EDUCAÇÃO INFANTIL: CUIDAR EDUCANDO, APRENDER BRINCANDO.
Por MARIA QUITERIA DA SILVA | 04/12/2013 | Educação
EDUCAÇÃO INFANTIL: CUIDAR EDUCANDO, APRENDER BRINCANDO.
RESUMO
O presente trabalho é resultado de um estudo bibliográfico a cerca da educação infantil, o qual discorre sobre as transformações ocorridas, desde seu inicio com atendimento assistencialista, até a Educação Infantil passar a ser reconhecida como a primeira etapa da educação básica, representando uma ressignificação do sistema educacional brasileiro, atribuindo para a Educação Infantil a responsabilidade pelo desenvolvimento integral da criança até os seis anos, em seus aspectos físicos, psicológicos, intelectual e social onde o cuidar e educar são indissociáveis. Também, aborda as importantes contribuições dos teóricos em relação a aprendizagem das crianças pequenas, destacando as especificidades da brincadeira, jogo e brinquedo, atribuindo-lhe papel decisivo na evolução dos processos de desenvolvimento humano, contribuindo para a formação e construção do sujeito a partir da primeira infância. Reflete sobre a brincadeira no contexto pedagógico vivenciado pelas crianças e o papel do professor mediador na aprendizagem.
Palavras chaves: Educação infantil, professor mediador, jogo, brinquedo e brincadeira.
CONSIDERAÇÕES INICIAIS
A Educação Infantil é um período extremamente fértil em relação à construção de novos conhecimentos, sejam eles sociais, afetivos ou cognitivos. A criança dessa faixa etária é capaz de estabelecer relações complexas entre os elementos da realidade e o meio onde vive. Diante disso, quando se propõe a trabalhar com crianças bem pequenas, deve-se ter como princípio, conhecer seus interesses e necessidades. Isso significa saber verdadeiramente quem são, saber um pouco da história de cada uma, conhecer a família, as características de sua faixa etária e a fase de desenvolvimento.
Assim, frequentar uma escola de Educação Infantil significa, além da convivência entre pares, participar de experiências diversificadas, situações de aprendizagens que exploram diferentes linguagem, integrando o processo educativo aos cuidados inerentes ao desenvolvimento integral da criança.
A educação infantil tem despertado o interesse de muitos pesquisadores e são inúmeras as leituras disponíveis principalmente em relação ao desenvolvimento e aprendizagem das crianças pequenas. Nesse contexto, a psicologia tem contribuído de forma relevante, merecendo destaque os estudos de Wallon, Piaget e Vygotsky os quais trazem importantes discussões a respeito das fases do desenvolvimento infantil, numa perspectiva interacionista e sociointeracionista.
Outro aspecto em discussão, é o papel do profissional que atua nas instituições de educação infantil, pois, trabalhar com crianças pequenas exige formação específica, considerando que o cuidar e educar na educação infantil são indissociáveis e a pratica educativa como sendo facilitador da aprendizagem, numa perspectiva lúdica.
Diante disso, entre as atividades realizada nas instituições de educação infantil, o brincar tem papel importante na aquisição do conhecimento da criança, como pontua Rojas (2007, p. 18)
O brincar infantil não pode ser considerado apenas uma brincadeira superficial, sem nenhum valor, pois, no verdadeiro e profundo brincar, acordam, despertam e vivem forças de fantasias que, por sua vez, chegam a ter uma ação direta sobre a formação e sobre a estruturação do pensamento da criança.
Dessa forma, a brincadeira é de fundamental importância para a criança, na medida em que ela pode transformar e produzir novos significados, o que expressa seu caráter ativo no curso do seu próprio desenvolvimento.
Dessa forma, esse trabalho busca proporcionar reflexões acerca da importância do brincar nas instituições de educação infantil, diferenciando o brincar, brinquedo e jogo, bem como, o papel do educador infantil numa perspectiva de aprendizagem lúdica envolvendo o cuidar e educar.
