ECONOMIA SOLIDÁRIA: UM ESTUDO DE CASO

Por Victor Hugo Ribeiro Alves | 27/10/2016 | Economia

1 INTRODUÇÃO

A economia solidaria é um conceito que surgiu com a ideia de resgatar a solidariedade no sistema produtivo, contrariando à ideia do individualismo competitivo que predomina as sociedades capitalistas. Este conceito se refere aos princípios democráticos e igualitários da auto-gestão, desenvolvendo a solidariedade e a justiça entre os envolvidos no sistema produtivo. É um movimento social que prega uma forma diferente de desenvolvimento, onde a sociedade não é baseada na concentração de renda e poder, nem nos grandes proprietários de terras, mas sim nos valores de solidariedade, democracia, cooperação, preservação ambiental e dos direitos humanos. A competição entre os agentes econômicos gera graves efeitos sociais. Para que isso se resolva, é necessário deixar de lado a competição e seguir a ideia de que é preciso buscar uma situação que favoreça o bem-estar de todos e o desenvolvimento social da sociedade como um todo. Portanto, o presente artigo tem como objetivo mostrar a origem e o conceito de economia solidaria, assim como suas características e alternativas dentro do sistema produtivo

2 ORIGEM E EVOLUÇÃO DA ECONOMIA SOLIDÁRIA .

A origem da economia solidaria tem, de acordo com estudiosos da matéria, duas fases extremamente importantes. Para um primeiro grupo de teóricos, liderados por Singer (2002), diz-se que a economia solidária inicia-se pela luta dos operários no começo do capitalismo industrial, na conjuntura da revolução industrial (século XVIII). Neste contexto, cabe ressaltar que a disseminação das novas tecnologias como, por exemplo, 2 motor a vapor, máquinas e ferramentas, modificaram a estrutura produtiva que, até aquele momento, era conduzida por artesãos. Assim, pode-se dizer que com o advento da revolução industrial ocorreram transformações socioeconômicas que caracterizaram a implementação de um novo modo de produção. Esse novo modo de produção baseou-se na mudança do processo produtivo que num primeiro instante era agrícola e, posteriormente, passou a ser industrial. Com isso, houve profunda alteração das condições de vida dos trabalhadores que, ao não reunirem condições para competir com as indústrias, se viram obrigados a ofertar mão de obra, uma vez que vivenciavam um processo de empobrecimento. De acordo com Oliveira (2004), a Revolução Industrial culminou em diversas perdas para os trabalhadores, como se vê a seguir: “A Revolução Industrial tendeu a expropriar o trabalhador utilizando-se das mais diversas formas, seja tirando as pessoas das antigas comunidades e não lhes dando emprego, seja tirando-lhes o ofício que lhes era próprio, visto que este não poderia concorrer com o modo-de-produção nascente, baseado na mecanização da produção e na divisão do trabalho. Nessas condições é que o surgimento da classe operária se deu com os operários têxteis, artesãos, tinteiros, tipógrafos e sapateiros assalariados e trouxe à cena um novo tipo de trabalhador, aquele expropriado de seus meios de produção (OLIVEIRA, 2004, p. 92).” Aliado a tal situação, é importante destacar que nos primórdios do sistema capitalista houve grande expansão do nível de exploração dos trabalhadores (ambientes de trabalho insalubres, trabalho infantil, jornadas de trabalho extremamente longas, salários baixos, entre outros) que, ao se virem em um ambiente injusto, organizaram-se através de sindicatos e cooperativas, caracterizando uma luta entre trabalhadores e capitalismo. As cooperativas eram uma alternativa dos trabalhadores à exploração, é dizer, foi um esforço buscando reconquistar a independência econômica e o trabalho. Havia uma estrutura baseada nos princípios do movimento operário (democracia e igualdade), estruturados pelos pilares ideológicos socialistas. De acordo com Germer (2007) o cooperativismo se deu da seguinte maneira: “O cooperativismo formou-se a partir de duas diferentes origens: por um lado, a partir da formação de associações de pequenos capitalistas, que evoluíram para a forma de cooperativas empresariais. A segunda origem do cooperativismo foi a reação de 3 trabalhadores assalariados, principalmente operários industriais, à piora contínua das suas condições de vida, em contextos de conflito político explícito com a classe capitalista, o que conferiu a essas cooperativas nítido caráter militante. Também neste caso há duas variantes que diferem qualitativamente. Por um lado, as cooperativas de consumo, nas quais a cooperação não se dá na produção, e os associados, na sua maioria, beneficiamse da cooperativa apenas como