Elon Musk e a Infância no "Apartheid"

Por Leôncio de Aguiar Vasconcellos Filho | 28/01/2025 | História

A posse do atual Presidente dos EUA, Donald Trump, foi um inusitado espetáculo de intolerância. Especialmente se levarmos em consideração que alguns de seus mais fiéis auxiliares praticaram atos não mais aceitos. Nunca me caracterizei por “patrulhar” gestos ou palavras de péssimo gosto, mas foi impossível não notar a saudação nazista perpetrada pelo magnata e agora componente do Gabinete Trumpista, Elon Musk.

Para entendermos as razões por que alguém desafia o bom senso, temos a tarefa o examinar a sociedade em que dita pessoa foi criada. Elon Musk nasceu na África do Sul em 1971, e lá permaneceu a viver ininterruptamente até os dezoito anos. Durante seu crescimento, o país era dominado pelo terrível regime de segregação racial do “Apartheid”, em que os brancos descendentes de europeus (mais precisamente de neerlandeses, a quem Musk deve parte de sua ascendência), denominados “Africâneres”, oprimiam os negros das mais nefastas formas: desde salários propositalmente ridículos e limitações jurídicas ao alcance de cargos de maior prestígio, até o recebimento de atendimento, também e dolosamente, precário nos hospitais inferiores que lhes eram destinados. Para termos uma vaga ideia do horror e da vergonha para a Humanidade que aquele sistema representava, o então governo sul-africano transformou seu próprio território numa colcha de retalhos ao criar Pseudo-Estados chamados “bantustões”, para onde os negros eram forçosamente deslocados com suas famílias, e de onde só poderiam sair, mormente a trabalhar no sistema escravocrata, por meio de passes cuja posse era obrigatória para o cruzamento das “fronteiras”. Nas escolas, o ensino da língua inglesa era restrito aos brancos, pois os negros só podiam ser ensinados no idioma africâner. A aplicação das leis era rigidamente desigual, eis que, por exemplo, se um negro estuprasse uma branca poderia ser condenado à morte, mas o contrário era solenemente tolerado.

Dita realidade ocasionou o surgimento de figuras como Nelson Mandela, condenado à prisão perpétua, no início da década de 1960, por sua luta armada contra o regime, e que fora libertado quase trinta anos depois, bem como Steve Biko, que, por sua militância, foi assassinado pela polícia em 1977. No ano anterior, ocorrera o Massacre de Soweto, no qual, como resposta a um protesto pacífico, centenas de negros foram assassinados em Johannesburgo, numa carnificina determinada pelo mais brutal dos ditadores sul-africanos: Balthazar Johannes Vorster, nada hesitante em sempre ameaçar, pelos meios de comunicação, os cerca de 85% de população negra do país, e que permaneceu no Poder de 1966 a 1979, inicialmente como Primeiro-Ministro, e, após, como Presidente de Estado da África do Sul. Ou seja, durante quase toda a infância de Elon Musk, que, a fazer gestos como o que se verificou na posse de Trump, deve ter sido estimulado pelo próprio comando de sua Nação. 

Na África do Sul do “Apartheid”, tudo era infame. E da infâmia não escaparam, nem mesmo, as crianças do lado opressor.