Educação Psicomotora
Por Cátia Martins Bernardes Lenzi | 14/10/2016 | EducaçãoA evolução da motricidade tem um fim cognitivo: a criança constrói o real através da exteriorização cinética da sua unidade. Os limites do real deixam de ser um bloco, eles são cada vez mais abertos e longínquos. O espaço não é medido em metros, mas em dados de sua experiência; cada passo é uma sensação de sua autonomia andante.
A Educação Psicomotora abrange todas as aprendizagens da criança dirigindo-se a crianças, sendo individualmente ou coletivamente. Processa-se por progressões especificas e todas as etapas são necessárias.
A Educação Psicomotora é indispensável nas aprendizagens escolares, iniciando no período da pré-escola (5-6 anos), também sendo focalizado a partir do momento em que a criança inicia a 1ª série até a 3ª série, propiciando assim maiores possibilidades de resolução, organização, de lógica, das relações entre os números etc,
Os exercícios práticos estão classificados em etapas de aquisições psicomotoras seguindo sua idade ou nível da criança. Os exercícios serão desenvolvidos pelo educador seguindo a capacidade de cada criança, de cada grupo, até mesmo de cada classe, o nível teórico quase nunca está perfeitamente adequado às crianças com quem trabalhamos. Porém é prudente seguir as etapas de progressões propostas.
QUANDO REALIZAMOS ESSA EDUCAÇÃO?
A educação é realizada em todos os momentos da vida da criança; a educação psicomotora também, mas é necessário reservar-lhe tempos intensos.
Em suma, em vez de fazer tudo para a criança, é mais válido ensinar-lhe os gestos, demonstrando-os várias vezes e em seguida convidá–la a agir sozinha.
A psicomotricidade apresenta exercícios de flexibilidade, fortalecimento, equilíbrio, agilidade, com o objetivo de ajudar a criança a perceber melhor seu corpo, dominando seu movimento para melhorar sua expressão corporal. A finalidade dos exercícios psicomotores é desenvolver e adquirir uma noção "esquerda-direita". Alguns exercícios de nível motor, depois o mesmo tipo de exercícios de nível perceptomotor. As crianças se movimentam para que sintam bem o que lhes foi pedido. Assim mais tarde as mesmas traduzem com mais facilidade esse mesmo pedido, por fim passam aos exercícios "papel-lápis".
É importante ressaltar que várias crianças que já adquiriram certa noção, através da manipulação de materiais de toda espécie, apresentam ainda dificuldades de refazer o mesmo exercício com material diferente.
ASPECTOS DA COORDENAÇÃO PSICOMOTORA
Dentro das várias definições ficou evidenciado que o termo "Coordenação Psicomotora", na maioria das vezes, não é abordado sempre desta forma, encontramos vários outros que são utilizados como coordenação, coordenação motora, psicomotricidade.
Para melhor entendimento da terminologia, usamos a expressão coordenação psicomotora por ser mais abrangente.
Para COSTA apud TANI, GO et al, 1988, coordenação psicomotora é:
"a qualidade de sinergia que permite combinar a ação de diversos grupos musculares na realização de uma seqüência de movimentos com o máximo de eficiência, economia e rapidez quando envolvidas a velocidade e a força".
A coordenação psicomotora é o denominador comum de todos os parâmetros da habilidade motora ou somatória de diversos movimentos particulares em uma única ação realizada de forma equilibrada.
Segundo IDLA (1976), coordenação é o "resultado de um trabalho entre os sistemas nervoso e muscular traduzido por uma manifestação da inteligência". Para que se possa adquiri-la, faz-se necessário a elaboração de um programa de atividades estruturando convenientemente, por meio do qual a criança possa lograr o automatismo dos gestos.
Além de ser determinada pela maturação nervosa, a coordenação psicomotora, para ser melhorada, requer que se considerem aspectos tais como a adaptação funcional, o tempo, o meio ambiente e o treinamento.
Coordenação psicomotora significa movimentos com sistemas de orientação dominados. Ela ainda poderá ser melhorada por meio de exercícios voltados para a capacidade de reação, para o equilíbrio, e que proporcionem adaptação a situações variadas.
Somente por meio da prática constante é que as potencialidades coordenativas solicitada serão desenvolvidas e novas qualidades cognitivas serão aprendidas. O processo progressivo vai adicionando esquemas posturais e espaciais do corpo cada vez mais diferenciados, seja em repouso ou durante a ação, envolvendo associações com o conhecimento da imagem e memória do corpo. Por meio deste processo poder-se-á desenvolver ainda a discriminação tridimensional e temporal, favorecendo novas integrações perceptivas e, conseqüentemente, respostas mais efetivas.
OS MOVIMENTOS DA PRIMEIRA INFÂNCIA
Quando os educadores da pré-escola tratam do papel da atividade física, da Educação Psicomotora, do movimento e ou de algum tipo de formação perceptivo-motora, dentro do ambiente escolar, normalmente surgem uma série de questões fundamentais.
Em essência estas questões geram em torno dos tipos de atividades que devem ser selecionadas e que deve realizá-las, questões sobre o valor dos diversos programas de atividades motoras estruturadas ou sem estruturas, não levando em consideração as individualidades.
POR QUE INCLUIR PROGRAMAS DE MOVIMENTOS NAS ESCOLAS?