consumidores. Quando bem-sucedidas, estas cooperativas expandiram-se, em diversos casos, a ponto de adquirir empresas capitalistas convencionais fornecedoras dos principais meios de consumo, sem no entanto convertê- las em cooperativas (GERMER, 2007, p. 63-64).” Os sindicatos atuam como forma de representar os trabalhadores em face da justiça visando articular uma associação de empregados com o intuito de conquistar e defender os direitos dos assalariados. O segundo grupo de teóricos composto por pensadores como Costa (2007) e Germer (2007), avaliam que houve um rompimento da economia solidária ao longo do século XX, ressurgindo no final deste mesmo século, mais precisamente na década de 1970 com a crise econômica dos países capitalistas e o advento da globalização. Assim, a atual fase da economia solidária é um processo recente, iniciado a partir das significativas mudanças verificadas a partir da década de 1970 e as pressuposições para a classe trabalhadora que produziram circunstâncias favoráveis para a ampliação das maneiras de combate ao desemprego e pobreza. A partir das situações expostas, torna-se importante evidenciar o conceito e as características da Economia Solidária. Em toda literatura relacionada à Economia Solidaria nota-se uma ideologia extremamente sustentável, associada à distribuição de renda formação de empregos, incentivando integração, solidariedade, justiça econômica e social, preservação ambiental e autogestão (exercício do poder compartilhado) em meio a população. Neste sentido, verificam-se valores sociais que apresentam uma maneira diferenciada de consumo e qualidade de vida. Com base em tais valores, a Economia Solidária centraliza o conhecimento, o trabalho e o suporte às insuficiências sociais, mas, com um modelo de gestão com utilização ponderada dos recursos públicos. Assim, Mello (2005) define Economia Solidária como: 4 “a economia solidária é uma forma da economia que se desenvolve através de empreendimentos autogestionados, uma forma coletiva e participativa em que os próprios trabalhadores são produtores, proporcionando uma distribuição mais justa da renda e estimulando relações sociais de produção e consumo baseadas na cooperação, na solidariedade e na satisfação e valorização dos seres humanos e do meio ambiente” (MELLO, 2005, pag. 151, 152). Com base nos aspectos observados, é possível dizer que este tipo de organização visa extinguir desigualdades e exclusões sociais apontando possibilidades para geração de renda e trabalho buscando sempre atender as necessidades humanas. Além disso, busca-se a introdução de uma democracia participativa objetivando exigir um acordo com o setor público para a democratização da riqueza, do saber e do poder. Sugere, ainda, uma atividade econômica com preços comerciais justos, buscando divisão igual de crescimento produtivo entre os diversos países e grupos. A partir do contexto explanado a Economia Solidária da maior valorização ao trabalho em relação ao capital auxiliando no desenvolvimento humano, a partir de atividades econômicas de autogestão e divisão dos resultados provenientes do trabalho. Assim, busca-se impedir a contradição presente no sistema capitalista em que há elevação do grau de produtividade, mas, com abandono da classe trabalhadora.

3 ECONOMIA SOLIDARIA: UMA ALTERNATIVA AO CAPITALISMO?

O fenômeno chamado de economia solidaria surgiu no final do século 20, quando uma enorme parcela da população da América Latina estava vivendo em situação de pobreza/miséria. Segundo Araújo e Lima (ANO), a economia solidaria busca soluções capazes de minimizarem os problemas causados para aqueles que são excluídos do capitalismo, como por exemplo as crises de desemprego e a da previdência nos países industrializados. Este fenômeno é uma forma capitalista de prestar serviços sociais, e visa proporcionar melhoria na qualidade de vida das pessoas de baixa renda, para os estudiosos desse assunto, todos devem ter acesso a saúde, educação, etc. Para Gaiger (2005) o sistema solidário citado é uma alternativa para os desempregados e para aquelas pessoas de baixa renda levando em consideração que os empreendimentos baseados no trabalho cooperativo, na autogestão e na livre associação, são iniciativas que se voltam para esta classe da população. 5 A economia solidaria mostra que o capitalismo não é a única forma de produção, já que ela possibilita aos trabalhadores benefícios que foram gerados pelo próprio trabalho, melhorando o bem-estar dos mesmos. Este modelo, é apropriado para os desempregados que necessitam de alternativas para sobreviver

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