Educação e Transtornos Mentais: Via de mão dupla?

Por Alina Campos Tomaz Teixeira | 11/11/2009 | Saúde

O estudo realizado sugere que existe uma relação questionável entre os transtornos mentais e a educação, partindo do ponto de vista que a educação seja um processo contínuo e que precisa de ajuste e adaptação ao meio, bem como o uso do conhecimento com ética e moral.

Isto que dizer, que alguns portadores de transtornos mentais, ainda que sejam freqüentadores de escolas e submetidos aos mais altos padrões de educação formal, não se moldam aos princípios de ética e moral aos quais a sociedade universal dispões para os cidadãos.

Enquanto outros portadores de transtornos mentais, mesmo que não tendo freqüentado a escola, se submetem ao processo de educação gerado inicialmente na família e desenvolvido na escola, bem como reforçado na vida social, como na igreja e a relação afetiva.

Se a educação é um fenômeno que resulta na capacitação eficiente e eficaz na ação de quem a recebe, bem como não fere os princípios morais e éticos da sociedade, então é possível avaliar, o quanto os portadores de transtornos mentais, estão fora dos padrões éticos que a sociedade coloca para se viver em relação com o outro, visto que estes indivíduos se manifestam em sociedade, através de atitudes e comportamentos bizarros e inadaptados, exibindo exatamente padrões exagerados e discrepantes em comparação com os outros cidadãos.

Se a educação é o adestramento para gerir no uso de si e do outro, então é possível avaliar como os transtornos mentais impedem o indivíduo de ser adestrado para saber gerir a si e a relação com seu semelhante, incapacitando-o de se socializar, ao invés disso agride e viola os instrumentos legais de uma relação familiar, social, profissional ou afetiva.

No caso dos Transtornos Comuns entre Mulheres- TMC, quando pesquisadas, apresentaram um nível baixo de escolaridade, de não receberem estímulo para melhorar suas relações e/ou realizar alguma atividade que lhes trouxesse aumento de estima e sensação de bem estar, ao contrário a permanência na situação desagradável, reforçaram os quadros de tensão, sofrimento e tristeza; sem perspectiva para o futuro agravando os sintomas dos transtornos mentais.

Por outro lado, os aspectos relacionados ao trabalho profissional e que podem causar adoecimento mental estão ligados à organização do trabalho em excesso.

Esta organização é ligada à classificação hierárquica, divisão e conteúdo de tarefas, estrutura temporal e as relações de responsabilidade em família, casa e trabalho, que é grande gerador de estresse, podendo provocar doenças mentais e sentimentos de baixa estima.

Estas profissionais submetem-se à superposição de responsabilidades na família, casa e trabalho, visto que suas condições de escolaridade são mínimas, exigindo de elas pegarem todas as tarefas possíveis e longos períodos de trabalho e pouco remuneradas, a fim de formar um salário que lhes seja favorável e pague seus compromissos financeiros, e conjugados com o serviço doméstico que também é pesado e cansativo, pois não podem pagar uma secretária para lhes auxiliar nos serviços caseiros.

No caso de eventos de vida produtores de estresse- EVPE mostram um número significativo de mulheres com curso superior completo, vida financeira desestabilizada, apesar de serem funcionárias efetivas e não serem apresentadas como arrimas de família.

Estas mulheres apresentaram como principal evento produtor de estresse as dificuldades financeiras graves vividas, em contraste com a estabilidade de emprego, sugerindo como sinal muito forte, o quadro produzido no transtorno afetivo bipolar, especificamente no episódio de mania, que leva o indivíduo a agir de maneira irracional e impulsiva ao contrair dívidas excessivas.

Este mesmo indivíduo não é capaz de repetir estes comportamentos uma vez que esteja no episódio depressivo ou ainda fora dos sintomas, havendo remissão deles.

Os fatores protetores como a família, a cultura, situação econômica, neste caso não surtiu efeito, e os fatores ambientais como a propaganda, a necessidade de consumo, foram mais fortes acelerando ou agravando o curso do transtorno.

Neste caso, ainda podem ser citados outros fatores protetores que deveriam fortalecê-las como a estabilidade no emprego, condições adequadas de moradia, distribuição da renda, processo de urbanização, se mostraram como seguradores e influenciadores para as mulheres contraírem as dificuldades financeiras, fatores estes que contribuíram para o elevado índice de eventos de vida estressantes no grupo de mulheres pesquisadas.

No caso dos estudantes universitários, o estudo mostrou que o bem estar espiritual atuou com fator de proteção para os transtornos mentais, fornecendo subsídio para entender que os estudantes que não apresentavam o fator de proteção (bem estar espiritual), estavam sujeitos ao adoecimento/agravamento dos sintomas dos transtornos mentais.

Posto que a universidade seja uma escola onde as exigências são muito grandes, e é o lugar da conclusão do nível educacional superior, evidenciam-se sinais de relação entre o nível de escolaridade e o adoecimento/agravamento dos transtornos mentais.

Apesar de existir uma gama de transtornos mentais diagnosticados através do CID-10 e DSM-IV, os aspectos culturais como foram estudados, no caso os vocabulários utilizados pelos médicos e as diferenças culturais entre os portadores de transtornos mentais, sugerem diferenças na proporção de pacientes de diferentes etnias e culturas, visto que a interpretação nos sintomas e estereótipos raciais é envolvida no processo diagnóstico, curso e tratamento dos transtornos.

Segundo pesquisa, o manejo dos transtornos mentais pelos psiquiatras e outros técnicos de saúde, podem fazer sofrer influência de grupos étnicos e culturais quanto ao manejo psicofarmacológico também, bem como a dificuldade dos diagnósticos de transtorno como é o caso do TP (Transtorno de Personalidade), apresentarem instrumentos auxiliares pouco confiáveis.

Alguns grupos raciais apresentaram estereótipos que sugerem maior agressividade nas relações sociais, do que outros em que se apresentaram mais passividade, e por isso são mais susceptíveis ao uso de medicamentos antipsicóticos.

Ainda em relação ao TP, principalmente o anti-social e o serial killer, são casos onde a área médica não se dispõe a fazer o tratamento, uma vez entendendo o manejo improdutivo em atendimento especializado.

Os transtornos de personalidade representam um grande desafio para a psiquiatria forense, uma vez que fica difícil identificar o lugar ideal para a permanência e tratamentos desses indivíduos nocivos à sociedade e tão insensíveis ao sofrimento de suas vítimas, sugerindo casos graves de inadaptação ao meio ambiente.

É importante que continuem os esforços voltados para o diagnóstico precoce e tratamento adequado dos transtornos mentais, uma vez que apresentam uma camada da população cada vez mais crescente e desafiadora, nos aspectos de adaptação nas relações sociais, manejo e apresentação do quadro; a sociedade sofre e precisa que a classe médica se una a fim de melhorar a qualidade de vida dos portadores dos transtornos e familiares, visto que também são vítimas do sofrimento causado pelos transtornos, como afetam suas atitudes diversas e perversas dos portadores, tomadas em quadros de crises, principalmente.

Igualmente, o conhecimento científico e as influências culturais devem ser tomados como base em relação ao diagnóstico, o tratamento e a evolução dos quadros dos transtornos mentais, a fim de que se possa traçar um caminho com a menor probabilidade de erros no diagnóstico, tratamento e manejo dos portadores dos transtornos mentais.

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