio de bússola, mapa ? mais simples ? ou também com tecnologia mais avançadas como GPS e altímetro;
Caminhada ou trekking: Caminhada em diversos terrenos, normalmente em trilhas na natureza;
Rafting: Prática de descida de corredeiras com botes infláveis;
Cascading: descida de rappel em cachoeiras utilizando equipamentos tecnológicos (corda, mosquetões, freio, cadeirinha ? também são utilizados na escalada);
Canyoning: seguir o leito de rio podendo ser caminhando, de bote, bóia canoa, descendo de rappel, etc. Qualquer atividade de subir ou descer o leito do rio, ou seja, o cascading, rafting, canoagem, caving e caminhada podem ser considerados como canyoning quando feito em um rio cercado de rochas;
Corrida de Aventura: Esta prática esportiva é nova e sempre está voltada para a competição entre equipes. Esta implica em unir diversas atividades físicas de aventura na natureza (AFAN) como: mountain bike, caminhada, rafting, canoagem, natação, canyoning, escalada, entre outros;
Caminhada, trekking ou enduro a pé de regularidades: É uma competição de caminhada e orientação. As equipes competidoras recebem um mapa e eles têm um tempo para percorrer determinada distância. A equipe com maior regularidade de tempo e velocidade (não pode parar) nos percursos é a vencedora;
Outdoor training ou treinamento ao ar livre: É a utilização de várias atividades físicas de aventura na natureza (AFAN) no treinamento de executivos, os objetivos são de punho psicológico como: criatividade, liderança, integração e tomada de decisão.
Mergulho: Contemplação dos seres marinhos e seu habitat utilizando ou não de equipamentos que auxiliem a maior permanência dentro da água.
Maroun e Vieira (2006) comparam a igualdade de benefícios, relacionados à saúde e à qualidade de vida, entre a prática das atividades físicas de aventura na natureza (AFAN) com a prática de esporte considerada tradicional e que ambas oferecem a melhoria da autoestima, autoimagem, redução do estresse e outros.
Para reafirmar a importância das atividades físicas de aventura na natureza (AFAN), Marinho e Bruhns (2006), acrescentam que, na prática a manifestação de caráter recreativo, acaba surgindo amparado pela pós-modernidade, na prática do turismo, agregada ao espírito de emoção, risco, aventura e a diversão.
Comparam os autores Marinho e Bruhns (2006) que a procura desta prática, como uma espécie de fuga temporariamente do universo urbano, saindo da rotina diária, procurando viver emoções extraordinárias, em companhia de grupo de amigos, onde o espírito de aventura fica no plano imaginário, aumentando os níveis de autoestima.
CONHECENDO O ENDURO A PÉ DE REGULARIDADE
Relatam Maroun e Vieira (2006) que, a primeira competição que se tem registros de Enduro a pé de Regularidade aconteceu em 1992, na cidade de São Paulo, na Serra da Cantareira, e que atualmente existem no país 29 competições, espalhadas por 10 estados, atraindo por mês aproximadamente 7 mil atletas.
Comentam que:
Dentro do complexo e multidimensional processo que pode resultar na adesão a uma vida ativa, vislumbramos, pelas suas características, que o Enduro a Pé pode trazer uma importante contribuição, pois se trata de uma competição de caminhada, sendo esta uma atividade de fácil execução, com poucas contra-indicações e, portanto, podendo ser praticada por pessoas de diferentes faixas etárias e competências motoras (MAROUN; VIEIRA, 2006, p. 1).
Descrevem os autores Maroun e Vieira (2006) da prática do Enduro a pé de Regularidade como uma competição em equipe, compostas de 3 à 6 pessoas (independente de sexo ou faixa etária), que se resume realizar a pé um determinado percurso apresentado em uma planilha, em um tempo estipulado.
Na organização desta prática, é elaborado um trajeto e inserido em uma planilha as informações necessárias para a interpretação do caminho a ser seguido, tais como a distância, descrição do ambiente, direções e velocidades médias. Permitindo às equipes calcularem o tempo exato de passagem em cada referência.
Na largada geralmente há um espaço de 2 à 3 minutos entre as equipes e as checagens dos tempos são realizadas por Postos de Controle (PC's) colocados estrategicamente ao longo do percurso.
Os PC's são compostos por integrantes da organização que registram a hora, o minuto e o segundo em que as equipes passam no ponto em que estão baseados.
O Enduro a pé é um esporte de regularidade, ou seja, a equipe vencedora não será a mais veloz, e sim a que passar pelos PC's no tempo mais próximo do ideal.
Em cada segundo adiantado ou atrasado há uma perda de determinado número de pontos, sendo vitoriosa a equipe que perder o menor número de pontos. Portanto, o que importa não é a intensidade ou o melhor preparo físico, mas sim a regularidade ao longo do percurso.
As velocidades médias (em metros por minuto) são determinadas de acordo com as peculiaridades do terreno e/ou do clima e definidas de tal modo que os competidores "apenas" caminhem, ou seja, não se utilizem da corrida.
