Em busca da identidade filosófica

Por Daniel Alexandre Ngovene | 29/06/2020 | Filosofia

                Ao iniciar este artigo intitulado Em busca da identidade filosófica, proponho duas perguntas que julgo relevante para um debate contemporânea da filosofia, na idade Moderna, decorreu um debate, que consistia em encontrar uma origem filosófica, e chegou-se a conclusão de que a filosofia é produto do milagre grego, Nietzsche ao criticar a filosofia clássica, atribuem aos pré-socráticos a origem da filosofia, porque fora eles pela primeira vez na história de todos os seres humanos que se afastaram das ideias absurdas, da origem das coisas no mundo, onde os outros seres humanos buscavam em seres sobrenaturais.

 1. Definição da filosofia

            A filosofia é a juncão de duas palavras gregas FILO e SOFIA, traduzida na língua portuguesa significa Amor à Sabedoria. O primeiro filosofo a usar este termo foi Pitágoras no seculos VI a.C., ele era considerado o homem mais sábio daquela época e, ao negar de ser chamado de sábio, afirmou que era amigo da sabedoria e ela pertence aos deuses, e não aos homens, o papel dos homens é ir a busca do conhecimento “Demanda da verdade e não a sua posse”.

             O filósofo é aquele que busca constantemente a sabedoria, nunca se considera sábio ou dono do conhecimento, ele deve ser amante, amigo do verdadeiro conhecimento. Para Karl Jaspers filosofar significa estar-a-caminho, isto é, na filosofia são mais importantes as interrogações do que as respostas. A máxima socrática “só sei que nada sei” é um dos exemplos que todo aquele que pretende iniciar uma investigação, uma busca do conhecimento, primeiro deve reconhecer que ele não sabe nada, reconhecendo isso estaria a abrir uma janela para o conhecimento entrar. A filosofia não possui uma definição universal, de tal modo que todos os filósofos possam seguir, cada filósofo de acordo com seu objecto de estudo define a filosofia, por isso na filosofia temos muitas definições.

   2. Origem da filosofia

            A filosofia como um acontecimento histórico é considerada como “milagre grego”. Ora, foi na Grécia onde pela primeira vez na história da humanidade que os homens tomaram uma atitude crítica da realidade, daquilo que era explicada na base dos mitos. Os mitos eram contados pelos sábios, velhos, sacerdotes ou por todos aqueles que gozava de uma autoridade. Com as viagens marítimas nos lagos, os homens descobriram que nos lugares onde os mitos diziam que eram habitados por deuses ou por seres sobrenaturais, eram habitados pelos outros seres humanos. Ora, doravante o homem propôs-se a buscar a verdade das coisas, não se limitando nos mitos mas sim no uso do logos que é a razão, isto é, explicar a realidade na base da sua racionalidade. Contudo, é importante ressaltar aqui que por natureza todos os homens se colocam questões filosóficas tais como: Quem somo? Qual é o sentido da vida? É relevante esclarecer aqui que não é necessário que seja filósofo para se colocar estes tipos de perguntas, qualquer homem comum pode se colocar estas questões, de forma consciente ou inconsciente, não deixará de ser uma preocupação para toda a humanidade, porque quem as fez não é filósofo.

            A pergunta que permanece em todas as épocas, que todos os filósofos se propuseram a responder, de uma forma diferente, nós aqui iremos trazer as respostas de dois filósofos gregos, Platão e Aristóteles. Estes na medida em que respondia a esta questão foram unânime ao responder esta pergunta, concluíram que a filosofia nasce do espanto e da admiração, isto é, os espirito filosófico nasce na medida em que, nos espantamos ou nos admiramos de tudo o que acontecem na natureza. 

 Os primeiros filósofos antigos, centraram a atenção na Natureza e buscavam o princípio de todas as coisas na Natureza e são chamados de cosmológico, ao buscar a cosmologia das coisas estavam a afastar-se de cosmogonia de Hesíodo. Ora, os mitos contavam a história do princípio e origem de todas as coisas (o nascimento dos deuses), a cosmologia dos pré-socráticos procuraram a racionalidade constitutiva do universo. 

            Os pré-socráticos estavam convicto de que do nada não pode vir nada, e queria explicar a mudança (do devir), podemos encontrar a estabilidade diante do múltiplo, descobrimos o uno. Ora, ao indagar-se sobre o cosmo do caos surge o mundo ordenado, os primeiros filósofos queria encontrar o princípio de todas as coisas (arkhe), o elemento de todas as coisas que existe no mundo. O pensamento positivo, excluindo qualquer forma de sobrenatural e rejeitando a assimilação implícita, estabelecida pelo mito, entre fenômenos físicos e agentes divinos; e um pensamento abstracto, despojando a realidade desta força de mudança que lhe conferia o mito e recusando a antiga imagem da união dos opostos em beneficio de uma formulação categórica do principio de identidade. (VERNANT apud CHAUI, 2003: 38). Muitos filósofos responderam a questão do fundamento das coisas, da unidade que pode explicar a multiplicidade, são as mais variadas, e vou destacar a resposta de Tales de Mileto.

