EDUCAÇÃO E NEUROCIÊNCIAS: UMA ARTICULAÇÃO NECESSÁRIA NA FORMAÇÃO DE DOCENTE

Por Vanessa fernanda da silva | 19/12/2016 | Educação

Resumo

O texto aborda a probabilidade de inserção dos expressivos aumentos da neurociência, como constituintes de conhecimentos disciplinares, nos cursos de formação de docentes. Na expectativa adotada, esses saberes, que baseiam um saber pedagógico, proporcionam subsídios teóricos para a ação docente, uma vez que a abrangência de como o cérebro funciona permite um mais perfeito entendimento da aprendizagem e o coerente aprimoramento da adaptação didática. Como resultado, destaca-se a necessidade de revisão dos esqueletos curriculares dos cursos de formação de professores, em especial das licenciaturas, indicando como alternativa a inserção de disciplinas, ou a reestruturação de disciplinas já viventes, com vistas a propiciar a interlocução dentre neurociência, ensino e aprendizagem. Palavras-chave neurociência; aprendizagem; educação; formação de professores.

INTRODUÇÃO

Diante das inúmeras mudanças na sociedade atual, geradas principalmente pelos avanços tecnológicos que nos disponibilizam informações, faz-se necessária uma cultura de aprendizado que gere conhecimento. Para tanto, há que se buscar um sistema educacional democrático o qual assuma o compromisso de promover situações de aprendizagem nas quais as exigências da sociedade moderna sejam atendidas, para que todos possam desenvolver suas capacidades, mediante uma educação que aceite a diversidade. Para isso, é imprescindível explorar e estimular o potencial de aprender de todos os cidadãos. Torna-se obrigatório, então, promover a reconfiguração pedagógica nos ambientes educativos, pois o estímulo do potencial dos estudantes oportunizará um melhor desempenho individual, diminuindo a exclusão social. Assim, assumir a necessidade de estratégias metodológicas que garantam o desenvolvimento do potencial cognitivo de cada aluno é uma condição para assegurarmos a participação efetiva do mesmo na sociedade. Emerge desse panorama um questionamento: se a sociedade está em constante transformação e se a educação, nela inserida, igualmente passa por mudanças, como o professor, ponto extremo da efetivação dessas alterações no meio educacional, está abarbando a complexidade dos novos saberes imprescindíveis ao aprimoramento do ensinar? Considerando que muitas pesquisas no campo educativo afirmam ser o professor um dos principais protagonistas da educação (Demo, 2001; Assmann, 2001; Morin, 2002), cabe ao educador adotar um trabalho de parceria, instaurando as condições indispensáveis para que o aprendiz desenvolva a inteligência, e não a simples memorização. Conforme Fonseca: “O professor tem o dever de preparar os estudantes para pensar, para aprender a serem flexíveis, ou seja, E preciso que se desamparem as metodologias pedagógicos instrucionais os quais não permitem dar a devida atenção à personalidade, e que se passe a envolver melhor como podemos lidar com certas atributos pessoais de nossos alunos. Esse estabelecerá o primeiro passo para o docente ser um participante ativo no método de aprendizagem do educando, pois dirigirá o docente na identificação, mobilização e uso de métodos e soluções variadas. Nessa definição, as ciências do cérebro, que progridem vertiginosamente, podem colabora para a renovação teórica no desenvolvimento docente, acrescentando informações científicas ativas para a mais perfeita inclusão da aprendizagem como fato complexo. Essa aspecto reflete uma visão da atualizada, sendo, inclusive, atual foco de atenção da Arranjo de Cooperação. Com base nesse ponto de vista, passa-se agora a promover uma interlocução entre neurociência e ensino, protegendo um diálogo criador entre ambas e apresentando uma visão da interferência de caráter prático dos conhecimentos neurocientíficos na educação, em especial na formação docente. ]

DESENVOLVIMENTO

Conhecimentos neurocientíficos na concepção de professores Evidentemente, convivemos no século do estudo da mente e do cérebro. O interesse na área, ancorado no avanço tecnológico, tem garantido avanços científicos expressivos para a neurociência, contribuindo intensamente para promover com maior eficácia o entendimento da mente humana. Há uma busca exaustiva no campo científico da neurociência em torno de como o cérebro age. São numerosos os estudos que têm sido publicados, em revistas particularizadas ou não, e vários os congressos atingidos na área da neurociência. Usando de saídas tecnológicos sofisticados, como técnicas de mapeamento de imagem, hoje é plausível não apenas analisar detalhadamente a anatomia do cérebro, mas também identificar que partes dele trabalham quando se realiza uma ação. Com obviedade, instaura-se aqui a probabilidade de aprender como as pessoas organizam seus processos cognitivos, bem como de conhecer as diferenças entre essas organizações. Essa esperança permite que a evolução da ciência do cérebro se constitua numa das principais alternativas para envolver a complexidade cognitiva humana. Considerações finais A necessidade de beirar os achados na área da neurociência da educação sustenta a premissa de que instituições responsáveis pela desenvolvimento de professores precisam analisar e discutir os componentes curriculares das licenciaturas, revendo a composição desses cursos, a fim de que os alunos, futuros profissionais da educação, possam procurar otimizar sua ação pedagógica. Em primeiro lugar, pela importância de que os componentes curriculares advindos das áreas de psicologia e didática dos cursos de formação de docentes podem chegar-se aos conhecimentos neurocientíficos, pois, em geral, considera em seus programas questões como memória, emoção, desenvolvimento do sistema nervoso, dificuldades de aprendizagem e conduta humana. Com isso, é possível defender a averiguação não só da inserção desses temas, mas também de como eles são abusado como conteúdos programá ticos das áreas de psicologia e didática nos currículos contemporâneos. Uma análise cautelosa dos quadros curriculares dos cursos de formação de professores provavelmente poderá revelar a necessidade de renovação de alguns dos componentes curriculares, para a sua adequação às descobertas no campo da neurociência. Assim, considerando que esse pressuposto está em estágio primeiro, postula-se como imprescindível a realização de pesquisas sobre o ensino superior a fim de atender diversos questionamentos pendentes, entre eles: Conhecimentos científicos da neurociência são abordados em alguma disciplina nos cursos de formação de professores? Se o são, estão relacionados aos processos de ensino e de aprendizagem? Qual a relevância atribuída pelos alunos desses cursos à existência ou não desses saberes disciplinares durante a formação acadêmica? Um exemplo seria a criação de uma disciplina como ‘Neurociência e aprendizagem’ ou ‘Biologia da aprendizagem’. Nessa disciplina, poderiam ser desenvolvidos os conteúdos neurocientíficos atrelados à pedagogia, numa visão transdisciplinar. A disciplina, seja ela advinda da inserção de um novo componente curricular ou resultado da adição de conteúdos científicos para a renovação de alguma disciplina já existente, deve não só reconhecer a importância dos achados neurocientíficos, mas também otimizar o seu uso, buscando oferecer ao acadêmico material significativo para que ele aprimore a sua compreensão da relação entre cérebro e aprendizagem.

Referências

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