Educação em Ciclos na Periferia de Salvador: Entraves no 3º ano do fundamental 1

Por Ivana Machado Requião | 30/10/2023 | Educação

EDUCAÇÃO EM CICLOS NA PERIFERIA DE SALVADOR: entraves no 3º ano do ensino fundamental [1]

 

Ivana Machado Requião[2]

 

RESUMO

 

O presente trabalho investiga as causas do fracasso escolar nas classes do terceiro ano do Ensino Fundamental, no sistema de ciclos, em três escolas do bairro de Pau da Lima, Salvador, Bahia. Recorre à pesquisa bibliográfica, documental e de campo, através da observação direta das práticas educativas, levantamento por inquérito, mediante aplicação de questionário, bem como, entrevistas a gestores, professores e coordenadores, tomando por base metodológica a pesquisa qualitativa e quantitativa. Para embasar teoricamente esta pesquisa foram utilizados alguns nomes como: Perrenoud, Mainardes e Freire. Os resultados demonstraram que as reais causas do insucesso escolar dos educandos estão atreladas, a um conjunto de agravantes relacionados à infraestrutura das escolas pesquisadas; à baixa participação das famílias na escola no acompanhamento do desempenho dos seus filhos; a algumas diretrizes/políticas públicas que não se adequam à realidade local e às práticas docentes, que nem sempre estão ajustadas às reais necessidades dos alunos. Diante dos estudos realizados, podemos concluir que a escola tem necessidade urgente de intervenções pedagógicas em todos os segmentos, com vistas a prestar o devido apoio aos discentes desta área tão carente, de modo que os educandos possam ser trabalhados no sentido de adquirir a sua própria autonomia.

 

Palavras-chave: Educação em ciclos. Periferia. Fracasso escolar. Desempenho dos estudantes.

INTRODUÇÃO

 

A organização do ensino em ciclos ganhou maior intensidade na cidade de Salvador em 2007, tendo como principais metas, diminuir as excessivas taxas de reprovação escolar e promover uma educação de qualidade.

O fator motivador desta pesquisa, concentrou-se no fato de investigar as causas do baixo desempenho escolar dos alunos do terceiro ano do ensino fundamental, por ser o segmento com maior índice de repetência.

Devido ser esse o regime adotado para a educação no Município de Salvador é importante que se faça uma breve abordagem sobre o assunto. Dessa forma, ao analisar a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDBEN 9394/96) verifica-se que ela apresenta a possibilidade de os sistemas de ensino optarem pelo regime de ciclos, conforme está estabelecido no seu artigo 23:

A educação básica poderá organizar-se em séries anuais, períodos semestrais, ciclos, alternância regular de períodos de estudos, grupos não- seriados, com base na idade, na competência e em outros critérios, ou por forma diversa de organização, sempre que o interesse do processo de aprendizagem assim o recomendar (BRASIL, 1996, p.1).

 

            A partir destas disposições propostas pela LDBEN, na Rede Municipal de Educação de Salvador, o Ensino Fundamental de Nove Anos foi regulamentado pelo Conselho Municipal de Educação, no ano de 2007, através da Lei 012/2077, dispondo sobre a organização do ensino em dois ciclos de aprendizagem, denominados de Ciclo de Aprendizagem 1, com a duração de três anos e Ciclo de Aprendizagem 2, com a duração de dois anos.

Conforme estrutura de ensino proposta pela Secretaria Municipal de Educação de Salvador, o educando terá a oportunidade de construir a base alfabética durante seu primeiro ciclo, que corresponde ao 1º, 2º ou 3º ano de escolarização.

Quanto à progressão continuada ela acontece na mudança de um ano para o outro, havendo retenção apenas nos segmentos do 3º e do 5º ano do Ensino fundamental 1. Segundo Perrenoud (2004), o ciclo de aprendizagem corresponde a uma reordenação de uma sequência de segmentos anuais, que pode ser organizado em ciclos com duração de dois, três, quatro ou cinco anos, de acordo com o ritmo dos educandos.

