Educação e Consciência em Paulo Freire
Por Rabim Saize Chiria | 05/12/2017 | EducaçãoDr. Rabim Saize Chiria
Licenciado em Filosofia pela Universidade Eduardo Mondlane; Moçambique
Educação e consciência em Paulo Freire
Segundo Beisiegel (2010: 32) Paulo Freire expõe demoradamente suas reflexões sobre a consciência e sobre as características de uma educação comprometida com o processo de conscientização. No entanto, seriam duas posições que o brasileiro vinha assumindo diante da existência. Uma primeira, a da consciência intransitiva, que Seria caracterizada pela forma quase vegetativa de vida, voltada para os desafios da sobrevivência biológica, destituída de historicidade, de homens “demitidos” da vida, ou inanimados à vida, em situação de um quase incompromisso entre homem e a sua existência.
É uma consciência que não percebe, nem pode perceber, claramente, pelo menos, o que há nas acções humanas de restas a desafios e a questões que a vida apresenta ao homem. Ou melhor, a consciência intransitiva implica numa incapacidade de captação de grandes números de questões que lhe são suscitadas (Ibidem: 32).
Segundo o autor, esta seria uma consciência predominante nas áreas mais rústicas, distantes das regiões mais urbanizadas e desenvolvidas. Por seu turno, tem-se a “consciência transitiva”, predominante nas regiões economicamente desenvolvidas, pois estaria acima dos interesses meramente vegetativos, o homem teria os horizontes mais largos, enxergaria mais longe, suas preocupações seriam marcadas por alto teor de espiritualidade e historicidade.
No primeiro estágio esta consciência transitiva seria ingénua, no entanto, esta consciência transitiva ingénua seria caracterizada, entre outros traços, por “simplicidades na interpretação dos problemas”; “idealização do passado”; transferência acrítica da responsabilidade e a autoridade, subestimação do homem comum; “impermeabilidade a investigação”; “gosto acentuado pelas explicações fabulosas”; fragilidade de argumentação; forte teor de emocionalidade; “desconfiança de tudo o que é novo”; gosto não propriamente do debate, mas das polémicas”; “explicações mágicas”; “tendência ao conformismo” (FREIRE apud BEISIEGEL; 2010: 33).Num segundo estágio, esta consciência transitiva seria predominantemente crítica.
Segundo Freire, a transitividade crítica, pelo contrário, se caracteriza pela profundidade na interpretação dos problemas. Esta consciência crítica não resultaria directamente das transformações de infra-estruturas. Por si mesmas, as novas condições de vida social não seriam capazes de promover a transformação das consciências ingénuas em consciências críticas.
Para Freire apud Beisiegel (2010: 35), esta modalidade da consciência transitiva teria como características a “ substituição de explicações mágicas por princípios causais” “o teste dos achados e a permanente disposição a suas revisões”; “a disposição ao abandono de preconceitos na análise dos problemas”; “o esforço por enviar deformações”; “a recuas da transferência de responsabilidade”; (...) segurança na argumentação” “o gosto, pelo debate”; uma “maior dose de racionalidade”. (…) Seria também marcada pela aceitação da massificação como um facto, e ao mesmo tempo pelo esforço dirigido à humanização do homem.
Portanto, segundo o autor, a consciência transitiva - crítica- resulta de um trabalho formador, apoiado em condições históricas propícias. Entre o movimento impresso pelas transformações de infra-estruturas no pensamento das massas e plena realização da consciência crítica haveria, pois, um hiato, e nesse espaço definiam as atribuições específicas da educação popular.