Elementos de gestão na produção rural
Por Alberto Jefferson da Silva Macêdo | 05/03/2017 | Adm
INTRODUÇÃO
Contexto Histórico – Desde a década de 70, ocorreram transformações na sociedade como progressiva competição global, fragmentação e pulverização de mercado e recomposição da escala de produção, a partir da década de 90 a agropecuária passou a estar intimamente ligada aos canais de distribuição ou agroindústrias como uma forma de voltar sua produção para o mercado externo, buscando uma maior competitividade e passando a considerar o consumidor como definidor dos padrões de qualidade.
A redução dos custos de produção e busca por faturamento, fazer parte do novo modelo, onde se deseja uma maior renda liquida e diminuir ao máximo os custos. O número de propriedades tecnificadas vem aumentando, onde ocorre a formação de grandes complexos agroindustriais.
PAINEL DA PRODUÇÃO RURAL NO BRASIL
Segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) o Brasil apresenta 4,9 milhões de propriedades rurais sendo que 64% são de pouca utilização de tecnologia. Incluem as empresas familiares e o empreendimento rural moderno. Muitos produtores ainda apresentam certa resistência à tecnificação, um dos pontos abordados é em relação a uma consequência da década de 90 e o protecionismo estatal, entretanto a situação está sendo mudada gradativamente. Outro ponto que está relacionado é a dificuldade de comunicação, visto que muitas vezes as técnicas modernas não se aplicam à realidade do produtor ou podem não ser compreendidos e utilizados, algumas vezes podem minimizar, mas não resolvem o problema. Muitas vezes os recursos próprios são escassos sendo necessário a utilização de recursos institucionais, hoje tem sido feito em sua grande maioria pelo Banco do Brasil (BB) como forma do governo subsidiar a agropecuária. Os pequenos produtores muitas vezes são excluídos do sistema de financiamento, sendo os recursos dirigidos principalmente para os produtos para exportação. O Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura (PRONAF), tem sido uma alternativa para os pequenos produtores, pois o programa visa apoiar a agricultura de pequeno porte, no que diz respeito ao processo produtivo e também à fonte de renda. Algumas dificuldades são encontradas na gestão dos empreendimentos rurais, como a tomada da decisão, visto que só se pode ter acesso aos excedentes de produção após ter feito os investimentos iniciais ao contrário dos setores industriais onde a decisão tem efeito imediato. Algumas ferramentas de gestão são essenciais para um sucesso no processo produtivo (definição de produto e processo de produção, sistema de qualidade, planejamento e controle da produção, logística). Realizou-se uma pesquisa em que houve constatação de propriedades com funcionários formados apresentam baixo grau de assistência contábil e comercial. Algumas ferramentas de gestão fazem necessárias para que haja uma melhoria da produção, tais como: definição do produto e do processo produtivo, sistema de qualidade, planejamento e controle da produção e logística.
CARACTERIZAÇÃO DOS EMPREENDIMENTOS RURAIS
Empreendimento rural tradicional apresenta como características: equipamentos agrícolas rudimentares, a estrutura organizacional é familiar, alto grau de incerteza, pouca flexibilidade na escolha do tipo do produto.
Limitantes à tecnificação:
- Falta de conhecimento
- Falta de suporte técnico
- Falta de financiamento
EMPREENDIMENTO RURAL EM TRANSIÇÃO
Na atualidade observa-se que em algumas propriedades rurais já se utilizam de técnicas de produção e questões de administração rural que trazem benefícios para o produtor e para a sociedade. Porém de nada adianta todas as técnicas empregadas juntamente com o uso de tecnologias se a propriedade ou empreendimento rural não tiver capacidade de produção e sempre buscando obter competitividade e permanência no mercado e que para isso ocorra os produtores devem buscar maior aproximação com seus mercados consumidores. Pois independente de qual produto seja comercializado sempre o consumidor basicamente irá buscar por diversidade, qualidade do produto, regularidade de entrega e menores preços.
A coordenação de transição de propriedade rural par empreendimento rural depende do porte que deve ser monitorado de forma a se avaliar os indicadores de desempenho.
Através de sensos realizados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) demostra que não tem como explicar com base no tamanho da propriedade o seu desempenho econômico. Pois estudos mostram que propriedades rurais mesmo tendo menores áreas podem ser mais competitivas e terem melhor desempenho econômico do que propriedades patronais, isso pode ser explicado devido que o conceito de eficiência econômica é medido pela renda gerada por unidade de área e não pelo tamanho físico da propriedade.