De acordo com Mainardes (2009), a escola sistematizada em ciclos dispõe de certo grau de complexidade, pois está composta de justificativas de cunho filosófico, político, psicológico, antropológico e sociológico. Nesta perspectiva, as justificativas de caráter filosófico e político passam a ideia de que os ciclos permitem ampliar o direito à educação, fortalecendo os processos democráticos e diminuindo a exclusão escolar. Enquanto os fundamentos psicológicos, trazem a concepção de que a escola deve atender às diferenças individuais, de modo que a não reprovação fortalece a autoestima do educando, enquanto que a diversidade de ritmos enriquece a troca entre os alunos, possibilitando que possam desempenhar um papel mais ativo na construção de suas aprendizagens. No que se refere aos aspectos antropológicos, para Mainardes (2007), a ideia defendida é de que o papel da escola é contemplar o desenvolvimento pleno do educando. Dentre os aspectos sociológicos, de acordo com Mainardes (2007), a escola em ciclos favorece um ambiente menos seletivo, no qual diferentes grupos podem conviver de forma significativa com aprendizagem colaborativa.

Assim sendo, percebe-se a amplitude do problema, que permeia não apenas o âmbito da sala de aula, mas abrange também a esfera das políticas públicas, pois, de acordo com Perrenoud (2004, p. 32):

 

O fracasso de uma fração importante de cada geração é, pois, de alguma forma, “programado”. É inútil se esgotar em desenvolver ciclos de aprendizagem, percursos individualizados e pedagogias diferenciadas se não se atacam os princípios que subentendem o currículo da educação fundamental.

 

A partir desta afirmação, pode-se entender que existem diversos fatores que prejudicam o bom desempenho escolar desses alunos, que não estão apenas atrelados à prática do professor, mas que permeiam outras esferas e que precisam ser combatidos de modo a promover um melhor desempenho nos educandos neste segmento de ensino.

Este trabalho tomou por base metodológica a pesquisa qualitativa, quantitativa e utilizando a modalidade da pesquisa exploratória, realizando uma revisão literária do acervo existente sobre o tema.

Para Gil (2008), a pesquisa exploratória favorece maior familiaridade com o problema, para assim torná-lo mais explícito, podendo construir hipóteses. Esse tipo de pesquisa envolve o levantamento bibliográfico, entrevistas com pessoas que apresentem experiências práticas sobre o problema e análise de exemplos que facilitem a compreensão.

A coleta dos dados foi feita por meio de levantamento por inquérito, mediante aplicação de um questionário a gestores, professores e coordenadores, complementado por entrevistas.Também recorremos à observação direta das práticas educativas em contextos de escolas cicladas.

De acordo com Gil (2008), o levantamento dos dados na pesquisa exploratória ocorre mediante a solicitação de informações de um grupo significativo de pessoas acerca do problema a ser estudado, para posteriormente obter as  respostas aos dados coletados.

A área delimitada escolhida para a realização da pesquisa está situada no bairro periférico de Pau da Lima, Salvador, Bahia e se deu por conta deste bairro possuir um numeroso contingente de educandos oriundos de classe menos favorecida, desprovidos de um devido acompanhamento das famílias e em situação de risco.

               Em termos estruturais, a pesquisa foi organizada da seguinte forma: 1.Visita às escolas envolvidas na pesquisa, com apresentação da proposta de trabalho a toda a equipe gestora e pedagógica, com distribuição do instrumento (questionário) e dos termos de anuência e de consentimento dos participantes (em anexo); 2. Coleta dos dados; 3. Tabulação dos dados; 4. Análise dos dados; 5.Projeto de Intervenção realizado com os professores, gestores e coordenadores envolvidos na pesquisa; 6. Resultado da pesquisa.

Foram aplicados questionários com três gestoras, duas coordenadoras e dezenove professores de três escolas da Rede Municipal de Educação, considerando alguns aspectos da escola e dos educandos. Para enriquecer as informações foram realizadas ainda entrevistas com duas professoras que trouxeram contribuições relevantes acerca da temática.

