Educação Especial e Tecnologia: A Utilização de Softwares na Educação Especial
Por Lucia Grande Conrado | 23/07/2009 | EducaçãoNos dias atuais a importância da tecnologia na área da educação esta crescendo cada vez mais e é muito discutida, e quando falamos de educação especial ela se torna quase obrigatória, uma vez que muitas pessoas dependem desse meio para ter acesso ao aprendizado e adquirir as habilidades básicas que são de direito de todo cidadão. Conciliar a educação especial com a tecnologia é garantir o direito de acesso ao conhecimento, dando ao indivíduo uma chance de mostrar seu potencial como qualquer cidadão perante a sociedade.
Palavras-chave: Tecnologias, educação especial, inclusão escolar e digital.
Abstract
Nowadays the importance of technology in education is growing increasingly and is much discussed, and when we talk about special education it becomes almost mandatory, since many people depend on that environment to have access to learning and acquiring skills are basic rights of every citizen. Bringing special education with technology is to ensure the right of access to knowledge, giving the individual a chance to show their potential as citizens in any society.
Keywords:Technology, special education, school education and digital inclusion.
Introdução
Podemos discutir a seguinte questão para iniciarmos este texto: a pessoa com necessidades educacionais especiais, ou seja, com distúrbios de aprendizagem(DA), Deficiência Intelectual(DI), Transtornos Globais do Desenvolvimento (TGD), Superdotação/Altas habilidades, alunos com transtornos de atenção com ou sem hiperatividade (TDAH/ TDA), consegue se desenvolver cognitivamente e interagir socialmente auxiliada por softwares educativos?
Percebemos que neste século, a humanidade convive com uma valiosa ferramenta: o computador. Hoje em dia, ele vem servindo a Educação com seus programas educativos, jogos, enciclopédias, entre outros softwares, que geram toda uma gama de utilidades informacionais. Não vivemos mais em cenários monocromáticos ou sem sonoridade e, sim, em cenários culturais democráticos, coloridos e multi sonoros. Tais condições levam a infinitas criações, originalmente abertas a todas as crianças, estabelecendo projeções futuras de seres humanos conscientizados, comunicativos, expressivamente produtivos em suas ocupações, em seus lares e em suas comunidades.
Paralelamente a isso, a atual Lei de Diretrizes e Bases para a Educação Nacional, Lei nº 9.394, de 20-12-1996, trata, especificamente, no Capítulo V, da Educação Especial.
Modalidade de educação escolar, oferecida preferencialmente na rede regular de ensino, para pessoas com necessidades educacionais especiais.
Assim, ela perpassa transversalmente todos os níveis de ensino, desde a educação infantil ao ensino superior. Esta modalidade de educação é considerada como um conjunto de recursos educacionais e de estratégias de apoio que estejam à disposição de todos os alunos, oferecendo diferentes alternativas de atendimento.
O texto refere-se às características desta modalidade de ensino a ser fornecida pelas escolas a todos os indivíduos portadores ou não de necessidades especiais. Diante desse compromisso, criar condições de aceitação e integração da criança especial na escola vem sendo objeto de estudos e de pesquisas interdisciplinares, e o computador tem sido identificado como uma poderosa ferramenta educacional para esse fim. Ele tem sido considerado por profissionais que atuam na Educação Especial como um instrumento de trabalho com o qual a criança resolve problemas, escreve, desenha, programa, desenvolve procedimentos, e executa comandos de ação. Inclusão Educacional e Digital Sempre que falamos em Educação Especial, necessitamos falar sobre a Inclusão. Carvalho (1999) apresenta o conceito de inclusão como um processo de educar conjuntamente e de maneira incondicional, nas classes do ensino comum, alunos ditos normais com alunos – portadores ou não de deficiências – que apresentem necessidades especiais. Assim, podemos dizer que cultivando valores como o respeito à diferença, à cooperação e à solidariedade entre as pessoas, conquistamos o direito e o acesso a recursos e serviços da sociedade de forma igualitária. Ainda sobre a Inclusão escolar, Martins (1996, p.30) argumenta que: [...] a integração escolar não é um processo rápido, automático, ou fácil. Ela representa, também, um desafio a ser enfrentado, no âmbito da escola regular. Vai requerer um ensino individualizado, de acordo com as capacidades de cada aluno – seja ele considerado portador de deficiência ou não. Vai requerer que a escola se prepare cada vez mais, para trabalhar com as diferenças, deixando de lado o seu caráter eminentemente seletivo.