            Tales de Mileto nasceu na Jónia por volta do século VII a.C. e morreu no século VI a.C. é considerado como o fundador da filosofia, porque pela primeira vez ele tentou se afastando da explicação mítica da origem do universo, e buscou a origem do universo usando a razão “… o primeiro a afirmar a existência de um princípio originário único, causa de todas as coisas que existem, sustentando que esse princípio é a água”.(ANTISERI e REALE, 2003: 29). Tales de Mileto observou que a água é único elemento que mesmo passando vários estados líquidos, sólido e gasoso, permanece não muda. A terra esta sobre as águas, os animais, precisa de água e o próprio Homem precisa de água para viver, é dai que se diz sem água não há vida. Segundo Antiseri e Reale (2003: 30), a diferença entre a água de Tales e a de Homero é que Tales baseia a sua afirmação usando a razão enquanto Homero baseia-se na imaginação e no mito. Na compreensão Nietzsche (1973: 9), consideramos Tales como filosofo por três razoes em primeiro lugar procura algo material para explicar o universo, em segundo ao explicar o universo não se baseia em metafísica mais na Natureza e enfim na afirmação da água como princípio de todas as coisas este um pensamento tudo é um. Ora, na primeira fase Tales continua com a ideia dos mitos mais na segunda sai dos mitos e na terceira se torna primeiro filósofo.

3. A condição humana como identidade da filosofia

            Desde os finais da década 60 depois da independência de muitos países africanos, muitos intelectuais africanos começaram, a querer comprovar a sua humanidade no mundo, e para tal, primeiro tiveram que desconstruir, o pensamento do ocidente, onde os grandes intelectuais na história da filosofia, como: Hegel que defendia não civilização dos povos africanos, Kant que defendia que a raça humana é feita de uma única raça branca, e as outras raças são defetuosas e Levi Brul que defendia que os africanos são pré-lógicos. Defendiam a pre-logicidade do africano, que este não contribui no desenvolvimento da humanidade. Ora, a filosofia não tem fronteiras, todos os povos da terra foram dotados das mesmas capacidades para o exercício filosófico, enquanto a filosofia consiste em pensar os problemas da humanidade, os africanos na tentativa de trazer a tona a verdade omitida na história, de que a filosofia terá sua origem em áfrica, porque foi em africa onde foi descoberto os ossos do primeiros homens na terra. Segundo Mucale (no segundo prefacio da obra de Novais Reis), afirma que se africa é o berço da humanidade, é óbvio que a filosofia tem sua origem em africa, porque encontramos os homens em africa, a filosofia é praticada pelos homens. 

            Os intelectuais africanos ao buscar comprovar a sua humanidade no mundo, acabaram por cometer o mesmo erro, que os ocidentais cometeram, isto é, afirmando a origem africana da filosofia. Ora, a origem da filosofia não pertence nenhum povo, raça etc. mas pertence a todos os seres humanos, independentemente do povo que possa pertencer, todos os homens têm as mesmas capacidades para discutir os problemas da humanidade, e procurar a resolução dos mesmos. Segundo Ngoenha (apuda Biriate e Geque), filosofia é um instrumento de emancipação que ajuda a resolver os problemas da humanidade. Todos os homens, tem problemas por resolver durante a vida e pode usufruir dessa ferramenta para os resolver, como afirma Descartes viver sem filosofia é como ter os olhos fechados, sem nunca se esforçar por os abrir, se afirmamos que a filosofia possuem uma origem geográfica, estaríamos a afirmar que os outros povos, antes deste povo descobrir a filosofia não tinham interesse em abrir os seus olhos para contemplar a realidade, que só pode ser contemplada com os olhos abertos. “ A filosofia como pensamento do pensamento é imanente à condição humana, porque todos os povos, em todas as épocas, se questionaram, a respeito do cosmo, da vida, da morte da subjectividade, da razão de as coisas existirem em vez de o nada” (NOVAIS DE REIS, 2020: 43). Partindo desta passagem pode se notar que a filosofia não tem uma origem geográfica, mas sim tem uma origem humano enquanto ferramenta na resolução dos problemas da humanidade, isto é, todos os seres humanos praticaram a filosofia e continuam a praticar, desde os primórdios da sua existência. Por essa razão se observa hoje, o surgimento da filosofia de tchilar que se prende na busca da felicidade dos homens na terra, e afirma que a curtição como único meio para chegar a felicidade na terra, onde se consideram que tchilar é uma vontade humana que aceita os desafios da vida, de forma natural, transformando os em oportunidade para justificar a sua existência na terra, enquanto se aguarda o aparecimento do super-homem: 

“ que nos salvará não só do ideal vigente, como daquilo que dele forçosamente nasceria, do grande nojo, da vontade de nada, do niilismo, esse toque de sino do meio dia da grande decisão, que torna novamente livre a vontade que devolvem à terra sua finalidade e ao homem sua esperança, esse anticristo e antiniilista, esse vencedor de Deus e do nada ele tem que vir um dia” (NIEZTZSCHE, 1998: 36).