Os dados obtidos a partir dos questionários foram tabulados por escola, as quais foram denominadas por meio das letras W, Y, Z. Os dados obtidos por meio das entrevistas foram categorizados e, passando após isto, por uma análise criteriosa por escola, o que possibilitou a realização do Projeto de Intervenção dentro da modalidade da pesquisa-ação.

               Os dados coletados passaram por uma organização criteriosa para assim facilitar sua análise, pois, de acordo com Marconi e Lakatos (2007) antes do procedimento de análise e dos resultados, os dados precisam seguir os passos da seleção, codificação e da tabulação. 

            A referida pesquisa foi dividida em cinco categorias que estão de acordo com os objetivos propostos, são elas: Categoria A: Fracasso escolar; Categoria B: Infraestrutura das escolas pesquisadas; Categoria C: Participação das famílias na escola; Categoria D: Políticas Públicas; Categoria E: Aprendizagem dos alunos.

 

O CONTEXTO DA PESQUISA

 

A presente pesquisa foi realizada em três escolas cicladas, representadas pelas letras: W, Y, Z, localizadas na cidade de Salvador, no bairro periférico de Pau da Lima, atendendo a uma população bastante carente do Ensino Fundamental 1, com idades que variam, nos turnos matutino e vespertino, entre seis e catorze anos. Em cada Unidade Escolar foram entregues o Termo de Anuência e o Termo de Consentimento, que estão devidamente assinados pelos participantes, que responderam a um questionário semiestruturado que permitiu contemplar todos os itens propostos neste trabalho.

A partir da análise dos dados coletados, verifica-se que 100% dos envolvidos possuem formação superior, todos são especialistas em educação e atuam diretamente com o contexto escolar, fato que é relevante à realidade do contexto local.

 

 CATEGORIAS ANALISADAS

 

a - fracasso escolar

 

A.1 Desempenho dos educandos

  

A partir da análise dos dados das três unidades escolares pesquisadas, pode-se verificar que o desempenho escolar dos educandos do 3º ano ainda apresenta um percentual abaixo do esperado de acordo com os pesquisados, fato que requer uma atenção especial no que se refere à Pedagogia Diferenciada, conforme o quadro abaixo:

 

Gráfico 1 - Desempenho dos educandos nas escolas pesquisadas

 

INSATISFATÓRIO

REGULAR

BOM

 

LEGENDA

 

Fonte: Dados obtidos pela autora durante a pesquisa

 

 

Nesta perspectiva, verificamos que mais da metade dos educandos das escolas pesquisadas, ainda encontra-se com o seu desempenho regular, poderia haver um avanço mais significativo se houvesse um trabalho mais voltado para o atendimento individualizado dos educandos nas suas disciplinas críticas.

Cabe aqui um pressuposto de Freire (2006), ao afirmar que existe um mediador para isto, o professor que pode assumir uma postura crítica diante da realidade social e compreendê-la para que ocorra um melhor desempenho no seu ensino e desta maneira resultar no desempenho satisfatório dos estudantes.

 

 

A.2 Índice de reprovação e sua relação com a práxis docente

 

De acordo com os resultados desta pesquisa, 50% dos professores indicam que a prática docente de alguma forma influencia no fracasso escolar do alunado. Isto vem confirmar a necessidade de ações urgentes no sentido de mudar o atual panorama educacional.

Nesta perspectiva, conforme descreve Perrenoud (2004), as reformas só mudam a escola se elas têm efeitos duradouros na formação de professores. Esta formação pode ser entendida como tomada de consciência, com vistas a construir novas representações, competências e formas de fazer da práxis docente.

O gráfico 2 a seguir, apresenta, no resultado da pesquisa, a relação entre a prática docente e a reprovação dos alunos das três escolas em foco, demonstrando  que  metade dos professores confirmam sua influência direta na conservação dos alunos no segmento do 3º Ano do Ensino Fundamental; enquanto que 40% dos educadores não consideram sua atuação em sala de aula responsável pela reprovação dos discentes e apenas 10% acredita que a sua prática acaba por interferir um pouco no resultado final dos estudantes.

