EDUCAÇÃO AMBIENTAL: UMA INTERPRETAÇÃO DO PROGRAMA SEMEANDO EM ESCOLAS PÚBLICAS DO MUNICIPIO DE UBÁ-MG

Por Fabio Moreira | 16/04/2010 | Ambiental

Juiz de Fora

Setembro/2009

EDUCAÇÃO AMBIENTAL: UMA INTERPRETAÇÃO DO PROGRAMA SEMEANDO EM ESCOLAS PÚBLICAS DO MUNICÍPIO DE UBÁ-MG

FABIO MOREIRA QUINTÃO

PROFESSORA ANGÉLICA COSENZA RODRIGUES

PROFESSOR VICENTE PAULO DOS SANTOS PINTO

Monografia apresentada à Universidade Federal de Juiz de Fora, como parte dos requisitos do Curso de Especialização Lato Sensu em Educação Ambiental, para obtenção do título de Especialista em Educação Ambiental.

Aprovada por:

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Orientador, Prof.

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Prof.

Resumo da Monografia apresentada à Universidade Federal de Juiz de Fora, como parte dos requisitos do Curso de Especialização Lato Sensu em Educação Ambiental, para obtenção do título de Especialista em Educação Ambiental.

Esta pesquisa aborda a Educação Ambiental com base em uma interpretação do impacto do Programa Semeando, em escolas públicas da rede de ensino municipal e estadual do Município de Ubá-MG. Busca-se compreender o significado deste Programa, bemcomo seus objetivos e resultados. A necessidade de preservação do meio ambiente está se tornando cada vezmais uma questão de sobrevivência. A escola tem sua parcela de responsabilidade na promoção da educação ambiental e como é um local de produção e construção de conhecimentos torna-se espaço privilegiado para realizá-la. O Programa Semeando traz como proposta de trabalho o desafio de sensibilizar a comunidade escolar sobre a importância da preservação ambiental. Por meio dele, discutem-se várias temáticas inerentes à educação ambiental. Dentro dessa perspectiva, este trabalho analisa essa relação do Semeando com seus agentes multiplicadores, bem como os impactos desse programa nas escolas pesquisadas.

Palavras-chaves: educação ambiental, meio ambiente, Programa Semeando

INTRODUÇÃO

A existência de conflitos gerados pela relação natureza/sociedade aumenta a importância de uma educação que contribua para formação de cidadãos com atitudes críticas, responsáveis e participativos. Neste aspecto destaca-se a Educação Ambiental por possibilitar um pensamento crítico, inovador com a intenção de provocar a transformação e reconstrução da sociedade, por reivindicar e preparar cidadãos para exigir justiça social, cidadania social, cidadania nacional e planetária, autogestão e ética nas relações sociais e com a natureza (REIGOTA,1994). Assim, a relação entre meio ambiente e cidadania pode ser situada no marco da participação e da ação política enquanto cenário para um novo modo, ambiental e sustentável, de operar de forma democrática as relações entre a vida dos grupos sociais e a gestão dos recursos da natureza.

Pode-se pontuar que desde a conferência de Tbilisi, ocorrida em 1977, a Educação Ambiental surge como eixo norteador em prol do desenvolvimento sustentável. A criação da Agenda 21 é outro importante instrumento para a educação ambiental, fruto dessas discussões. Mediante esses processos, hoje a Educação Ambiental é dividida em algumas categorias básicas: a Educação Formal, a Informal e a Não-formal. Em se tratando do público da Educação Ambiental, sem sombras de dúvidas, a Educação Formal que envolve estudantes, em geral, desde a educação infantil até a fundamental, média e Universitária, além de professores e demais profissionais envolvidos em cursos e treinamentos em Educação Ambiental, é uma categoria que merece uma atenção especial.

Sabe-se que, atualmente, uma das questões mais discutidas em todo o mundo relaciona-se aos problemas ambientais. Em virtude do crescimento populacional e dos grandes aglomerados humanos, devasta-se, queima-se, polui-se e contamina-se a Terra, em significativas proporções, afetando o ser humano, as plantas, os animais e a qualidade da água e do ar. Para que essa realidade seja alterada, é preciso que a sociedade, como um todo, esteja engajada num processo de mudanças que permita uma nova política de exploração racional dos recursos naturais, buscando desenvolvimento sustentável.

A partir desses pressupostos, o Senar – Serviço Nacional de Aprendizagem Rural – Minas Gerais lançou, em 2001, o programa Semeando, elaborado de acordo com os Parâmetros Curriculares e a Agenda 21, com o objetivo de desenvolver um processo que propicie às crianças, jovens e educadores uma compreensão crítica e global sobre as questões do meio ambiente. E, ainda, mostrar-lhes que o meio rural e o urbano possuem inúmeras e

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importantes inter-relações e que, quando preservados, oferecem ótimas condições de vida e, ao mesmo tempo, protegem o meio ambiente, do qual somos estreitamente dependentes. Sabe-se que, atualmente, uma das questões mais discutidas em todo o mundo relaciona-se aos problemas ambientais. Em virtude do crescimento populacional e dos grandes aglomerados humanos, devasta-se, queima-se, polui-se e contamina-se a Terra, em significativas proporções, afetando o ser humano, as plantas, os animais e a qualidade da água e do ar.

O Programa baseia-se em atividades pedagógicas desenvolvidas pelos educadores, crianças, familiares e comunidade em geral, ao longo do ano, culminando em concursos para premiação das melhores redações, desenhos e experiências pedagógicas, cujo tema central permeia a defesa do meio ambiente.(http://www.programasemeando.org.br/)

Foram realizadas nas cinco escolas públicas, sendo duas da Prefeitura e três do Estado, pesquisas qualitativas e semiestruturadas com os agentes multiplicadores que são os representantes do Programa Semeando. E para facilitar esse trabalho, por meio da coleta de dados, as estratégias de perguntas foram divididas em cinco categorias.

A investigação qualitativa que visa compreender os fenômenos sociais, em termos do seu processo e da experiência humana vivenciada. Investigação esta que tenta, sobretudo, compreender como as pessoas dão sentido às coisas e ao mundo.

Nesse aspecto, é possível dizer que o pesquisador qualitativo é necessariamente envolvido na vida dos sujeitos. É valido ressaltar que as pessoas que participam do processo não são simples reservatórios de informações, mas são reconhecidas como sujeitos que elaboram e dão sentido aos acontecimentos.

Na compreensão desse processo, vale destacar algumas reflexões apontadas por Bogdan & Biklen (1999) sobre aspectos da pesquisa qualitativa:

Na investigação qualitativa a fonte direta de dados é o ambiente natural, constituindo o investigador o instrumento principal. Assim, o investigador considera que o comportamento humano é influenciado pelo contexto em que ocorre, deslocando-se sempre que possível para o local de estudo.

A avaliação qualitativa é descritiva, exigindo que o mundo seja examinado com a ideia de que nada é trivial, que tudo tem potencial para constituir uma pista que nos permita estabelecer uma compreensão mais esclarecedora do objeto de estudo.O significado é de vital

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importância na abordagem qualitativa. Os investigadores que fazem uso deste tipo de abordagem estão interessados no modo como as pessoas dão sentido às suas vidas.

Com base no que foi exposto, é possível dizer que o pesquisador qualitativo é necessariamente envolvido na vida dos sujeitos. É valido ressaltar que as pessoas que participam do processo não são simples reservatórios de informações, mas são reconhecidas como sujeitos que elaboram e dão sentido aos acontecimentos.

Para proceder à análise do impacto do Programa Semeando nas escolas públicas do Município de Ubá-MG foram seguidos alguns caminhos para a construção da pesquisa qualitativa. Foram usadas técnicas como: pesquisa documental entrevista, semiestruturada, qualitativa com os professores ou coordenadores responsáveis pelo programa nas escolas participantes do Programa Semeando primeiro ao quinto ano do Ensino Fundamental - Escola Municipal; a Segunda tem 29 anos, atua como Professora de Ciências em escola estadual, já a terceira tem 30 anos, atua como SupervisoraPedagógica em Escola Estadual. O quarto entrevistado possui 53 anos e leciona geografia no ensino Fundamental - Escola Estadual, e, por último, a entrevistada tem 38 anos e o cargo de diretora da Escola Municipal.

