EDUCAÇÃO DOS MOVIMENTOS SOCIAIS, EDUCAR PARA A CIDADANIA.

Por vaneusa oliveira da cruz | 13/11/2009 | Educação

VANEUSA OLIVEIRA DA CRUZ¹
Orientadora: NILZA LIMA

Resumo Este artigo tem o propósito de descrever e compreender o conflito por qual passa a classe excluída e precisa de ações que as ajudem a se enquadrarem no meio da sociedade capitalista como sujeito de direitos. Com relação a estes pontos, percebe-se que ouve avanços dos movimentos sociais em suas lutas em busca de construir uma sociedade democrática e justa. Mas aponta questões que ainda precisam ser repensadas nesse processo a exemplo a educação participativa que praticada quando articuladas aos movimentos sociais ganham significado especial em um momento de crise social . Palavras-chave: movimentos sociais, conflitos, educação participativa, cidadania.

Lutas das classes sociais (os conflitos e os progressos dos movimentos sociais)

A historia de todas as sociedades, dos primórdios até atualmente, se mistura com a historia das lutas de classes. A sociedade burguesa não aboliu antagonismos de classes, mas os simplificou em duas grandes classes opostas: a burguesia e o proletariado, a burguesia saiu dos plebeus livres das primeiras cidades da idade media.

À medida que a indústria, o comercio, a navegação,as férreas se desenvolviam,crescia a burguesia, multiplicando seus capitais e excluindo a classe trabalhadora, com o desenvolvimento da burguesia e do capital, desenvolve-se também o proletariado, operários modernos, que só podem viver se encontrarem um trabalho e só encontram na medida em que o capital aumenta.

Esses operários estão sujeitos a flutuações do trabalho sem direitos a nada. Com tantos direitos negados pela burguesia os operários começam a se unir e lutar contra o burguês, que os explora diretamente. O proletariado é a única classe revolucionária a enfrentar a burguesia com isso a queda da burguesia e a vitória do proletariado torna-se inevitáveis.

Atualmente não acabou a luta de classes. Estabeleceu novas classes, novas condições de opressão e os movimentos sociais aderiram novas formas de lutar no lugar das antigas, que lutam numa esfera social pelos seus direitos de cidadão, a cada crise social que acontece no mundo, eles se reúnem e lutam de diferentes formas, a depender do momento do conflito em que se encontra a sociedade.

A situação atual exige dos movimentos sociais mente aberta para entender e atuar nesta nova realidade política e social do século 21, fazendo a análise concreta da situação contemporânea. No processo de reafirmação e atualização do marxismo é preciso ter abertura para compreender os novos fenômenos. .
Lideres dos movimentos sociais mostram que existe uma relação entre os conflitos sociais e políticos, um problema leva ao outro. O neoliberalismo exige cada vez mais do ser humano. A maior parte da população vem perdendo sua condição de sujeitos de direitos, em que a classe dominante admitem que não há lugar para todos das classes populares.

O planeta vem sendo tragado por um tornado violento do qual ninguém escapa, em principal a classe menos favorecida, de um lado catástrofes naturais e as guerras, do outro a recessão financeira, a exclusão social.

Em contra partida nos anos 90 a sociedade começa outra vez a se organizar e a lutar por seus direitos de cidadania, e através da solidariedade e coletividade nasce à esperança de lutar por nossos direitos.

De inicio essas praticas foram realizadas por pequenos grupos, depois esse bolo cresceu e atualmente a sociedade se organiza com mais forças e já se pode ver quantas conquistas os movimentos sociais já conseguiram, tanto na esfera econômica, quanto social, ambiental e cada dia surgem diferentes tipos de movimentos que lutam pela autonomia de ser cidadão.

Segundo as idéias de Miguel Arroio os movimentos sociais têm sido educativos não tanto através da propagação de discursos e lições conscientizadoras, mas pelas formas como tem agregado e mobilizado em torno das lutas pela sobrevivência, pela terra ou pela inserção na cidade. Revelam à teoria e ao fazer pedagógicos a centralidade que tem as lutas pela humanização das condições de vida nos processos de formação. Relembram-nos quão determinantes são, no constituir-nos seres humanos, as condições de sobrevivência. A luta pela vida educa por ser o direito mais radical da condição humana. Os movimentos sociais articulam coletivos nas lutas pelas condições de produção da existência popular mais básica. Aí se descobrem e se aprendem como sujeitos de direitos. É importante constatar que enquanto o movimento operário e os movimentos sociais mais diversos apontaram nestas décadas essa matriz pedagógica, um setor do pensamento pedagógico progressista nos levava para relações mais ideológicas: o movimento cívico, a consciência crítica, os conteúdos críticos como matrizes formadora do cidadão participativo.

