EM BUSCA DE COMPREENSÃO DA PRÁTICA DOCENTE
Por Jesualda da Silva Kropiwiec | 31/10/2017 | EducaçãoPara melhor compreender a prática cotidiana da docência , sentimos a necessidade de buscar compreender melhor esse “fazer docente” que se efetiva na cotidianidade da profissão professor.
Para tanto, buscamos em Contreras (2002), subsídios teóricos para iluminar nossas reflexões. Encontramos, então, ao ler este autor, como ele apresenta-nos propostas para compreender melhor a prática profissional. Segundo o autor, as tendências elaboradas apartir de uma aproximação teórica de fundamentação de base epistemológica como também pedagógica auxiliam para a compreensão da prática docente, sendo elas a do especialista técnico, o profissional reflexivo e o intelectual crítico. O especialista técnico, o profissional reflexivo e o intelectual crítico são maneiras de entender o trabalho de ensinar e apresentar a autonomia do professor. Sobre isso Contreras (2002) aponta que:
[...] o especialista técnico, o profissional reflexivo e o intelectual crítico-, como poderemos ver, supõem formas de entender o trabalho de ensinar e, em minha opinião, se mostram insuficientes , quando não claramente equivocadas, para poder formular o problema da autonomia de professores (CONTRERAS, 2002, p.90).
Para Contreras(2002), o modelo que permeia a prática dos professores é tradicionalmente o da racionalidade técnica. Este modelo tem como princípio a solução de problemas mediante a aplicação de um conhecimento teórico e técnico, que precede da pesquisa científica, ou seja, o domínio da técnica derivada do conhecimento científico e sua aplicação inteligente. Contreras (2002) identifica ainda, que a três componentes essenciais para identificar o conhecimento profissional ciência ou disciplina aplicada básica, ciência aplicada ou engenharia, e habilidades e atitude. Esses componentes e que permeiam a racionalidade técnica do profissional. Com isso o profissional deve ter habilidades necessárias para o uso concreto do conhecimento básico aplicado e estabelecer um relacionamento do saber como fazer. Contreras (2002) cita que :
Isso fica evidente no fato de que assumir o modele de racionalidade técnica como modelo de profissionalismo significa assumir uma concepção “produtiva” do ensino, isto é, entender o ensino e o currículo como atividade dirigida para alcançar resultados ou produtos pré-determinados (CONTRERAS, 2002, p.96).
Nesta perspectiva do docente técnico que assume os métodos para conquista dos objetivos, que procura uma identificação de eficácia e eficiência no seu trabalho docente, vai deixando o exercício de profissional de questionamento e das pretensões do ensino de lado, preocupando-se apenas com a racionalidade técnica, e seu domínio técnico que deriva do conhecimento científico. Deixando outros objetivos fora de debate, isso torna-se uma questão ruim tanto para professores como para a sociedade. Contreras (2002)indica que :
Essa racionalidade técnica não exerce seu poder unicamente pela forma com que se estabelece a relação entre finalidades e técnicos que se limitam a esboçar métodos e aplicá-los paraalcançá-las. A racionalização também se expressa como um procedimento pelo qual as políticas públicas ficam fora de todo o debate ao serem fixadas como científicas ou técnicas (CONTRERAS,2002, p.102).
Assim sendo, a respeito da racionalidade técnica podemos dizer que não consegue responder a todas as necessidades, visto que todas as regras e técnicas não atendem as necessidades humanas dos alunos. Sabemos ainda da importância da afetividade nos relacionamentos entre professor e alunos que é um ponto fundamental para o bom desenvolvimento do ensino. E neste aspecto que está racionalidade não atende, ou seja, as capacidades humanas que devem ser entendidas.
A respeito do profissionalPrático reflexivo Contreras (2002) traz a idéia de “reflexão na ação”, está ligada ao profissional que adota determinada características próprias na vida Profissional. Uma delas seria a repetição. Pois os professores enfrentam repetidas vezes certos tipos de situações, assim vão desenvolvendo um repertório de situações vividas, que lhe darão base para tomar decisões. Porém à medida que os casos se repetem os professore vão adquirindo dúvidas, de como agir em cada situação e seus conhecimentos práticos são insuficientes para lidar com todas as situações, onde acontece a necessidade refletir e confrontar seus conhecimentos práticos. Sobre este ponto Contreras (2002) afirma que:
Conforme sua prática fica estável e repetitiva, seu conhecimento na prática se torna mais tácito e espontâneo. É esse conhecimento profissional o que permite confiar em sua especialização. Porém, à medida que os casos reflitam diferenças, ou lhe criem dúvidas com respeito a seu sentido, ou exijam atuações que parecem incompatíveis, ou propõem situaçõesde conflito que não havia encontrado anteriormente o profissional tem a necessidade de entender e solucionar o novo caso em relação às características novas e singulares que apresenta (CONTRERAS, 2002, p.108).
