Encontro com a Felicidade
Por paulo roni | 30/04/2009 | FilosofiaAssalto-me por vezes sobre questões como a vida e a felicidade. De certo modo ligadas e desligadas. Ligadas, se, eu considerar que nasci para ser feliz; e, desligadas se, eu disser que não corro o risco de sê-lo.
Pergunto-me se me seria ser possível ser feliz, por haver em mim um desejo e uma busca incansável pelo Eterno. Eterno que completa minha finitude, minha limitada existência, que, tem seu dia e sua hora agendados para chegarem ao fim. Sou finito. Isso me lança a desejar aquilo que não tem fim.
Ingênuo eu seria se não admitisse que fosse difícil encontrar um sentido para a existência, já que sou peregrino num mundo que versa sobre questões válidas e desvalidas sobre a vida.
Ser feliz hoje compreenderia encher-me de qualidades financeiras, de títulos relevantes, de tornar-me mestre e doutor, de conhecer lugares desconhecidos, de possuir uma porção de atributos que ora ou outra me cansariam e fariam de mim cada vez mais escravo de uma ditadura que dança sobre conjugações dos verbos possuir e tornar-se.
Tornar-se o que? Ser o que e para quem? Possuir o que? Tornar-se grande porque ser menor é coisa para fracos. Imaginem, falar sobre ser o último, se desde o crescer da vida trabalha-se para ser o primeiro. O primeiro da sala, o primeiro da fila, o primeiro nas maiores notas, e, olha o maior aí novamente. O primeiro não está para o último assim como o último só pode estar para ele mesmo, não há quem advogue por ele. Ser quem os pais desejam que se seja, ser o mais importante, ser aquele que sabe falar línguas diferentes e falar elegantemente a língua-mãe como um filho que conhece a mãe que tem. Ser para os outros não porque se quer doar de si mesmo ou entregar-se por alguém, mas porque de nada importa ser se não houver um outro para o qual se possa morrer. Possuir para ser, combinação que se ama entre si, como o cisne e o lago se amam num amor que deságua em posse. Possuir não somente no sentido econômico da coisa, mas no seu sentido ganancioso e ontológico de ser possuidor de algo como os apegos a si mesmo, o gosto por si mesmo, e, a glória por si mesmo, coisas passageiras, banais, traiçoeiras...
A busca que há em mim é a de encontrar-me com a senhora felicidade que comigo tem um encontro marcado, mas parece sempre tardar, diferente dos britânicos, pontuais em seus encontros e disciplinados nos desencontros.
Considero que é difícil chegar ao lugar marcado e na hora certa em meio a tantos desencontros da vida. Não digo impossível, eu estaria faltando com a esperança, mas é preciso suar para tomar um cafezinho que seja, com esta bela senhora, que, penso eu, sempre está no lugar combinado, mas parece-me que o ônibus que tomo sempre se atrasa naqueles típicos engarrafamentos das grandes cidades, ela, porém tem outros compromissos e não pode me esperar por muitas horas, mas espera-me e não se desespera.
Por vezes consigo vê-la pelas costas, tento acenar-lhe, um grito luta para sair-me da garganta, mas a bela senhora mistura-se a outras senhoras presentes na rua, eu a perco de vista, mas outra oportunidade terei de vê-la ou tão cedo ou tão tarde. Entretenho-me na certeza de que um dia a verei.
Perco-me de novo em meio a sonhos e decepções que marcam minha identidade humana e divina de ser. Perco-me entre aquele que me sustenta e me levanta incentivando-me a não desistir do encontro com a bela senhora. Perco-me em mim mesmo, que certo de que a conhecerei plenamente numa ocasião de festa e de alegria. Certifico-me de que dela não mais fugirei; sair-lhe de perto já não me será mais possível. Não mais sonharei, já a terei em mim e comigo, como o cisne tem o lago e o lago por amor o possui.
Prendo-me alimentado pela ânsia de possuir a felicidade, a verdade, seu outro nome, lutar para encontrá-la na finitude de minha vida, breve, curta, e, preciosa. Nestes curtos tempos desejo espalhar o Bem e viver para o amor. Perco-me Nele que está em mim. Penso que seja assim.