 

 

 

B - INFRAESTRUTURA DAS ESCOLAS

 

                Nesta segunda categoria, foi analisada a questão da influência da infraestrutura das escolas pesquisadas no desempenho dos educandos, haja vista que entre os docentes são constantes os comentários acerca deste assunto.

 

B.1 Influência da infraestrutura das escolas no desempenho dos educandos

           

De acordo com os resultados da presente pesquisa, constatamos o recorte da realidade local no qual os envolvidos afirmam que as deficiências na infraestrutura das unidades escolares também repercutem no fracasso escolar dos estudantes, conforme está descrito na tabela a seguir.

 

Tabela 1 - Influência da Infraestrutura das escolas no desempenho dos educandos

 

ESCOLAS

           SIM

           NÃO

UM POUCO

Escola W

           50%

           43%

         7%

Escola Y

           80%

           20%

         0%

Escola Z

           57%

           0%

         43%

Fonte: Dados obtidos pela pesquisadora através do instrumento de pesquisa.

 

 

De acordo com FUNDESCOLA/MEC (2006) o espaço escolar é mais do que quatro paredes; é clima, espírito de trabalho, produção de aprendizagem, sentimentos, movimentos no sentido da busca do conhecimento; tem que despertar interesse em aprender; além de ser alegre aprazível e confortável, tem que ser pedagógico.

Nesta perspectiva, o ambiente escolar precisa estar adequado para atender aos estudantes, considerando os aspectos básicos. O espaço escolar precisa ser confortável, de modo que os discentes e docentes sintam-se bem acolhidos nele.

A partir da observação direta nas escolas pesquisadas é possível fazer uma avaliação da estrutura física das mesmas. Assim, a escola W dispõe de um maior espaço físico. Possui onze salas de aula, uma secretaria, uma direção, um refeitório, uma sala de informática oito sanitários - quatro masculinos e quatro femininos -, além de uma ampla área livre descoberta. No entanto, os professores queixam-se de que as salas são abafadas, pelo fato de não possuírem janelas e não serem climatizadas, fato que no decorrer dos dias mais quentes incide na inquietação e falta de concentração dos alunos durante a realização das suas atividades escolares.

A estrutura física da escola Y contempla 7 salas mais amplas, uma pequena sala da direção, uma secretaria, uma sala para coordenação, uma sala de informática, um refeitório, seis sanitários - três masculinos, três femininos - e uma área para recreação, também coberta. Os professores desta unidade escolar também reclamam da estrutura física, quanto à ventilação dos departamentos internos da instituição.

A escola Z funciona no subsolo de uma instituição religiosa. Possui uma sala para direção, uma secretaria, uma pequena sala para coordenação, uma sala para os professores, 08 sanitários. Dispõe apenas de quatro salas de aula relativamente amplas, mas que não podem ficar com as janelas abertas, devido ao barulho proveniente da escola vizinha, que atende a educandos do ensino fundamental II e do nível médio. É importante ressaltar que as duas escolas são separadas apenas por uma grade de ferro e não muros; isto traz um certo desconforto para ambas, pois precisam do silêncio para desenvolver as atividades pedagógicas.

Dentro do contexto das três escolas envolvidas nesta pesquisa, está bem clara a insatisfação de todas elas quanto ao ambiente das salas de aulas. Isto porque o espaço pedagógico requer melhor acomodação e refrigeração para que o processo de ensino-aprendizagem dos alunos não seja afetado, mas que possa fluir com as condições ambientais adequadas.

            Sátyro (2008), apresenta que a infraestrutura da escola pode influenciar significativamente sobre a qualidade da educação. Sendo assim importante conhecer as condições das escolas do Brasil.

            Nesse contexto, é preciso realmente haver uma pesquisa cuidadosa por parte dos órgãos competentes acerca da estrutura física das escolas, no sentido de verificar as possíveis irregularidades e saná-las, de modo a oferecer um ambiente mais propício à aprendizagem dos estudantes.

