Em legítima defesa do terreiro

Por creumir guerra | 29/10/2011 | Contos

Todo o sábado tinha reunião no terreiro. Os que tinham fé de menos e os mais contritos eram bem vindos. A exigência era o respeito a liturgia e obediência aos que recebiam as divindades. A celebração corria em ordem quando repentinamente chega o bêbado. O homem queria entrar de qualquer maneira, porém, daquele jeito ele não seria aceito nem em boteco de fim de rua. O moço encarregado da portaria impediu que o bêbado entrasse, tratando com jeito o homem que mal parava em pé. É claro que o bêbado não iria desistir fácil. Ele deu meia volta e de surpresa ultrapassou o limite permitido, pegando desprevenido o porteiro que acreditara que o intruso já tinha dado o pé. Antes que o bêbado estragasse a reunião, o moço lançou mão de um pedaço de pau e golpeou a cabeça do bêbado, fazendo jorrar o sangue do que doravante passa a ser chamado de vitima. O porteiro do terreiro foi preso em flagrante e ganha o nome de indiciado, denunciado e finalmente acusado. A justiça, que em caso de bêbado e pobre quase sempre funciona, estava em audiência. Os envolvidos foram intimados. A vitima reclamou que o golpe doeu. O acusado confessou que foi o autor da pancada, mas se declarava inocente. A principal testemunha é chamada, de nome Dona Maria, líder do terreiro, prometeu dizer a verdade. O juiz olha para Dona Maria e certo da resposta aponta o réu e pergunta se ele era mesmo o sujeito, que de posse de uma peça de madeira tinha acertado a cabeça da vítima. Para a surpresa geral, a resposta foi outra, Dona Maria, com sua fé inabalável afirma que o rapaz era inocente, não devendo a culpa ao homem ser atribuída. Dona Maria, quem foi então que feriu a cabeça da vitima? Meu filho, a culpa não é de ninguém, mais quem bateu no bêbado foi o Santo Guerreiro, protetor do terreiro, que por acaso naquele dia no corpo deste menino estava alojado. O Santo Guerreiro não aceita desaforo, agiu quando devia e em defesa do terreiro. A autoridade da toga preta, que de fé era desprovida, para tristeza de Dona Maria, mandou prender na cadeia o acusado e o Santo Guerreiro.