Segundo Nantes & Scarpelli (2009) de forma geral além da dificuldade de se implantar uma cadeia de produção e da capacitação técnica e econômica para se fazer a transição é dificultada devido a pressões exercidas pelos demais segmentos da cadeia de produção. E nesse contexto a comunicação entre produtores e consumidores é essencial pelos diferentes meios da cadeia produtiva abrangendo os fatores antes e pós-porteira.
No que tange o segmento de insumos no início da cadeia de produção observa-se a influência das empresas em sua maioria de monopólios que disponibilizam pacotes tecnológicos onde o que produzir e como produzir é dependente desses pacotes.
Em períodos anteriores o consumidor sendo ele final ou intermediário submetia-se a condição de aceitar o que viesse, pois, a falta de oferta regular no mercado e a falta de qualidade dos produtos fazia com o que o consumidor ficasse de mãos atadas. Nos dias de hoje à medida que a oferta se amplia as margens são determinadas não pelo produtor e sim pela diferença de quanto o mercado dispõe a pagar e os custos de produção. Onde as formas de se ampliar o ganho são: redução de custos, agregação de valor na forma de qualidade. Sendo estes determinados basicamente pelos custos de produção como mão-de-obra e preço de insumos.
EMPREENDIMENTO RURAL MODERNO
Considera-se o empreendimento que superou o período de transição e atua conjunto com o mercado consumidor sempre buscando se adequar as modificações que ocorrem no mercado, sempre buscando equilíbrio entre seus aspectos de capacidade gerencial, adequação tecnológica e desempenho econômico. Existem variações sobre as produções de ciclos curtos e as de ciclos longos como também na área vegetal e animal.
EXIGÊNCIAS PARA ESCOAMENTO DA PRODUÇÃO RURAL
A produção agropecuária em sua maioria é destinada para consumo interno e exportação o destino usual geralmente é a agroindústria, sendo que diferentes empreendimentos podem ter maior ou menor dificuldade de escoamento da produção, pequenos proprietários podem se associar formando cooperativas ou associações para reduzir ou eliminar essa dificuldade.
EXIGÊNCIAS DA AGROINDÚSTRIA
Geralmente essas empresas de agroindústrias são exigidas pelos consumidores e a cobrança é sempre maior, assim as empresas buscam adquirir produtos ou matéria-prima de qualidade para ocorrer o beneficiamento e colocar os produtos nas prateleiras, onde o produtor pode ser penalizado ou não comercializar seus produtos caso a empresa detecte alguma contaminação ou baixa qualidade, o produtor deve respeitar a oferta dos produtos podendo ocorrer a quebra de contrato que geralmente ocorre quando o produtor, cooperativa ou associação não fornece uma quantidade pré-estipulada para a empresa onde o produtor é desvinculado.
Os tipos de produtos que as agroindústrias beneficiam podem influenciar nos custos de produção e qualidade, pois a constância no fornecimento pelo produtor é fator decisivo, devido a variabilidade climática, variação das matérias-primas, aplicação de tecnologias adotadas pelo produtor, parceria produtor x empresa são fatores decisivos.
EXIGÊNCIAS DOS CANAIS DE DISTRIBUIÇÃO
São redes de atacados e grandes distribuidoras de produtos agroalimentares que distribuem os produtos advindos do campo ou já industrializados para o consumidor final, além de vender produtos diversificados como cerais, estiva e outros diversos produtos quanto produtos in natura como verduras, legumes, frutas etc. Estas empresas trabalham com linhas de produtos tanto convencionais quanto diferenciadas como no caso de gôndolas de supermercado que vendem produtos orgânicos, agroecológicos ou enriquecidos e devidamente com certificado de produção.
ADEQUAÇÃO DO PRODUTOR RURAL ÀS EXIGÊNCIAS
Com base no passado já se foi o tempo de que propriedade rural era considerada apenas como um sítio ou chácara sem valor comercial ou sem planejamento da produção, nos dias de hoje as propriedades rurais são tratadas como empresas e como toda empresa deve ter todo seu planejamento gerencial e de produção ter parceria com outras empresas, buscar inserção e permanência no mercado além do crescimento, trabalhando com produtos de qualidade e de preço acessível. Pois o mercado é exigente e tanto as agroindústrias quanto as distribuidoras exigem cada vez mais do produtor. Para que todos esses fatores operem eficientemente além da tecnologia e formas de planejamento e organização deve-se trabalhar com a gestão do empreendimento.
ESTRATÉGIAS PARA EMPRENDIMENTOS RURAIS
Essas estratégias estão vinculadas basicamente ao porte do produtor e a escala de produção, essa escala é um dos fatores determinantes para efetuar o escoamento da produção.