Isso faz com que este esporte possa ser praticado em iguais condições por pessoas de várias faixas etárias e níveis de condicionamento físico.
Outro fator positivo, relatam ainda os autores Marinho e Bruhns (2006), é referente o baixo custo para esta prática, comparando com a maioria dos esportes de aventura que são necessários equipamentos tecnológicos de alto custo, tornando inacessíveis para grande parte da população.
De um modo geral, para a prática do Enduro a pé de regularidade é suficiente a utilização de uma calculadora comum, de um relógio e uma bússola, o que torna maior a possibilidade de adesão à sua prática. (MAROUN; VIEIRA, 2006, p. 1).
Para ilustrar a diversidade de ambiente e da prática do Enduro a pé de Regularidade, Marinho e Bruhns (2006) citam a prática na Trilha do Índio, em um trajeto na zona rural de Peabiru ? PR, em um trecho aproximadamente de cinco quilômetros. Segundo os autores, o que mais se destaca são as adversidades do local, com existência de rios com corredeiras e cachoeiras.
Os organizadores proporcionam nesta prova diversas ações junto ao meio ambiente, como passagem de falsa baiana sobre um rio, com percursos através das margens do rio, até encontrar a trilha na mata; correr em pastagens; realização de subidas de morro por caminhos íngremes, descer por estradas pedregosas; adentrar pelo pasto até chegar ao leito do rio, abaixo de uma cachoeira, fazendo o cabo submerso; correr em estrada rural; transpor parede de madeira; arrastar-se na lama, sob arame farpado e atravessar rios, tendo como praticantes desta trilha grupos bem heterogêneos.
Na implantação da prática do Enduro a pé de Regularidade, dentro da Educação Física Escolar, Silva e Lessa (2005) narram suas experiências implantadas na escola Municipal de ensino fundamental "Suzet Cuendet", localizada em Vitória ? ES. Comentam que esta prática teve como proposta, o eixo primordial a articulação dos conhecimentos que são construídos na escola e fora dela.
Os autores explanam que sua atividade foi dividida em três momentos:
Primeiramente, expomos os pressupostos teóricos que têm nos orientados; em seguida, comentamos, sucintamente, a respeito do Enduro a Pé e suas possibilidades de trabalho; por fim, apresentamos breves considerações. (SILVA E LESSA, 2005, p. 184).
Pensando na possibilidade de articulação, ou talvez, de ultrapassar os espaços-tempos das disciplinas, os autores assemelham no Enduro a pé de Regularidade, que tem como característica fundamental, a prática junto ao meio ambiente, uma alternativa para romper o paradigma do risco e do caminho redundante às praticas convencionais, conforme Silva e Lessa (2005) apud. Gallo e Alves (2002) e Martiello Júnior (2004) que, no conhecimento de diversas áreas e da soma de esforços, vem mostrando que o pensar exige a compreensão de atividades complexas e interligadas.
Martins (1999) comenta a dificuldade de algumas práticas de atividades físicas de aventura na natureza (AFAN) terem seus reconhecimentos como esportes. Alguns chegam ter um crescimento rápido, seguindo modismos e tendências de época, mas que declinam rapidamente chegando ficar muito tempo isolado para depois firmar-se para um público definido.
Já com Enduro a pé de Regularidade, ressalta Martins (1999), que existe um grande espaço para o crescimento no Brasil e no mundo. Diferenciando a sua prática das atividades realizadas que visam provas culturais, gincanas ou caça alguma coisa, tão comuns nos acampamentos de estudantes ou escolas, lembrando que esta prática não requer grandes aptidões, podendo ser praticado por qualquer pessoa, desde que goste de caminhar.
Seguindo os planos de acrescentar algo de novo na Educação Física, Vieira e Mendes (2008), afirmam a necessidade de expansão e enriquecimento das aulas de Educação Física conforme as novas diretrizes propostas nos Parâmetros Curriculares Nacionais.
Complementando ainda, Vieira e Mendes (2008) reafirmam que as atividades físicas de aventura na natureza (AFAN) adequam a estas necessidades, por possuírem inúmeras possibilidades de exploração na área educacional, citando o trekking de regularidade (atualmente conhecido como Enduro a pé de Regularidade), que podem ser facilmente levadas às aulas, devido a simplicidade de execução, a fácil adaptação aos locais e ao baixo custo dos materiais utilizados.
Vieira e Mendes (2008) comentam que, nas novas diretrizes proposta nos Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN?s) aponta exatamente para esta necessidade de se ampliar e enriquecer o conteúdo das aulas aplicadas na Educação Física, dando possibilidade aos alunos de conhecer as variadas manifestações da cultura corporal.
"Trata-se de atender ao princípio da diversidade onde se busca legitimar as diversas possibilidades de aprendizagem que se estabelecem com a consideração das dimensões afetivas, cognitivas, motoras e socioculturais dos alunos." (PCN?s, 1998, p.19).
