Educação e prática
Por Thiago Barbosa Soares | 02/10/2017 | EducaçãoTratar de educação não é uma empreitada simples, porquanto toca a formação do sujeito enquanto um ser de possibilidades de ação na sociedade como um todo. Nesse sentido, entender quais as prerrogativas do ensino é de crucial importância, sobretudo, meditar acerca do papel que exerce o profissional mediador de práticas e conteúdos culturais, isto é, o professor.
Posto isso, o mestre necessita de uma postura de compreensão do universo que o rodeia no que diz respeito ao educando, em outras palavras, a constituição deste profissional necessariamente resvala na valorização da bagagem sociocultural que se tem diante do seu trabalho em sala de aula com alunos. Todavia, requer-se que tal disposição esteja presente quando do planejamento de atividades que sejam integradas as atividades desenvolvidas em sala de aula. Contudo, aí há certo dificultador na medida em que em grande parte das instituições educacionais possui grades curriculares estruturadas para a formação do aprendiz.
Contrariamente a essa orientação, Espírito Santoem “Pedagogia da transgressão” ao discutir a pedagogia de Waldorf, cita:
Os valores institucionalizados que a escola instila são de natureza quantitativa. A escola introduz os jovens no mundo em que tudo é mensurável, também sua fantasia e até o próprio homem (...). A escola pretende desmembrar o ensino em compartimentos, embutir no aluno um currículo composto desses blocos pré-fabricados e ler o resultado numa escala internacional (WALDORF, 1986, p. 65, apud ESPIRITO SANTO, 2011, p.88-89).
Em função do que foi dito, o professor tem evidentemente que além de dar conta de um currículo pré-estabelecido, não transgredir o saber de seus educandos. Em outras palavras, não se pode encerrar o processo educacional à esferas totalmente distanciadas de suas vivências, mas fazer com o que “deve” ser apreendido faça sentido para aqueles que estão sob sua tutela. Portanto, um planejamento efetivo se obriga a perpassar não somente o institucionalizado, mas a essencial força que compõe as aulas, o conhecimento prévio que os alunos carregam. E ignorá-lo seria apagar a própria constituição de sujeito social que eles possuem.
Destarte, é fundamental que mestres percebam valores dentro de todos os seres humanos para que possam dessa forma valorizá-los no âmbito de uma construção intelectual forte e eficaz. Nesse sentido, Araújo (2002, p. 54) diz:
Parto do princípio de que os valores não são nem ensinados nem nascem com as pessoas. Eles são construídos na experiência significativa que o sujeito estabelece com o mundo. Essa construção depende diretamente da ação do sujeito, dos valores implícitos nos conteúdos com que interage no dia-a-dia e da qualidade das relações interpessoais estabelecidas entre o sujeito e a fonte dos valores.
A partir disso, pode-se ver o quanto não só uma grade engessada ensina, mas tudo o que circunda o sujeito em seu processo de aprendizagem. Cabendo ao mediador dessa operação contínua um olhar menos enviesado e mais crítico, mais humano, mais consciente, mais desperto de seu papel formador para que assim não esqueça que “o homem é a medida de todas as coisas” (Protágoras) e não seria diferente na educação.
REFÊRENCIAS
ARAÚJO, Ulisses F. A construção de escolas democráticas: histórias sobre complexidade, mudanças e resistências. São Paulo: Moderna, 2002.
ESPÍRITO SANTO, Ruy Cezar do. Pedagogia da transgressão: um caminho para o autoconhecimento. São Paulo: Ágora, 2011.
(Quando usar o artigo, lembre-se de citar a fonte)