Educação o Delírio de Século XXI

Por Gerdevane Silva de Jesus | 13/12/2016 | Educação

RESUMO:

Cada idade e cada época possui seu diferencial que pode ser identificado no modo como as pessoas agem e pensam. Este artigo, tem por finalidade analisar quais fatores contribuíram para que a educação do século XXI tratasse o educando como um objeto e não como uma pessoa que possui potencialidades e sentimentos. Dessa maneira,veremos também que quando a educação se torna objeto de ideologia a sociedade entra em decadência moral e política. Assim buscar-se-á expor as consequências desse tipo de educação na vida das pessoas na sociedade.

CONSIDERAÇÕES INCIAIS

Cada idade possui sua marca de identificação que a diferencia das demais, seja descrevendo as características de seu tempo, ou seja, por algum fato que aconteça que venha identificá-la como tal, como por exemplo a "idade do ouro". Talvez daqui a trezentos anos os historiadores descrevam nossa época como a "idade da banalização" ou "idade da objetificação do ser humano". Certamente podemos descrever nossa idade como a idade do relativismo. Idade essa que fez da pessoa humana com todos os seus atributos um objeto identificável. Ficamos de certo sentido banais nesse processo e com isso, esquecemos o sentido da existência.
O relativismo não só entrou na vida das pessoas como também em suas condutas e escolhas existências como por exemplos escolhas morais, políticas e educacionais.O relativismo tem como objetivo não apenas converter princípios éticos e políticos em vivências efêmeras e líquidas, transformando também a pessoa em objeto descartável, mas, tem como característica desestruturar as instituições que são os sustentáculos da sociedade como por exemplo a instituição escolar. Com tudo isso o que possuída de mais sólido, fixo e eterno com essa nova concepção se transformou em solúvel, fugaz e passageiro. Nas palavras de Ayllión "o relativismo converte a ética sólida em ética líquida, por que pretende a hierarquia subjetiva de todos os motivos, a negação de qualquer supremacia real. Abre assim a porta do "tudo é válido" por aí sempre poderá entrar o mais desatinado irracionalismo". (2011, p.43).É com essa concepção que a partir de alguns anos a educaçãode modo geral vem caminha dia após dia para seu objetivo. Objetivo esse que se perguntado a qualquer educando de nossas escolas ou universidades eles não saberão responder, talvez por que tenham perdido o sentido de sua própria vida há muito tempo e outra por que já tenha esquecido o sentido do próprio aprender. O poeta Campoamor em um poema nos diz "pois neste mundo traidor, nada é verdadeiro nem mentira, tudo é de acordo com a cor do vidro pelo qual se mira".
A educação foi a que mais sofreu com essa nova visão de sociedade. A educação como muito se houve é a baliza que intermedia o ser humano e sociedade, e é só a partir dela que o ser humano conseguirá ser de fato uma pessoa integrada com a realidade, ou seja, é a partir da educação e tão somente dela que a pessoa conseguirá transcender a si própria para se tornar uma pessoa melhor. Dessa maneira, Kant nos diz "somente a educação por meio da disciplina e instrução possibilita o sujeito orientar suas ações em uma pedagogia que aponta para a liberdade" (1996, p.99). A educação nessa perspectiva a qual está inserida numa lógica que possibilita com que o educando desenvolva suas capacidades, seja elas afetiva, intelectual e social, também tem o papel de mostrar para o educando que suas ações precisam ser assumidas com responsabilidade.
Kant se refere a educação como a única que pode tirar o homem de sua animalidadee só através dela a pessoa poderá se tornar uma pessoa sociável e assim entrar em uma dinâmica dialógica com as demais pessoas. A educação, portanto, é de fato o intermédio entre ser-em-si e ser-para-outro. Nas palavras do próprio autor "o homem é a única criatura que precisa ser educado" e que "o homem não pode se tornar um verdadeiro homem senão pela educação, ele é aquilo que a educação faz dele" (1996, p.18). Diante, dessa concepção que o autor nos fornece, o ser humano é aquilo que a educação faz dele, podemos indagar o que aconteceu para que a moral, a política e principalmente a educação perdesse seu valor e sua importância na vida das pessoas nesses últimos anos.
Diante dessa configuração nosso trabalho irá se delinear com a intenção de descrever alguns fatores que contribuíram para que a educação deixasse de ser um elemento que liberta e humaniza para se tornar uma prática alienante como está acontecendo no século XXI.

