Economia Criativa
Por Zita Oliveira | 08/03/2008 | EconomiaA economia criativa, cujo conceito ainda não está bem definido, engloba as atividades que tem como principal fonte de recurso a criatividade.
No século XXI a cultura surge como aliada da economia na importante missão de inclusão social e geração de postos de trabalho.
A Inglaterra desde 1997 encontrou na economia criativa uma forma de incrementar a indústria, gerar divisas e desenvolvimento social.Em 2006 dados da Organização Mundial do Comércio (OMC) informaram que a indústria cultural é a maior empregadora da Inglaterra e absorve 1,3 milhão de pessoas.O mesmo estudo indica que a participação desse setor no mercado mundial duplicou nos três primeiros anos do novo milênio.
De acordo com a Organização das Nações Unidas para Educação, Ciência e Cultura (UNESCO), 2005, apenas 03 países: Reino Unido, Estados Unidos e China, produzem 40% dos bens culturais comercializados no mercado mundial, incluindo livros, esculturas e outros objetos de arte e decoração, CDs, filmes, videogames.África e América Latina participam nesse mercado com 4%. Esses números evidenciam o desperdício de talentos e oportunidades de negócios nos países subdesenvolvidos.
No Brasil, os primeiros registros de estudos sobre a economia criativa datam de 2004, por ocasião da 11ª. Reunião da Conferência das Nações Unidas para o Comércio e o Desenvolvimento (UNCTAD).Esteve em pauta a necessidade de se formular políticas públicas e privadas para incentivar o setor a gerar emprego, renda e inclusão social, aproveitando a diversidade cultural do país e a facilidade dos jovens em compreender a linguagem artística contida nos programas de qualificação das instituições culturais.
O programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento, define desenvolvimento como processo de ampliação de escolhas. Nos paises em desenvolvimento onde a exclusão social tem uma relação forte e positiva com os índices de criminalidade e há uma dificuldade evidente em alocar a mão-de-obra pouco qualificada em atividades urbanas, ampliar escolhas no setor cultural pode atrair jovens de baixa renda e pouca escolaridade através de programas de qualificação e geração de primeiro emprego.
A Bahia sediou, em 2005, o Fórum Internacional de Indústrias Criativas, onde se ressaltou a importância do mercado da Cultura e se lançou o Centro Internacional das Indústrias Criativas. Nessa ocasião, o Ministro da Cultura Gilberto Gil enfatizou que a indústria criativa como "epítome dos desafios e oportunidades que os países em desenvolvimento enfrentam no nosso mundo globalizado. A nova economia criativa, na qual a criatividade, experimentação e engenho têm papel preponderante na determinação da competitividade das nações e na criação de valores econômicos".
Em Pernambuco, um exemplo da prática de economia criativa é a empresa 4BMGR Ofice Artezanatos (GATOS DE RUA) cujos produtos são criações do designer Beto Kelner, diretor do Instituto Gatos de Rua. A empresa apóia o Instituto, em contrapartida utiliza sua marca e contrata preferencialmente os jovens treinados no Instituto como seus empregados.O instituto adota a metodologia da capacitação massiva para treinar os jovens, geralmente de baixa escolaridade, na execução de acessórios, esculturas, objetos de decoração e utilitários, criados pelo artista Beto Kelner que é também monitor do processo de aprendizagem dos jovens. O desempenho positivo desses jovens demonstra a relação benéfica que existe entre economia criativa e inclusão social.
No Brasil, apesar da vantagem comparativa gerada pela diversidade, o Produto Interno bruto (PIB) cultural contribui com apenas 1% da riqueza nacional, enquanto a média de participação mundial é de 7% do PIB, com amplas possibilidades de chegar a 10%, segundo cálculos da Organização das Nações Unidas (ONU). A disparidade chamou atenção dos organismos internacionais que reconhecem a importância da cultura no desenvolvimento socioeconômico dos países. O presidente do Banco Mundial fez o seguinte relato: "considerações culturais devem ser incorporadas em todos os aspectos do desenvolvimento, se quisermos que o desenvolvimento seja sustentável e efetivo. A cultura é um recurso subestimado nos países em desenvolvimento. Pode gerar renda, emprego, divisas e inclusão social. Além disso, o apoio às atividades culturais gera um profundo bem-estar, na organização social e no funcionamento da sociedade".
Pesquisas internacionais (Richard Florida e Irene Tinaglia, professores da Carnegie Mellon University em Pittsburg), 2005, indicam que há uma relação positiva e crescente entre economia criativa e produtividade.A pesquisa analisou 45 países e o Brasil ficou em 43ª. posição, na frente apenas da Romênia e Peru. Ficou atrás da Argentina, México, Turquia, Chile, Uruguai.Comparando esses dados com estudo da FIESP (2005)sobre índice de produtividade publicada na Folha de São Paulo, referente a 43 países o Brasil ficou em 39ª. posição. O cruzamento dessas duas pesquisas pode validar a teoria de que há uma forte relação entre criatividade e produtividade, pois os 10 primeiros países com maior índice de produtividade são também os que mais investem em economia criativa.
A conclusão desse estudo sugere que o Brasil deve aproveitar melhor as vantagens comparativas naturais derivadas da diversidade cultural e da abundância de recursos humanos que provem de seus artistas e designers e transformá-las em vantagens competitivas gerando novos empregos para os jovens, renda e divisas para o país.