EDUCAÇÃO INFANTIL – UM LUGAR PARA CRESCER E APRENDER DIARIAMENTE

Por cassiani zard | 21/08/2014 | Educação

UNIVERSIDADE FEDERAL DE PELOTAS CURSO DE LICENCIATURA EM PEDAGOGIA A DISTÂNCIA POLO UNIVERSITÁRIO DE SAPIRANGA EDUCAÇÃO INFANTIL – UM LUGAR PARA CRESCER E APRENDER DIARIAMENTE Cassiani Zardin Sapiranga, junho de 2014 Introdução O presente artigo visa discutir o aproveitamento do tempo da rotina na Educação Infantil, principalmente no que se refere as atividades dirigidas, ou seja, atividades com o objetivo pedagógico definido e intencional. Primeiramente, busquei refletir sobre as tarefas e as impressões das profissionais envolvidas no processo educativo da turma de Nível 3, onde realizei minha Prática de Ensino 2. Além disso, expus relatos de pais, buscando ter como amostra o sentimento e expectativa deles a respeito da escola como instituição de ensino e cuidados. A partir desses aspectos, dirigi minha discussão baseada na prática que realizei, juntamente com uma colega do Curso, onde procuramos incrementar um pouco mais as atividades diárias da turma, sem prejudicar os momentos de brincadeiras livres e espontâneas e as atividades de rotina, com os cuidados necessários para as crianças desta faixa etária. EDUCAÇÃO INFANTIL – UM LUGAR PARA CRESCER E APRENDER DIARIAMENTE Através da prática de ensino, proposta para este período do Curso de Pedagogia, tive a oportunidade de conhecer e vivenciar a rotina da Educação Infantil. Realizou-se horas de observações e de práticas que proporcionaram uma série de aprendizado, dúvidas, questionamentos e percepções acerca do trabalho que vem sendo realizado por este nível de ensino, das percepções dos pais e responsáveis sobre o que esperam do atendimento de seus filhos e do posicionamento das professoras e funcionárias que trabalham diretamente com as crianças de 3 a 4 anos da escola de estágio. Os alunos da turma de estágio, chegam na escola a partir das 6h30min e podem permanecer até as 18horas. Durante o turno da manhã, tem uma professora e duas auxiliares. Durante a tarde, tem outra professora e as mesmas duas auxiliares. Esta experiência, foi realizada em dupla, o que foi muito positivo para mim, pois pode-se trocar muito mais sobre as percepções, dúvidas e ideias, além de dividir angústias, trabalhos e compartilhar aprendizagens. É impressionante o trabalho realizado pelas responsáveis, no sentido de cuidar, zelar pela saúde, cuidados com higiene, alimentação hábitos e atitudes dos alunos. Entre o acordar, arrumar-se, desmontar as caminhas, guardar edredons e travesseiros, trocar roupas, calçar calçados, ir ao banheiro, tomar água (um por um no bebedor), brincadeiras livres na sala, higiene para o lanche, lanche, atividade dirigida, pracinha, higiene, lanche da fruta, brincadeiras livres na sala, organização para ir embora (trocar de roupa, arrumar mochila, guardar agenda, arrumar cabelo) e conversas com pais, demanda de muita energia, divisão de tarefas e um trabalho de equipe baseado no respeito, paciência e uma visão de uma totalidade do que se espera alcançar e desenvolver com essas crianças! Mas percebe-se que essa visão fica muito focada nos cuidados com os alunos e não, no desenvolver um trabalho pedagógico direcionado com eles. No Referencial da Educação Infantil, consta que o “ato de alimentar ou trocar uma criança pequena não é só o cuidado com a alimentação e higiene que estão em jogo, mas a interação afetiva que envolve a situação.”(p.17), ressalto assim, a importância deste trabalho, que vai além da satisfação física e traz consigo relações afetivas que demandam muita responsabilidade e consciência dos profissionais envolvidos. Para uma das auxiliares, o trabalho é “muito estressante, apesar de gratificante!” Ela conta que sai da escola sentindo-se “sugada”, “que tem que ter muitos olhos, para que nada aconteça com eles, eles não se machuquem e não briguem”. A segunda auxiliar, que iniciou os trabalhos durante a segunda semana de prática de ensino, relata: “Achei esta turma muito mais tranquila que a outra que trabalhei. Mesmo sendo Nível 3 também, eles muito mais calmos, carinhosos e organizados... mas mesmo assim, não temos tempo para respirar...