Educação de Alunos Superdotados

Por João Bezerra da Silva Júnior | 31/07/2009 | Educação

1.Introdução

A inclusão escolar é um tema que vem sendo muito tratado nos dias atuais e nos faz refletir e analisar sobre a situação da educação brasileira em relação ao assunto, afinal será que os atores escolares estão preparados para conviver com as diferenças?

Diante de muito preconceito, grande parte da população, entende que crianças com necessidades especiais devem ser colocadas em escolas especiais, porém, será esse o papel da escola especial? Já não basta a heterogeneidade na qual o professor tem que trabalhar?

Assim, entendemos que a inclusão é importante, porém muitos veem a educação inclusiva como algo "legal", porém, pouco se investe na formação do professorado e na estrutura escolar e isso faz com que pensemos se há realmente uma inclusão, com a integração desses alunos às situações da sala de aula ou se simplesmente eles são jogados ali, sem terem suas reais necessidades atendidas.

Como supracitado, a inclusão escolar é uma realidade e é importante que a educação regular trabalhe integrada com a educação especial para fornecer um melhor atendimento educacional para esses alunos, sejam eles, deficientes visuais, auditivos, mentais, físicos, com baixas ou altas habilidades. As altas habilidades são pouco percebidas pela maioria dos educadores e, muitas vezes, acabam por não serem trabalhadas adequadamente, assim, surgem perguntas como: O que fazer com esses alunos? Porque esse aluno é tão habilidoso para isso e não vai tão bem naquilo?

Na E. E. Prof. Ezilda Nascimento Franco, observei – e tenho observado alunos com altas habilidades na área artística, mas vejo que nada ou quase nada tem sido feito, seja internamente ou externamente – devido a diversos fatores, como a estrutura da escola, e penso em quantos talentos podem estar sendo desperdiçados, sem que se faça ou tente fazer algo. Assim, pretendo mostrar a importância de se desenvolver um projeto para alunos com altas habilidades, para que eles possam desenvolver seus talentos, bem como utilizá-los na construção de um mundo melhor, podendo auxiliar as pessoas com as suas habilidades, trabalhando também a estrutura emocional.

 2. Marco Teórico

Como diz MANTOAN (2003), a inclusão deve ser trabalhada de todos os lados, visando à preparação não só dos portadores de necessidades especiais, mas também das pessoas que irão acolhê-las, sendo fornecidas condições físicas, sociais e estruturais para que ela ocorra. Assim, temos a visão de que todos precisam aprender a conviver com as diferenças, respeitando cada um do que jeito que é.

Sabemos das imensas dificuldades do professor em se trabalhar com a inclusão, seja devido à falta de estrutura ou principalmente a uma formação inadequada seja ela inicial ou continuada, CARVALHO (2004) nos diz que é importante romper as barreiras como uma má formação docente e a sua falta de preparo, a falta de recursos adaptados para se trabalhar com portadores de necessidades especiais, apesar das imensas dificuldades. Não podemos esquecer que as escolas devem propor no seu projeto político-pedagógico, assuntos referentes à inclusão educacional de pessoas portadoras de necessidades educacionais especiais.

O decreto federal n 6571/2008 deixa claro que um dos objetivos do Atendimento Educacional Especializado é fomentar o desenvolvimento de recursos didáticos e pedagógicos que eliminem as barreiras no processo de ensino e aprendizagem, assim entendemos que é necessário que se forneçam recursos para o desenvolvimento educacional do aluno de acordo com a sua necessidade de aprendizagem.

Entre as diversas necessidades especiais, as altas habilidades formam um item pouco comentado nas escolas e até mesmo por quem trabalha com educação especial, com isso muitos alunos talentosos, acabam se sentindo desmotivados em realizar algo, por já o saberem fazer e pela escola não fornecer estímulos para o seu desenvolvimento, uma vez que raramente se é realizado um diagnóstico sobre isso. Além disso, como supracitado, a formação do professor, por ser deficitária, acaba dificultando a identificação de alunos com altas habilidades.

O ser humano, como nos diz MORIN (2000), é um ser complexo e, portanto, entendermos o funcionamento da sua mente é algo muito difícil e complexo.

VYGOTSKY (1984) nos fala sobre a formação da mente e diz que é importante que os resultados de qualquer verificação, seja pela abordagem teórica ou pela experimentação devem levar em conta fatores qualitativos e quantitativos.

Ainda com base em VYGOTSKY (1984) podemos pensar que o desenvolvimento de uma criança caracteriza-se por uma alteração radical na sua própria estrutura comportamental. Assim, podemos pensar que os estímulos levarão ao desenvolvimento e com o aluno superdotado não é diferente, ele precisa estar sendo constantemente estimulado para que possa sentir desejo de se aprimorar e buscar novos conhecimentos a cada dia e, para isso, acredito ser de extrema importância a realização de um trabalho paralelo à educação regular para que o mesmo possa ter as suas habilidades estimuladas a cada dia, através de novos desafios que possam condizer com aquilo que ele pode render.