 

C - PARTICIPAÇÃO DA FAMÍLIA NA ESCOLA

 

C.1 Presença dos pais na escola

 

As instituições pesquisadas assinalaram que a frequência dos pais, apesar dos esforços da equipe gestora e pedagógica, no sentido de aproximá-los com ações sociais, ainda não é satisfatória, como apresenta a tabela a seguir.

 

 

 

Tabela 2 - Presença dos pais na escola

ESCOLAS

           SIM

         NÃO

ÀS VEZES

Escola W

            28%

         36%

        36%

Escola Y

             _

         _

        100%

Escola Z

             _

         _

        100%

Fonte: Dados obtidos pela autora através do instrumento de pesquisa.

 

D - POLÍTICAS PÚBLICAS

           

D.1 Promoção Automática

 

A percepção dos pais a respeito da progressão automática, as respostas foram bem distintas nas três escolas, com destaque para a Escola Z, cujos pais não aceitam, de acordo com a  tabela 3, a seguir.

 

Tabela 3 - Como os pais consideram a Promoção Automática

Escolas

 Aceitam

São Indiferentes

Não Aceitam

Escola W

       50%

          50%

       _

Escola Y

       40%

          40%

      20%

Escola Z

       25%

          _

      75%

Fonte: Dados da autora obtidos nesta pesquisa.

 

A partir dos resultados obtidos, pode-se verificar a diferença no perfil de cada escola pesquisada. Isto confirma a necessidade de a gestão buscar novas estratégias que favoreçam o conhecimento dos pais quanto à metodologia e os objetivos desta política pública promovida para as classes menos abastadas da sociedade.

Conforme Ludke (2001), não basta apenas suprimir as séries e suspender as avaliações passando um educando de um segmento como se interpreta às vezes na promoção automática, passando um educando de um professor para outro, sem assumir a responsabilidade de verificar a sua situação em relação aos domínios das habilidades esperadas para aquele período do ciclo.

Esta colocação requer uma reflexão acerca do que tem ocorrido no ensino em ciclos  na realidade da rede municipal de Salvador, pois cada aluno inserido nesse contexto,  precisa construir as habilidades e competências previstas para o ano cursado, e esta aprendizagem requer estratégias adequadas na ação docente.

 

D.2 As Avaliações Externas e sua influência na práxis docente

 

A maioria dos professores acredita que as avaliações externas têm repercussão positiva na práxis do educador, conforme tabela 4.

 

Tabela 4: Avaliações externas e sua influência na práxis docente

ESCOLAS

POSITIVA

NEGATIVA

NÃO SABE INFORMAR

Escola W

100%

0%

0%

Escola Y

100%

0%

0%

Escola Z

43%

0%

57%

Fonte: Dados obtidos pela autora nesta pesquisa.

 

As avaliações são bastante importantes como feedback para a escola e poderão influenciar positivamente na práxis do educador, se for discutida e refletida, para as devidas correções de rumo.

Saviani (2007) ressalta como um grande avanço, as ações interligadas, tendo como indicador o IDEB, pois funcionam como um termômetro que monitora a qualidade do ensino público. Assim, avalia-se o aluno com o objetivo de verificar as competências e as habilidades adquiridas, com o objetivo de reduzir a desigualdade educacional. A escola é avaliada visando a averiguar se os elementos que a compõem estão organizados de forma a oferecer uma educação de qualidade.

 

E - APRENDIZAGEM DOS ALUNOS

           

            Na concepção de freire (2005), o educador não é apenas o que educa, mas o que  enquanto  educa também é educado, no processo dialógico com o educando, também é educado.

            Este pressuposto faz-nos pensar que no decorrer do processo de ensino-aprendizagem, tanto o professor quanto o aluno constroem novas aprendizagens que certamente trarão resultados significativos para a vida prática.

E.1 Dificuldades frequentes apresentadas pelos alunos em classe

 

Dentre as dificuldades mais frequentes em sala de aula, pode-se listar entre os professores dificuldades de atenção e concentração, frequência irregular, seguida pelos problemas de saúde. Uma das professoras entrevistadas ainda expôs como dificuldade, que “a questão da violência entre os educandos, a falta de disciplina, limites e nutrição também acabam por interferir na aprendizagem dos educandos”.