O estudo quanto aos procedimentos técnicos da pesquisa passa pelas seguintes etapas:

1-Levantamento bibliográfico: Para desenvolver esse trabalho foi realizada uma pesquisa de materiais bibliográficos referente ao tema. Livros como Temas Transversais e a Estratégia de Projetos, de Ulisses F. Araujo, Trajetória e fundamentos da educação ambiental de Loureiro e A Educação Ambiental e o fazer interdisciplinar na escola de Angélica Conenza Rodrigues, foram as principais referências bibliográficas usadas para o desenvolvimento da pesquisa.

* Área de abrangência: Este estudo foi realizado no Município de Ubá-MG, e ficou focado em cinco escolas públicas, sendo duas municipais e três estaduais.

* Pesquisa documental: Foi realizada também uma pesquisa dos documentos da instituição Senar, que possibilitou fazer um levantamento histórico, bem como a sua forma organizacional e estrutural e sua abrangência regional pelo Brasil. Com relação ao Senar, o interessante é que é uma entidade privada vinculada à Faemg - Federação da Agricultura e Pecuária do Estado de Minas Gerais, onde desenvolvem em conjunto ações educacionais que promovem o homem do campo e o desenvolvimento da comunidade rural.. ___________________________________________________________________________

Os Cinco Agentes multiplicadoresentrevistadosserão representadospelas letras iniciais do alfabeto como referência de suas denominações,sendo letra A e E para os pertencentes ás Escolas Municipais e B,C e D às Escolas Estaduais.

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Énesse contexto que surge em 2001 o Programa Semeando, que é o foco principal da pesquisa

Além da pesquisa documental da Instituição Senar, foi realizado um estudo sobre as bases teóricas em que o Semeando é fundamentado, podendo-se citar dentre eles osParâmetros Curriculares Nacionais, as ações previstas na Agenda21 e o Projeto do Milênio das Nações Unidas. Todos esses fundamentos trazem pressupostos que contribuem para o fomento do programa.

Essa é a estrutura do trabalho que visa analisar com maior profundidade o fomento desse programa, bem como as suas diretrizes e a sua aplicabilidade em escolas públicas. E também fazer um levantamento de várias questões correlacionadas ao desafio de construir a educação ambiental no Estado de Minas Gerais fundamentada nas contribuições do alvo dessa pesquisa: os agentes multiplicadores, os quais constituem o ícone deste trabalho.

OBJETIVO GERAL

Este trabalho busca analisar os pressupostos de um Programade Educação Ambiental, em escolas públicas de Ensino Fundamental do Município deUbá-MG.

OBJETIVOSESPECÍFICOS:

  • Identificar as propostas e alternativas do Programa Semeando para a escola pública de ensino fundamental
  • Conhecer como os professores e a equipe pedagógica se preparam para trabalhar os conteúdos didáticos desse programa com os alunos
  • Analisar as práticas pedagógicas realizadas com base na implementação desse programa e as possibilidades de trocas de saberes, ou seja, se possuem uma perspectiva interdisciplinar
  • Verificar se a escola ou a instituição Senar oferecem curso e meios de formação para os professores trabalharem os temas propostos pelo programa Semeando

Esses são os objetivos que delineiam a pesquisa com base numa questão-chave: fazer um estudo aprofundado dos pressupostos do Programa Semeando. Nos próximos capítulos ficarão explícitos esses pressupostos, sobretudo ao levantar como se articulam os principais embasamentos pedagógicos do Programa como: os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCNs/MEC), as ações previstas na Agenda 21, o Programa Ambiental do Estado de Minas Gerais e o Projeto do Milênio das Nações Unidas.

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Capítulo 1. AGENDA 21 E ALGUMAS TENDÊNCIAS DA EDUCAÇÃO AMBIENTAL

            Considerando a educação um processo contínuo e gradual, entendendo que "não é a aprendizagem que deve se ajustar ao ensino, mas sim o ensino que deve potencializar a aprendizagem,"sem sombras de dúvidas é importante refletir se os conteúdos desse Programa incentivam os alunos e professores a adotarem uma pedagogia de pesquisa, e se de fato provoca uma busca de informações mais profundas e se realmente ocorre a mudança de comportamento. Será que os conteúdos constantes dos materiais didáticos do Programa são adaptáveis à vivência cultural dos alunos e professores de toda rede de ensino público no Estado de Minas Gerais?

Para responder a essas questões é importante analisar as diretrizes que dão embasamento pedagógico ao programa. E um desses embasamentos é a Agenda 21, que é um programa de ação, baseado num documento de 40 capítulos, que constitui a mais ousada e abrangente tentativa já realizada de promover, em escala planetária, um novo padrão de desenvolvimento, conciliando métodos de proteção ambiental, justiça social e eficiência econômica.

A agenda 21 surge assim como instrumento importantíssimo para a consolidação dos princípios e ideais da Educação Ambiental. É um documento oficial da Rio 92,o qual estabeleceu a importância de cada país se comprometer a refletir, global e localmente, sobre a forma pela qual governos, empresas, organizações não-governamentais e todos os setores da sociedade poderiam cooperar no estudo de soluções para os problemas socioambientais. É um dos componentes importantes do Programa Semeando. Cada país desenvolve a sua Agenda 21 e no Brasil as discussões são coordenadas pela Comissão de Políticas de Desenvolvimento Sustentável e da Agenda 21 Nacional (CPDS). A Agenda 21 se constitui num poderoso instrumento de reconversão da sociedade industrial rumo a um novo paradigma, que exige a reinterpretação do conceito de progresso, contemplando maior harmonia e equilíbrio holístico entre o todo e as partes, promovendo a qualidade, não apenas a quantidade do crescimento.

As ações prioritárias da Agenda 21 brasileira são os programas de inclusão social, a sustentabilidade urbana e rural, a preservação dos recursos naturais e minerais e a ética política para o planejamento rumo ao desenvolvimento sustentável. O ponto alto dessas ações

prioritárias é o planejamento de sistemas de produção e consumo sustentáveis contra a cultura do desperdício.

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Então busca-se uma Agenda 21 escolar – afinal quais os seus desafios? É preciso destacar que a escola é uma comunidade e tem influência efetiva não apenas dentro de seus muros, nos momentos de instrução a seus alunos, mas também em toda a comunidade formada pelos respectivos familiares e moradores de seu entorno. A escola, em suas novas atribuições, estabelecidas passo a passo por técnicos do ensino, pode ser considerada o cérebro que comanda um corpo maior, constituído pelos lares dos alunos e pela comunidade em que está inserida, extrapolando em muito as estreitas divisas de seus muros e afetando diretamente a vida de um volume de pessoas extremamente maior do que o mero número de estudantes que a frequenta, sendo, por isso, também responsável pela avaliação crítica e física dos problemas sociais, pessoais e ambientais dos ramos dela derivados, e pela busca de auxílio em sua solução.

Pode-se apresentar seis temas da AGENDA 21 Brasileira:

1. Gestão dos recursos naturais;

2. Agricultura sustentável;

3. Cidades sustentáveis;

4. Infraestrutura e integração regional;

5. Redução das desigualdades sociais;

6. Ciência e tecnologia para o desenvolvimento sustentável.

            É importante destacar também alguns pressupostos teóricos sobre a teoria da educação ambiental na perspectiva de Loureiro (2004) e Lima (2002) em consonância com a teoria pedagógica de Freire (1996) como perspectivas de análises em torno das tendências de Educação Ambiental. A educação é uma construção social, um processo contraditório de elementos subjetivos e objetivos, de escolhas valorativas e de vontades políticas, dotada de singularidade."Significa uma construção social por estar diretamente envolvida na socialização informaçãodos sujeitos pedagógicos e de sua identidade social e cultural" (LIMA, 2002,p. 120).

Segundo Lima, cabe entender que a educação tanto pode assumir um papel de conservação da ordem social, reproduzindo ideologias, valores e interesses dominantes

oficialmente, como pode assumir um papel emancipatório, comprometido pela modificação cultural, política, e ética da sociedade e com o desenvolvimento das potencialidades dos seres humanos que a compõem. Nesse sentido, Lima faz uma reflexão referente às tendências emancipatórias, transformadoras e conservadoras da educação ambiental, no campo pedagógico. Para o autor, há duas grandes concepções político-culturais que fundamentam o

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debate da educação ambiental. Essas concepções servem de referência para identificar as diversas propostas teóricas e práticas de educação ambiental. "São concepções que se afinam à tendência de educação conservadora e à tendência de educação transformadora, emancipatória" (ibidem, p. 125).