CUIDAR E EDUCAR NA EDUCAÇÃO INFANTIL
O surgimento das instituições de educação infantil estão relacionadas as necessidades ocasionadas pelas mudanças econômicas, politicas e sociais ocorridas no sec. XIX. Com o crescimento das indústrias e consequente a Revolução Industrial surge a preocupação do cuidado das crianças pequenas a fim de que as mães pudessem se inserir no mercado de trabalho. Após lutas e reivindicações da classe trabalhadora feminina, as fundações de creches surgiram para garantir ás mães o direito de se manterem no emprego sem se preocuparem com os cuidados de seus filhos. O atendimento era assistencialista e a criança não era vista como um ser em desenvolvimento e que precisava ser educado, os cuidados se restringiam às suas necessidades básicas de sobrevivência como enfatiza Covezzi, (2006):
Historicamente, o atendimento escolar da criança dessa faixa etária, sobretudo para criança da classe trabalhadora com faixas salariais mais baixas, foi promovido em creches mantidas por órgãos assistencialistas. Já as crianças das classes médias e/ou alta, o destino eram as escolas privadas, os jardins-de-infância (COVEZZI, 2006, p.53).
No entanto, as transformações sociais ocorridas nas últimas décadas têm proporcionado profundas mudanças na forma de se conceber a infância e consequentemente a Educação Infantil.
Neste aspecto, o Referencial Curricular Nacional de Educação Infantil (2001, p. 21) destaca:
A criança como todo ser humano, é um sujeito social e histórico e faz parte de uma organização familiar que está sendo inserida em uma sociedade, com uma determinada cultura, em um determinado momento histórico. É profundamente marcada pelo meio social em que se desenvolve, mas também o marca. A criança tem na família, biológica ou não, um ponto de referência fundamental, apesar da multiplicidadae de interações sociais que estabelece com outras instituições sociais.
Assim, a concepção da criança como um ser particular, de direitos enquanto cidadão, é que vai gerar as maiores mudanças na Educação Infantil, tornando o atendimento às crianças de 0 a 5 anos ainda mais específico, exigindo do educador uma postura consciente de como deve ser realizado o trabalho com as crianças pequenas, quais as suas necessidades enquanto criança e enquanto cidadão.
“Hoje de forma diferente da que ocorria em sua origem, a educação infantil se apresenta como uma necessidade social, e as discussões em torno de suas funções apontam o cuidar tanto quanto o educar, buscando o desenvolvimento das crianças quer em seus aspectos físicos, que em suas características psicológicas”. (RCNEI, 2001, p.28)
As creches e pré- escolas se constituem, dessa forma, em estabelecimentos educacionais que educam e cuidam de crianças de zero a cinco anos, buscando seu desenvolvimento integral., na qual, o cuidar e o educar são indissociáveis e pressupõe criar espaços que propicie a criança vivenciar situações de socialização, de integração e de adaptação transformados à medida que possibilitem garantir o convívio harmonioso com as diferenças.
O cuidado precisa considerar, principalmente, as necessidades das crianças, que quando observadas, ouvidas e respeitadas, podem dar pistas importantes sobre a qualidade do que estão recebendo. Os procedimentos de cuidado também precisam seguir os princípios de promoção da saúde. Para se atingir os objetivos dos cuidados com a preservação da vida e com o desenvolvimento das capacidades humanas, é necessário que as atitudes e procedimentos estejam baseados em conhecimentos específicos sobre desenvolvimento biológico, emocional, e intelectual das crianças, levando em conta diferentes realidades sócio-culturais (BRASIL, 1998)
Essas considerações nos levam a pensar que o grande desafio, atualmente, é construir dentro da Educação Infantil uma metodologia que contemple as especificidades da infância, de maneira interdisciplinar despertando o interesse das crianças, seu interesse pelo conhecimento de si e do mundo, de forma lúdica e prazerosa. Essas reflexões perpassam, então, pelo papel, ou função, do educador da educação infantil, na importância dele na mediação do conhecimento, pois entendemos que o comprometimento dos educadores deve ser total em relação a sua docência, na ação indissociável entre cuidar e educar, em que se procura o resgate da dignidade humana e a formação da cidadania consciente.
Diante disso, em relação ao sentido do educar, o Referencial Curricular Nacional para Educação Infantil – (RCNEI), diz que educar significa
[...] propiciar situações de cuidados, brincadeiras e aprendizagens orientadas de forma integrada e que possam contribuir para o desenvolvimento das capacidades infantis de relação interpessoal, de ser e estar com os outros em uma atitude básica de aceitação, respeito e confiança, e o acesso, pelas crianças, aos conhecimentos mais amplos da realidade social e cultural (BRASIL, 1998, p.23).