Educação nos movimentos sociais: esperança de uma sociedade justa e igualitária

Abordar a educação justa e igualitária nos movimentos sociais significa, antes de mais nada considerar o individuo como ser de direitos e que precisa desenvolver seu potencial.

Regina Leite Garcia (2000:01), tratando da luta do MST por escolas e uma educação de qualidade, afirma que:

Em sua luta pela construção de uma sociedade mais justa, solidária e igualitária se inclui a luta pelo direito à escola, pois que para construir uma sociedade realmente democrática há que se acompanhar a luta por um projeto político-pedagógico emancipatório, que vá preparando o novo homem e as novas mulheres para construírem uma nova sociedade. E não é qualquer escola que serve a propósitos emancipatórios.

Mas ainda é possível se deparar com realidades em que os educadores não possuem formação especifica para atuarem na educação com sentido de promover o desenvolvimento pleno dos seres humanos numa escala geral.

Pensar a educação como processo de transformação é também pensar o educador politizado e sindicalizado para questionar tudo que vem de cima e é colocado de goela a baixo. E sem ter uma visão ampla do que se acontece na sociedade, das ideologias que são propagadas a cada dia, o educador não será capaz de educar para a cidadania.

E essa formação é negada nas escolas tradicionais, o professor se cala e apenas cumpre o manda o capitalismo selvagem que cada vez só exclui causando uma desatualizacao do profissional, podendo repercutir numa metodologia que não favoreça o desenvolvimento e integração do individuo.

Miguel Arroio indaga sobre as matrizes pedagógicas ou sobre as dimensões da teoria pedagógica em que os movimentos sociais se encontram ou desencontram com a educação formal e informal, sobre as marcas que eles deixam na formação dos atores sociais. Interrogá-los em suas dimensões educativas, em suas virtualidades formadoras, e indagar-nos pelos componentes que trazem para a teoria pedagógica. Um componente que os movimentos trazem para o pensar e fazer educativos é reeducar-nos para por o foco nos sujeitos sociais em formação.

Nas instituições onde se encontram os cidadãos que luta pelo direito pela a terra e a educação, é diferente, percebe-se uma maior oferta destes momentos de reflexões e analise do que se esconde por traz do discurso político e neoliberal, e assim o professor consegue melhorar sua prática pedagógica ensinando exercer a cidadania com respeito, dignidade, deveres e direitos.

(Thompson, 1979). Aprende-se a não ter medo de tudo aquilo que foi inculcado como proibido e inacessível.Aprende-se a acreditar no poder da fala e das idéias . Ou seja, o processo educativo dos movimentos sociais permite a formação do cidadão politizado que não aceita tudo que vem cima para baixo sem questionar.

Ainda partindo das idéias de Arroio em seu artigo podemos pensar que a principal tarefa, portanto, de profissionais da educação, alunos e pais de alunos e de todos os interessados pelas questões educativas é questionar e analisar a constituição própria, específica, particular de cada comunidade, sua dinâmica e seus problemas, seu funcionamento e seus conflitos, suas possibilidades e seus limites, relacionando-os o contexto mais geral do processo de produção capitalista, matriz geral da organização da sociedade atual.

O ser humano é capaz de transformar as condições de sua existência através de sua visão de mundo que permeia as suas relações sociais, relações essas que determinam à estrutura de organização e produção da sociedade.

A prática educativa é uma prática social, política e historicamente determinada, que visa estimular o desenvolvimento do cidadão, auxiliando-a o processo de socialização.

Mas essa ferramenta de educar vem sendo usada por muito como forma de oprimir, de conformação mostram um belo discurso a favor da educação, porem por traz de tudo esconde-se ideologias de dominação.

O professor, dentro deste paradigma deve ter responsabilidade política e profissional, e realizar um trabalho intencional tornando-se um agente de transformação social e deve contribuir para o desenvolvimento do ser humano na sua integralidade, possibilitando ações transformadoras na construção da cidadania.

A educação para uma sociedade igualitária deve favorecer o desenvolvimento da autonomia dos sujeitos, possibilitando descobrir o mistério do mundo onde está inserida.

Segundo Roberto Véras:

"O projeto educativo, para ser coerente com os propósitos aqui considerados, deve prever na sua dinâmica constritivas momentos/situações/exercícios nos quais os públicos envolvidos tanto possam se debruçar sobre suas experiências, procurando apreender-lhes o mais profundamente possível, como possam interagir/dialogar do modo mais fecundo possível sobre outras experiências e elaborações, buscando se apropriar de informações, pontos de vista, técnicas, outras referencias."

