Educação Física, saúde e qualidade de vida
Por Alfredo Antunes | 08/12/2009 | SaúdeProf. Ms. Alfredo Cesar Antunes
Historicamente, a Educação Física apresentou diversos objetivos de acordo com as várias concepções e tendências que foram se desenvolvendo em diferentes épocas, localidades, interesses particulares, culturas e tradições, necessidades, etc.
Sobral (1985), por exemplo, identifica sete concepções na Educação Física nos séculos XIX e XX (desportivismo inglês, naturalismo, nacionalista, científica, escolas rítmicas, fisiologismo e a psicomotricidade) com objetivos diversos (ideológicos, patrióticos, educacionais, motores, biológicos, etc) da Educação Física nos séculos XIX e XX. É destacado também por Sobral, a partir de 1900 objetivos distintos em relação à América do Norte e países da Europa. Entre esses objetivos está a saúde e higiene, aptidão física, relações humanas e aspectos mentais, emocionais e sócio-educativos.
Com relação ao Brasil, Ghiraldelli (1988) mostra cinco tendências da Educação Física, quais sejam, a Educação Física higienista, militarista, pedagogicista, competitivista e popular com objetivos de saúde, bélico, educacional, competição e ideológico, respectivamente.
A Educação Física se caracterizou e se caracteriza por uma ampla variedade de objetivos. Essa abrangência dificulta o estabelecimento de matrizes teóricas e de parâmetros para seu campo de atuação. Na realidade, os objetivos da Educação Física podem ser propostos nas áreas da saúde, aptidão física, lazer e recreação, prática desportiva, expressão corporal, aprendizagens escolares, reabilitação física e educação especial. Se perguntássemos para um grupo de pessoas o que é Educação Física, as respostas seriam muito variadas. Betti (1991), citando Zeigler e Varder-Zwagg, diz que o termo Educação Física pode significar:
“
2. O processo de tornar-se fisicamente educado (ou aprendizagem) que ocorre com o aluno ou criança (ou pessoa de qualquer idade).
3. Os resultados, reais ou pretendidos de 1e 2.
Parlebas e Cagigal, citados por Tojal (1994), afirmam que a diversidade de entendimentos, concepções, objetivos e terminologias se justapõem na área, de qualquer modo, sem nenhum critério lógico, fragmentando a área e alertam para a necessidade de harmonização dos objetivos para obter-se uma homogeneidade de organização e ação.
Segundo Lovisolo (1995), a Educação Física não possui um objeto próprio específico, e sim um amplo leque de demandas para a atuação dos seus profissionais (saúde, estética, recreação, nacionalismo e treinamento esportivo e atividades corporais na educação formal), dessa forma, os educadores físicos acabam discordando entre si dos seus métodos, e o que é mais sério, dos seus objetivos.
Dado o exposto, percebe-se que não existe um consenso sobre os objetivos da Educação Física. Porém, a saúde entendida de maneiras diferentes, de acordo com as concepções e tendências, sempre esteve presente no desenvolvimento da Educação Física, ou seja, a existência da Educação Física sempre esteve ligada à obtenção e melhoria da saúde.
Além das tendências e concepções mostradas anteriormente diversos documentos oficiais elaborados, nacional e internacionalmente enfatizavam o desenvolvimento e manutenção da saúde e o vigor físico e consolidaram a idéia da atividade física como saúde. Como exemplo existem o Manifesto Mundial do Esporte (1964), Carta Européia de Esporte para Todos (1966), Manifesto Mundial de Educação Física (1971), Carta Internacional de Educação Física e Esporte (1978), Recomendações sobre Educação Física e Desportos aos Estados Membros da Unesco (1976), Parecer CFE 215/87, além das campanhas televisivas de Esporte para Todos.
Historicamente também houve a interferência dos médicos e militares na área da Educação Física, ambas instituições tiveram como objetivos a higienização da sociedade, onde estavam implícitos a saúde e vigor dos corpos, (mente sã em corpo são). Mas a saúde era entendida apenas como biológica, ou seja, ausência de doenças. Atualmente, seu conceito evoluiu, passando a ser entendida como bem estar físico, mental e social. Porém, segundo Carvalho (1995), ainda hoje verifica-se um discurso higienista reformulado, onde o conceito de saúde e doença fundamenta-se em outros preceitos.
Atualmente, com relação a pesquisa aplicada e ao aspecto profissional da área um dos objetivos mais desenvolvidos e mais estudados é o dos benefícios da atividade física para a saúde.
REFERÊNCIAS
BETTI, M. Educação Física e sociedade. São Paulo: Movimento, 1991.
BRASIL. Conselho Federal de Educação. Resolução CFE n.3. Documenta, 315, 183-5, 1987a.
CARVALHO, Y.M. O mito da atividade física e saúde. São Paulo: Ed. Hucitec, 1995.
GUIRALDELLI JR, P. Educação Física progressista: a pedagogia crítico-social dos conteúdos e a educação física brasileira. São Paulo: Edições Loyola, 1988. 64p.
LOVISOLO, H. Educação física: a arte da mediação. Rio de Janeiro: Sprint, 1995. 152p.
SOBRAL, F.
Introdução à educação física. Lisboa: Livros Horizonte, 1985.
TOJAL, J.B.A.G. Currículo de graduação em educação física: a busca de um modelo. Campinas: Editora da Unicamp, 1989. 98p.
_____. Motricidade humana: o paradigma emergente. Campinas: Editora da Unicamp, 1994. 193p.