ELE É MEU IRMÃO
Por NERI P. CARNEIRO | 08/01/2009 | EducaçãoELE É MEU IRMÃO
Há tempos atrás, dentro de uma de suas campanhas, a Igreja Católica divulgou uma foto onde aparecia um adulto branco aparentemente conversando com uma menina, negra, que carregava uma criança, também negra.
É evidente que a menina que carregava a criança também era uma criança. Era uma criança-menina
Lembro-me de algumas coisas que me chamaram a atenção, nessa foto:
A criança-menina era negra.
A criança do colo, aparentava uns dois anos.
Ambas extremamente magras, aparentemente desnutridas.
A criança do colo com aspecto de que era portadora de alguma deficiência física, razão pela qual era carregada pela criança-menina...
É evidente que essa foto-mensagem tinha um objetivo. Por isso as duas crianças olhavam fixamente para a câmara que as fotografava. Até parece que queriam dizer algo, através daqueles olhos fotografados pelo olhar da câmara do fotógrafo, a todos os que vissem a foto. Não sei o que queriam dizer, aqueles olhos, mas sei o que eu entendi.
Sei, também, que logo abaixo da foto aparecia um diálogo sugerindo ser travado entre o adulto, branco e a menina-criança negra, que segurava no colo, uma criança negra.
O diálogo era o seguinte:
- Ela não é muito pesada, para que você o carregue? – pergunta o branco, referindo-se a criança do colo.
- Não. Ele é meu irmão! – a resposta da menina-criança.
Hoje, mais de vinte anos depois, ainda me recordo, da imagem e do diálogo:
- Ela não é pesada?
- Não. É meu irmão.
Meu irmão não é pesado. O fardo do mundo é pesado, mas meu irmão não é pesado. Os problemas são pesados, mas meu irmão não é pesado. Crises e questões de trabalho são pesados; a ingratidão de um colega é pesada; a falta de vaga nos hospitais é pesada, mas meu irmão não é pesado.
Neri de Paula Carneiro
Mestre em educação, Filósofo, Teólogo, Historiador