ESCLARECIMANTO HISTÓRICO DO DELÍRIO NA EDUCAÇÃO

Sabemos que os problemas sociais é uma questão eminentemente educacional. Em termos de historicidade-filosófica, percebemos que desde Descartes, com sua teorização dualista o racionalismo predomina, nos textos de ensino-aprendizagem em vários âmbitos do nosso viver. Essa visão cartesiana considera que somente a razão é o único caminha seguro para se chegar ao conhecimento verdadeiro. Para, Descartes tudo que provem dos sentidos por meio das sensações, são conteúdos vazios e falhos que não contém nenhum elemento verídico. Essa visão, de que somente a razão é formuladora do conhecimento chegou a sua plenitude quando Kant afirmara que a "maioridade é a capacidade de se servir do próprio entendimento sem orientação de outrem [...] significa saber ouvir a voz do próprio entendimento e de se servir do teu próprio entendimento" (2005, p.12). Se servir do próprio entendimento é uma comprovação de que o ser humano é o divisor de água, ou seja, é a afirmação de que o conhecimento só pode ser considerado verdadeiro se passar pelo crível da racionalidade, ao contrário dessa condição nada poderá ser aceito como conhecimento.
É de suma importância que lembremos que nesse mesmo período a ciência estava dando seus primeiros passos como um "novo caminho" para se chegar a verdade. O período denominado de decadência da filosofia perene "escolástica" do século XVII veio em consequência dos pensadores que deturparam inteiramente as orientações mais acertadas que Agostinho e Tomás realizaram com o helenismo. Para Norberto Keppe os culpados por levar a sociedade ocidental ao desvario de entendimento foram Roger Bacon, Boaventura, Duns Scot e principalmente William ofOckam, os quais no dizer do filósofo se voltaram escrupulosamente para o "método" indutivo experimental introduzindo nas universidades que estavam se formando. Segundo NorbertoKeppe, esses filósofos levados por essa ideia de criar uma verdade definitiva, deram vida a ilusão e ao delírio quando incentivaram que o pensamento científico estava acima de qualquer outra forma de conhecimento. Nas palavras de Norberto Keppe "foi a entronização do homem para ser adorado no altar do novo templo positivista" (1999, p.92).
Diante dessa concepção, podemos concordar com Saltini quando falou que:
O homem seguiu o racionalismo até um ponto em que o racionalismo se transformou em completo irracionalismo[...] desde Descartes, o homem vem separando sempre o pensamento do afeto, pela própria natureza irracional, a pessoa, eu, foi decomposta num intelecto que constitui o meu ser, e que devo controlar-me a mim como devo controlar a natureza. O domínio da natureza pelo intelecto e a produção de mais e mais coisas tornaram-se as metas supremas da vida. Nesse processo o homem se converteu numa coisa e o ser deu lugar para o haver. (2008, p.11)

Com essas interrogações e afirmações percebemos que Saltini descreve acertadamente que nem racionalismo e nem a ciência com todo o seu cabedal teórico não foram capazes de resolver os problemas de convívio social e existencial do ser humano. O mais negativo de tudo isso foi a ideia que se criou envolto da ideia de que a ciência positiva traria a resolução para todos os problemas humanos. Se por um lado o racionalismo supervalorizou a razão como única medida para o conhecimento, por outro lado, a ciência experimental tratou de decretar sua norma, ou seja, para o conhecimento ser admitido deve ser aplicado para que tenha resultados substanciais. Asteorias educacionais desse período ficaram dividida entre essas duas linhas de pensamento, ora voltada para dar suporte às teorias científicas ora voltadas para dar base as ideias que pudessem alcançar uma verdade universal.
É inquestionável que nesse processo essas teorias educativas não tenham ajudado a sociedades a dar passos significativos no que diz respeito ao ensino-aprendizagem, aja visto que nunca se viu em toda a história da humanidade o ser humano tão livre para criar e inventar novos meios como nesse período. Porém, se o ensino-aprendizagem deu passos significativos, também foi com esses avanços que veio o maior mau da educação, que foi conceber o educando como um objeto sem desejo e sem vontade própria.
Wilhelm Wundt (1832-1920) em sua obra "Elemento de psicologia fisiológica" expõe que "nada se passa em nossa consciência que não encontre o seu fundamento sensorial em processo físicos determinados" (1886, p.165). Essa visão de que se pode tirar conclusões psíquicas através dos fenômenos físicos foi a maior comprovação de que a educação estava caminhando para a finitude, por que dizer que se consegue avaliar as ações humanas pelo que é manifestado a ele é dizer que o ser humana não tem vontade própria para construir sua própria história e isso é um absurdo para a inteligência humana.

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