EDUCAÇÃO AMBIENTAL E SUSTENTABILIDADE
Por RAFAEL LUAN FERREIRA DA COSTA | 06/06/2017 | PsicologiaResumo
A discussão sobre a complexidade ambiental permite-nos compreender a gênese de novos atores sociais que se mobilizam para a apropriação da natureza a partir da criação de um ambiente racional onde podem ser articulados técnica, natureza e cultura. Desta forma, antes de conduzir novos conhecimentos acerca da educação ambiental devemos observar as inter-relações dos meios social e ambiental, identificando análises e processos a que os atores sociais estão envolvidos, afim de sanar quaisquer possíveis desafios de condução ambiental. Porém, por mais que este seja um problema contemporâneo, a preocupação com a qualidade do ambiente e, o aumento da degradação ambiental dos últimos anos não é novidade. Na área industrial, setor que mais se preocupa com as questões ambientais atualmente, uma vez que este setor é claramente o setor que mais se interessa pelas condições de zelo com o solo e questões ambientais. Desta forma, consideramos que a educação ambiental vem se reconstruindo e se atualizando ao longo dos tempos, uma vez que, como vimos, a sociedade muda, as práticas industriais mudaram ao longo da histórica e a sociedade de risco surge como alerta a estas mudanças.
Introdução
A discussão sobre a complexidade ambiental permite-nos compreender a gênese de novos atores sociais que se mobilizam para a apropriação da natureza a partir da criação de um ambiente racional onde podem ser articulados técnica, natureza e cultura. Este debate nasce da necessidade de refletirmos sobre a realidade e a maneira como lidamos com a complexidade do meio ambiente, questionando valores que norteiam a sociedade e permitindo mudanças tanto na forma social do pensar e compartilhar cultura ambiental quanto nas práticas educativas.
Este debate possibilita ainda a articulação e compromisso com a sustentabilidade transdisciplinar que nos oferece uma lógica que privilegia o diálogo e a interdependência de diferentes áreas de saber.
Devido às suas características multidimensionais e interdisciplinares, a educação ambiental se aproxima e interage com outras dimensões da educação contemporânea, tais como a educação para os direitos humanos, para a paz, para a saúde, para o desenvolvimento e para a cidadania. Mas sua especificidade está no respeito à diversidade, aos processos vitais – com seus limites de regeneração e capacidade de suporte – eleitos como balizadores das decisões sociais e reorientadores dos estilos de vida individuais e coletivos. (SECAD, 2017).
De acordo com a Secretaria de Educação Continuada, Alfabetização e Diversidade, do Ministério da Educação, o desenvolvimento da educação ambiental se dá de forma multidimensional e interdisciplinar às outras dimensões da educação contemporânea focadas nos direitos humanos, paz e saúde.
Desta forma, antes de conduzir novos conhecimentos acerca da educação ambiental devemos observar as inter-relações dos meios social e ambiental, identificando análises e processos a que os atores sociais estão envolvidos, afim de sanar quaisquer possíveis desafios de condução ambiental. Para Leff (2001), discutir sobre a resolução de problemas ambientais, revertendo suas causas, sem modificar radicalmente o sistema e sem gerar conflitos é uma tarefa impossível, uma vez que estes processos são constantes e gerados pela dinâmica de racionalidade existente, fundada no aspecto econômico do desenvolvimento. Em contrapartida, a atual forma de organização social aumenta a potencialidade de ações alternativas de desenvolvimento sob um olhar que priorize um novo perfil de desenvolvimento social com ênfase na sustentabilidade socioambiental.
De acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística - IBGE, a maior parte da população brasileira vive nas cidades, ao mesmo tempo, observa-se a crescente degradação das condições de vida humana se considerarmos que a zona rural possui melhor qualidade de ar e água para se viver. Sendo assim, esta migração, que se inicia desde 1950, pode refletir em uma crescente degradação das condições de vida, refletindo uma crise ambiental. O que intensifica ainda mais a ideia de que precisamos cada vez mais refletir sobre os desafios em relação a mudar a forma como pensamos e agimos sobre a questão ambiental nos dias de hoje.
Porém, por mais que este seja um problema contemporâneo, a preocupação com a qualidade do ambiente e, o aumento da degradação ambiental dos últimos anos não é novidade. Desde 1977, com a Conferência Intergovernamental sobre Educação Ambiental – CIEA realizada em Tsibilisi (EUA), o mundo começou a se preocupar com as questões ambientais. O objetivo da conferência era sinalizar as consequências da degradação ambiental e, ao mesmo tempo, iniciar um processo de criação de condições de construção da nova consciência ambiental interdisciplinar.
Além da CIEA de 1977, outros fatores mundiais contribuíram para o fortalecimento da ideia de que se precisava de uma política global ambiental. Estes fatores foram grandes “acidentes industriais de grandes proporções” que tiveram como consequências negativas a degradação ambiental.
De acordo com JACOBI, 2003:
Os grandes acidentes envolvendo usinas nucleares e contaminações tóxicas de grandes proporções, como os casos de Three-Mile Island, nos EUA, em 1979, Love Canal no Alasca, Bhopal, na Índia, em 1984 e Chernobyl, na época, União Soviética, em 1986, estimularam o debate público e científico sobre a questão dos riscos nas sociedades contemporâneas. Inicia-se uma mudança de escala na análise dos problemas ambientais, tornados mais freqüentes, os quais pela sua própria natureza tornam-se mais difíceis de serem previstos e assimilados como parte da realidade global. (JACOBI, 2003).