Completando Vieira e Mendes (2008) ressaltam que, entre as inúmeras manifestações da cultura corporal, nos dias atuais a atividades físicas de aventura na natureza (AFAN) se destacam, apresentando extensas possibilidades de exploração na área educacional.
Vieira e Mendes (2008) apud. Schuwartz e Marinho (2005) e Pereira e Monteiro (1995), comentam que o potencial do aprendizado a prática das atividades físicas de aventura na natureza (AFAN) pode ser muito extenso, principalmente porque tem por si a facilidade das situações educativas com experiências pouco habituais, habitando um forte caráter motivador, transmitindo situações carregadas de emoções, de significados e de intenções. Na modalidade, como Enduro a pé de Regularidade, pela sua facilidade adequação de implantação às aulas, devido sua simplicidade de execução, podendo ser praticado de várias maneiras, como lazer ou competição.
METODOLOGIA DE ENSINO NA EDUCAÇÃO FISICA
Em suas pesquisas, Vieira e Mendes (2008) apresentaram algumas sugestões de atividades para que o Enduro a pé de Regularidade possa ser aplicado nas aulas de Educação Física escolar.
Atividade 1 ? Aprendendo a contar os passos:
Os alunos tentam percorrer uma distância anunciada pelo professor, contando os próprios passos. Com uma trena e uma calculadora, o professor demonstra o quanto cada um se aproximou da distância correta.
Atividade 2 ? Andando na velocidade Média
Os alunos tentam cruzar a quadra obedecendo à velocidade média determinada pelo professor, procurando manter o ritmo proposto.
Atividade 3 ? Navegando
Os alunos podem elaborar legendas próprias, representando elementos comuns encontrados pela escola.
Atividade 4 ? Conhecendo a Bússola
Os alunos poderão confeccionar uma bússola caseira e realizar atividades pela quadra onde devem seguir as coordenadas dadas pelo professor.
Comentam Vieira e Mendes (2008) que, os alunos estarão aptos a participar de pequenas competições pela escola após o conhecimento das funções básicas da ação do Enduro a pé de Regularidade. Podendo as regras sofrer adaptações para facilidade de compreensão e o desenvolvimento da atividade.
Ressaltam os autores que:
Pode-se considerar que o Enduro a pé de Regularidade pode ser uma prática facilmente aplicada e explorada nas aulas de Educação Física conforme as diretrizes propostas nos Parâmetros Curriculares Nacionais, diversificando seu conteúdo e trazendo novas possibilidades de vivências para os alunos. (VIEIRA; MENDES, 2008, p. 105).
No artigo da revista Nova escola, Santos (2010), comenta sua experiência na prática do Enduro a pé de Regularidade e a Corrida de Orientação, aplicada na escola EM João Urbano de Figueiredo Filho, no município de Varginha - MG, para estudantes de 2º ao 5º ano. Para quem leciona em áreas urbanas, o pátio e as salas de aula são opções para fazer parte do trajeto a ser percorrido pelos alunos.
Comenta que:
Antes de colocar o grupo em campo, é importante planejar aulas para que todos participem da escolha do percurso e da confecção dos mapas. É parte da aprendizagem analisar o espaço, selecionar obstáculos (como cones, bancos e cordas) que possam ser enfrentados (e vencidos) e elaborar as regras. Para isso, basta uma planta baixa da escola ou um desenho feito pelo professor que apresente parte do prédio. (SANTOS, 2010).
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Há muito tempo se debatem da necessidade de mudança nas práticas do ensino da educação física escolar, determinando novas construções e inclusões de práticas modernas e mais envolventes nas atividades físicas e esportivas nas aulas.
No entanto percebem-se, mesmo que ainda tímidas algumas mudanças nas aulas de educação física, aderindo a prática dos jogos, o ensino correto da prática esportiva e também da utilização das atividades físicas de aventura na natureza (AFAN).
Tais mudanças refletem diretamente na maneira como o conteúdo foi transmitido, dando novo sentido à vida do aluno nas aulas de Educação Física, despertando maiores interesses e classificando a importância, tanto da aula como a participação dos mesmos.
Frente deste pequeno resultado, novas idéias e uma maior ampliação deste contexto moderno, precisam ser postas em prática para que possa criar mais interesses dos alunos na participação das atividades, permitindo novas maneiras de pensar, querer, sentir e agir diante a nova proposta de trabalho.
A proposta da inclusão do Enduro a pé de Regularidade nas aulas de Educação Física Escolar traz para o cenário além da própria atividade física esportiva, também a ação transdiciplinar, promovendo aos alunos atitudes cooperativistas de união e objetivos em conjunto que através de literatura especializada, permitiu concluir este artigo acreditando nesta possibilidade.
Portanto, a inclusão do Enduro a pé de Regularidade nas escolas é uma motivação e uma forma de ensino e conscientização dos alunos sobre a prática e os cuidados com a natureza. Dessa forma, a quebra da monotonia de algumas atividades físicas nas escolas ajudam a formar cidadãos mais conscientes e mais criativos com a sociedade moderna, tornando o jovem protagonista de seu processo de aprendizagem.
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