Sobre o cuidar na Instituição de Educação Infantil, compreende-se como parte integrante da educação, de valorizar e ajudar o outro a se desenvolver como ser humano, envolve os cuidados relacionais e os cuidados com os aspectos biológicos do corpo. Cuidar e educar, portanto, pressupõe criar espaços que propicie a criança vivenciar situações de socialização, de integração e de adaptação social para que símbolos e significados possam ser recriados, negociados e transformados à medida que possibilitem garantir o convívio harmonioso com as diferenças, propondo às crianças a participação de vivências culturais diferenciadas.
Dessa forma, cuidar e educar é impregnar a ação pedagógica de consciência, estabelecendo uma visão integrada do desenvolvimento da criança com base em concepções que respeitem a diversidade, o momento e a realidade peculiares a infância. Essa ação dual implica reconhecer que o desenvolvimento, a construção dos saberes, a construção do ser não ocorre em momentos e compartimentos, pois a criança é um ser completo tendo sua interação social e construção como ser humano permanentemente estabelecido em tempo integral. Cuidar e educar significa compreender que o espaço/tempo em que a criança vive exige seu esforço particular e mediação do professor como forma de proporcionar ambientes que estimulem a curiosidade com consciência e responsabilidade
Tendo como eixo principal a criança e seus interesses, a pratica de ensinar deve ser pautada na práxis pedagógica para que o professor possa resignificá-la sempre que necessário visando a construção do aprendizado da criança por meio de experiências vivenciadas. A instituição de educação infantil pré-escolar deve proporcionar situações de cuidados, brincadeiras e aprendizagens que possam contribuir para o desenvolvimento das capacidades infantis, contribuindo para uma relação interpessoal com os outros em uma atitude de aceitação, respeito e confiança na perspectiva de contribuir para a formação das crianças.
APRENDIZAGEM LÚDICA: JOGO, BRINQUEDO E BRINCADEIRA
A ludicidade compreendida a partir do termo lúdico abrange tanto atividade individual e livre como a coletiva e regrada. O lúdico é compreendido como sinônimo de infantil, isso porque toda ação da criança e lúdica, ou seja, imita a realidade em que ela vivencia. Segundo Dantas (2002, p. 113): “[...] exerce-se por si mesma antes de poder integrar – se um projeto de ação mais extenso que a subordine e transforme em seu meio”.
O lúdico revela-se por meio das brincadeiras. Às vezes esquecemos que a brincadeira se constitui num dos raros momentos em que conseguimos trabalhar o desenvolvimento de forma completamente integrada, pois a brincadeira abrange de modo imbricado, tanto a cognição da criança como a psicomotricidade, afetividade e sociabilidade. Desta forma, na educação infantil, a brincadeira deve ser vista como um conteúdo por excelência. É imperativo que se incorpore à pratica educativa uma vivência de ludicidade que veja a criança como um ser histórico e situado, capaz de atribuir novos significados aos objetos.
A brincadeira, especialmente a brincadeira de faz-de-conta, se constitui num poderoso instrumento para a criança realizar a maior tarefa da infância, que é a construção da pessoa.
Andrade (2007, p. 27) citando Kishimoto (1996) afirma que:
As investigações piagetianas, sinalizam a brincadeira como processo assimilativo que participa do conteúdo da inteligência tal como a aprendizagem, que se caracteriza como conduta livre, prazerosa, espontânea, meio pelo qual a criança expressa sua vontade.
Outro aspecto subjacente da brincadeira refere a possibilidade da criança atuar em contexto de trocas sociais e por isso, ter sempre estimulada a sua Zona de Desenvolvimento Proximal. Tal fenômeno é possível porque na brincadeira as crianças levantam hipóteses, resolvem situações problemas, negociam regras de convivência e de conteúdos temáticos, passando a se orientar por um sistema de representações. Segundo Vygotsky: (1989, p. 54).
A brincadeira atua na Zona de Desenvolvimento Proximal e leva a criança a atuar além do seu comportamento habitual agindo como se fosse um adulto, condensando todas as tendências do desenvolvimento, circunscrevendo uma esfera imaginaria de criação das intenções voluntarias de planejamento da vida real e das motivações do pensamento, se tornando uma grande fonte de desenvolvimento.
O conceito de Zona de Desenvolvimento Proximal, figuram as reflexões sobre a importância da imitação como um dos instrumentos psicológicos que, juntamente com a linguagem favorecem o desenvolvimento da consciência simbólica e representativa.
