Elogio da Loucura.

Por Edjar Dias de Vasconcelos | 16/09/2012 | Filosofia

Elogio da Loucura.

1466-1536.

Erasmo de Rotterdam.

Disse certa vez Erasmo.

Loucura é aceitar certos tipos de vidas como se fossem certas.

Desidério Erasmo filósofo e humanista, holandês, filho ilegítimo de um padre.   Foi forçado a vida religiosa pelos seus tutores. Como estudante, um seminarista exuberantemente estudioso.

Muito rapidamente ultrapassou a cultura do próprio convento, mas ficou em um convento até aos trintas anos, quando simplesmente fugiu.  

Fui viver na Inglaterra, tornou amigo de Thomas More, fidelidade um com outro até a morte de More pelas mãos criminosas de Henrique VIII.

Foi durante esse tempo, que Erasmo concebeu a sua grande obra, Elogiou a Loucura, uma crítica veemente as instituições do seu tempo, principalmente a questão política e religiosa, praticas que eram defendidas que não se fundamentavam numa razão lógica, mas em preceitos completamente sem sentido.

Seu grande livro, foi publicado com apoio de More, em 1509, naturalmente que as ideias foram discutidas entre ambos, tornou-se um clássico da literatura internacional.  A primeira ideia, para Erasmo, não fazia mais sentido o Antigo Regime, a sociedade feudal não teria mais significado para aquele período histórico, comportamentos completamente irracionais.

Necessário, com efeito, a mudança não apenas do modelo político, mas também do modo de produção, as relações entre os suseranos e servos estavam definitivamente em crise.   

A sociedade estava se preparando para o mundo novo, que seria denominado de Estado moderno, a teoria como fundamento, o iluminismo.

Além do ataque ao mundo político, isso de forma mais metafórica, objetivamente atacava as instituições religiosas, a imbecilidade do comportamento religioso, o aspecto psicótico típico de um clero atrasado e medíocre.

Ataca veementemente o comportamento das ordens religiosas, o mundo da futilidade vivido pelos padres, detalhes imbecis, como exemplo o numero das amarrações  usado para amarar as sandálias.

 A cor da roupa, padronização dos uniformes entre outras coisas, como se esse tipo de comportamento tivesse alguma coisa com a vida religiosa em si, como se esses modelos elevassem a espiritualidade.  

Era crítico também da exegese da época, associação de certas formas de ideologia no entendimento de Deus, ligada esse entendimento a um comportamento ético, a não vinculação direta, o homem estaria condenado por não desenvolver a adoração correta  a Deus.

Erasmo tinha consciência que tudo isso era apenas uma ideologia supostamente teológica, a grande dificuldade era mesmo desvincular Deus de projeções ideológicas, como se elas fossem o próprio fundamento de Deus.

Com maior animosidade desenvolveu críticas a respeito de comportamentos absurdos, pleitos diante dos tribunais, como amenizar questões carnais, referente ao afeto, o desejo sexual.

 Fazendo transferências absurdas, mortifica se o desejo carnal pelo caminho da oração e comendo peixes.  Dizia sempre Erasmo a More, como a Igreja pode ser tão imbecil.  

 A loucura dos salmos, quando os monges passam a maior parte da vida odorando Deus com cantos, essa prática é um insulto a inteligência de Deus.

Cristo com sabedoria proibiu tudo isso, ao dizer as seus apóstolos, eu vos deixo apenas um preceito, um único mandamento, amai-vos uns aos outros, esse é o grande critério da salvação do homem, dizia Erasmo.

Malditos escribas e fariseus, que se prendem a tradição da oração e esquece o amor. Na verdade Erasmo percebeu que certas formas de militância ligadas a um estado contemplativo, era tão somente alienação.

 Uma espécie de ateísmo militante, o sujeito subjetivamente entende que Deus deseja algo e pratica, quando na verdade não é o desejo de Deus.

 Então aquele sujeito é ateu, mas ele entende tendo fé, porque aconteceram com o sujeito, devido razões loucas, uma inversão de entendimento.

Farei aqui uma metáfora para melhor entendimento, uma tribo indígena no Centro Oeste, certa vez ao escutar o barulho de um avião, confundiu com trovão, imaginou que o Deus Tupã estava irritado e começou a matar macacos para fazer oferenda a Deus com medo de ser castigado.

Isso significa inversão de interpretação por meio de um modo ideológico de entender Deus. Estava nessa tribo se tentasse explicar algo ao contrário, certamente teria complicações com a mesma.

É desse modo, quando estamos diante de uma pessoa ou uma instituição que tem uma visão deturpada de Deus, é inútil uma pessoa equilibrada tentar mostrar os delírios de loucuras de determinados tempos históricos, eles são na prática ateus, mas se acham cristãos, pela projeção dos equívocos.

Para ser cristão, além do amor, Jesus exige Justiça social, com suas palavras, que tudo seja colocado em comum e que viva do fruto do seu trabalho, quem é que vive hoje com os frutos exclusivamente do seu trabalho, os operários. Por isso que Jesus disse, que os ricos vão para o inferno. Pelo motivo de deturpar a verdadeira doutrina.

Erasmo entendia que o modo que Igreja praticava a fé era loucura, como esse modo era elogiado, por isso mesmo ele escreveu Elogio a Loucura, isso significava que era vangloriado o erro de interpretação exegético e comportamento do clero.

 Como hoje é entendido por qualquer teólogo sério, que o modo de certas práticas de fé é ateísmo, ainda associa esse modo de fé errada a uma prática política partidária mais errada ainda, como era o modelo político do Antigo Regime.  O chamado modelo do ateísmo militante.

A crítica desenvolvida por Erasmo significava aplicação invertida da interpretação, a serviço das ideologias, mas as inversões mudam não a prática ideológica, nesse sentido a loucura permanece, o grande mérito de Erasmo, a razão de o seu livro transformar-se em um clássico.  

 

Edjar Dias de Vasconcelos.