ESTRATÉGIAS PARA EMPRENDIMENTOS RURAIS DE PEQUENO PORTE
Primeiramente deve-se fazer o levantamento da propriedade, avaliar onde o produtor estar inserido, capacidade de investimento, demanda da região entre outros fatores, após isso todo o projeto irá ser formado por um tripé com base em três fatores: recursos disponíveis, vocação do produtor e condições do mercado.
AÇÕES COLETIVAS
A ação coletiva, é uma iniciativa conjunta onde todos os membros são responsáveis pelos resultados, como também dividem os lucros gerados de forma igualitária, é comum dividir-se em grupos designando atividades distintas, todavia, os integrantes representam o interesse do grupo como um todo, pode ser classificada de diferentes formas: parceria, pool, associativismo, cooperativismo.
A parceria é uma relação onde ambos os lados se beneficiam, deve ser firmada a partir de um contrato formal, entretanto muitas são feitas de maneira informal. Os recursos a serem investidos são aplicados, porém nenhum dos dois lados paga de imediato, o pagamento é descontado dos resultados obtidos, ambos investem da melhor forma que podem, e o arrecadado é distribuído entre os parceiros, de forma condizente com sua aplicação. A parceria visa diminuir os custos dos insumos, pela compra de um volume maior, quando bem organizada, pode ajudar a viabilizar uma pequena atividade.
POOL DE PRODUTORES
É uma estrutura de organização que visa conseguir maior espaço no mercado, tornando-os mais competitivos, em relação a outros, porem a infraestrutura e administração é própria.
É uma estrutura relativamente frágil, firmada nas relações de confiança dos integrantes do grupo, preferindo que um membro melhor articulado seja intermediário das relações de venda da produção.
ASSOCIATIVISMO
É uma ação conjunta entre vários produtores, compartilhando do uso de maquinas e negociando a produção final, todavia necessita de assistência técnica mais presente. É mais localizada diferente das grandes cooperativas, distribui apenas os cargos mais essenciais economizando nos custos de manutenção administrativa.
O associativismo é uma boa saída, que pode aproveitar melhor o potencial dos agentes envolvidos, nas tomadas de decisões, por serem em menor número, maior confiança nos produtores na ocasião de divisão dos lucros.
COOPERATIVISMO
O cooperativismo é citado como a mais importante forma de ação coletiva, tendo em vista sua relevância social, incentiva o produtor a trabalhar segundo as suas necessidades, potencialidades e restrições.
AGREGAÇÃO DE VALOR
Agregar valor a um produto, significa modificar a sua forma original, e com isso diferenciar o produto, de alguma maneira. Espera-se que essas alterações venham atender o mercado consumidor, tornando esse produto mais competitivo, preservando ou ampliando a participação no mercado existente, atender aparcelas de consumidores específicos incorporar novos ou uma combinação dessas possibilidades. Em todas as situações, o objetivo é obtenção de retorno direto, seja ele a pequeno, médio ou longo prazo.
Os cuidados pós-abate iniciam-se pela determinação do peso da carcaça, qualidade de acabamento e mercado que a mesma se destina. São exemplos de agregação de valor:
- a) Utilização de normas de padronização para classificar os produtos
- b) Emprego de embalagens adequadas de transporte e comercialização
- c) Industrialização do todo ou parte da produção
Optar por umas dessas alternativas ou pelo conjunto delas depende de alguns fatores como: tipo de produto, mercado a ser atingido, infraestrutura da propriedade, entre outros.
Utilização de normas de padronização
A padronização dos produtos é importante, entretanto ainda é negligenciada na maioria dos casos, ademais em algumas regiões esse fator não altera a demanda, principalmente se falarmos de um contexto com poucos a prestar esse serviço. Os produtos destinados ao mercado interno, são oferecidos para diferentes regiões segundo, a função a oferta local, sem padrão, os padrões são estabelecidos para que os agentes envolvidos na transação tenham especificações legais sobre o produto, torna a comercialização mais rápida e eficiente, aumentando a confiabilidade do produto. Mercados mais exigentes só admitem a comercialização de produtos classificados de acordo com padrões reconhecidos.
Embalagens de transporte e comercialização
É um detalhe que faz a diferença, na hora de transportar um produto do campo, garantindo proteção da parte visual de frutos, como também ajuda a manter a qualidade intrínseca do alimento.
Alguns problemas são frequentes e devemos atentar para eles, dimensões adequadas, para que não aja esmagamento, higiene, aeração para que ocorra acumulo de gases acelerando o processo de maturação.
O tipo de embalagem, e o material escolhido podem comprometer o produto nela armazenado.
Industrialização da produção
O semiprocessamento é uma prática que visa preservar a integridade física do produto, bastante aplicado em hortaliças. Os minimamente processados também são uma alternativa, aumentam a vida de prateleira, melhoram a aparência, conservam a qualidade nutricional entre outros. Abastece produtores de alto poder aquisitivo, que pagam mais e exigem qualidade.