Ao imitar, a criança integra gestos, palavras e movimentos interpretativos da realidade. Desta forma, tem-se que toda a brincadeira em especial a brincadeira simbólica do faz-de-conta, pode ser caracterizada como um sistema complexo de fala e, por isso, deve ser compreendida como orientador da pratica pedagógica da educação infantil com crianças da fase pré-escolar.
O faz-de-conta é uma atividade complexa e constituinte do sujeito, diferente daquelas que caracterizam o cotidiano da vida real, que já aparecem nos jogos de esconde-esconde que ela tem com os adultos, quando aprende que desaparecer, no jogo, não é algo real, mas inventado para poder brincar (OLIVEIRA, 1996). Piaget (1978) ao falar do desenvolvimento do pensamento infantil, diz que a brincadeira do faz-de-conta:
[...] esta diretamente ligada ao símbolo, uma vez que por meio dele, a criança representa ações, pessoas ou objetos, pois estes trazem como temática para essa brincadeira o seu cotidiano ( contexto familiar e escolar) de uma forma diferente de um brincar com assuntos fictícios, contos de fada ou personagens de televisão ( 1978, p. 76).
Para o autor, como a criança ainda não desenvolveu seu pensamento para expressar um conjunto de ideias, então o símbolo assume a função de mediador dando oportunidade a criança de comunicar seu pensamento.
O jogo tem como primeira característica ser ele próprio liberdade, em que a criança tem a oportunidade de ser, sentir e fazer-se livre. Uma segunda característica intimamente ligada à primeira, é que o jogo não é vida corrente nem vida real, trata-se de saída da vida real, para uma esfera temporária de atividade com orientação própria. Toda a criança sabe, perfeitamente, quando esta só fazendo de conta ou quando esta só brincando. Segundo Rojas (2007, p. 47): “A criança constrói os próprios percursos, cria seus espaços, dentro de uma temporalidade irrestrita, traçada espontaneamente.
Kishimoto (1999) em seus estudos ressalta a importância do jogo na educação Infantil, onde procura discutir o significado atual do jogo na educação, sua função lúdica e pedagógica, como também faz uma abordagem histórica dos jogos desde a Roma e Grécia antiga.
A autora observa que os jogos tradicionais foram transmitidos de geração em geração por meio de sua prática, permanecendo dessa forma, na memoria das pessoas, mas, estão sendo esquecidas em função do aceleramento do processo de industrialização e urbanização.
A brincadeira tradicional infantil, afiliada ao folclore, incorpora a mentalidade popular, expressando-se, sobre tudo, pela oralidade. Considerada como parte da cultura popular, essa modalidade de brincadeira guarda a produção espiritual de um povo em certo período histórico. (KISHIMOTO, 1999, p. 38)
Em relação aos jogos tradicionais, Fantin (2000) enfatiza a importância de desenvolvê-los nas instituições de educação infantil, como forma de resgate da cultura.
[...] a criança constrói sua cultura brincando, e os conjuntos de suas experiências lúdicas vão-se acumulando, construindo sua cultura lúdica. Através de experiências com parceiros, observando crianças brincando e manipulando objetos do jogo. A criança vai enriquecendo o jogo em função de suas competências e capacidades. Assim, o desenvolvimento da criança determina as experiências possíveis através da cultura que é resultado do produto social (FANTIN, 2000 p.39).
Dessa forma, com a contribuição da psicologia de cunho sócio- interacionista que vem a estabelecer novos paradigmas para a utilização do jogo nas escolas. Essa concepção acredita no papel do jogo na produção de conhecimento, já que os mesmos estão impregnados de aprendizagem. Isso ocorre, porque ao jogar, os sujeitos passam a lidar com regras que lhe permitam a compreensão do conjunto de conhecimentos veiculados socialmente, permitindo-lhes novos elementos para aprender os conhecimentos futuros.
Andrade (2007) citando Kishimoto (1996), a qual baseando-se em Huizinga ( 1951), aponta as características do jogo produzido pelo meio social, destacando o prazer, o caráter “ não sério”, a liberdade, a separação dos fenômenos do cotidiano, as regras, o caráter fictício ou representativo e sua limitação no tempo e no espaço.