Uma docente da Escola W entrevistada, também aponta como dificuldades frequentes a “relação interpessoal; falta de acompanhamento das famílias; problemas sociais e familiares”.

A partir das afirmações apresentadas, entendemos que são diversas as dificuldades apresentadas pelos alunos, de modo que não existe apenas um fator negativo para a construção da aprendizagem, mas sim, um conjunto de fatores que direta ou indiretamente culminam no baixo aproveitamento dos discentes.

Ainda com relação à aprendizagem dos educandos, vale ressaltar o que afirma Dalben (2000), que a prática docente ainda não garante o ritmo de aprendizagem do estudante que está na escola e não quer aprender, pois sabe que, estudando ou não, independente dos seus resultados, não será reprovado no ensino ciclado.

Este problema ocorre com muita frequência no sistema de ciclos, porque os alunos constatam que apesar de não estarem estudando o suficiente para serem aprovados, no final do ano letivo recebem o resultado da sua promoção para o próximo segmento, principalmente quando se trata do primeiro, segundo e quarto ano, que são justamente os períodos do ciclo que não reprovam. Vale salientar que esses educandos só podem ser retidos no 3º e no 5º ano, que correspondem respectivamente, ao final do primeiro e do segundo ciclo.

O próprio Perrenoud (2004) traz um comentário bastante interessante a partir de alguns estudos realizados sobre a implementação dos ciclos em algumas redes estaduais brasileiras:

 

Quanto aos alunos, em todas as redes que implantam ciclos, há indícios de que a possibilidade de reprovar vem suscitando uma falta de motivação pelos estudos, com a qual a escola e os próprios pais não estão sabendo lidar. A falta de notas e a eliminação da possibilidade de retenção tem levado muitos adolescentes ao absenteísmo. (PERRENOUD, 2004, p.220)

 

Partindo desta análise surge a necessidade de se buscar novas estratégias pedagógicas mais atrativas, que modifiquem a situação atual dos alunos inseridos nos ciclos, motivando-os para a construção de novas aprendizagens mais significativas, de acordo com o contexto da realidade local.

 

4  RELAÇÃO PRÁTICA DOCENTE X APRENDIZAGEM DOS ALUNOS

 

Sobre a relação entre a prática docente e o aprendizado dos alunos, um dos professores entrevistados fez a seguinte afirmação:

 

“Na medida em que o professor não tiver uma formação adequada (filosófica, política e epistemológica) que dê conta da complexidade do ato de educar/ ensinar”. (Professora da Escola Z)

 

Através do presente relato, pode-se entender que realmente há um vínculo entre a práxis docente e a aprendizagem significativa dos educandos, pois a formação do educador precisa contemplar os diversos aspectos de cunho não apenas epistemológico, mas também ter um certo conhecimento dos aspectos filosóficos e políticos, pois está lidando com seres sociais, que estão em processo de construção da sua cidadania e o papel do professor é relevante neste sentido.

Um outro professor, entrevistado, fez a seguinte declaração:

 

“[...] no comprometimento, na metodologia e no apoio da escola. Tudo isso, entretanto, não se encerra na aprendizagem do aluno, pois sabe-se das situações sociais e psicológicas que acabam por interferir de alguma forma no aprendizado do mesmo”.(Professora da Escola W)

 

De acordo com a fala desse professor, não é apenas a metodologia e o comprometimento do docente que promove o aprendizado do aluno, pois existe, ainda, todo um contexto social e psicológico que terminam influenciando no seu desempenho.

Cabe aqui a afirmação de Perrenoud (2004), que na sala de aula o professor deve jogar com os meios, de acordo com as necessidades dos alunos, numa proposta da pedagogia diferenciada.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

 

A presente pesquisa buscou responder aos seguintes questionamentos: Quais as prováveis causas do fracasso escolar em turmas do 3º Ano do Ensino Fundamental no sistema de educação em ciclos?  A escola possui infraestrutura adequada para apoio às ações pedagógicas? Qual a relação entre a participação das famílias e o fracasso escolar? Qual a influência das políticas públicas no fracasso escolar? Até que ponto a práxis docente pode interferir no aprendizado dos educandos?