Ao repassar pela história correspondente, descobrem-se diversos compromissos filosóficos com respeito ao papel das atividades motoras dentro do contexto educativo que prevalecem nas escolas e nos sistemas escolares modernos. Alguns professores se sentem incomodados diante de crianças ruidosas e muito ativas, ainda que pudessem dirigir seus ruídos e atividades com fins educativos desejáveis. Outros professores exigem das crianças todo o tempo uma passividade silenciosa e conformista, como exemplo: "é proibido falar durante a corrida", enquanto outros professores crêem que o momento em que é permitido às crianças se movimentarem é apenas, no recreio e em outros momentos essas crianças devem permanecer extremamente passivas, ainda que se deseje estimular as mentes jovens para que permaneçam internamente ativas.
As pesquisas apóiam as hipóteses de que desde o nascimento às crianças parecem ter diferenças individuais fundamentais a respeito de suas necessidades e propensões motoras. Por exemplo: em um estudo se pode demonstrar que alguns recém-nascidos eram mais ativos que outros mais passivos. Outros estudos provaram o fenômeno observado freqüentemente de que as crianças em um jardim da infância demonstram consideráreis diferenças individuais na quantidade de energia que cada uma leva na quadra de jogos.
Quando as crianças começam, iniciam o primeiro grau, muitas o começam já com uma idéia bastante exata das suas próprias capacidades motoras e comparando com as habilidades dos seus companheiros de seu grupo de jogos. Existem provavelmente duas razões principais para justificar a falta de participação em jogos, por parte das crianças que se iniciam nas primeiras séries do primeiro grau:
a) Consciência da sua falta de habilidade e capacidade;
b) Por algum tipo de problema emocional que reflete em uma falta de inclinação em particular.
Em geral, a pesquisa apóia a aplicação de bons programas de experiências motoras para as crianças pré-escolares ou do primeiro grau, pelas seguintes razoes:
a) As habilidades físicas desenvolvidas nos jogos e em períodos mais estruturados da Educação Psicomotora, melhoram os sentimentos gerais da movimentação eficiente das crianças.
b) As destrezas motoras criativas, estimuladas por meio de diversas formas de expressão artística e de jogos, com certo número de habilidades motoras, os quais servem ao estímulo de um comportamento seletivo nas crianças, provavelmente não na direção da participação mais qualitativa em todos os aspectos da interação social que devem prevalecer na pré-escola.
c) As crianças ativas se ficam fechadas numa sala, por muito tempo, provavelmente, farão com menor entusiasmo as tarefas de aula que lhes sejam apresentadas. Por exemplo, em um estudo feito com um grupo de crianças, que ficaram quatro horas dedicadas ao estudo e realização de provas escritas, após as quatro horas foi observado em um exame que crianças com boas condições físicas, tiveram piores resultados que outras crianças menos dotadas, apesar que, antes do período de quatro horas, os dois grupos tiveram resultados semelhantes, em um teste feito no início do período de aula. Os pesquisadores sugerem que manter as crianças com boas condições físicas, imóveis, durante períodos prolongados, crianças que verdadeiramente necessitam de grande atividade, pode-se estar prejudicando-as, se as atividades nas escolas de primeiro grau não seguirem aquilo que suas necessidades
d) O movimento parece ser uma necessidade própria das crianças, ao ser reprimido, aos poucos se pode conduzir a comportamentos menos desejáveis.
e) As atividades mais ou menos vigorosas realizadas pelas crianças com a1to grau de motivação, teriam como resultados, melhores níveis de aptidão muscular e cardio-vascular.
OBJETIVOS ESPECÍFICOS DA EDUCAÇÃO PSICOMOTORA
- Favorecer o desenvolvimento das capacidades físicas (condição física e condição motora)
- Favorecer o desenvolvimento das habilidades motoras de locomoção – manipulação e não locomoção/equilíbrio.
- Alcançar o autoconceito, através do reconhecimento de suas capacidades e da aceitação de suas limitações;
- Passar das atividades individuais para as atividades coletivas;
- Aprimorar os movimentos que envolvam grandes e pequenos grupos musculares;
- Demonstrar controle nos movimentos realizados com objetos (bolas, bastões, cordas, etc).
- Discriminar estímulos perceptivos;
- Favorecer o desenvolvimento das noções de espaço, tempo, em relação ao seu próprio corpo e a objetos e pessoas;
- Relacionar objetos pela sua semelhança e diferenças;
- Realizar representações mentais de deslocamentos espaciais, seqüências temporais e relação causa-efeito, nos movimentos que ajudem a definir a lateralidade;
- Aprimorar a sua capacidade de expressão verbal e corporal;
- Desenvolver a criatividade partindo da livre imaginação.
CONCLUSÃO
A proposta da Educação Psicomotora caracteriza-se por situações de aprendizagem de múltiplas facetas, pois nesse processo as respostas serão construídas pelas crianças e por isso, a certeza de produzir a transformação.
Neste ato de transformação o sujeito dá uma interpretação ao estímulo, e é somente em virtude dessa interpretação que a conduta do sujeito se faz compreensível.
Portanto, os estímulos não esperam respostas prontas.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
BOBATH, Karel. Uma base Neurofisiológica para o Tratamento de Paralisia Cerebral. Rio de Janeiro: Ed. Manole, 1984.
CAPON, Jack. Desenvolvimento de Percepção Motora. Rio de Janeiro: Manole, 1987.
COSTA, Lamartine Pereira da. Aperfeiçoamento da Coordenação e da Descontração. Caderno Didático.
DELAET, Luce. A Motricidade da Criança Problema. São Paulo: Ed. Manole, 1989