Eco
Por Bruno Azevedo | 02/01/2011 | FilosofiaO eco é fantástico, você está diante de terminado cenário e pronuncia algo, quando se depara com uma repetição do dito, com uma ressonância que foge ao timbre que está habituado. O que diz, se repercute no aparente espaço vazio, mas na própria música de Chico Buarque, intitulada "Copo Vazio", a setença foi dada ao cantar que "o copo vazio está cheio de ar". Quantos outros elementos, não habitam o espaço que imagina desabitado, dando formato às palavras relegadas ao mundo.
Pois o mundo, está diante de nós, por mais que olhemos para um vazio e imaginemos nada existir, naquela fundura tão distante, ainda assim, possível de ser alcançada, basta estarmos no fundo, para termos a certeza da finitude, e nesse caso, o topo que parece inalcançável. Mas o eco vibra de forma repetida, devolvendo a afronta feita ao reverberar de forma peremptória a palavra, que pretendemos lançar contra o impensável, retornando com timbres diferenciados, demonstrando mais audácia que a nossa única evocação.
O espaço, pode ser uma majestosa cordilheira, para ter aquele ar magnânimo, também serve um modesto cômodo, principalmente quando antes habitado por objetos, depois esvaziado dos mesmos, onde parece nossa voz desejar tomar o lugar, outrora ocupado por outras coisas menos faladas. Queremos preencher de som, substituir a matéria pela força do verbo, uma imitação da divina providência na criação, conforme exposto nos escritos bíblicos, na denominada Gênese.
Mas o eco, seria uma resposta ao nosso lançar de palavras, ou a continuação do verbo? Pois já se diz que palavra dita, deixa de nos pertencer, tornando-se algo executado, não mais podendo controlar, saindo do campo abstrato que a imaginação nos privilegia, se fazendo matéria, na escrita ou na fala. Nós servimos de propulsor e lançamos algo falado, que não poderá mais ser absorvido por fala, apenas captado por meio auditivo, delimitando o alcance do que projetamos.
O eco revela algo ainda mais assustador aos "homens racionais", pois demonstra o além, em dada situação seus efeitos extravasam a expectativa, enquanto se pretende a captação de um outro pela audição, que absorviria apenas uma segunda dimensão do pronunciado, tendo em vista a primeira ser nossa própria percepção. O ecoar faz com que eu tenha uma percepção auditiva de si, não como forma gravada, que um mecanismo tecnológico pode fazer, mas timbres diversos que são captados em dado ambiente, onde estando acompanhado, ambos terão uma apreensão semelhante.
Assim, o eco, primeiramente excede uma expectativa única, demonstrando que os efeitos estão muito além da causa presumida, a variação de timbre também expõe uma realidade multidimensional, pela grande gama de possibilidades, chegando a um estado de transdimensionalidade, por ser algo entrelaçado, sem o rigor de uma taxonomia. Também tendo a audição, uma condição de apropriar-se de sonoridades da própria voz, não apenas como efeito simulado de uma gravação, mas pelas repercussões de sonoridades diversas, chegando a partes longínquas. Até quando, o efeito perder sua força, pois o que presumimos diminuir de intensidade, apenas é a demonstração de que o som se afasta.