Educação para o trânsito: desenvolvimento e cidadania

Por GILSON MARCOS PAGES | 07/03/2012 | Educação

Educação para o trânsito: desenvolvimento e cidadania

 

A questão do trânsito no Brasil é um tema de extrema relevância e preocupa toda a sociedade. Diante do desenvolvimento socioeconômico ocorrido no país, à produção em alta, as facilidades de créditos e comercialização, têm contribuído crescentemente para o aumento da frota de automóveis nas ruas e rodovias de todo o território nacional.

O Código de Trânsito Brasileiro - CTB, estabelece em seu Art.1º, § 2º, O trânsito, em condições seguras, é um direito de todos e dever dos órgãos e entidades componentes do Sistema Nacional de Trânsito, a estes cabendo, no âmbito das respectivas competências, adotar as medidas destinadas a assegurar esse direito. Mesmo que os direitos existam no papel, muitas das vezes são negligenciados pelas autoridades, aliados com as imprudências, a falta de conhecimento e cidadania no trânsito contribuem para os descumprimentos de tais leis.

O sistema vigente nos dias atuais, cada vez mais competitivo, a busca incessante do lucro estimula ao individualismo, onde a todo momento preocupamos com nossos interesses e os outros sendo como adversários, o que reflete uma crise de valores no trânsito, onde manter um comportamento ético e solidário, tem se tornado um ato difícil. Diante do carro, símbolo de poder e status, o ser humano demarca o respeito às diferenças sociais e aos direitos individuais e a vida tem se tornado uma façanha muito arriscada diante do trânsito.  

Vemos aumentar a problemática no trânsito a cada instante, um criminoso que mata dia e noite, contribui para os índices das maiores taxas de mortalidade do mundo, sem falar nas mutilações, os que ficam incapacitados temporários ou permanentes e os danos materiais e ambientais. Sem dúvida, quais as principais causas de tamanha violência contra o ser humano? As discussões a respeito pode gerar diversas opiniões e divergências. 

Não basta sinalizar as vias públicas, ou colocar radares nas avenidas e rodovias penalizando os condutores com multas. É preciso educar para o trânsito, educar para a manutenção da vida. Precisamos ter desenvolvimento, mas com cidadania no trânsito, pessoas inocentes não podem pagar com suas próprias vidas as irresponsabilidades dos outros que não respeitam a legislação vigente.

Os índices atuais nos mostram que os desrespeitos as leis de trânsito, o uso de bebidas alcoólicas ou drogas e outros fatores, associados ao volante têm sido apontados como as principais causas de acidentes de trânsitos. Lamentável considerar que o trânsito tem se tornado uma “guerra” incontrolada aos olhos de todos. Portanto, a co-responsabilidade pela vida social, valorizar comportamentos necessários à segurança no trânsito e à efetivação do direito de mobilidade a todos os cidadãos é responsabilidade de todos e do Estado.

No Brasil existe uma disparidade gigantesca na distribuição dos recursos e mau uso destes, são montantes expressivos recolhidos com multas aplicadas diariamente pelos órgãos rodoviários e de trânsito da União, dos estados e dos municípios e também pela Polícia Rodoviária Federal, mas presenciamos a falta de campanhas educativas e investimentos no trânsito, com níveis de equivalências econtínuos.                                                                                                                    O que deixa cada cidadão indignado é na distribuição desses recursos arrecadados e para onde vai tanto dinheiro? A sociedade tem que ter um papel atuante e cobrar mais dos órgãos encarregados pelo trânsito. Tanto o Governo quanto a população têm sua parcela de contribuição para um trânsito melhor e mais seguro.

Deve haver maior transparências e critérios por parte do Conselho Nacional de Trânsito (Contran)  nas publicidades de como é empregado os recursos proveniente da aplicação de multas por todos órgãos das unidades Federativas. Como estabelece CTB no Art. 320 aplicação exclusiva da receita arrecadada com multas em sinalização, engenharia de tráfego e de campo, policiamento, fiscalização e educação de trânsito. Ainda conforme o Artigo, um percentual de 5% do valor das multas deve ser depositado mensalmente na conta do fundo destinado a segurança e educação no trânsito.

Não podemos continuar como esta, a sociedade e os órgãos representativos devem criar soluções e não chorar os mortos e mutilados no trânsito. Investir em educação para o trânsito exige a implementação de projetos e programas comprometidos com a orientação, informação, de cobranças, onde possa veicular teoria e prática. Deve ser uma proposta aberta ao conhecimento como instrumento para a compreensão e possível intervenção da realidade.

Os investimentos na área da saúde é muito grande para tratar os acidentados no trânsito, não seria mais viável investir em educação para o trânsito, na prevenção, na raiz do mau, podemos ter custos menores. Outra medida a ser tomada com ênfase, que nossos gestores invistam em projetos ou inserir na grade curricular  de ensino a disciplina de “educação para o trânsito” em todas as escolas brasileiras, em todos os níveis. Creio que podemos ter um trânsito mais humano.

Contudo, trânsito com cidadania se faz com investimentos, respeito, conscientização e responsabilidades de todos em uma só voz e os resultados serão positivos com um trabalho de base bem elaborado, planejado, com a participação dos governantes e a sociedade, em busca de maior desenvolvimento socioeconômico, na proteção e preservação da vida, para a construção de uma sociedade verdadeiramente humana. (Gilson Marcos Pagés – Professor de Geografia).