Ou seja, que se desenvolvam procedimentos metodológicos e de avaliação, de acordo com a capacidade e as necessidades dos alunos deficientes, dentro de um ambiente flexível, sem, no entanto, prejudicar o ritmo de aprendizagem dos demais alunos da classe.
No que se refere à tecnologia, Capovilla, Gonçalves e Macedo (1998), o que se pretende é que a tecnologia não se especialize em problemas, mas na problemática humana, e que ao solucionar um problema não esteja discriminando esta ou aquela pessoa, mas buscando "universalmente" as situações com que se deparam os seres humanos para se ajustarem, ao que lhes é externo, garantindo-lhes a participação plena no meio em que vivem. Para Dolle (1999), aprender significa "saber ter sucesso" e conhecer significa compreender e diferenciar as relações e atribuir significações aos objetos e às ações. Portanto, aprender é interiorizar os elementos novos, administrá-los e ordená-los, segundo os princípios observados durante a ação. Nos dias atuais, a utilização da tecnologia como instrumento de aprendizagem e busca do conhecimento vem crescendo rapidamente e progressivamente. Essa tecnologia moderna vem para ampliar a expressão humana e sua comunicação, tanto em nível qualitativo quanto quantitativo, modificando sua forma de receber, armazenar e transmitir a informação. A presença do computador significa para Papert (1994) o advento da era da aprendizagem. Abrem-se horizontes para o fortalecimento de muitas culturas de aprendizagem e para que se cultive o respeito entre elas e os diferentes modos de ser de cada educando. A psicopedagogia corrobora a importância do computador, Oliveira diz que a psicopedagogia propõe-se a oferecer ao sujeito com distúrbios de aprendizagem um ambiente novo e um tipo de relação aluno-educador diferentes daqueles característicos da escola tradicional. Por isso, num contexto em que o instrumento utilizado para favorecer a aprendizagem é um computador (contando com um software para auxiliar nas atividades) o interesse de aprender pode ser fortalecido. Partindo do construtivismo piagetiano, Papert (1994) propõe o desenvolvimento de uma vertente pedagógica construcionista (enfoque epistemológico construtivista com adaptações ao ambiente computacional). Segundo Valente e Freire (2001), o construcionismo é definido como a construção do conhecimento do educando por meio de uma ação que gera um projeto de seu interesse pessoal e que se relaciona com a realidade do sujeito que o desenvolveu. A diferença entre o construtivismo e o construcionismo é a presença relevante do computador. Neste enfoque o educando constrói algo de seu interesse, utilizando a ferramenta (computador) que irá auxiliá-lo na elaboração de um trabalho. Entende-se em termos gerais nesta visão, que as pessoas ao descobrirem por si próprias um conhecimento terão mais possibilidades de êxito em obter outros conhecimentos. É com esse sentido que Papert (1994) cita um antigo ditado popular: "se um homem tem fome, você pode dar-lhe um peixe, mas se lhe der uma vara e ensiná-lo a pescar ele nunca mais sentirá fome". Segundo Oliveira (1996), a informática é vista como favorável à atividade cognitiva de estruturação das representações do conhecimento e, também, no desenvolvimento emocional. É um recurso para que as crianças com dificuldades de aprendizagem possam, apesar de suas deficiências e limitações, desenvolver suas potencialidades cognitivas e as possibilidades que lhes são próprias. Na Educação Especial, os programas mais utilizados hoje são os jogos, direcionados à criança, dependendo de sua idade cronológica e de suas restrições físicas e/ou cognitivas. Os jogos de computador apresentam aspectos relevantes os quais são: a necessidade de concentração e atenção, o desenvolvimento da capacidade indutiva, espacial e visual, e o tratamento paralelo de informações dadas. Além desses aspectos considerados, Bogatschov (2001) comenta que os jogos de computador também promovem situações favoráveis à aprendizagem, pois permitem condutas de cooperação, perseverança, envolvimento com a atividade, organização e