Com os acidentes ambientais se tornando mais frequentes, uma vez que estes são mais difíceis de serem previstos e evitados, estes acidentes constituíram-se por representar consequências de alta complexidade que até então eram desconhecidas em toda a sua potência a longo prazo e por essa condição não poderiam ser avaliadas com precisão como no caso de riscos ecológicos, riscos químicos, nucleares ou genéticos.
Ao longo dos anos, a noção de que a sociedade de risco e desenvolvimento se contrapunha às ideias sustentáveis vem se dissolvendo e permitindo a multiplicação das práticas sociais voltadas para demandas de uma educação ambiental. Ao mesmo tempo, fortalecendo o direito de acesso a informação e educação em vertentes mais inclusivas e integradoras.
Nessa direção, a problemática ambiental constitui um tema muito propício para aprofundar a reflexão e a prática em torno do restrito impacto das práticas de resistência e de expressão das demandas da população das áreas mais afetadas pelos constantes e crescentes agravos ambientais. Mas representa também a possibilidade de abertura de estimulantes espaços para implementar alternativas diversificadas de democracia participativa, notadamente a garantia do acesso à informação e a consolidação de canais abertos para uma participação plural. (JACOBI, 2003).
A falta de informação sobre a responsabilidade de todos nós em relação às questões ambientais pode ocasionar em uma postura de dependência e de falta de responsabilidade, falta de consciência ambiental e consequentemente da inexistência de práticas comunitárias baseadas na participação e no envolvimento de direito participativo, contribuindo para que nasça uma nova cultura ambiental de direitos e de iniciativa popular. Desta forma, a importância da Educação Ambiental para o mundo se dá pela capacidade de promover iniciativas baseadas na premissa de um maior acesso à informação e transparência na administração dos problemas ambientais urbanos e rurais em paralelo ao desenvolvimento econômico.
Na área industrial, setor que mais se preocupa com as questões ambientais atualmente, uma vez que este setor é claramente o setor que mais se interessa pelas condições de zelo com o solo e questões ambientais. Veiga (2005, p. 03) nos fala sobre esta questão indicando que tanto a gênese do crescimento econômico quanto seu desenvolvimento e sustentação se modificam quando a ideia social de educação ambiental e suas consequências priorizam a melhoria das relações sociais e a condição da vida humana. Para Veiga, o desenvolvimento histórico do homem se destinou a criação de técnicas de meios de produção para a sustentação do sistema da civilização industrial e não para um sistema de educação ambiental com foco no ambiente e na melhoria de vida daqueles que o compõem. Nos alerta também para o fato de que este desenvolvimento deve ser entendido como um processo, onde somos sujeitos, de transformação da sociedade sobre os meios e fins.
Desta forma, é importante destacar que a concepção de que a Educação Ambiental supera as relações de doutrinamento e treinamento pessoal do âmbito organizacional e social dar-se a se construída como reflexão e ciência críticas. Este debate tem sua origem e sustentação na valorização da interação de conhecimento, produzidos no âmbito da educação ambiental, uma vez que a epistemologia e escolhas teóricas partem de interesse acadêmico e pessoal.
Segundo Segura (2001, p.165):
Quando a gente fala em educação ambiental pode viajar em muitas coisas, mais a primeira coisa que se passa na cabeça ser humano é o meio ambiente. Ele não é só o meio ambiente físico, quer dizer, o ar, a terra, a água, o solo. É também o ambiente que a gente vive – a escola, a casa, o bairro, a cidade. É o planeta de modo geral. (...) não adianta nada a gente explicar o que é efeito estufa; problemas no buraco da camada de ozônio sem antes os alunos, as pessoas perceberem a importância e a ligação que se tem com o meio ambiente, no geral, no todo e que faz parte deles. A conscientização é muito importante e isso tem a ver com a educação no sentido mais amplo da palavra. (...) conhecimento em termos de consciência (...) A gente só pode primeiro conhecer para depois aprender amar, principalmente, de respeitar o ambiente. Segura (2001, p.165).
De acordo com a autora, a educação ambiental começa de fato nas escolas, por meio dos programas curriculares e da conscientização de que a preservação da natureza é algo urgente e atemporal, uma vez que com educação ambiental é possível viver melhor.
Para A. B. Medeiros et al, trabalhar o tema da educação ambiental nas escolas insere novas reflexões no ambiente escolar, por meio do diálogo e é um caminho a ser seguido, uma vez que é possível “amenizar” a preocupação quanto à preservação do meio ambiente, pois as crianças se preocupam com algo novo que elas aprendem na escola e transmitem isso para sua comunidade, pelos vizinhos, os pais buscando um mundo melhor para si mesmo e o próximo.
Morin (1999b), destaca que “o pensamento complexo parte de fenômenos complementares”, o que casa perfeitamente com a ideia de Educação Ambiental que se traveste de todos os outros aspectos das outras ciências concorrentes, uma vez que esta é interdisciplinar, escolar e social. A questão está nos questionamentos a respeito de sua problemáticas pois se referem a teoria e prática, uma vez que parte da proposta de educação complementar para a prática social.
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