Como diz Lima (2002), a tendência conservadora se interessa em conservar a estrutura social vigente com todas as suas características, ou seja, valores econômicos, políticos, éticos e culturais. Fortalecendo uma prática educativa funcional à lógica científica instrumental e positivista. A tendência transformadora, emancipatória se estabelece no compromisso de transformar a ordem social e de renovar a sociedade e sua relação com o meio ambiente.

Para os conservadores e comportamentalistas, a Educação Ambiental serve para adequar os sujeitos pedagógicos ao sistema, mudar comportamentos sem entender a dinâmica existencial. Para os inseridos numa perspectiva emancipatória a Educação Ambiental é meio para a problematização da realidade e transformação integral de sujeitos e sociedade (LOUREIRO, 2004).

Lima (2002, p. 127) caracteriza a tendência de educação ambiental conservadora como:

• Concepção reducionista, fragmentada e unilateral da questão ambiental;

• Compreensão naturalista e conservacionista da crise ambiental;

• Tendência a sobrevalorizar as respostas tecnológicas diante dos desafios ambientais;

• Leitura comportamentalista e individualista da educação e dos problemas ambientais;

• Abordagem despolitizada da temática ambiental;

• Baixa incorporação de princípios e práticas interdisciplinares;

• Perspectiva crítica limitada ou inexistente;

• Separação entre as dimensões sociais e naturais da problemática ambiental;

• Banalização das noções de cidadania e participação que na prática são reduzidas a uma concepção liberal, passiva e disciplinar.

A tendência transformadora, emancipatória de educação ambiental (LIMA, 2002, p.

128-129); LOUREIRO, 2004, p. 32-33) é caracterizada como:

• Atitude crítica diante dos desafios que a crise civilizatória nos coloca, partindo-se do princípio de que o modo como vivemos não atende mais aos nossos anseios e compreensão de mundo e sociedade e de que é preciso criar novos caminhos;

• Preocupação concreta em estimular o debate e o diálogo entre as ciências, redefinindo objetos de estudo e saberes;

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• Entendimento da democracia como condição para a construção de uma sustentabilidade substantiva;

• Convicção de que o exercício da participação social e o exercício pleno da cidadania são práticas indispensáveis à democracia e à emancipação socioambiental;

• Busca de ruptura e transformação dos valores e práticas sociais contrários ao bem-estar público e à equidade.

Por isso, é importante a necessidade de conhecer o que significa cada uma dessas concepções e de como cada uma pode influenciar o destino das decisões públicas que se relacionam à qualidade de vida das populações. E mais, as condições decorrentes da atuação humana no ambiente são definidas em função de cada modo de vida social, em interação com as condições ecológicas de sustentação.

É importante ressaltar que, na prática pedagógica do dia-a-dia, várias dessas tendências, muitas vezes, misturam-se. Obviamente que num dado momento histórico houve o predomínio de alguma delas. Isso porque a educação não é uma esfera separada da sociedade, imune às questões de seu tempo.

As tendências pedagógicas norteiam-se por princípios filosóficos gerais, de cunho político e social, além daqueles especificamente pedagógicos. Sendo assim, a adoção de uma tendência pedagógica tem implicações de ordem política e social. Essa adoção, em uma perspectiva democrática, implicará desenvolvimento de um projeto político-pedagógico, que deverá ser delineado pela comunidade escolar como um todo.

Mesmo que a escola não tenha escolhido uma tendência norteadora para a sua prática pedagógica e, em consequência, não desenvolva explicitamente um projeto político-pedagógico, mesmo assim cada educador o estará fazendo inconscientemente. Isso porque o sujeito/educador não é neutro. Não existe educação neutra, desprovida de valores, de orientações políticas e de perspectivas pedagógicas.

Tendo como base alguns destes pressupostos e algumas dessas tendências da Educação Ambiental, a Federação da Agricultura e Pecuária de Minas Gerais (Faemg) e o Senar Minas, numa iniciativa pioneira, implantaram, em 2001, o Programa Semeando, cuja proposta passou a ser adotada anualmente nas escolas públicas.

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Capítulo 2. HISTÓRICO DO SENAR-MINAS

A importância de fazer a pesquisa documental consiste em levantar dados e subsídios para melhor compreensão da pesquisa. A analise documental constitui uma técnica importante na pesquisa qualitativa, seja complementando informações obtidas por outras técnicas, seja desvelando aspectos novos de um tema-problema (Ludke & André, 1986). Utiliza-se de materiais que não receberam tratamento analítico e vive muito da critica histórica. Pesquisar o Histórico da Instituição Senar visa levantar dados de uma escala de análise que abrange o global e o local. Essa articulação sinaliza que foi só a partir da criação desse Órgão que foi possível surgir o Programa Semeando.

O Senar é uma organização de aprendizagem estruturada majoritariamente por representantes da classe patronal, a quem cabe dirigi-lo, embora os trabalhadores rurais participem por meio de representação do seu órgão diretivo. Assim, o resultado das ações educativas que desenvolve pode atender a interesses diferenciados.

O Senar foi criado pela Lei nº 8.315, de 23 de dezembro de 1991, nos termos do Artigo 62 do Ato das Disposições Constitucionais Transitórias, em que previa sua criação nos moldes do Senai e Senac e regulamentado pelo Decreto nº 566, de 10 de junho de 1992. É uma instituição de direito privado e paraestatal, mantida pela classe patronal rural, vinculada à Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil e dirigida por um Conselho Deliberativo de composição tripartite e paritária, por ser composto por representantes do governo, da classe patronal e da classe trabalhadora, com igual número de conselheiros.

De acordo com os documentos do Regimento Interno da instituição, este Conselho Deliberativo exerce direção superior e a normatização das atividades do Senar, no que se refere ao planejamento, estabelecimento de diretrizes, organização, controle e avaliação de toda a instituição. Foi ele que aprovou o Regimento Interno, no qual constam maiores detalhes do Regulamento do Senar, a estrutura organizacional e a função dos órgãos que a compõe. É constituído também por um Conselho Fiscal responsável pela fiscalização de toda a parte financeira e orçamentária por uma Administração Central, que executa a administração da instituição, com sede em Brasília, mas existem Administrações Regionais em todos os estados brasileiros funcionando como órgãos de execução das ações de Formação Profissional Rural e Promoção Social, descentralizadas e vinculadas às respectivas Federações da Agricultura.

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A Administração Regional de Minas Gerais, Senar Minas é uma entidade privada vinculada à Faemg, que foi criada no dia 7 de abril de 1993 e atua na realização gratuita de

cursos, treinamentos, seminários, palestras e uma série de outros eventos que têm como finalidade profissionalizar e melhorar a qualidade de vida da população rural (Brasil, 2003) Realizaseus cursos em situações reais de trabalho, ou seja, nas fazendas, empresas agropecuárias e nas Escolas de Ciências Agrárias.

O Senar possui nove gerentes regionais lotados nos Escritórios Regionais (ER) no Estado: ER1 – Uberaba, ER2 – Montes Claros, ER3 – Lavras, ER4 – Governador Valadares, ER5 – Viçosa, ER6 – Belo Horizonte, ER7 – Juiz de Fora, ER8 – Patos de Minas e ER9 – Passos. Para desenvolver suas ações educativas, o Senar desenvolve parcerias de caráter formal com instituições locais como sindicatos de produtores rurais, escolas de ciências agrárias, sindicatos de trabalhadores rurais, associações comunitárias e de produtores rurais, cooperativas, etc., e com um corpo de instrutores (facilitadores da aprendizagem).

Para isso, a entidade conta com um escritório em algumas cidades mineiras, com uma gerência responsável pela administração dos cursos e treinamentos. Para a realização dos cursos e treinamentos, esses escritórios regionais contam com esses instrutores que têm acapacidade para aplicar a metodologia da Formação Profissional Rural e da Promoção Social e conduzem os processos educativos nos eventos. Conta ainda com a figura do mobilizador, pessoa responsável por detectar as demandas de cursos e treinamentos para o município.