autonomia. O uso de elementos lúdicos na educação prevê a utilização de práticas pedagógicas agradáveis e adequadas aos alunos. O aprendizado deve acontecer dentro de um ambiente que seja agradável e atrativo aos educandos, além de respeitar os diferentes níveis de raciocínio, bem como sua singularidade e as habilidades que são próprias de cada etapa do desenvolvimento humano. Piaget (1998) salienta que a criança que joga desenvolve suas percepções, sua inteligência, suas tendências à experimentação, seus sentimentos sociais. O jogo é um meio poderoso para a aprendizagem da criança, e porque não aplicá-lo na iniciação à leitura, ao cálculo, ou à ortografia, levando as crianças a se apaixonarem por essas ocupações, que de outra forma lhes seriam "chatas" e incômodas. Segundo Papert (1994), os jogos no computador envolvem conceitos e estratégias que a escola, com todas as suas atividades, não consegue criar. Isso exige do educando um esforço intelectual e um nível de aprendizagem muito superior às velhas lições de casa. Um ponto de extrema relevância é a escolha do software que será utilizado no processo de resgate/desenvolvimento da criança. Podemos definir como Softwares Educacionais os programas que se adaptam à proposta pedagógica de cada instituição de ensino. Valente e Freire (2001) criticam as formas de utilização dos programas de computador na Educação Especial dizendo que a maioria dos softwares educacionais, usada na educação especial, não tem como objetivo o desenvolvimento da autonomia do educando. As abordagens adotadas, geralmente, partem do pressuposto de que a criança com necessidades educacionais especiais apresenta baixa capacidade mental ou não tem inteligência suficiente para aprender e, por isso, as atividades propostas a ela devem ser condizentes com esse quadro. Dentro de uma abordagem construcionista temos que pensar na educação especial como o desenvolvimento da autonomia e das potencialidades dos sujeitos, independente do grau de suas necessidades educacionais especiais. Os programas de computador indicados são aqueles que visam estimular o raciocínio e motivar a criança para querer aprender. Nesses contextos educacionais, para a interação entre o saber científico e o jogo, é necessário que na execução da brincadeira o professor envolva o trabalho com conhecimentos ou que selecione o jogo mais adequado à sua prática pedagógica. Com a utilização dos softwares o professor pode propiciar aos alunos a socialização, desenvolver a criatividade e a imaginação, memória, atenção, além de proporcionar oportunidades de auto-conhecimento, de descobertas de potencialidades, promover a formação da auto-estima e a prática de exercícios de relacionamento social. Mas, para que isso ocorra de forma correta, o professor deve estar convencido de que o jogo é um instrumento afetivo e cognitivamente significativo e que pode trazer enriquecimento na sua prática pedagógica. CONSIDERAÇÕES FINAIS Pode-se afirmar que a utilização de softwares na Educação Especial tem o objetivode Inclusão, tanto escolar quanto digital. Trabalhando com os softwares corretos em cada caso, pode-se diminuir a exclusão e mostrar ao mundo que não são apenas padrões físicos que devem ser levados em conta, mais sim éticos, morais e intelectuais. Uma pessoa com necessidades educacionais especiais pode sim realizar muitas tarefas, só que para isso terá muitas vezes a necessidade de uma ferramenta diferente, o computador. Portanto não importa como você faz algo, mais sim o que faz, como faz e como supera as dificuldades. Referências CARVALHO, Rosita Edler. Integração e inclusão: do que estamos falando? In: BRASIL. Ministério da Educação. Secretaria de Educação à Distância. Salto para ofuturo: educação especial: tendências atuais. Brasília, DF, 1999. (Série de Estudosda Educação a Distância). CAPOVILLA, Fernando Cesar; GONÇALVES, Maria de Jesus e MACEDO, Elizeu Coutinho (Orgs.). Tecnologia em (Re)Habilitação Cognitiva: uma perspectiva multidisciplinar. São Paulo, 1998. DOLLE, Jean-Marie e BELLANO, Denis. 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