É muito cansativo. E muitos acham que eu venho aqui só para ver as crianças brincarem!” Ambas dizem que adoram o que fazem, gostam das crianças, mas que não se sentem valorizadas por algumas famílias. “Tem pai que nunca está contente com o que fazemos, sempre acham alguma coisa para reclamar!” Durante as duas atividades espontâneas do turno da tarde, ou de brincadeiras livres, as crianças recebem peças de montar, plásticas e de madeiras, ou alguns outros brinquedos que há na sala para brincarem. Auxiliam na distribuição e na organização após as brincadeiras. Uns brincam sozinhos e outros em pequenos grupos. Neste momento, enquanto uns são atendidos individualmente pelas auxiliares na troca de roupa e arrumação de cabelos, a professora vai interagindo com os outros, circulando pela sala. Em muitos casos, as três precisam interferir em discussões e disputas por brinquedos, realizando negociações para as trocas entre eles. Muitos alunos, às 16h30min já começam a se despedir e serem buscados pelas famílias ou “topiqueiros”. Muitos querem saber se a criança comeu e passou bem, resumindo assim, a maior preocupação dos pais, a satisfação física e o bem estar no estabelecimento. Em determinado momento, conversou-se informalmente com alguns e ouvimos que “saber que minha filha está sendo bem cuidada e segura aqui, não tem preço! Ela vem bem feliz e gosta muito das profes!” Outra família comentou que “mesmo ficando com pena de tirar ele (o filho)da cama, eu fico contente, porque ele está aqui, aprendendo bastante, brincando e se divertindo!” Alguns chegam na porta da sala e não dizem absolutamente nada, as auxiliares chamam a criança e dizem por si mesmas que a criança passou bem, se gostou de alguma atividade específica, ou se houve algo relevante, pois os pais não parecem estar interessados no momento, parecem já estar pensando no que vão fazer depois, ou cansados do trabalho... Esses episódios que pode-se observar, geraram preocupação, pois fica a dúvida: Que convívio esses pequenos tem em casa? Que relações são estabelecidas entre pais e filhos? Por isso, no planejamento que foi realizado, buscou-se integrar família e escola, através de tarefa de tema de casa (perfumar um pedaço de TNT que seria usado numa atividade posterior) e da visita da Lagarta, bem como no registro individual no Diário da Lagarta. O resultado foi muito mais gratificante do que imaginava-se. As famílias realmente participaram e se mostraram ativas e integradas com seus pequenos! Receberam as propostas com um sorriso e colaboraram demais. Houve até uma família que confeccionou outras lagartas em casa, para as irmãs da aluna e trouxe as fotos para mostrar. Os relatos dos diários contam com atividades da rotina dos alunos na parte da noite, como banho, janta, olhar tv, dançar e tocar música com os pais e dormir. Acredita-se que neste momento, auxiliou-se no movimento de busca pela participação da família no processo de desenvolvimento integral do filho, que é uma das principais metas das escolas brasileiras. O trabalho pedagógico de fato, se divide durante os dois turnos: Numa semana é a professora da manhã quem planeja e executa atividades pedagógicas, ou seja, as atividades dirigidas, e na outra semana, é a professora da tarde quem planeja e realiza as atividades pedagógicas. Como realizamos a prática de ensino durante o turno da tarde, segue o esquema da divisão da rotina semanal deste período: ROTINA MATERNAL 3 A – TURNO DA TARDE Segunda a sexta-feira das 12h às 18h Horário Atividade 12h Soninho 14h Despertar 14h15min Atividade espontânea 15h Lanche 15h20min Rodinha 15h30min Atividade dirigida (pedagógica) 15h55min Pracinha 16h20min Fruta 