             Os africanos não irão desenvolver enquanto continuar a revindicar um passado remoto, que foi substituída pelo outro passado, os discursos dos africanos não pode continuar, a exigir o que eles inventaram no passado e que, lhe foi arrancado durante o período da colonização, mas deve discursar sobre presente, como inventar de modo a se libertar, de ser dependente do ocidente. Ó irmãos constituem verdade que muitos africanos, descobriram muita coisa para o desenvolvimento da humanidade, mas isso não basta, em que estas descobertas beneficiam o continente africano? Se continua dependente do ocidente. O continente africano foi colonizado sim, mas isso não justifica o atraso econômico que estamos a passar nos últimos dias, é melhor nos contentar com a ideia de que o nosso passado não nos irá ajudar em nada uma vez que '' não nos é possível recuperar o nosso passado remoto'' (Ngoenha). Ora, não é possível desfrutar o presente sem esse passado remoto, temos que sim ver, esse passado remoto de uma forma crítica, não como modelo para o nosso presente. 

            O africano na terra deve procura aprender a adaptar-se com as necessidade que a terra impõe a ele sem que necessite tanto da ajuda do exterior, porque se for assim, nunca teremos estados soberanos capaz de resolver nossos problemas, isto é, um pai que não consegue resolver os problemas da sua casa, já é um passo para os filhos começar desconfiar das capacidades intelectuais do pai, para resolver os nossos problemas, em primeiro lugar precisamos de garantir a nossa educação, mas não basta a educação como tal, pelo contrário primeiro precisamos, de espírito de coragem, o que falta a nós africanos pelo visto é a coragem e sofremos de uma doença chamada a preguiça, quantos moçambicanos que foram formados nos exteriores desde a década 80, no ano de Machel com esperança de que poderia contribuir para o desenvolvimento do nosso país, Machel afirma que a riqueza de um país não depende dos recursos naturais, mas depende dos homens que gere estes recursos enquanto não houver homens capaz de gerar os recursos do continente Africano, a áfrica continuará sobre a tutela do ocidente, não é estranho a vontade de os chineses nos últimos dias, querer ocupar o território africano, alguma coisa descobriram que os africanos, preferem viver de migalhas do ocidente, tendo eles condições de oferecer as migalhas e emigraram para fazer o mesmo, mas com uma outra política, nós não viemos para vos roubar, mas para vos ajudar a desenvolver a áfrica e para tal oferecemos um ajuda na construção das entradas edifícios e pontes etc, 

            Há uma necessidade de os homens africanos procurar-se conectar ao mundo e não para pedir ajuda ou quando for para receber os seus restos, mas sim, para se auto-afirmar como um povo independente como sonharam a geração de Krumah.   Ngoenha afirma que ‘‘a filosofia não deve consistir na procura do que nos singulariza e portanto nos diferencia dos outros homens, mas deve estar centrada sobre a procura da verdade para o homem'', cada povo é o que é, devido ao que se consideram importante para o bem dos seus cidadãos, há uma necessidade de os africanos abrir visão. A áfrica pode fazer mais do que faz, necessita apena de homens com coragem de enfrentar os desafios e, um dos primeiros desafios será de enfrentar os seus próprio dirigentes. Porque enquanto deixar os seus dirigentes fazer e desfazer o quanto puder não haverá desenvolvimento em africana. Convido a todos os africanos a empenhar-se na sua emancipação econômica, porque este é a única guia para um país deixar de ser dependente de outros, sem a emancipação econômica será muito difícil, almejar os nossos objectivos. Nietzsche afirma que ''cada coisa tem seu preço; tudo pode ser pago" o dinheiro compra tudo na terra, e sem dinheiro coloca-se em dúvida a nossa existência, podemos dar um exemplo muito frequente nas comunidades africanas, onde quem tem dinheiro é que pensa mais em relação aos que não tem dinheiro, parece ser mentira, mas na prática pode-se observar que isso constituem a verdade, ou melhor dizer, quem tem dinheiro é mais respeitado, na família, na comunidade, na sociedade, no governo etc. para dizer que nas sociedades contemporânea o dinheiro é a base de tudo para uma vida digna diante dos outros.

 

Referências

             ANTISERI, Dário e REALE, Giovanni. (1990). História da Filosofia: Antiguidade e Idade 

            BIRIATE, Manuel e GEQUE, Eduardo. (2010). Pré-universitário: Filosofia 11. Maputo, Longman.

             CHAUI, Marilena. [2003]. Introdução a história da filosofia: Dos pré-socráticos a Aristóteles. 2ª . ed. ,são Paulo, [s,n], v. 1.

            DE NAVAIS, Maurício. (2020). Ensino de Filosofia: do universo eurocêntrico ao pluriverso epistémico.
Serie novos estudos africanos. 

            NGOENHA, S. E. (1993). Filosofia africana: das independências às liberdades. Maputo: Edições Paulistas.

             NIETZSCHE, F. (1998). Genealogia da moral. Trad. Paulo Cesar de Sousa, 10 ed. São Paulo. companhia de letras.

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