Nessa perspectiva, o jogo ganha espaço como ferramenta ideal de aprendizagem, na medida em que propõe estimulo ao interesse do aluno, ajudando-o a construir suas descobertas, desenvolver e enriquecer sua personalidade e simbolizar um instrumento pedagógico que leva o professor à condição de condutor, estimulador e avaliador da aprendizagem.
Em relação ao brinquedo, Kishimoto (1996) reportando-se a Brougére (1993) diz que é um objeto que representa certas realidades, é um substituto dos objetos reais, para que possa ser manipulado pelas crianças e que também pode representar realidades imaginarias.
A autora diz que Vygotsky dá ênfase à ação e ao significado no brincar. Para ele é praticamente impossível uma criança menor de três anos envolver-se em uma situação imaginaria, porque ao passar do concreto para o abstrato não há continuidade, mas uma descontinuidade e que somente brincando ele vai perceber que um brinquedo pode ser oque ele quer que seja, dando a ele novo significado. Por exemplo quando a criança monta em uma vassoura comparando-a a um cavalo ou transformando uma tampa em um volante de veiculo.
Vygotsky ainda diz que o brinquedo é coisa séria para a criança, pois ela não diferencia o real do imaginário e que dessa forma “ o brinquedo tem grande importância no desenvolvimento, pois cria novas relações entre situações no pensamento e situações reais” (KISHIMOTO, 2003, p.62).
Para separar o significado da ação real, a criança tem que ter a oportunidade de fazê-lo e isso só é possível através da brincadeira. Assim, o agir em uma situação imaginária ensina a criança a dirigir o comportamento pelo seu significado dessa situação. Se, inicialmente a ação exercia um predomínio sobre o significado, na situação imaginaria, o significado dirige a ação. Isso mostra que a criança já esta estabelecendo conceitos.
De acordo com Vygotsky ( apud MALUF, 2003) o brinquedo fornece a estrutura básica para as mudanças das necessidades e da consciência.
Dessa forma, os brinquedos são parceiros silenciosos que desafiam e permitem que as crianças conheçam com mais clareza importantes junções mentais, como o desenvolvimento do raciocínio abstrato e da linguagem, sendo eles suporte para a brincadeira.
Nesse sentido, podemos verificar que o processo de construção do aprendizado será efetivado mediante a participação da criança no ato de brincar. Somente pelo prazer em manusear não é suficiente para justificar a importância do brincar, porem, um papel relevante juntamente com outros fatores, uma vez que leva a criança a separar, pelo menos a principio a realidade da fantasia.
O uso do brinquedo/ jogo educativo com fins pedagógicos remete-nos para a relevância desse instrumento para situações de ensino-aprendizagem e de desenvolvimento infantil. Se considerarmos que a criança pré-escolar aprende de modo intuitivo, adquirem noções espontâneas, em processos interativos, envolvendo o ser humano inteiro com suas cognições, afetividade, corpo e interações sociais. O brinquedo desempenha um papel de grande relevância para desenvolvê-la. (KISHIMOTO, 2003, p.36)
No entanto, Rojas (2007) alerta para o fato de que é preciso que o educador tenha um olhar perceptivo para compreender que a educação é ato intencional. Requer orientação por parte do professor, cujos caminhos podem ser viabilizados por instrumentos e matéria que podem ser utilizados para facilitar a construção do conhecimento por parte da criança, nesse caso, o brinquedo.
Ainda de acordo com a autora, o brincar pode integrar-se às atividades educativas, ocupando lugar nos momentos de aprendizagem, com a tarefa de interagir com a criança por meios de experiências lúdicas. A concepção de brincar como forma de desenvolver a autonomia das crianças requer um uso livre de brinquedos e material, que permita a expressão dos projetos criados pela criança. Só assim, o brincar contribui para a construção da autonomia.
A FUNÇÃO DO EDUCADOR INFANTIL
Conforme Piaget (2003 apud ANDRADE, 2007), o professor tem um importante papel na mediação[1] da relação epistemológica, ou seja, da relação da criança com o conhecimento, assim como na constituição da identidade e da autonomia da criança.
Dessa forma, “quanto mais rica for a experiência vivida pela criança, maior é o material disponível e acessível à sua imaginação” (ROJAS, 2007), assim, é necessidade que o professor amplie as vivencias da criança com o ambiente físico, com brinquedos, brincadeiras e com outras crianças, como forma de promover seu desenvolvimento e aprendizagem.