Neste aspecto a reflexão ação, não é algo rápido, pois a prática do professor esta ligada ao tempo e na própria sala de aula, onde cada caso terá que ser refletido e tratado individualmente, porém este processo transforma o professor, ele irá construir novas maneiras de solucionar os problemas encontrados e escolher quais valem apenas serem resolvidos e quais podem ser deixados de lado. Neste processo de reflexão ação o professor vai ampliando seu ponto de vista e entendendo simultaneamente a situação e pode modificá-la. Sobre isto Contreras (2002) comenta que:
Ao tentar uma solução o profissional atende os efeitos, inclusive os não pretendidos, que esta provoca, isto é, que a situação lhe devolve. Em função dela, elabora novas atuações como produto de uma nova interpretação ou discussão sobre a situação problemática partir da reação manifesta.(CONTRERAS, 2002, p. 110).
Contreras (2002) cita que todo esse processo que o professor faz, e semelhante ao de um pesquisador em suas experimentações. Entendendo que o professorestuda a situação para poder modificá-la, neste aspecto a prática seria também uma pesquisa e o profissional usa dessa prática e também da pesquisa para poder refletir a situação para melhor entende-la e se for preciso mudá-la.
Nesta visão o trabalho do profissional prático reflexivo, vai além do domínio dos conhecimentos do professor, está ligada também ao que Contreras (2002), dizia anteriormente sobre profissionalismo que esta ligada a profissionalidade docente, em como o professor vive a sua profissão. Isto é que a prática permeia todo o trabalho docente. Contreras (2002)orienta que:
Nestes casos, torna-se evidente que a prática profissional reflexiva está ligada por valores profissionais que cobram autêntico significado não por objetivos finais que devam ser conseguidos como produto da ação, mas como critérios normativos que devem estar presentes e ser realizados no próprio desempenho profissional (CONTRERAS 2002, p. 112).
O professor como pesquisador de sua própria prática analisa seus hábitos e valores através das teorias estudadas, pode aperfeiçoar seus conhecimentos e melhorar seu modo de atuação em sala de aula, a partir das reflexões feitas, vai aprimorando cada vez mais sua prática profissional. Contreras (2002) alega que o professor como pesquisador de sua própria prática, transforma-a em objeto de indagação dirigida a melhoria de suas qualidades educativas. O currículo, portanto, enquanto expressão de sua prática e das qualidades pretendidas é o elemento que se constrói na indagação da mesma maneira que também se constrói a própria ação.
Contreras cita Giroux, quando se refere ao professor como intelectual crítico, ele comenta que foi Giroux quem melhor desenvolveu está idéia, que está ligada as idéias de Gramsci, sobre o papel dos intelectuais na produção e reprodução da vida social. Entendendo que o professor tem função importante na sociedade, como intelectual crítico que deverá desenvolver uma compreensão do que ocorre no ensino, e desenvolver uma visão crítica tanto nele como nos alunos. Contrerasafirma que:
Os docentes têm por obrigação tornar problemáticos os pressupostos por meio das quais se sustentam os discursos e valores que legitimam as práticas sociais acadêmicas, valendo-se do conhecimento crítico do qual são portadores, com o objetivo de construir um ensino dirigido a formação de cidadãos críticos e ativos. Para entender a autoridade como emancipadora, esta deve estar ligada às idéias de liberdade e democracia. As escolas se transformam em “esferas públicas”, ou seja, em lugares onde os alunos aprendem e lutam coletivamente por aquelas condições que tornam possíveis a liberdade individual e capacitação para a atuação social (CONTRERAS, 2002, p.158).
Diante disso o ensino deve permear uma transformação social, em quea escola abra o olhar do aluno formando ele como sujeito crítico isto é que os professores e alunos assumam uma luta política para qualidade da educação etendo conhecimento que tanto professor como aluno são sujeitos de cidadania com direitos e deveres. O ensino deveter afinalidade de transformação social dos sujeitos. Contreras afirma que:
A proposta do professor reflexivo se fundamenta na ideia de que é necessário enfrentar situações incertas e buscar uma reposta de acordo com que se considera correto para o caso, utilizando como defesa a recorrência ao fenômeno da moralidade, mas não a um conteúdo moral. O que se propõe unicamente é que os professores enfrentem a relação estabelecida entre as situações práticas e os valores que se considerados educativos. Esse confronto colocará em crise as práticas escolares, na medida em que estas se sustentam em concepções tecnocráticas, que se opõem à própria idéia de reflexão moral (CONTRERAS, 2002, p. 16).
CONTRERAS, José Antonio. Contradições e contrariedades: do profissional reflexivo ao intelectual crítico. In: _________.Autonomia de Professores. São Paulo: Cortez, 2002. p. 133-188.
CONTRERAS, José Antonio. Modelos de professores: em busca da autonomia profissional do docente. In:_________. Autonomia de Professores. São Paulo:Cortez, 2002. p. 87-132.
CONTRERAS, José Antonio. Os valores da profissionalização e a profissionalidade docente. In:___. Autonomia de professores. São Paulo: Cortez, 2002. p. 71-85.