EDUCAÇÃO AMBIENTAL: CONCEPÇÃO E PRÁTICA
Por Antonieta Maria Rizzo | 09/12/2010 | AmbientalAntonieta Maria Rizzo Araujo.
Professora adjunto IV, aposentada da UFBA.
Educadores, cientistas, instituições de direito público e privado, tem desenvolvido trabalhos sob a designação de Educação Ambiental com objetivos e abordagens bastante diferenciados. Constata-se que este tema tem abrigado ações de natureza diversa como, por exemplo, excursões escolares a locais afetados pela poluição ou que sofreram desmatamento; visitas a parques ou reservas florestais com a finalidade de sensibilizar os indivíduos para os problemas de agressão à natureza (animais ou vegetais); apresentação de trabalhos em Seminários, Congressos e Simpósios relacionados com a extinção de espécies animais e vegetais, discutindo-se a consequente necessidade de se estabelecerem ações que visem à preservação de tais espécies. Cursos de Ecologia são desenvolvidos visando a esclarecer a respeito de questões tais como a "coleta seletiva de lixo", a "preservação das espécies animais e vegetais". Submetidos a ações de caráter pragmático e distanciados de uma análise crítica contextualizada, professores, alunos, cidadãos de um modo geral, são levados a formular um conceito reducionista, muitas vezes enfocando apenas aspectos ecológicos, do tema Educação Ambiental. Observa-se, portanto, que a maioria dos trabalhos realizados nessa área tem seus objetivos e produção do conhecimento limitados por princípios comportamentais.
Partindo-se dessa constatação e, na compreensão de que o homem sempre alterou o meio em que vive e que este processo não se dá apenas mediante a relação homem/meio, mas, também, na forma como as sociedades se organizaram , outros fatores passam a compor o processo de ação no campo de educação ambiental. Então, tem-se como fatores diretamente ligados a esse tema: a forma como a sociedade está organizada, as relações entre os homens através do trabalho, a dimensão histórica da degradação ambiental, que não é consequência do crescimento demográfico ou do progresso, mas do modo pelo qual os homens se organizaram no que se refere ao sistema de produção. Na nossa sociedade o sentido do trabalho continua pervertido e as relações de produção não objetivam a subsistência da sociedade como um todo, colocando a degradação ambiental em níveis insustentáveis. Nas escolas, atividades como o plantio de árvores, criação de hortas, reciclagem de papel, coleta seletiva de lixo, são realizadas a propósito de educação ambiental. Tais ações colocam o trabalho em EA sob um enfoque demasiadamente específico causando uma interpretação do processo dirigida apenas para os aspectos biológicos e preservacionistas de sua concepção. Não querendo negar a importância de tais enfoques, mas lembrando que, submetidos a ações de caráter pragmático e distanciados de uma análise crítica contextualizada, professores, alunos, cidadãos de um modo geral são levados a formular um conceito reducionista de ambiente, enfocando apenas aspectos ecológicos da questão ambiental. Desse modo, depreende-se que as práticas educativas relacionadas com o ambiente devem ter como conteúdo básico o sentido político-social dessas ações. A preocupação quase que exclusiva da escola com a aquisição de um saber científico buscado através de métodos que conduzem à valorização da ciência enquanto única forma de obtenção de saber vem se tornar ainda mais evidente pelo processo de formação dos cidadãos. É preciso que se questione sempre sobre que valores estão sendo enfatizados no processo de formação dos indivíduos. Valores como justiça, honestidade, solidariedade, equidade social, deixam de ser considerados num processo que faculta aos indivíduos assumirem posições consequentes para a transformação social, para a retomada de uma postura crítica do papel que o homem exerce , ou pode vir a exercer, em função de uma vida melhor.
Considerando-se os elementos anteriormente citados e com o objetivo de realizar estudos sobre Educação Ambiental, no sentido de contribuir com o processo de construção do corpo de conhecimento sócio-político-cultural, filosófico e pedagógico necessário à prática da educação ambiental, ações vem sendo desenvolvidas pelo NECEA, Núcleo de Estudo em Ciência e Educação Ambiental da FACED, Faculdade de Educação da UFBA, desde 1990. Desse trabalho, consideramos como principais resultados obtidos:
implementação da disciplina Educação Ambiental no currículo das licenciaturas de Biologia, Física, Química e Ciências.
Implantação, no IMEJA,do grupo de estudo dos problemas que afetam o ambiente, de suas causas e possibilidades de enfrentamento.
Elaboração de um programa de estudo em Ciência e Educação Ambiental que resultou na criação do NECEA, Núcleo de Estudo em Ciência e Educação Ambiental.
A proposta de trabalho do NECEA tem como princípios estabelecidos coletivamente:
pensar segundo a categoria da totalidade
interpretar fatos mediante a apreensão histórica do processo de produção do conhecimento
agir no sentido das transformações necessárias à dignificação da vida e à implantação de sociedades sustentáveis.
Em consonância com os princípios que sustentam nosso trabalho, apresentamos a seguir alguns aspectos que sustentam nossos pressupostos teóricos:
PRESSUPOSTOS PEDAGÓGICOS DE EDUCAÇÃO AMBIENTAL DAS DECLARAÇÕES INTERNACIONAIS (DI) UNESCO.
Categorias analíticas:
planejamento participativo do processo instrucional dialogando com o grupo social.
abordagem interdisciplinar.
atividades ou tarefas instrucionais baseadas na metodologia de projetos (mp).
avaliação da aprendizagem pela simulação de fatos reais e sua solução (as).
"portanto,considerou-se como um trabalho de EA, aquele cujo processo articulasse integradamente experiências instrucionais de várias disciplinas e permitisse a percepção integral do meio ambiente nas suas dimensões sociais, culturais e ecológicas. Além disso, permitisse ao educando participar do planejamento de sua instrução, utilizando a metodologia de projetos no estudo do seu contexto e avaliar seu desempenho pelo enfrentamento simulado de uma situação crítica a ser superada pelos conhecimentos adqueridos, portanto, capacitá-los a lutar quotidianamente pela solução de problemas ambientais locais/globais de forma organizada, buscando fazer valer seus direitos de cidadão"
(Pedrini,1997, p.95)
VARIÁVEIS QUE TEM IMPEDIDO QUE A EDUCAÇÃO AMBIENTAL SE DESENVOLVA COM SUCESSO:
(Pedrini, 2002)
confusão relativa aos objetivos de EA: informar/educar/conscientizar.
aferição dos resultados destituídos de uma abordagem para o enfrentamento de processos perturbadores da qualidade ambiental dos educandos.
falta de documentação oriunda dos métodos e resultados das intervenções em EA, impedindo o aumento da eficiência das atividades propostas ou desenvolvidas.
(Informações retiradas de Pedrini, A. Gusmão. 2002, p. 101.)