O educador nessa proposta deve ser acessível ao aluno para ajudá-lo em suas necessidades nas atividades que o levarão a independência do seu ser, possibilitando a construção do próprio ser.

A Educação popular amplia as possibilidades de mudanças que constituem o cerne das transformações sociais. Essas mudanças passam, a princípio, através da educação, na qual segundo Rodrigues (2001, p.13):

A educação pode ser compreendida como comportamento, ação ou programa de criar e desenvolver condições para que indivíduos e grupos se apropriem do patrimônio cultural de uma civilização, tornando-se capazes de enriquecê-la e aperfeiçoa-la.

Conforme o autor a educação é um construção de um processo de cooperação e respeito mútuo, sociabilizando-se, buscando conseguir alcançar a sua autonomia. A autonomia é o princípio fundamental que proporciona a atividade mental o processo ativo e autônomo de raciocínio, da construção de suas estruturas cognitivas. O individuo deve ser observado como particular, tendo a liberdade garantida pelas condições de desenvolvimento de suas potencialidades.

Pensar a educação como ferramenta de dialogo para os movimentos sociais se defenderem é viver um momento extremamente rico de debates e discussões, que jamais foram vistas na história da educação brasileira.

Atualmente, devido aos movimentos sociais no geral, desde crianças eles já aprendem e compreendem desde muito cedo a valorizar suas origens e saber que é preciso lutar pelos seus direitos e sua valorização como parte integrante da sociedade.

As crianças vão aprendendo a historia de seu país, arrancando os véus que historicamente escondiam o processo de exploração e dominação de que os afros brasileiros, indígenas e mestiços foram vitimas. (Regina Leite 2000, p.7)

 

Diante dos sérios desafios enfrentados pela educação dos movimentos sociais nos dias de hoje, no que diz respeito a sua finalidade, já se consegui muita mudança tanto no setor político, ambiental, de terras como na educação.

Portanto Os educadores precisam estar atentos para que as estratégias educativas sejam adequadas e favoreçam o desenvolvimento de sua autonomia.

Conclusão

O movimento social é sem duvida um fator importante para educar no sentido pleno levando em conta a necessidade de uma sociedade que luta por uma vida digna.. Nessa perspectiva é necessário elaborar uma educação diferenciada que desse as condições ideais para desenvolver as potencialidades do ser humano, sua autonomia, tornando-a um ser social.

Revisando teorias e descortinando práticas, instigou questionamentos, indagações e preocupações no que se refere à prática educativa dos movimentos sociais pois nossa educação escolar se encontra longe de uma educação plena.

Pois Muitos dos profissionais da educação demonstram obter uma cultura pedagógica, caracterizada pela partilha de saberes práticos, através da troca de experiências, sem compreender suas origens e seus fundamentos. Não buscando uma fundamentação teórica que norteie verdadeiramente sua prática.

Com este estudo entende-se que a educação dos movimentos sociais deve proporcionar na prática educativa, o auxilio as condições para o desenvolvimento do individuo. O professor deve ser acessível ao aluno para ajudá-lo em suas necessidades nas atividades que o levarão a independência de seu ser, preparando-o para a vida.

Na visão freireana toda ação educativa deve ser antes de tudo uma ação cultural e essa ação cultural começa pela descoberta da razão instrumental como condicionante de libertação das estruturas de dominação. Levando as pessoas à crítica e a vontade de mudanças.

Portanto a educação com sentido pleno possibilitará auxilio para conhecer e construir o próprio ser, o seu papel pessoal em desenvolvimento na busca constante de novos conhecimentos.

Referências Bibliográficas

Miguel G. Arroyo ao Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra – MST. Regina Leite Garcia (2000:01)

GARCIA, Regina Leite. Movimentos Sociais – escola – valores. In Aprendendo com os Movimentos Sociais. GARCIA, Regina Leite (Org.) Rio de Janeiro: DP&A, 2000.

Gohn, Maria da Glória Marcondes

Movimentos sociais e educação / Maria da Glória Gohn — 6. ed. revista — São Paulo Cortez, 2005.

(Coleção Questões da Nossa Epoca v. 5).

RODRIGUES, José Albertino. (Org.) Durkheim: Sociologia. 5 ed. São Paulo: Ática, 1990.

Miguel G. Arroyo, Professor Titular da Universidade Federal de Minas Gerais, Faculdade de Educação, Belo Horizonte, Brasil.

Texto publicado em Currículo sem Fronteiras com autorização do autor.