Como diz MEIRIEU, o professor deve levar o aluno a ser um sujeito pensante e que busque solucionar os problemas propostos, cabendo a ele estimular e dar sentido ao que está sendo ensinado, estimulando o aluno a aprender, para que a aprendizagem ganhe significação, algo que na educação de alunos com altas habilidades é fundamental.

3. Metodologia

A observação é o fator primordial para o descobrimento das habilidades dos alunos, assim, através das respostas recebidas pelo professor, daquilo que solicitou ao aluno, será possível fazer uma verificação prévia das habilidades dos mesmos e reorientar o trabalho docente, afinal como nos diz ALARCÃO (2003), o professor deve sempre refletir sobre a sua prática, reavaliando-a sempre, buscando um aprimoramento constante, afinal, a clientela cada dia está mais diversificada.

Entre as características que nos permite identificar um aluno com altas habilidades estão, a criatividade e a facilidade de se realizar determinada tarefa, assim, o professor poderá estar estimulando esse aluno.

Após analisar se o aluno apresenta essas características e demonstra certo desinteresse é importante que se realize um trabalho em separado com esses alunos, em paralelo. Desconheço que se realize um trabalho com algum especialista na Diretoria de Ensino de Mauá, mas uma pessoa com boa vontade, esforço e dedicação, que busque as fontes corretas, poderia realizá-lo.

Bem, na E. E. Profª. Ezilda Nascimento Franco há aproximadamente 3200 alunos, do 2º ano do Ensino Fundamental à 3ª série do Ensino Médio, tendo a unidade escolar, quatro turnos de trabalho, o que dificultaria a realização de um projeto fora do horário de aula, tendo em vista que falta espaço físico.

Assim, uma vez por semana, os alunos com altas habilidades serão separados dos demais e realizarão estudos voltados para o aprimoramento das suas habilidades, tendo nesse espaço atividades extras que estimulem o seu desenvolvimento e crescimento intelectual, sendo esse espaço uma ferramenta para o educador confirmar se o aluno tem altas habilidades realmente ou não e adotar medidas quanto à aprendizagem do mesmo, seja através de atividades na própria escola, atividades extraclasses ou encaminhamento a cursos ou escolas especializadas para que o mesmo possa se desenvolver mais, de acordo com a sua capacidade intelectual.

 4. Resultados Esperados

Espera-se que com esse trabalho diferenciado possamos favorecer o ambiente de ensino-aprendizagem, favorecendo a integração e a participação dos alunos no decorrer do ano letivo e que os demais atores escolares possam verificar a importância de se trabalhar de forma diferenciada com esses alunos, mostrando a importância de se identificar esses alunos com altas habilidades e estimulá-los de acordo com o nível em que estão e, sobretudo, que podem chegar.

Tenho ouvido de alguns colegas de outras escolas e até da que trabalho que determinado aluno "sabe tudo", mas não registra ou ainda que atrapalhe os colegas, não para quieto, mas pelo que observo, fala estímulo para o aluno, que acaba se desinteressando e parte para a realização de coisas alheias às aulas e com a realização de um trabalho diferenciado, pode-se ganhar esse aluno até mesmo para auxiliar aqueles que apresentam dificuldades de aprendizagem.

Além disso, espera-se que se busque aproveitar e lapidar talentos, que podem se perder por passarem despercebidos, auxiliando o aluno na busca e aquisição de novos conhecimentos que aprimorem suas habilidades, sem se esquecer de trabalhar conjuntamente o lado emocional, mostrando a ele a importância de compartilhar o seu talento com aqueles que não o possuem e que isso é importante para a vida cidadã, ensinando que não basta ter o conhecimento, mas que é importante saber usá-lo para o seu próprio bem e também da sociedade em geral.

5. Bibliografia

- ALARCÃO, Isabel. Professores reflexivos em escola reflexiva. São Paulo: Cortez, 2003.

- BRASIL. Decreto n°. 6571/2008 - Dispõe sobre o atendimento educacional especializado, regulamenta o parágrafo único do art. 60 da Lei no 9.394, de 20 de dezembro de 1996, e acrescenta dispositivo ao Decreto no 6.253, de 13 de novembro de 2007.

- BRASIL. Lei Federal n°. 9394/96 - Estabelece as Diretrizes e Bases da Educação Nacional.

- BRASIL. Política Nacional de Educação Especial na Perspectiva da Educação Inclusiva. 2008.

- CARVALHO, Rosita Egler. Educação Inclusiva com os pingos nos "is". Porto Alegre: Mediação, 2004.

- MANTOAN, Maria Teresa Egler e colaboradores. Inclusão Escolar, O que é?Por quê? Como fazer? São Paulo: Moderna, 2003.

- MEIRIEU, Philippe. Aprender, si. Pero como?

- MORIN, Edgar. Os sete saberes necessários para a educação do futuro. São Paulo: Cortez, Brasília: UNESCO, 2000.

- STAINBECK, Susan e STAINBECK, William. Inclusão – Um guia para educadores. Porto Alegre: Artmed, 1999.

- VYGOTSKY, L.S. A formação social da mente. São Paulo: Martins Fontes, 1984.