O processamento é uma prática que altera as características físicas do produto, é o caso da polpa de fruta, bastante aceita no mercado. Como vantagem podemos citar, O produtor faz contato direto com o canal de distribuição, estabilidade de preço, praticidade de se armazenar, produto com maior valor agregado tem mais espaço em mercados mais exigentes.
Agregar valor ao produto por meio de um desses processos é relativamente simples, entretanto deve se adotar procedimentos logísticos adequados para não comprometer a atividade.
ATIVIDADES DIFERENCIADAS
Alguns seguimentos sociais demandam produtos específicos, que não estão disponíveis em toda época, o que lhe confere um valor mais significativo. O motivo para esse desequilíbrio pode estar ligado, a falta de tecnologia, falta de escala de produção dentre outros.
Dependendo do desequilíbrio, podemos atende-lo, incentivando o produtor a investir em uma cadeia produtiva desorganizada, porem com alto potencial de retorno, como é o caso dos orgânicos. Porém esse tipo de agricultura requer investimento e adequação da propriedade, sobretudo é bastante rentável e cresce a cada dia.
A estratégia de aproveitar nichos de mercado não pode ser ignorada pelo pequeno produtor. Mas deve ser analisada com cuidado, considerando as alternativas, as restrições e as recomendações.
ESTRATÉGIAS PARA EMPREENDIMENTOS RURAIS DE GRANDE PORTE
Nos empreendimentos rurais de grande porte, existem duas estratégias de produção principais: a redução de custos e a diversificação das atividades.
A redução de custos pode dar-se, na maioria dos casos, em função de duas variáveis: a escala de produção e a adoção de alta tecnologia.
A escala de produção é aquela que organiza o processo produtivo de maneira que se alcance a máxima utilização dos fatores de produção. Cada produto impõe, por suas características, uma escala de produção mínima necessária para a atividade ser considerada viável.
Vale salientar que a escala mínima de produção, em cada região, é diferente e dependente dos valores atribuídos aos fatores de produção e aos preços de mercado. Portanto, é de fundamental importância que o produtor determine uma escala de produção competitiva.
A adoção de alta tecnologia tem levado alguns empreendimentos rurais a ganharem em tempo e a aumentarem a produtividade de suas propriedades. Boa parte dos produtores tendem a implantarem em suas fazendas inovações ligadas a tecnologia de informação e biotecnologia. Contudo, a falta de programas para setores específicos restringe a utilização da informática. Como exemplo de tecnologias utilizadas na agropecuária, pode-se citar: a Internet e o GPS, o armazenamento e transferência de dados, a identificação eletrônica, a biotecnologia aplicada às sementes, a avicultura, a inseminação artificial.
Na maioria dos casos um grande produtor rural dedica-se exclusivamente a produção de um determinado cultivo ou criação, na totalidade da área disponível, especializando-se, aumentando assim a produtividade. Dessa forma, recomenda-se que haja mais de uma atividade sendo desenvolvida na propriedade acima da escala de produção mínima. Reduzindo assim os riscos. Além disso, a execução de duas ou mais atividades leva ao aprimoramento da visão empresarial do produtor que passa a realizar melhorias em seus negócios.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
As alterações no ambiente socioeconômico e institucional vem impondo às cadeias produtivas agroindustriais significativas mudanças. Provavelmente a mudança mais difícil seja a da própria cultura do produtor rural. Sem acreditar que essas transformações são necessárias para enfrentar a intensa competição, a chance de sucesso se reduz bastante.
Compreender a nova realidade comercial, de incorporação de novas tecnologias, é de extrema importância para o sucesso do negócio. E isso envolve diferentes articulações com os segmentos pré e pós-porteira, novas formas de negociação e práticas de gestão do processo produtivo.
Propriedades de diferentes portes têm diferentes alternativas. Para as de pequeno porte, os esforços devem ser direcionados para a diferenciação do produto, para a busca de novos atributos, como identificação de origem, produção ambientalmente correta e com apelos a saúde. Não devendo crer que apenas escalas de produção são necessárias para o sucesso da atividade.
Os empreendimentos de grande porte devem avaliar o potencial do mercado e se capacitarem para a adoção da melhor estratégia ou combinação delas.
REFERÊNCIAS
NANTES, José Flávio Diniz e SCARPELLI, Moacir. Elementos de gestão na produção rural. In: BATALHA, Mário Otávio (Coord.). Gestão agroindustrial: GEPAI – Grupo de Estudos e Pesquisas Agroindustriais. São Paulo: Atlas, 2008. PP. 629 a 664.