A utilização de jogos e das brincadeiras potencializa a exploração e a construção do conhecimento, mas o trabalho pedagógico requer a oferta de estímulos externos e a influencia de parceiros, bem como, a sistematização de conceitos em outras situações que jogos ou brincadeiras ( KISHIMOTO, 1999, p. 38).
Portanto, através de jogos e brincadeiras, o professor cria condições para que os processos cognitivos se desenvolvam, tornando-se o agente do processo de potencialização do desenvolvimento. “As experiências lúdicas possibilitam ao educador mediar, conhecer e compreender melhor o desenvolvimento da criança e nesse sentido, a pratica pedagogia busca enfatizar a autonomia e iniciativa do aprendiz” (ROJAS, 2007).
Diante disso, o professor deve ser um bom observador em sua mediação, vendo a criança como pessoa única que possui maneiras próprias de se expressar e se situar no mundo e considerar alguns aspectos que oportunizam o seu desenvolvimento integral.
De acordo com Lima (1997) o papel do professor é de promover ações e interações de qualidade para que a criança tire o máximo de proveito das mediações para o seu desenvolvimento psicológico.
Desse modo, uma boa mediação ocorre quando se respeita o tempo e ritmo da criança, os espaços disponibilizados a ela, a atenção à sua cultura e formação de identidade cultural, o estímulo a comunicação e desenvolvimento de outras linguagens, permitindo-lhe elaborar ideias, imaginação e fantasia (ZABOT, 2011).
Assim, é necessária uma busca constante do professor e uma competência polivalente, significando que compete a si, trabalhar os conteúdos de natureza diversa e que abrangem cuidados básicos essenciais até conhecimentos específicos provenientes das áreas do conhecimento, sendo que educador infantil polivalente demanda:
Uma formação bastante ampla do profissional que deve torna-se ele também um aprendiz, refletindo constantemente sobre sua prática, debatendo com seus pares, dialogando com famílias e a comunidade e buscando informações necessárias para o trabalho que desenvolve. ( RCNEI, 2001, P. 52).
Portanto, a função real do professor é exercer o papel mediador, e que também está relacionado diretamente à ideia da construção do conhecimento, tanto como orientador do planejamento pedagógico, quanto da seleção e tratamento dos conteúdos curriculares. Para tanto, os profissionais que atuam na Educação Infantil precisam ter assegurados seus próprios direitos a uma educação que lhes permita serem autônomos “ críticos e aptos para tomar decisões no exercício da profissão” Kishimoto (2002), e um dos requisitos é o enriquecimento do cotidiano infantil o que somente ocorre com uma boa formação profissional.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
A realização desse trabalho intencionou contribuiu para ampliação dos conhecimentos acerca da educação infantil, como também ocasionar reflexões sobre a importância do brincar para as crianças pequenas, pois, por meio das atividades lúdicas ela explora e conhece o mundo a sua volta e “a medida que vivenciam experiências com outras crianças, ela também desenvolve seu raciocínio, enriquece suas relações com o mundo e com os outros (FORTUNA, 2012.)
Mesmo sem a intenção de aprender, quando brinca, a criança aprende, pois a “brincadeira é atravessada pela aprendizagem”(ROJAS, 2007), Dessa forma, percebe-se a importância do educador infantil, no sentido de conhecer as especificidades da educação infantil, como forma de possibilitar atividade que contribuam com seu desenvolvimento, sendo mediador nesse processo.
É importante destacar também as mudanças ocorridas nas instituições infantis, as quais se tornam espaços educativos, objetivando o desenvolvimento integral da criança em todos os seus aspectos através do cuidar e educar e para isso, tão importante como conhece a criança, o professor precisa ter o conhecimento das teorias que orientam metodologicamente o trabalho que é desenvolvido pela instituição, como também compreender a função lúdica na aprendizagem infantil.
Contudo, pensar em educação infantil, é perceber a necessidade de re-significar as práticas pedagógicas, aliadas as teorias educacionais numa convergência de significados para que a escola possa cumprir seu papel social e educativo através de experiências inovadoras, buscando despertar um novo fazer pedagógico, sem desvirtuar ou simplificar os intercâmbios simbólicos que a sala de aula representa.
BIBLIOGRAFIA
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[1] Mediação é o processo de intervenção de um elemento intermediário numa realização; a relação deixa, então de ser direta e passa a ser mediada por esse elemento. ( OLIVEIRA, 2009, p. 28)