Nesse formato, o Senar tem como objetivo a execução de duas vertentes de trabalho: a Formação Profissional Rural (FPR) e a Promoção Social (PS), para promover a "capacitação" do produtor rural e de seus familiares, visando à "profissionalização e à melhoria da qualidade de vida da população rural". Ambas as vertentes de trabalho apresentam o caráter educativo não-formal, participativo e sistematizado, abrangendo eventos programados com intuito de atender às necessidades e aos interesses específicos de cada comunidade rural. Portanto o Senar é uma instituição privada, mas que se define com uma função pública (BRASIL, 1998).

Os recursos do Senar são provenientes da contribuição Previdenciária Rural (antigo Funrural) e são obtidos por meio de um percentual aplicado na comercialização do Produtor Rural. Este valor é arrecadado pela Guia de Recolhimento da Previdência (GPS).

Nesse sentido, o Município de Ubá-MG, onde foi realizada a pesquisa, por intermédio do Sindicato dos Produtores Rurais pertencente ao Escritório Regional-ER 7 de Juiz de Fora, firmou convênio com o Senar Minas no dia 23 de Agosto de 1993. Após essa data, o Senar passou a desenvolver vários trabalhos de Formação Profissional e Promoção Social no

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município. Com a continuidade dessa parceria, em 2001foi possível chegar ao município, esse Programaque é o objeto principal da realização desse estudo.

O Município de Ubá está inserido na mesorregião da Zona da Mata Mineira, fazendo parte da microrregião que leva seu nome, composta por 13 municípios, dos quais apenas nove fazem divisa: Divinésia, Dores do Turvo, Senador Firmino, Tocantins, Piraúba, Astolfo Dutra, Rodeiro, Guidoval e Visconde do Rio Branco. Sede do maior polo moveleiro de Minas Gerais, a 290 km de Belo Horizonte. O seu território corresponde a uma área de 407,44 km2. O último censo demográfico realizado pelo IBGE em 2007 apresentou uma população equivalente a 94.228 habitantes, dos quais a maior parte reside na Zona Urbana.

Figura 1. Mapa Regional destacando os limites geográficos.

A palavra Ubá, em tupi-guarani, significa canoa de uma só peça escavada em tronco de árvore. É também o nome popular da gramínea Gynerun Sagittatum, da folha estreita, longilínea e flexível, em forma de cano, utilizada pelos índios na confecção de flechas de caça e combate, a qual é encontrada em toda a extensão das margens do ribeirão que corta a cidade. O nome do Rio Ubá se deu justamente pela existência dessas gramíneas.

( http://www.uba.mg.gov.br

O mapa abaixo destaca a localização desse município.

( http://maps.google.com.br)

Figura 2. Município de Ubá no mapa do Estado de Minas Gerais.

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De acordo com o Serviço de Documentação e Informações Educacionais – Sedine, da Superintendência Regional de Ensino, o Município apresenta os seguintes dados referentes ao Censo Escolar de 2008:

Quadro 1. Dados referentes ao Censo Escolar de 2008.

Quantidade

Estabelecimentos Escolares

Total de Aluno

20

Rede Municipal de Ensino – Ensino Fundamental

5.614

19

Rede Estadual de Ensino – Fundamental e Médio

12.085

Total

-

17.699

Fonte: Sedine – Ubá-MG

Convém ressaltar que o Semeando é um dos componentes do Programa Nosso Ambiente e é um programa de responsabilidade socioambiental do Sistema Federação da Agricultura do Estado de Minas Gerais – Faemg, desenvolvido junto ao Serviço Nacional do Aprendizado Rural – Senar e seus parceiros. Iniciado em 2001, o Programa Semeando vem propondo, a cada ano, a discussão de temáticas relacionadas ao meio ambiente. Neste ano, o tema trabalhado pela comunidade escolar é Sustentabilidade e Meio Ambiente.

Elaborado com a assessoria de especialistas na área de educação, o programa é fundamentado dentro dos Parâmetros Curriculares do Ministério da Educação, das ações previstas na Agenda 21, do Programa Ambiental do Estado de Minas Gerais e do Projeto do Milênio das Nações Unidas. Essa orientação demonstra consistência do conteúdo oferecido aos alunos do Ensino Fundamental e da Educação Especial das escolas públicas urbanas e rurais do Estado.

Os Livros de História e a Revista Semeando são distribuídos gratuitamente aos participantes, direcionados de acordo com a série/ciclo dos alunos. Para orientar os professores, também são distribuídos o Livro e o Roteiro do Professor, com sugestões didáticas para trabalharem em sala de aula como atividades e aprofundamento do tema, que é alterado anualmente. Para estimular os participantes do Programa, o Semeando promove concursos de desenho e de redação para os alunos e de relatos de experiência pedagógica para os professores.

( http://www.educacao.mg.gov.br/)

O programa Semeando tem as seguintes Etapas de Execução:

  1. Adesão do município ou escola ao Programa; 
  2. Envio dos livros e demais materiais para as escolas;  

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  1. Desenvolvimento das atividades nas escolas;  
  2. Concursos de Desenho, Redação e Melhores Experiências Pedagógicas;  
  3. Solenidade de Premiação.

De acordo com os documentos do endereço eletrônico do Semeando, os temas abordados e número de alunos e municípios atendidos do Estado de Minas Gerais, desde a criação do programa, estão assim distribuídos:

Tema 2001: "O homem, sua relação com o meio ambiente e a agricultura" - Alunos: 50.362e municípios: 81

Tema 2002 "O homem, sua relação com o meio ambiente e a agricultura" e "Água" - Alunos: 151.254 e municípios: 254

Tema 2003 "O homem, sua relação com o meio ambiente e a agricultura" - Alunos: 300.512e municípios: 318

Tema 2004 "Ética e Cidadania" - Alunos: 609.846 e municípios: 515

Tema 2005 "Solo" - Alunos: 1.246.731 e municípios: 630

Tema 2006 "Água" - Alunos: 2.108.315 e municípios: 782

Tema 2007 "Meio Ambiente e Segurança Alimentar" - Alunos: 2.541.511 e municípios: 840

Tema 2008 "Ética, Cidadania e Meio Ambiente" - Meta: Alunos: 3.000.000 e municípios: 853 - Adesão - Alunos: 3.028.770 e municípios: 850

Tema 2009"Sustentabilidade e Meio Ambiente" – Previsão: 4.000.000 e atender 100% dos municípios

( http://www.programasemeando.org.br/ site do programa)

O Projeto do Milênio das Nações Unidas é um dos componentes importantes em que o Programa Semeando adota como uma das referências para o fomento e ações do programa. O Projeto do Milênio foi especialmente constituído pelo Secretário-Geral das Nações Unidas, em 2002, para desenvolver um plano de ação concreta para que o mundo reverta o quadro de pobreza, fome e doenças opressivas que afetam bilhões de pessoas.

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O Plano Global do Projeto do Milênio apresenta recomendações para que isso seja feito tanto em países pobres quanto em países ricos. Nesse sentido, ele apresenta várias mudanças estruturais nas instituições e nas políticas que guiam os esforços de gestão ambiental visando resolver esse problema, tais como:

* Reduzir o impacto ambiental adverso da agricultura, buscando técnicas de cultivos sustentáveis, restaurando terras esgotadas e protegendo o hábitat ao redor das áreas de cultivo;

* Reduzir a destruição de florestas por meio do incentivo ao exercício legítimo de atividades geradoras de renda, que dependam da manutenção de florestas saudáveis;

* Aproveitar os recursos de água limpa por meio do foco no uso mais eficiente da água na agricultura, de forma que cumpra metas de redução da poluição para lençóis freáticos e águas

de superfície, estabelecendo níveis adequados para o nível e o fluxo dos rios e controlando espécies invasoras;

* Prevenir o colapso da pesca marinha por meio de sistemas de gerenciamento apoiados em pesquisa e desenvolvimento, em comum acordo com pescadores locais, e pelo estabelecimento de uma rede de reservas marinhas protegidas;

* Tratar dos problemas de saúde causados pela poluição do ar e da água por meio de iniciativas que reduzam a exposição a produtos químicos tóxicos, com foco nos níveis atmosféricos de monóxido de carbono, chumbo, dióxido de nitrogênio, substâncias particuladas;

* Combater mudanças climáticas, adotando a meta de estabilizar as concentrações de gás que contribuem para o efeito estufa na atmosfera.