16h30min até 18h Atividade espontânea/despedida As aulas de Educação Física acontecem nas segundas-feiras (15h20min às 17h). Dentro desta organização de tarefas, chamou a atenção que durante as 12 horas que alguns permanecem no ambiente escolar, há apenas 25 minutos destinados especificadamente para a parte pedagógica. A professora argumentou que isso é prática da Rede Municipal, no Turno Integral, em vista de que a rotina diária exige muito mais cuidados com os alunos e não prioriza tanto um desenvolvimento sistemático cognitivo. Pois, mesmo nas atividades que não parecem ser pedagógicas eles estão aprendendo e se desenvolvendo de alguma forma. Já, nas turmas de período parcial, só com aulas de manhã, ou só à tarde, há um período maior de atividade dirigida, pois não exige tantas tarefas de cuidados com higiene e alimentação. De acordo com o Referencial de Educação Infantil, elaborado pelo MEC, é na Educação Infantil que iniciam as primeiras relações sociais das crianças, que possibilitam muitas aprendizagens e enfoques, nas instituições de educação infantil que se constituem, por excelência, em espaços de socialização, pois propiciam o contato e o confronto com adultos e crianças de várias origens socioculturais, de diferentes religiões, etnias, costumes, hábitos e valores, fazendo dessa diversidade um campo privilegiado da experiência educativa.(p.12) Sendo assim, parece que por si só, estar frequentando a escola, recebendo atenção e alguns cuidados, já basta, pois já está sendo assegurada a socialização, o acompanhamento de adultos responsáveis, recebendo alimentação adequada e estímulos variados. Não há dúvidas de que a rotina é intensa mesmo e que em todas as atividades realizadas há uma real preocupação com a formação integral dos alunos. De várias formas, viu-se o quanto incentivam a autonomia das crianças, o respeito mútuo, a divisão das tarefas e dos materiais, os cuidados com a higiene, com a alimentação saudável, com o respeito ao meio ambiente, com a solução de problemas, enfim, o fazer pedagógico mescladefinidos e intencionais. E relatou: “Quando dá, sempre faço brincadeiras mais dirigidas com eles, nem sempre proporciono só os brinquedos da sala, mas é que às vezes( quase sempre!), acabo me envolvendo também com as tarefas das auxiliares, pois são muitos alunos!” Em função disso, para a prática pedagógica, propôs-se uma pequena alteração da rotina da turma, em função de acreditar-se que havia pouco tempo de raciocínio intencional, de desafio, de construção, de interação com a leitura, com a música, com a dança, com a expressão corporal, com a imaginação, com habilidades cognitivas que eles demonstravam ter potencial de sobra! Acredita-se que são nas atividades mais dirigidas e acompanhadas pela professora, que os alunos muitas vezes são desafiados de fato, onde ela propõe situações conflitantes, construtivas e lhes dá oportunidades de conhecimento e auto-conhecimento. O Referencial de Educação Infantil, alerta que Uma parte significativa da auto-estima advém do êxito conseguido diante de diferentes tipos de desafios. Nesse sentido, a obtenção de êxito, por parte das crianças, na realização de algumas ações é um ponto que merece atenção.( p.62) E complementa argumentando Dessa forma, propiciar situações em que as crianças possam fazer algumas coisas sozinhas, ou com pouca ajuda, deixá-las descobrir formas de resolver os problemas colocados, elogiar suas conquistas, explicitando a elas a avaliação de como seu crescimento tem trazido novas competências são algumas ações que auxiliam nessa tarefa.