A coleta de dados trouxe importantes informações para esta pesquisa, pois permitiu conhecer que as reais causas do insucesso escolar dos educandos estão atreladas, não apenas a um fator relevante, mas sim, a um conjunto de agravantes relacionados à infraestrutura das escolas pesquisadas; à baixa participação das famílias na escola e no acompanhamento do desempenho dos seus filhos; a algumas diretrizes/políticas públicas que não se adequam à realidade local e às práticas docentes, que nem sempre estão ajustadas às reais necessidades dos alunos.

Diante disso, podemos concluir que a escola tem necessidade urgente de intervenções pedagógicas em todos os segmentos, com vistas a prestar o devido apoio aos discentes desta área tão carente, de modo que os educandos possam ser trabalhados no sentido de adquirir a sua própria autonomia, perdendo o medo de realizar determinadas atividades, principalmente aquelas relacionadas à leitura, interpretação e produção textual.

A revisão literária, com foco na Pedagogia Diferenciada propõe uma ação voltada para um educando ou para grupos específicos, de acordo com as necessidades de cada um deles.

A literatura utilizada também indica a necessidade de o professor refletir sobre sua prática, de modo que possa ajustá-la à realidade da sua sala de aula. Neste sentido, a prática docente crítica requer um movimento dinâmico e dialógico entre o fazer pedagógico e o pensar sobre sua ação.

Entre os pesquisados existe o consenso de que a prática docente, de alguma forma, interfere no fracasso escolar. E este fato pode remeter a grande tarefa do educador que é aquela de desafiar o educando a produzir sua própria compreensão que está sendo ensinado.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

 

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______. Portal MEC. Secretaria de Educação básica - Diretrizes e bases da Educação Básica. Disponível em: . Acesso em: 25 Jul 2015.

DALBEN, Ângela I. L. de F. et al. Avaliação da Implementação do Projeto Político-Pedagógico da Escola Plural. Belo Horizonte,GAME/FaE/UFMG, 2000.

FREIRE, Paulo. Pedagogia da Autonomia. 35 ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 2007.

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FUNDESCOLA, Fundo de Desenvolvimento da Escola, MEC, 2006.

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Lei 9.394/96 Lei de Diretrizes e Bases para a Educação Nacional (LDBN), 1996. Curitiba: Juruá, 2013

LUDKE, M. ET AL. O professor e a pesquisa. Campinas: Papirus, 2001.

MAINARDES, J. Reinterpretando os Ciclos de Aprendizagem. São Paulo: Cortez, 2007.

MAINARDES, Jefferson. A pesquisa sobre a organização da escolaridade em ciclos no Brasil (2000-2006): mapeamento e problematizações. Revista Brasileira de Educação, Rio de Janeiro, v. 14, n. 40, p. 7-23, jan./abr. 2009.

MARCONI, A. M.; LAKATOS, E. M. Fundamentos de metodologia científica. São Paulo: Atlas, 2007.

PERRENOUD, Philippe. Os ciclos de aprendizagem: um caminho para combater o fracasso escolar. Porto Alegre: Artmed, 2004.

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SÁTYRO, N.G.D. SOARES, Sergei O impacto da Infraestrutura escolar na taxa de distorção idade-série das escolas brasileiras de ensino fundamental, Brasília, IPEA, 2008.

SAVIANI, D. O Plano de Desenvolvimento da Educação: Análise do Projeto do MEC. Revista Educação & Sociedade, Campinas, vol. 28, n. 100, p. 1231 – 1255, out. 2007–Especial.

WEBARTIGOS. Infraestrutura escolar e a relação com o processo de aprendizagem. Disponível em: . Acesso em: 30 Set 2015.

 

 

[1] Artigo solicitado pela Universidade Gama Filho, como pré-requisito para obtenção de título especialista em Nível Superior.

[2] Mestre em Ciências da Educação e Multidisciplinaridade- Universidade Gama Filho.

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