A análise documental do Senar, associada aos relatos dos autores e das entrevistas, são importantes mecanismos para se fazer uma triangulação da pesquisa qualitativa e construir os resultados dessa pesquisa. Os pressupostos apontados servem de referência para análise do Programa e, ao aprofundar os estudos do contexto histórico da Instituição co-fundadora desse processo, surgem elementos importantes para entender a estrutura e a formatação do Programa. Nesse sentido, deve-se aprofundar essa discussão para o eixo da Educação Ambiental. Convém ressaltar que ela não deve ser inserida como uma disciplina nos currículos escolares, e, conforme os PCNs, a interdisciplinaridade é a melhor forma de trabalhá-la verdadeiramente nas Escolas.

20 Capítulo 3. EDUCAÇÃO AMBIENTAL NA ESCOLA: INTERDISCIPLINARIDADE E OS TEMAS TRANSVERSAIS

 

Mesmo estando inserida nos temas transversais dos Parâmetros Curriculares Nacionais (PCNs), a Educação Ambiental ainda gera inúmeros questionamentos entre estudiosos e professores da Educação Básica, com a teoria e a prática do tema em questão. A construção da interdisciplinaridade é o grande desafio das escolas, e, para que ela de fato aconteça, é necessária uma reforma do pensamento, deve esta começar pela reformulação do pensamento didático do professor. A função do professor é ser um agente facilitador desse processo, e os currículos escolares devem ser elaborados de tal maneira que haja a articulação das disciplinas para alcançar a visão do todo.

A escola é um espaço privilegiado de informação, construção e produção de conhecimentos, desenvolvimento da criatividade e possibilidades de aprendizagens diversas, em que os professores devem trabalhar na perspectiva de visões cotidianas, exercendo um papel muito importante no processo de construção de conhecimentos dos alunos, na modificação dos valores e condutas ambientais, de forma contextualizada, crítica e responsável (REIGOTA,1999, p. 69).

A escola é, sem sombra de dúvida, o local ideal para promover aprendizagens voltadas para a formação de atitudes conservadoras do meio ambiente. As disciplinas escolares são os recursos didáticos, pelos quais os conhecimentos científicos são colocados ao alcance dos alunos.

É preciso incentivar na escola o desencadeamento de reflexões sobre as questões ambientais para além de suas dimensões biológicas, químicas e físicas, como questões sociopolíticas. Por diferenciar-se da educação tradicional, apresentando-se como saber transversal, a Educação Ambiental inova, porém arca com as dificuldades de sua assimilação pela educação formal, estruturada disciplinarmente. Além disso, no ensino fundamental, esta tem se dado por meio de projetos pontuais extracurriculares, caracterizando uma dinâmica voluntarista e periférica ao sistema escolar (CARVALHO, 1998). Entretanto, o desenvolvimento de projetos que visam à conscientização da preservação ambiental pode representar possibilidades de aprendizagem para a escola como um todo, especialmente, para trabalhar numa perspectiva interdisciplinar.

A problemática ambiental traça um novo caminho para a educação, pois não se trata de transmitir conteúdos, conceitos, mas sim aprender a olhar e ler a natureza, entendendo a ciência como criatividade e atividade que permite integrar a arte e os diferentes

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conhecimentos, abandonando o paradigma racionalista de ciência e de exploração dos recursos naturais.

Há grande necessidade de se enfatizar a educação ambiental centrada na conscientização dos indivíduos, recuperando o conceito de educação integral e de uma pedagogia democrática, ética e solidária, atualizada com as contribuições ecológicas. A educação ambiental procura trabalhar primordialmente com a integridade humana. O simples fato de o ser humano aprender a economizar, a reciclar, a compartilhar, a preservar e aceitar diferenças pode representar a revolução no corpo do sistema social (GADOTTI, 2000). Para o autor, nós somos todos professores e alunos diante da tarefa de reaprender estes valores, com um sabor existencial profundo que une a natureza e a cultura.

Educar para a cidadania envolve a tarefa do professor de favorecer o aluno, de forma adequada, a compreender sua realidade, evidenciando valores essenciais para o bem viver na sociedade, possibilitando a ele agir no cotidiano escolar e fora dele. A aprendizagem de procedimentos ou regras é indispensável para o desenvolvimento da participação, da solidariedade e da co-responsabilidade sobre todas as ações desenvolvidas no planeta.

Neste sentido, a prática educativa na escola pode partir do cuidado com o ambiente mais próximo, do respeito aos funcionários da escola, jogando lixo no lugar certo, não desperdiçando água, não rasgando livro ou folha do caderno. São inúmeras ações importantes a serem trabalhadas, envolvendo os interesses e as necessidades não só da comunidade escolar, mas da humanidade em geral, formando, assim, cidadãos cumpridores de seus deveres e que sabem reivindicar os seus direitos (BRASIL, 1997).

A principal função do trabalho com o tema Meio Ambiente é contribuir para formação de cidadãos conscientes, prontos para atuarem de modo comprometido em suas realidades socioambientais. Para isso, é necessário que a escola se proponha a trabalhar com atitudes, com formação de valores, com o ensino e a aprendizagem de habilidades e procedimentos que levem à conscientização sobre a importância do meio ambiente (BRASIL, 1997). Assim, o papel do professor é essencial na formação dos alunos, de forma que constrói com eles uma posição crítica diante da realidade, de informações e valores veiculados pela mídia edaqueles

trazidos de casa. Tal atitude deve atuar de forma contínua no desenvolvimento da maturidade, de uma conscientização ambiental no processo de troca de experiência e aprendizagem.

A escola, na tentativa de se adequar às novas propostas curriculares do Ministério da Educação, tem contribuído para inserção de práticas mais flexíveis em direção à interdisciplinaridade (RODRIGUES, 2008). A Educação Ambiental foi discutida como

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disciplina no Brasil durante boa parte da década de setenta, fruto do pouco aprofundamento teórico existente e pela confusão conceitual que relacionou a Educação Ambiental como ensino de conteúdo de Ecologia. Após a superação do enfoque de disciplina isolada, apesar da manutenção dos problemas básicos relativos à educação Ambiental, passamos a ter um enfoque multidisciplinar, de trazer o tema ambiental de cada disciplina. E com a criação da Lei 9.795/ 99, que institui a Educação Ambiental no Brasil, tem-se reforçada a ideia de que a EA deva ser uma prática interdisciplinar. A interdisciplinaridade é uma das principais características da Educação Ambiental; portanto, deve-se priorizar sua prática interdisciplinar e orientar a sua inclusão em todas as séries do ensino formal, desde a Educação Infantil até o ensino superior.

À medida que determinados avanços científicos, em muitas áreas, foram sendo produzidos no decorrer do século XX, foi-se percebendo que os pressupostos das áreas

disciplinares tradicionais não conseguiam explicar a complexidade dos fenômenos estudados. Cada vez mais, o estudo de determinados fenômenos exigia a colaboração de especialistas de diferentes áreas (ARAUJO, 2004).

Existem outros termos importantes a serem destacados aos profissionais ligados à área de Educação ambiental, tais como:

  • Multidisciplinaridade: Aproximação e até sobreposição entre conteúdos e métodos de disciplinas diversas de áreas distintas. Seria, por exemplo, a integração entre matemática e geografia.
  • Pluridisciplinaridade: O mesmo que a interior, só que realizada entre disciplinas próximas em termos de área de conhecimento.
  • Interdisciplinaridade: Interação real entre disciplinas, independentemente da área de origem. Há diferentes níveis e definições, indo desde a utilização de métodos e incorporações conceituais teóricas de outras disciplinas, até a aproximação inerente ao fato de duas ou mais disciplinas possuírem domínio de estudo que estabeleçam uma afinidade e dialogo entre elas.