(p.62) Por isso, acrescentou-se junto com as atividades espontâneas, uma pequena atividade dirigida. Foram atividades dentro do tema trabalhado, como músicas, vídeos de clipes, jogos de memória, atividades de rodinha, confecção de cartazes de registros, jogos de boliche, brinquedos com sucatas, cuidados com canteiro de flores, observação e acompanhamento diário de um viveiro com ovos, lagartas, e pupas, relatos da visita da lagarta de meia, modelagens e montagens com papéis coloridos, enfim, muitas atividades com intenções pedagógicas sérias, mas que de forma lúdica, estavam contribuindo com o desenvolvimento intelectual, sem trazer prejuízo aos cuidados diários e a segurança das crianças no ambiente escolar. O Referencial Curricular Nacional da Educação Infantil reforça a opção feita quando diz que Educar significa, portanto, propiciar situações de cuidado, brincadeiras e aprendizagem orientadas de forma integrada e que possam contribuir para o desenvolvimento das capacidades infantis de relação interpessoal de ser e estar com os outros em uma atitude básica de aceitação, respeito e confiança, e o acesso, pelas crianças aos conhecimentos mais amplos da realidade social e cultural.(p.23) Essa alteração na rotina da turma, não diminuiu o tempo de BRINCAR, bem pelo contrário, enriqueceu o tempo destinado a ele. Pois antes, apenas interagiam praticamente entre si e com as peças e brinquedos da sala, não menosprezando o faz-de-conta e a interação que tinham. Mas com nossa proposta, eles fizeram além disso, tinham algo mais que lhes desafiava, usavam outros materiais e recursos para brincarem, conhecendo novas atividades, habilidades e maneiras de interagir com a turma. De acordo com Fantacholi (2011), O desenvolvimento da criança e seu consequente aprendizado ocorrem quando participa ativamente, seja discutindo as regras do jogo, seja propondo soluções para resolvê-los. É de extrema importância que o professor também participe e que proponha desafios em busca de uma solução e de participação coletiva, o papel do educador neste caso será de incentivador da atividade. A intervenção do professor é necessária e conveniente no processo de ensino-aprendizagem, além da interação social, ser indispensável para o desenvolvimento do conhecimento. Além disso, as habilidades e conteúdos explorados nestas atividades propostas foram recursos importantes, que contribuíram para além de mais aquisição de um conjunto de informações. Mesmo que essas informações sejam importantes e devem ser retidas e repetidas ao longo da vida, como conhecer e diferenciar cores, números e fases da metamorfose, por si só, não basta; Essa seleção de conteúdos deve ser significativa, emotivas e envolver os alunos. Como Luckesi (2005) afirma, que quando os conteúdos escolares são expressões de “experiências vivas”, ou seja, experiências significativas e carregadas de motivações, os alunos desenvolvem-se como seres humanos e como cidadãos. Ele diz que desta forma, a aprendizagem, então, não será somente cognitiva, mas, muito além disso, será vital, onde se fará presente corpo, mente e coração, o que inclui a cognição, porém, sem dissociá-la de tudo o mais. (p.11) Os resultados já puderam ser vistos logo nos primeiros dias, as crianças participaram ativamente, os pais davam retornos ao buscarem os filhos, relatando sobre os comentários que faziam em casa, além da Equipe Diretiva, juntamente com a Professora Titular vinham comentar e participar de alguns momentos propostos. Conseguimos incrementar um pouco mais a rotina da turma, dando um pouco mais de ludicidade e estímulos, fazendo com que os momentos que passam na escola, se tornassem mais ricos e prazerosos, com mais descobertas e trocas. REFERÊNCIA: BRASIL. Ministério da Educação e do Desporto. Secretaria de Educação Fundamental. Referencial curricular nacional para a educação infantil-vol.2 / Ministério da Educação e do Desporto, Secretaria de Educação Fundamental. — Brasília: MEC/SEF, 1998. FANTACHOLI, Fabiane das Neves: Revista Científica Aprender. 5ª Edição. O brincar na Educação Infantil: Jogos, brinquedos e brincadeiras - um olhar psicopedagógico. 2011 LUCKESI, Cipriano Carlos: O Educador: Quem é ele?- Artigo publicado na Revista ABC EDUCATIO, nº 50, outubro de 2005, páginas 12 a 16.

Artigo completo: