EFEMERIDADE

Por Vicente Ivo | 12/01/2011 | Contos

EFEMERIDADE



Fim de tarde, o dia estava calmo quando resolvi chamá-la para um passeio no bosque. Naquele dia ela estava tão bela, graciosa em seu vestido longo e branquinho com o leite com detalhes em folho, chapéu longo todo adornado com rendas que protegia seu rosto do sol e lhe dava uma beleza mágica, em suas mãos um par de luvas longas e brancas.

Quando a carruagem chegou, parou de frente a residência, o cocheiro tocou uma sineta em metal que estava dependurada em uma haste em ferro ao seu lado, descemos de vagar os degraus da casa. Segurava forte em sua mão, como quem tivesse com medo de perdê-la. Abri a porta da carruagem, segurei delicadamente em sua mão para ajudá-la a subir. Sentamos um ao lado do outro de mãos dadas.

O cocheiro estralou o chicote no ar dando ordens aos animais para seguirem. O vento soprava mansamente e entrava delicadamente pelas janelas da carruagem acariciando seu rosto com uma mão mágica.

Os cavalos, dois animais de puro sangue, muito bonitos e imponentes, trotavam mansamente em um movimento cadenciado com as cabeças eretas.

Ela olhava perdidamente a paisagem que passava diante de seus olhos. Eu, ao contrário, lá sentado fiquei admirando aquela figura angelical. Uma beleza mágica. Uma menina com olhos como duas safiras, longos cabelos negros como um ébano a dançarem nas mãos do vento.

Dei um suspiro forte e profundo, algo dentro de mim prenunciava que aquele momento, tão mágico, me faria tanta falta nos tempos que iram de vir. Que loucura este pensamento, mas era muito forte.

Passeamos por longas horas perdidas, não falávamos nada, mas nossos olhos se cruzavam a todos os momentos, eu acariciava suas mãos delicadamente, e, ela retribuía com um sorriso e uma expressão de ternura; queria que aquele momento nunca chegasse ao fim. Mas, no entanto, o tempo não para, ele é cruel, consome, até mesmo, os momentos maravilhosos que ficam eternizados em nossas mentes.

O passeio, que parecia ter começado naquele momento, chegou ao fim.

Ela com um sorriso infantil no rosto. Olhou para mim e pediu para retornar, pois estava cansada. Eu intimamente lutava para não fazer o que ela pedirá, mas não conseguia dizer um não.

De dentro da carruagem gritei para o cocheiro retornar à residência. No caminho de volta uma chuva fina começou a cair, parecia pronunciar uma despedida.

Ao chegarmos a nossa residência, entramos e fomos direto para sala. Um de nossos serviçais adentrou logo após e foi diretamente para ela entregando-lhe uma mensagem que o um dos escravos da irmã da minha esposa tinha trazido logo após termos saído, e, após uma leitura rápida ela ficou agitada.

Sua irmã estava muito doente e lhe chamava com urgência, ela resolveu, a despeito de minha objeção, pois, já se fazia tarde e as estradas eram perigosas, ir ao encontro de sua irmã. Mas, com aquele jeito meigo que sempre dominava minhas palavras, apesar de minha dureza, não conseguia negar nenhum pedido dela.

Assim, acompanhada do empregado que tinha vindo trazer a mensagem e que esperava por trás da casa, entrou na carruagem, mas voltou rapidamente, chegou perto de mim, me deu um beijo longo e partiu. Fiquei lá, sentado em uma cadeira, na varanda a observar a carruagem ir se afastando aos pouco. Esta imagem ficou eternizada em minha mente.

Hoje, já se passaram anos desde aquele fatídico dia, que sozinho, refaço cada caminho percorrido por nós. Sentado no mesmo lugar, a vejo, em meus pensamentos, com aquele sorriso que me alegrava e a lembrança de sua presença é a única alegria que o tempo não poderá tira.





FIM