Dentro de uma nova proposta curricular, a educação ambiental vem sendo apresentada como um tema transversal, isto é, não está associada a nenhuma disciplina específica mas deve estar presente em todas as áreas do conhecimento. Sobre os pressupostos da transversalidade se consolidam, então, o que passou a ser denominado de "temas

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transversais", os quais vêm a ser as temáticas especificas relacionadas à vida cotidiana da comunidade, à vida das pessoas, suas necessidades e seus interesses (ARAUJO,2004, p.36).

Araujo argumenta que dentro de uma nova proposta curricular a educação ambiental vem sendo apresentada como um tema transversal, isto é, não está associada a nenhuma disciplina específica, mas deve estar presente em todas as áreas do conhecimento.

O termo interdisciplinar refere-se àquilo que é comum a duas ou mais disciplinas ou campo de conhecimentos. Já os temas transversais não são novas disciplinas curriculares esim áreas de conhecimento que perpassam no campo disciplinar. Nesse sentido, Araujo propõe trabalhar os temas transversais em uma perspectiva interdisciplinar, de forma que articule a transversalidade com a interdisciplinaridade. Ele acrescenta que cada cultura, cada sociedade, cada comunidade pode eleger os temas transversais que considerar validos, tais como Ética, Pluralidade Cultural, Meio Ambiente, Saúde,Trabalho e Consumo e Orientação Sexual são os temas adotados na legislação brasileira. Nesse aspecto muito outros como igualdade de oportunidades, sentimentos e emoções, drogas, paz e trânsito, podem ser escolhidos pelas diversas comunidades.

Ao adotar-se o exercício interdisciplinar na escola, envolvem-se todos os educadores de diferentes formações e consegue-se envolver os temas transversais às disciplinas. Só assim professores e alunos compartilham o aprendizado e constroem juntos o conhecimento.

A reflexão sobre a viabilidade dos "temas transversais" pode ser iniciada pelas condições do professor para colocar em prática o que determinam os Parâmetros Curriculares Nacionais. Apesar dos PCNsreconhecerem o valor da interdisciplinaridade para a formação do sujeito crítico e cidadão ativo, os temas transversais tendem a ocupar um lugar marginal dentro do currículo e adquirir, no conjunto das práticas escolares, uma importância inferior ao das disciplinas da grade curricular (RODRIGUES, 2004). Essa colocação faz refletir a importância da inserção do tema meio ambiente enquanto tema transversal.Na interdisciplinaridade os interesses próprios de cada disciplina são preservados. O princípio da transversalidade e da transdisciplinaridade busca superar o conceito de disciplina. O grande desafio dos temas transversais perpassa pela ideia de atravessar as disciplinas formais e por essa razão os temas transversais e os PCNs devem conviver de forma mais harmônica em relação às disciplinas formais do currículo escolar. A autora aponta os limites, dificuldades na apropriação dos temas quando somados ao currículo tradicional que é a proposta dos PCNs. Vale lembrar que ambos autores fazem crítica à proposta dos PCNs, que é a de inclusão de temas, sem repensar o currículo.

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Em termos de entendimento de mundo, a interdisciplinaridade permite uma nova forma de inserção na natureza, o que representa um novo tipo de compreensão do mundo e forma de existir. Isso conduz quem vivencia esse processo no sentido de busca da transformação da sociedade em sua própria atitude cotidiana.

Capítulo 4. O PROJETO SEMEANDO EM ESCOLAS PÚBLICAS DE UBÁ-MG

O Programa chegou ao município por intermédio do Convênio do Senar Minas e do Sindicato dos Produtores Rurais de Ubá. No início de 2001 houve uma reunião de capacitação e um trabalho de sensibilização para a comunidade escolar, contando com a presença dos coordenadores do programa das escolas participantes do município, tanto escolas públicas municipais e estaduais, entres eles: professores, supervisores e diretores.Nos anos posteriores a capacitação passou a acontecer de forma indireta, sob coordenação da Superintendência Estadual de Ensino e Secretaria Municipal de Educação, que repassam o material com as instruções e faz as comunicações necessárias, como por exemplo, as datas de entrega dos trabalhos.

Com relação às tendências do Programa existe uma certa incoerência, pois seu objetivo é: desenvolver um processo que propicie às crianças, jovens e educadores uma compreensão crítica e global das questões ambientais, para que possam adotar posturas conscientes e participativas na conservação e adequada utilização dos recursos naturais. E, ainda, mostrar-lhes que os meios rural e urbano possuem inúmeras e importantes inter-relações. Como construir essa compreensão crítica e global das questões ambientais, se não existe uma capacitação permanente dos agentes multiplicadores do programa?. E quanto a sua tendência em educação ambiental, esta se caracteriza como conservadora por apresentar: Concepção reducionista fragmentada e unilateral da questão ambiental e uma perspectiva crítica limitada ou inexistente.

Para elucidar melhor a pesquisa qualitativa, foram eleitas algumas categorias de análises com o propósito de fazer uma triangulação dos dados obtidos. As perguntas para as entrevistas foram preparadas de forma estratégica e semiestruturada e divididas nas seguintes categorias: 1) A Educação Ambiental na Escola; 2) Sobre a capacitação dos agentes multiplicadores; 3) A construção da interdisciplinaridade; 4) Desafios do Semeando e 5) Impactos do Semeando. Essas categorias de análise foram agrupadas para facilitarem o

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entendimento dos dados obtidos e separarem as falas dos entrevistados que se aproximam e distanciam simultaneamente sobre cada categoria, bem como articular as entrevistas com os discursos dos autores da área de educação ambiental e análise documental.

1) A Educação Ambiental na Escola

A escola constitui um meio onde, além da difusão do conhecimento e da cultura, são trabalhados significados de valores e comportamentos. A instituição escolar prepara os indivíduos para futura inserção na vida produtiva e social, tendo por fundamento um determinado projeto de homem e de sociedade (SACRISTÁN, 2001). Nessa perspectiva, a escola pode constituir um espaço privilegiado para o desenvolvimento da educação ambiental, considerando os objetivos de formar cidadãos conscientes, capazes de enfrentar os desafios da realidade socioambiental.

Nesse aspecto, é notável o desejo de concretizar esse ideal e simultaneamente o de buscar novas perspectivas na Escola com base na Educação Ambiental. A fala da entrevistada da Escola C deixa isso bastante explícito, quando ela diz:

A educação ambiental ela está sendo um processo participativo, ondeo educando assume o papel de elemento central no processo de ensino-aprendizagem, participam, ativamente no diagnóstico dos problemas ambientais e buscando soluções, junto com os professores.

A Supervisora da Escola C, responsável pelo programa na escola pública C estadual, atua como supervisora pedagógica e demonstra uma expectativa muito boa em relação aos trabalhos desenvolvidos, principalmente por ter ampliado abrangência do programa Semeando para o quinto e o nono ano do Ensino Fundamental, pois antes o programa era desenvolvido apenas nas séries iniciais do Ensino Fundamental.

Nesse processo, a Educação Ambiental vem adquirindo uma grande importância no mundo, onde assuntos como ética, respeito e cidadania planetária devem estar presentes diariamente na rotina da sala de aula.  Como perspectiva educativa, a Educação Ambiental deve estar presente no currículo de todas as disciplinas, uma vez que permite a análise de temas que focalizam as relações entre a humanidade, o meio natural e as relações sociais, sem deixar de lado suas especificidades.

A Professora da Escola A da rede municipal de ensino ressalta também essa questão da seguinte forma:

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Bom, a conscientização ambiental, né... a proteçãoambiental, um trabalho todo voltado para preservação do meio ambiente e a criança já crescendo com essa consciência, com certeza, a gente vê?a expectativa de melhorar a situação em que se encontra todo o País.

A Coordenadora da Escola B atua como Professora de Ciências e também demonstra esse desejo de fazer acontecer a Educação Ambiental,

Desde que o aluno aprenda o que é educação ambiental, queele possa passar issopara o dia-a-dia dele.... né, para que ele comece a fazer o uso mesmo dessa educação, e consequentemente ajudar o planeta.

Já o professor da Escola D da rede estadual vai um pouco além e demonstra que os alunos podem se transformar em multiplicadores da educação ambiental e levar essa mensagem aos pais e até mesmo alcançar toda a comunidade quando ele diz:

Olha, primeiramente todos os professores devem trabalhar para conscientizar os alunos, né... o aluno precisa ter consciência como o meio ambiente preservado ériqueza, é vida, ésaúde; quem tem essa consciência? O mais difícil é conscientizar os pais deles... entãoé necessário queeles tenhamo entusiasmo de chegaremem casa e falar: papai, aprendi isso e o senhor não pode fazer, porque ele vai ver um exemplo dentro de casa, ele mesmo vai chamar a atenção do pai... - oh o professor disse que devemos conservar isso aqui... não pode cortar uma árvore, jogar o lixo fora do depósito dele, porque ele tem que conscientizar a família primeiro e no bate-papo dentro de casa, ele leva isso pra fora e conscientiza toda a comunidade.

A Diretora da Escola E da rede municipal expõe de uma forma muito objetiva e esclarecedora sobre essa perspectiva de trabalhar as questões de educação ambiental:

Para desenvolver uma consciência crítica do aluno em relação a preservar o meio ambiente, né... e também a questão do desenvolvimento sustentável, conservação dos recursos naturais, e principalmente essa questão da consciência ecológica, e conservação do meio ambiente.

É necessário esclarecer que a Educação Ambiental não deve estar presente no currículo escolar como uma disciplina, porque ela não se destina a isso, mas sim como um

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tema que permeia todas as relações e atividades escolares, buscando desenvolver-se de maneira interdisciplinar, conforme preconiza o Plano Nacional de Educação Ambiental - Lei 9795/99.

2) Sobre a capacitação dos agentes multiplicadores

O interessante de discutir a capacitação dos Agentes Multiplicadores é buscar respostas sobre a forma, o método em que ela está de fato acontecendo. Em se tratando de Educação Ambiental, torna-se necessário desenvolver a capacitação de forma interdisciplinar, envolvendo professores, alunos, diretores, supervisores, coordenadores e funcionários em geral, comunidade e órgãos públicos, para, de forma produtiva, pensar o micro e o macro como organismo vivo, atuante e permanente.

Ao levantar essa questão de capacitação dos agentes multiplicadores, percebe-se que de fato não acontece de uma forma efetiva, conforme diz a Professora da Escola A:

Ultimamente, não; essa instituição já promoveu encontros, parece que foi em Rio Pomba, para professores, supervisores da rede, mas atualmente não está tendo essa preparação diretamente com a gente não... somente a Secretaria Municipal de Educação está repassando o material para nossa escola.

Ela faz referência ao Senar, que tem a responsabilidade de ministrar os cursos de capacitação. Ela ainda complementa:

Ultimamente chegam até a escola os seguintes materiais, depois de realizado o termo de adesão:

a) manual do educador;

b) livros para os alunos;

c) DVD com instruções;

d) Revista Semeando.

A capacitação ocorre de uma forma indireta por meio do DVD, e percebe-se que a ausência de um curso de capacitação ou preparação dos docentes para o desenvolvimento das atividades dificulta o andamento dos trabalhos, principalmente o fato de o Semeando ser extracurricular, e isso fica muito nítido na fala da diretora da Escola E da rede municipal de ensino, quando diz:

Fica difícil de criar esse momento de reunir todos os professores para assistirem ao DVD; ficou combinado de fazer cópias e cada professor assistir individualmente, pois a partir de agosto vamos trabalhar em cima desse tema.

A formação contínua, a capacitação seja para o desenvolvimento de qualquer projeto é necessário acontecer nas escolas. A ideia de formação permanente

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no pensamento de Freire é algo interessante e é resultado do conceito da "condição de inacabamento do ser humano e consciência desse inacabamento". Segundo Freire (2002), o homem é um ser inconcluso e deve ser consciente de sua inconclusão, através do movimento permanente de ser mais: A educação é permanente não porque certa linha ideológica ou certa posição política ou certo interesse econômico o exijam. A educação é permanente na razão, de um lado, da finitude do ser humano, de outro, da consciência que ele tem de finitude. Mas ainda, pelo falto de, ao longo da história, ter incorporado à sua natureza não apenas saber que vivia mas saber que sabia e, assim, saber que podia saber mais. A educação e a formação permanente se fundam aí. (FREIRE, 1997 p. 20).

Nesse sentido, é preciso defender um processo de formação de professores em que as escolas sejam concebidas como uma instituição essencial para o desenvolvimento de uma democracia crítica e também para a defesa dos professores como intelectuais que combinam a reflexão e a prática, a serviço da educação dos estudantes para que sejam cidadãos reflexivos e ativos.

E a professora de ciências da Escola B faz um apelo para que de fato aconteça essa preparação:

Não, não existe capacitação, apenas chega, e funciona dessa forma mesmo... seria atéinteressante que tivesse uma capacitação para trabalhar o programa.

3) A construção da interdisciplinaridade

Essa temática foi alvo de muita discussão, e algumas escolas se divergiram quanto à questão da interdisciplinaridade. Na escola B da rede estadual de ensino, a representante do Semeando, professora de Ciência do Ensino Fundamental, aponta uma dificuldade de acontecer essa interação:

Aqui na nossa escola a gente tenta a interdisciplinaridade, né, mas a maioria mesmo são os professores de ciências que desenvolvem os trabalhos do Semeando na maioria dos anos. O que você tem a dizer sobre isto, analise à luz da história da EA.

Já a professora da Escola C, da rede estadual de ensino, destaca que o Programa Semeando faz a interdisciplinaridade acontecer, e ela deixa isso bastante explicito:

É um trabalho interdisciplinar, onde cada professor, da maneira dele, ele desenvolve esse conteúdo dentro de sala de aula com os alunos, porque a educação ambiental é um assunto que envolve o geral e não só uma disciplina. Então cada professor tem o seu conteúdo, ele pode estar trabalhando de forma interdisciplinar, ajudando os demais professores.

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A interdisciplinaridade não pode ser praticada somente – como se costuma fazer – mediante a escolha de temas-chave, a junção de disciplinas com conteúdos parecidos em determinados aspectos e aproveitamento de horários. É preciso experimentar, ampliar as análises conceituais, aproximar os indivíduos mais que as disciplinas, buscar "a totalidade do conhecimento, respeitando-se a especificidade das disciplinas".

Além de sua forte influência na legislação e nas propostas curriculares, a interdisciplinaridade ganhou força nas escolas, principalmente no discurso e na prática de professores dos diversos níveis de ensino. Quando se fala em interdisciplinaridade, está de algum modo referindo-se a uma espécie de interação entre as disciplinas ou áreas do saber.

Segundo os PCNs, ainterdisciplinaridade supõe um eixo integrador, que pode ser o objeto de conhecimento, um projeto de investigação, um plano de intervenção. Nesse sentido, ela deve partir da necessidade sentida pelas escolas, professores e alunos de explicar, compreender, intervir, mudar, prever, algo que desafia uma disciplina e atrai a atenção de mais de um olhar, talvez de vários (PCN, 2002, p.30).

Portanto, a interdisciplinaridade não deve ser considerada como uma meta obsessivamente perseguida no meio educacional simplesmente por força de Lei, como tem acontecido em alguns casos. Pelo contrário, ela pressupõe uma organização, uma articulação voluntária e coordenada das nações disciplinares orientadas por um interesse comum. Nesse ponto de vista, a interdisciplinaridade só vale a pena se for uma maneira eficaz de se atingir metas educacionais previamente estabelecidas e compartilhadas pelos membros da unidade escolar. Caso contrário, ela é um empreendimento trabalhoso demais para atingir objetivos que poderiam ser alcançados de forma mais simples.

A interdisciplinaridade proposta nos PCN assume como elemento ou eixo de integração a prática docente comum voltada para o desenvolvimento de competências e habilidades comuns nos alunos. Essa proposta é interessante, pois ela promove a mobilização da comunidade escolar em torno de objetivos educacionais mais amplos, que estão acima de quaisquer conteúdos disciplinares.

Deste modo, a escola ao propor o desenvolvimento do currículo escolar voltado para a questão ambiental, deve proporcionar a participação de todos no processo de sua construção e execução, tendo os alunos como sujeitos do processo. Os conteúdos precisam ser revistos para que convirjam entre as disciplinas de forma interdisciplinar, além de terem sua importância dentro da Educação Ambiental.

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A professora da Escola A da rede municipal de ensino complementa essa questão da interdisciplinaridade trazendo como prova a seguinte resposta:

Sim... ele é interdisciplinar, com envolvimento da Língua Portuguesa, ciências, geografia, né, ate história, que volta muito como que era a natureza, e como está hoje, e o que se vê para o futuro.... então ele é interdisciplinar, com todos os conteúdos trabalhados na escola...

Em se tratando de escolas que trabalham os primeiros ciclos, aquelas que englobam o primeiro ao quinto ano do Ensino Fundamental por terem menos professores, às vezes um único professor ministra todos os conteúdos, torna-se mais prático e fácil construir a interdisciplinaridade.

Já a professora da escola D da rede estadual complementa que a escola apresenta enormes dificuldades de fazer acontecer a interdisciplinaridade envolvendo todos os conteúdos.

No momento tem uma maior participação de professor de geografia e de português, porque existe maior intimidade entre a gente, pois trabalhamos mais tempo juntos. Além do Semeando, quando chegam outros projetos aqui na escola a gente faz a mesma coisa, sempre procurando um complementar o outro, fica fácil da gente fazer esse relacionamento. São mais de 20 anos de trabalho.

4) Desafios do Semeando:

O Programa Semeando desde 2001 vem atuando em vários municípios do Estado de Minas Gerais e tem o objetivo de desenvolver, por meio da educação ambiental, um processo que propicie às crianças, jovens e educadores a compreensão crítica e global do meio ambiente e da importância da inter-relação entre campo e cidade, esclarecendo valores e desenvolvendo atitudes que lhes permitam atuar na conservação e adequada utilização dos recursos naturais. A cada ano, um novo tema é trabalhado pela comunidade escolar.

Como ele é mais uma alternativa complementar ao currículo escolar, muitos desafios aparecem no caminho da consolidação deste projeto. E assim na Escola D da rede estadual de ensino, resume bem essa categoria de discussão, quando ele diz:

Olha... boa vontade de trabalhar a escola tem, geralmente o maior desafio é o tempo, que fica difícil... porque geralmente a gente trabalha numa turma de manhã, e em outra na turma da tarde e muitas vezes quase não damos conta de cumprir o currículo; parece também que falta um pouco mais de motivação dos professores de

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buscarem mais; já os alunos nem todos estão empenhados em se dedicarem aos estudos... é isso mesmo que dificulta o trabalho.

A Escola E da rede municipal de ensino, por intermédio de sua diretoria, complementa bem essa fala, e aponta também não só com relação ao Semeando, masqualquer outro projeto que se deseja trabalhar, que existe sempre esse desafio:

Nós discutimos muito isso entre supervisores, e percebe-se que nem todos os professores apresentam muita motivação, sabe?... aqueleempenho, a gente tem que estar assim criando motivações nos professores ... muitas vezes pega o livro, estuda ali, lê.... faz porque tem que fazer mesmo, somente para cumprir a obrigação.

Para concretização desse Projeto, as escolas realmente precisam estar motivadas e empenhadas em trabalhar em cima da proposta do Programa, caso contrário, nãopassará mesmo de algo que veio de cima para baixo, só para cumprir uma ordem sem surtir o efeito que se espera.

5) Impactos do Semeando:

Depois de oito anos de criação desse Programa, com vários temas discutidos,como: a água, o solo, a segurança alimentar, a sustentabilidade, torna-se interessante apontar os impactos, positivos ou negativos, enfim, pergunta-se: o que o Semeando tem provocado nas escolas públicas?

Como diz a Terceira Lei de Newton: "Toda ação provoca uma reação", e os agentes multiplicadores com suas vivências colaboraram em trazer as seguintes contribuições:

A professora da Escola B da rede estadual diz:

...que eles respeitam mais, observam quem está jogando lixo no chão, seja no pátio, seja na sala... então, assim já vai modificando os hábitos deles... dá pra perceber que é um desafio que é levado a sério, a gente consegue trabalhar e que eles estão colocando em prática...

Ela está referindo que desde que o Semeando chegou à escola passou a existir uma maior sensibilização da comunidade escolar com as questões ambientais.

Já a Supervisora da Escola C da rede estadual é a única das entrevistadas que apresentou uma situação inusitada com relação ao Semeando:

Este ano de 2009 a proposta veio diferente, né... e tem um diferencial, pois através do Semeando, nós tivemos a

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oportunidade de estar desenvolvendo um projeto de Educação Ambiental, onde desenvolverá outras atividades que vai dejunho a novembro aqui na nossa escola.

Esse projeto de Educação Ambiental anexado ao Semeando tem como público-alvo: alunos do quinto ao nono ano e PAV-Programa Acelerar para Vencerdo do Ensino Fundamental, Professores e Comunidade Escolar, e contará com a parceria de órgãos públicos como: Policia Militar, o Corpo de Bombeiros, a Vigilância Sanitária. Serão trabalhados outros temas para maioria da qualidade de vida como: Escola Limpa, Lixo, Água, Floresta, Fogo, Agrotóxicos, Caça Ilegal, Drogas, DST, Noções de Saúde entre outros. Esse trabalho demonstra que a Escola está empenhada em buscar outras discussões além do que está programado no currículo escolar.

A Escola E da rede municipal de ensino traz uma situação diferente, pois das escolas entrevistadas foi a única que ganhou o concurso de redação, e esse fato provocou mudanças na comunidade escolar. E isso fica muito evidente na fala da diretora:

Gostaria de ressaltar que uma das maiores mudanças que ocorreu aqui na escola foi o fato de uma aluna ter sido premiada com a melhor redação e isso serviu de estímulo, motivação para outros alunos também participarem do programa.

Essa situação interessante, em que bons exemplos servem de referência para os demais e o Programa vem a cada ano com um tema diferente, e assim a escola segue este caminho de preservação com o intuito de poder garantir um futuro melhor às próximas gerações.

Capítulo 5. CONSIDERAÇÕES FINAIS

O nítido estado de degradação do meio ambiente e a constatação de que a humanidade está caminhando aceleradamente para o esgotamento de recursos indispensáveis à vida humana no Planeta tem levado ao entendimento de que o homem precisa mudar suas relações com o ambiente que o cerca.Em todo o mundo têm surgido movimentos e manifestações, propondo reflexões sobre o perigo que a humanidade corre ao afetar de forma tão violenta o meio ambiente, sugerindo o surgimento da consciência de que os estilos atuais de desenvolvimento necessitam de mudanças. Identificou-se, neste estudo, que o Programa Semeando trouxe algumas contribuições relevantes tanto para o desenvolvimento da educação

ambiental quanto para os processos escolares, proporcionando, apesar dos desafios que ainda

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existem, construira interdisciplinaridade; e promover o envolvimento da comunidade nas atividades e na vida escolar dos alunos e nos problemas vivenciados no próprio cotidiano.

Tais comportamentos, no entanto, devem ser sempre reforçados. A consciência ambiental está longe de ser uma atividade tranquila, aceita e desenvolvida, apesar de ser recomendada por conferências internacionais e exigida pela Constituição, porque ela implica mudanças profundas de comportamento pessoal, atitudes e valores de cidadania que podem ter fortes consequências sociais. Não basta ter uma legislação para se fazer cumprir as determinações de preservação ambiental. É preciso insistir na educação ambiental, porém é um longo processo que envolve mudanças culturais e ações contínuas e pode-se destacar que não só de flores vive o programa, pois existem enormes desafios a serem superados como: a desmotivação dos professores, a ausência de uma capacitação efetiva para o bom desenvolvimento do programa e a falta de diálogo para construção da interdisciplinaridade. E para que mudanças de fato aconteçam é preciso que a educação seja assumida pelo poder público em todas as suas esferas com apoio da sociedade e por fim tornar-se política pública. Em programas como o Semeando é preciso rever certos conceitos, pois não basta criar um programa de educação ambiental no âmbito estadual que chegue a todas as escolas, é preciso levantar as principais demandas de cada área escolar e saber se são realmente estas temáticasas mais prioritárias; também não basta trazer um programa já formatado, é preciso capacitar anualmente os agentes multiplicadores para que de fato eles se sensibilizem para trabalhar as temáticas preestabelecidas com seus alunos e a comunidade escolar.

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